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Post: Eliane Giardini em entrevista especial

Eliane Giardini em entrevista especial

“Eu acredito na escola de teatro! Acho que não tem preço as pessoas no início de sua vida adulta ficarem alguns anos focadas na arte de representar, adquirindo cultura, comportamento de equipe e as ferramentas que usarão até o último personagem”

Em verdadeira harmonia com seus personagens, atriz, natural de Sorocaba, só agrega à dramaturgia brasileira; nesta entrevista, ela fala sobre a carreira e os novos projetos, como o filme gravado na região, inclusive em Salto

Completamente apaixonada pela dramaturgia, Eliane Giardini descobriu sua vocação ainda na adolescência. Hoje, com 63 anos, sendo 47 de profissão, coleciona mais de 50 personagens, vividos tanto na televisão, no cinema como no teatro. Sua estreia aconteceu ao lado de seu querido tio Waldemar, que enxergou nela uma excelente atriz. Mesmo Eliane acreditando que só o talento não seria suficiente. “Eu acho que tive sorte”, diz. Relembrando o início de sua carreira, ela fala com carinho sobre o apoio da família, e as pessoas que foram importantes, durante sua trajetória até aqui. “Tive parcerias importantes, que me recortaram do cenário geral, e me trouxeram para a frente. Começando pelo meu tio, o primeiro a me ver como atriz, e me dar um papel. Depois, Paulo Betti que foi o meu marido, e hoje é talvez meu melhor amigo”, explica Eliane, que há pouco tempo retornou a sua terra natal, Sorocaba, ao lado do ex-marido, o ator e diretor Paulo Betti, para filmar o longa-metragem “A Fera na Selva”. “Há muitos anos fizemos essa peça no teatro, e foi uma experiência tão forte, que ficou arquivada para ser refeita no futuro. Em setembro passado, misturando nossas vivências como atores e pessoas, o Paulo e eu fomos a Sorocaba, nossa cidade natal, e realizamos esse percurso. Fala de um casal que passa a vida juntos, sem se dar conta que esse é o grande acontecimento”, revela. Por conta das gravações, Eliane também esteve por várias vezes em Salto, ao lado da equipe cinematográfica. Sempre muito discreta com a vida pessoal, a atriz diz que um dos maiores desafios é encarar a falta de privacidade, mas percebe-se que ela encara tudo isso com muito bom humor. “Já tive maiores problemas com isso, embora as atrizes provoquem menos turbulência que os atores. Mas o lado bom é que você nunca está sozinha”, fala em meio às risadas. Na TV, atualmente ela interpreta Anastácia em “Eta Mundo Bom”. Uma mulher que na juventude foi obrigada a deixar seu filho. Nesta entrevista, ela revela o que normalmente chama sua atenção numa personagem. “Como dizia o mestre do teatro russo Stanislavski: ‘Se me derem um papel de uma cadeira, preciso saber se ela desejaria ser um sofá, se ela teria medo de ser queimada, se ela sentiria a diferença das pessoas que sentaria nela, senão, coloquem uma cadeira de verdade no lugar…’ (risos) O que me importa é a potência da personagem e o quão longe ela pode chegar”, completa. Confira a seguir a entrevista especial que ela concedeu à Revista Regional.

REVISTA REGIONAL: O que normalmente uma personagem precisa ter para chamar a sua atenção? Quais são os elementos que você gosta de trabalhar?

ELIANE GIARDINI: Como dizia o mestre do teatro russo Stanislavski: “Se me derem um papel de uma cadeira, preciso saber se ela desejaria ser um sofá, se ela teria medo de ser queimada, se ela sentiria a diferença das pessoas que sentaria nela, senão, coloquem uma cadeira de verdade no lugar”… (risos) O que me importa é a potência da personagem e o quão longe ela pode chegar.

Aos 63 anos, você construiu uma carreira brilhante, mas diria que sente orgulho de ter vivido fracassos e sucessos ao longo da sua caminhada? Como avaliar essas nuances da profissão?

Eu acho que tive sorte! Ter talento não é o suficiente!

Quando está envolvida em um novo projeto, você é uma atriz muito exigente que busca a perfeição?

Não busco a perfeição, mas procuro me harmonizar com a personagem que o autor escreveu. Às vezes é difícil você querer defender sua personagem, direcioná-la para um lado que vaidosamente acha melhor. Mas o grande trabalho é deixar suas pretensões de lado, e tentar entender com o coração aberto, o que o autor está tentando te dizer. Essa humildade tem que ser buscada!

O que os anos de experiência atribuíram na sua carreira e o que o início dela significou pra você?

Os anos de carreira, especialmente nesta profissão, na maioria das vezes, fazem bem ao ator. Os personagens vão nos modelando e vice-versa. É como se passássemos muitas vidas em uma só. Você necessariamente ganha com essas experiências de empatia.

Em 2015, você e o Paulo Betti foram até Sorocaba para gravar “A Fera na Selva”. Depois de 20 anos, como é retomar um texto que foi feito para o teatro, e agora será para o cinema? Como a mudança de linguagem pode afetar os personagens e o público que irá assistir?

