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Crise econômica x problemas cardíacos

Preocupações com o negócio que faliu, com a mensalidade atrasada da escola dos filhos, a conta negativa no banco, desentendimentos familiares por problemas financeiros e emocionais. A crise econômica tem refletido diretamente na vida dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa da Boa Vista SCPC, de janeiro a março, os pedidos de falência cresceram 31,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. E não parou por aí. Cerca de 59 milhões de brasileiros começaram o ano de 2016 inadimplentes, segundo pesquisa da Serasa, o total de dívidas chega a R$ 255 bilhões. E para agravar ainda mais a situação, a taxa de desemprego cresceu, no início desse ano, 8,5%, segundo o IBGE.

Muitos não se dão conta, mas os reflexos da economia podem impactar diretamente na saúde, resultando em falta de ar, palpitações, entre outros sintomas graves, que podem ocasionar uma sobrecarga maléfica para o coração. É preciso ficar atento, não se deve menosprezar o estresse, ele representa um sério fator de risco para as doenças cardiovasculares. Ainda mais se levarmos em consideração que, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares são responsáveis diariamente pela morte de 950 pessoas no Brasil.

O cirurgião cardiovascular Edmo Atique Gabriel percebeu que nesses primeiros meses do ano, nas consultas de rotina, tem aumentado o número de pessoas que se queixam com a falta de emprego, divórcio e, sobretudo, problemas emocionais. Essas situações estressantes levam as pessoas a produzirem hormônios que afetam o metabolismo. “O nosso organismo tem que metabolizar esse quadro de estresse, para isso, libera hormônios como a adrenalina e o cortisol. Nas atuais circunstâncias de tensão que vivemos a adrenalina se dá em doses elevadas na circulação e ficamos constantemente sob tensão. Por sua vez, o cortisol vai atuar no estresse favorecendo a crise hipertensiva, arritmias e edemas. Então, é muito comum, em períodos de turbulência, as pessoas reterem mais líquido e ficarem mais inchadas”, explica o cirurgião cardiovascular.

Se as preocupações persistirem, em pouco tempo, o indivíduo estará dominado por uma carga prejudicial de estresse que pode alterar sua rotina e induzir a hábitos nocivos. “É comum a pessoa comer mais para compensar a ansiedade, levando a obesidade e elevação do colesterol. Quem está tenso volta a fumar, há um aumento no consumo de drogas lícitas (tabagismo, álcool, remédios) e ilícitas. A pessoa acaba utilizando isso como uma fuga. Antes estável e equilibrada, por uma descompensação financeira, parte para um caminho errado, com o objetivo de relaxar, quando na verdade o que vemos são consequências graves para a saúde. Normalmente, falta ânimo para as atividades físicas e pode ocorrer um quadro depressivo.  Além disso, a pressão arterial aumenta numa clara vinculação com a intranquilidade e a agressividade contida”.

Há duas formas de estresse, o agudo e o crônico. Segundo o cirurgião cardiovascular, “o agudo pode provocar um aumento importante e súbito da pressão arterial e da frequência cardíaca, levando a reações de espasmo das artérias coronárias (que irrigam o coração) e a quadros de angina (dor no peito) e infarto do miocárdio. Já o estresse crônico pode levar ao descontrole da pressão e do diabetes, além de aumentar o nível de triglicérides, podendo colaborar com o entupimento das artérias coronárias”, comenta.

É preciso estar atento aos sintomas. A opinião das pessoas que nos rodeiam é muito importante. “Quando um colega de trabalho ou um parente, por exemplo, começa a perceber e comentar que você está mais pálido, mais abatido, você não está mais se alimentando ou ganhando peso em excesso, esses são os primeiros sinais biológicos. Depois vê outras reações: a pressão começa a aumentar, dores de cabeça frequentes, sangramento nasal e palpitação (coração saindo pela boca). A junção desses elementos é condizente com o quadro de estresse e é preciso buscar um especialista” alerta Dr. Edmo.
No intuito de reverter este panorama, muitos acham que iniciar uma atividade física pode ajudar a combater o estresse, descarregando a adrenalina no exercício. Apesar de ser uma ótima alternativa, Dr. Edmo alerta que é preciso tomar certos cuidados antes de iniciar a prática de atividades físicas. “É sempre importante procurar um médico antes de qualquer prática. Muitos apenas procuram fazer o exercício visando a estética, fazendo uso de anabolizantes, diminuindo drasticamente a alimentação e prejudicando ainda mais a saúde. A recomendação básica, nesses casos, é sempre buscar um profissional. Fazer um eletrocardiograma, um eco cardiograma para avaliar a força e as válvulas do coração”, explica. Sem tomar as devidas precauções o risco de enfarto é eminente.
Para ajudar a encarar a crise econômica e evitar descontar na saúde, o cirurgião cardiovascular destaca três importantes atitudes que podem evitar sustos com o coração. São elas:

1- Saiba administrar o estresse – Procure lidar com o problema da melhor forma possível. Se não conseguir resolver sozinho procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Muitas vezes aconselha-se utilizar medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos. Eles podem ser essenciais, mais requerem um uso controlado, orientado por um profissional, para que mais tarde, não sofra as consequências dos seus efeitos colaterais.

2- Não compense na comida – Podemos comer, em geral, um pouco de cada tipo de alimento. Ainda que, alguns deles, sejam gordurosos. Comendo com moderação, com controle de frequência e orientados por um profissional. Restringir demasiadamente também não é uma boa conduta. Não faça nenhuma dieta maluca, isso pode comprometer também o rendimento cerebral, a produtividade e a memória. Controle a dieta sem fazer loucuras.

3- Pratique atividade física – Procure uma atividade que lhe cause prazer, jogue uma partida de futebol, faça yoga, caminhadas, corra, dance.  Movimentar-se ajuda a aliviar a tensão. Não adianta fazer atividade física como se fosse um atleta de verdade ou ter pressa para perder peso e adquirir um corpo escultural. O objetivo tem que ser puramente funcional. E lembre-se: é importante checar como está o coração, se ele está adaptado a determinado exercício, como está a pressão arterial, as articulações. Uma equipe médica multidisciplinar pode participar dessa avaliação.

foto: Fotolia

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