A poetisa Maria José Federigu Nisgoski de Itatiba foi a grande vencedora na categoria adulto, da 21ª edição do Prêmio Moutonnée de Poesia de Salto, com o poema “O Poeta Anônimo”. A segunda colocação ficou para a poetisa de Taboão da Serra, Luci Teixeira da Silva, com o poema “Com Ciência Negra”; e terceira, para Silvia Aparecida Caetano Alves, de Santa Cruz das Palmeiras, com a poesia “Paz na Terra”. Na categoria poema temático, criada devido ao grande número de poemas recebidos durantes as edições e que se esmeraram em descrever e homenagear a Rocha Moutonnée, a grande vencedora foi a poetisa Tais Vela Cruz, de Rancharia, com o poema “Tudo o que sou: Moutonnée”. Já na categoria juvenil sagraram-se vencedores: 1º lugar para João Paulo Saconi de Itu, com a poesia “Além dos Sonhos”, 2º para Vinicius de Alvarenga Andrade de São Paulo, com o poema “Uma Manhã Qualquer”, e 3º lugar para Renata Barbosa de Souza, também de São Paulo, com “Viver, Amar, Sonhar”. Pela categoria infantil receberam menções honrosas: o campineiro Alexandre de Aguiar Maria e os saltenses Gabriel Rodrigues da Silva e Bruno Henrique de Paiva de Fontes. A solenidade de premiação aconteceu no dia 05 de novembro, nas dependências da Sala Palma de Ouro – Centro de Educação e Cultura Anselmo Duarte, em Salto. A cerimônia contou com a participação especial do quarteto de cordas do Conservatório Municipal “Maestro Henrique Castellari” e dos bailarinos da Faces Ocultas Cia de Dança. Os primeiros poemas classificados em cada categoria foram declamados pelos atores saltenses: Paulo Batista, Evelyn Marcondes, Carolina Rossini, Charles Ferreira, Renato Bispo, Marco Steffano e Adilson Silva, acompanhados pela musicista Célia Trettel.
POEMA VENCEDOR – Categoria Adulto – Maria José Federigu Nisgoski – Itatiba/SP
O Poeta Anônimo
I
Zé Bento, pessoa simples,
Não era muito letrado
O pouco que aprendeu
Foi na escolinha do povoado.
II
À tardinha, depois da lida,
No aconchego de seu lar
Lápis e papel na mão:
Queria seus versos rascunhar..
III
Sob a luz do lampião
Ele ficava a meditar:
“Que obra da natureza
Iria em seus versos homenagear?”
IV
Hoje talvez a Lua cheia
Com seus raios prateados,
Ou quem sabe as estrelas
Que deixam o céu todo enfeitado.
V
Pensou em falar das matas,
De suas árvores frondosas,
Do alvo lírio do pântano
Ou das cachoeiras esplendorosas.
VI
Ficava assim indeciso
Diante de tanta beleza
E perguntava : Ó meu Deus!
Porque destroem a natureza?”
VII
Já tinha feito versos
Para a faceira Maria Rita,
Que ficava tão formosa
Em seu vestido de chita.
VIII
Ela foi seu grande amor
Lá no longiquo passado,
Agora só restam lembranças
IX
Que permanecem ao seu lado.
Não queria ficar triste
Nessa noite especial
Os sinos anunciavam
A chegada do Natal.
X
Vestiu sua melhor roupa:
Um paletó já bem desbotado,
A calça rustida nos joelhos
E uma camisa que tinham lhe dado.
XI
Não tinha a preocupação
De no espelho se olhar.
Quando atravessasse o riacho
Poderia em suas águas se mirar,
XII
Mas Zé Bento não tinha vaidade.
Só queria a Deus agradecer
Por essa dádiva preciosa
De seus versos poder fazer.
XIII
Fechou sua casinha,
Deixou o lampião apagado
E começou a caminhar
Em direção ao povoado.
XIV
Ao chegar à capela
Ele ficou a contemplar
A imagem de Cristo na cruz
E lagrimas deixou derramar.
XV
Zé Bento não entendia
Como pôde acontecer:
Cristo, para nos salvar,
Teve que na cruz pregado morrer.
XVI
Depois da cerimônia,
Ajoelhou-se aos pés do altar.
Precisava falar com Deus
E uns versos recitar.
XVII
“Senhor, meu Criador,
Estou aqui ajoelhado
Implorando teu perdão
Para os meus, os nossos pecados.”
XVIII
No dia seguinte, Zé Bento
Permanecia no mesmo lugar.
Deus o tinha chamado
Para outra missão realizar.
XIX
Não deu tempo de agradecer
Por ter sido um iluminado.
Foi poeta sem fama e sem glória,
Mas se sentia abençoado.
XX
E assim o Poeta Anônimo
Partiu sem avisar,
Mas os seus últimos versos
Pode ao Criador dedicar!
fotos: AI Pref. Salto