Há muitos anos fizemos essa peça no teatro, e foi uma experiência tão forte, que ficou arquivada para ser refeita no futuro. Em setembro passado, misturando nossas vivências como atores e pessoas, o Paulo e eu fomos a Sorocaba, nossa cidade natal, e realizamos esse percurso. Fala de um casal que passa a vida juntos sem se dar conta que esse é o grande acontecimento.

Aliás, você nasceu em Sorocaba, mas aos 17 anos foi para São Paulo com o seu tio (Waldemar José Solha). Que lembranças ficaram da região? Você ainda mantém contato com as pessoas?

Aos 17 anos, fui com o meu tio a Paraíba para filmar. Foi esse o início de minha carreira. Mantemos contato estreito até hoje. Ele é um grande artista que ainda mora lá. Faz cinema, pinta quadros, escreve livros. É uma pessoa muito talentosa e curiosa! Fez filmes importantes recentemente, como “Som ao Redor” (2013) e “Era Uma Vez Eu, Verônica” (2012). Por esse último, foi premiado no Festival de Brasília.

Assim como muitos atores, você começou a sua carreira no teatro. Porém, nos dias de hoje, muitos jovens começam na televisão. Com isso questiona-se a capacidade de criar e reinventar personagens. Você acredita que o teatro continua sendo a escola para o bom ator?

Eu acredito na escola de teatro! Acho que não tem preço as pessoas no início de sua vida adulta ficarem alguns anos focadas na arte de representar, adquirindo cultura, comportamento de equipe e as ferramentas que usarão até o último personagem.

São quase 50 anos de trabalho, e alguns atores encontram no teatro, o refúgio quando não tem projetos nas novelas. Já pensou em viver apenas dos palcos? Ficar sem fazer novelas com tanta frequência é algo que te preocupa?

O que tem me preocupado é minha ausência no palco. Tenho emendado um personagem no outro, e não consigo me dedicar a dois projetos ao mesmo tempo. Mas sinto falta! Meu projeto é em 2018, após duas novelas que farei agora, mas depois pretendo estrear uma peça.

Alguns atores se queixam quando tem a vida exposta pela mídia. Entretanto, os mais experientes conseguem manter certa discrição, tendo apenas o trabalho avaliado. Como você enxerga esse cenário e que postura o ator deveria assumir?

A visibilidade na televisão provoca isso e acho que temos um dos maiores desafios a ser encarado: a falta de privacidade. Já tive maiores problemas com isso, embora as atrizes provoquem menos turbulência que os atores. Mas o lado bom é que você nunca está sozinha (risos). É como se vivesse em um bairro de uma cidade muito, muito pequena, onde todos se conhecem. Não há hipótese de ir à farmácia, sem conversar com todas as pessoas que encontra pela frente.  Isso te limita, porque não estar num bom dia é visto como antipatia. É muito desproporcional o conhecimento que há entre o ator e o telespectador. Para eles, somos pessoas de casa, íntimas.

Não é de hoje que algumas atrizes reclamam que seus parceiros de cenas ganham mais do que elas. Essa infelizmente é uma realidade no cenário mundial. Como você acha que poderíamos contribuir para mudar essas questões?

Colocando em perspectiva a trajetória da mulher no último século, fizemos avanços consideráveis. É uma questão de tempo! As mulheres estão mais conscientes de seus diretos e lutando por eles! Assim como os homens em outras questões, que não financeira. É preciso chegar a um consenso, num mundo onde o homem não se sinta diminuído, pelo fato de sua mulher ser mais bem remunerada que ele, nem ela sinta menos admiração por ele, por não ser bem-sucedido no trabalho.

É possível afirmar que você traçou uma carreira bem-sucedida na dramaturgia, interpretando personagens marcantes. A quem poderia atribuir a atriz que você é hoje?

Tive a sorte, de ser olhada com bons olhos desde o começo. Tive parcerias importantes, que me recortaram do cenário geral, e me trouxeram para a frente. Começando pelo o meu tio, o primeiro a me ver como atriz, e me dar um papel. Depois, Paulo Betti que foi o meu marido e hoje é talvez meu melhor amigo. Grandes diretores como Celso Nunes, em São Paulo; Antônio Abujamra, que apostou em mim para protagonista de minha primeira novela na Bandeirantes (“Ninho da Serpente”, 1982); Luís Fernando Carvalho, que me levou para a Rede Globo e tem sempre me brindado com belíssimos projetos; Felipe Hirsch, no teatro, com sua modernidade; Amir Haddad, com sua sabedoria… São grandes homens com quem tive a honra de partilhar momentos da minha vida, e cresceram muitos centímetros à minha humanidade.

Além da novela das seis “Eta Mundo Bom!” e do filme, quais outros projetos podemos esperar para este ano?

Em 2015 fiz uma série na Globo, “Dois Irmãos”, com o Luís Fernando Carvalho (ainda não apresentada); fiz o filme “A Fera na Selva”, com o Paulo Betti, onde nós dois atuamos e dirigimos; e agora estou na novela “Eta Mundo Bom!”.

 texto: Ester Jacopetti

foto: Paulo Belote/TV Globo

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