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Post: Regina Duarte em entrevista especial

Regina Duarte em entrevista especial

Regina fala de sua nova personagem na TV e também do futuro como diretora teatral

No mês de aniversário, Revista Regional traz uma entrevista especial com a atriz que é um dos maiores ícones da história da TV. Nela, Regina conta que pretende consolidar sua carreira como diretora teatral e fala ainda do desafio de viver uma lésbica em “Sete Vidas”, novela das seis

Com mais de 50 anos de carreira, Regina Duarte, que já interpretou personagens marcantes na TV, como a Viúva Porcina de “Roque Santeiro”, encontrou na direção seu caminho para continuar na dramaturgia. “Há muito tempo eu pensava no meu futuro e imaginava tendo que me despedir da minha função de atriz. Ou por alguma dificuldade de memorizar um texto ou física de não ter a mesma desenvoltura em cena, que um ator precisa ter. Hoje eu já sei. Posso ficar sentadinha, gritando, regendo essa garotada toda. Minha alegria é multiplicada”, diz a atriz, que pretende futuramente dedicar-se muito mais ao teatro do que à televisão. Prova disso é o grupo “Fazendo Drama”, que foi criado há um ano, no qual ela conta com um grupo de estudos de dramaturgia e interpretação de textos. “É o desejo de estar sempre correndo atrás de novos aprendizados e propondo desafios”, explica ela, que já escolheu 18 textos para dirigir, um em sequência do outro, e a nova novela, “Sete Vidas”, na qual fará pela primeira vez uma homossexual. “É uma mulher muito interessante, inteligente, articulada e vivida. Ela foi casada com uma mulher que morre na trama. Há 30 anos ela fez inseminação artificial e teve gêmeos. É uma história de família”. Nesta entrevista especial, em comemoração aos 12 anos de Revista Regional, Regina fala do futuro e os novos desafios.

 REVISTA REGIONAL: Sua personagem na novela “Sete Vidas” já criou expectativa por ser lésbica…

REGINA DUARTE: É uma mulher muito interessante, inteligente, articulada, experiente. Que vive sozinha, mas feliz da vida com os filhos e os netos. Ela foi casada com uma mulher que morre na trama. Há 30 anos ela fez inseminação artificial e teve gêmeos. Na novela ela vai conhecer o homem, que no caso é o pai biológico dos filhos dela. É uma história de família. Ela está aberta para o amor, seja com homem ou mulher. Na verdade vai surgir algo na vida dela até o final da novela. Nós estamos nos preparando seriamente para poder interpretar muito bem todos os papéis.

O tema homossexualismo está cada vez mais presente na televisão. Como você enxerga essas mudanças na dramaturgia?

É normal, mas é preciso cuidado para não ficar exagerado, porque pode perder a credibilidade. Até certo ponto é saudável. Ficar excessivamente batendo na mesma tecla é exagero. Ser homossexual é legal. Já estou cansada de saber que é legal, porque não seria? Parece até que não acredita no que está sendo dito né?!

Mesmo envolvida com teatro, você recebeu o convite para fazer a novela. Como aconteceu?

No período em que eu estava ensaiando a peça [A Volta Para Casa], a TV Globo me chamou para fazer as primeiras leituras da novela [Sete Vidas] em que as gravações começaram no início do ano. Eu era louca para fazer esse personagem e trabalhar com a Lícia Manzo, uma autora que admiro muito, e está escrevendo uma belíssima novela. O diretor Jayme [Monjardim] tinha que iniciar as primeiras cenas na Patagônia. Como é de praxe as novelas começam sempre com uma viagem fora do país ou em outro lugar que não seja o local onde a novela se passa. Ele quis começar ainda em outubro as leituras com o elenco. Nesse período foi uma loucura. Eu ensaiava com o pessoal do teatro até 1h30 da manhã, dormia algumas horas, acordava às 7h, pegava o avião, e das 10h às 17h fazia leitura com a equipe da novela e voltava correndo para os ensaios. Quem já se apaixonou sabe como é. Nós não sentimos sono e nem fome. Somos capazes de passar um mês sem dormir e comer, só alimentado pela paixão. Você não sabe o que está perdendo. É ótimo! Depois recupera tudo.

No teatro [A Volta Para Casa] você viveu pela segunda vez a experiência na direção. Normalmente como é o processo de pesquisa e como surgiu essa vontade de trabalhar como diretora? Aliás, você já tem novos projetos no teatro para 2015?

Desde muito cedo tive sempre grandes prazeres com aprender, descobrir, redescobrir, inventar e reinventar gente, natureza humana e também fatias de sonho e poesia que continua sendo meu playground. Sem o encanto do aprender, a vida perde, pra mim, toda a graça. Aprendo, uma vez mais, que gosto mesmo é de estar junto com o ator. Sou louca de paixão por este ser que se traveste camaleão, diante de toda rubrica de intenções. Aprendo ainda a apreciar o jeito vigoroso e desencanado desses atores abertos de corpo e alma para o jogo do tablado. Na companhia deles sou levada a olhar para a sombra insidiosa do terrorismo que se agiganta, disseminando bestialidade e sandice por toda parte. O processo de pesquisa é um grupo de pessoas que estão interessadas em estudar a dramaturgia e a interpretação, procurando melhorar a qualidade de suas performances. Lemos muitos textos, eu pelo menos devo ter lido uns 70. Alguns não cheguei até o final, confesso que me desinteressava, outros eu devorei. No total elegi 18 textos. Quero ficar viva para pelo menos conseguir montá-los. Fica de olho anjo da guarda (risos). Quero partilhar esses extraordinários trabalhos com quem acompanha a minha carreira e o meu trabalho. Conto com um grupo [Fazendo Drama] maravilhoso para interpretá-los. Vamos fazer um, em sequência do outro. No começo do ano tiramos umas férias e recomeçamos os encontros e as pesquisas. É um trabalho de garimpar qualidade na dramaturgia nacional e internacional. “Raimunda, Raimunda” [2013] foi meu primeiro espetáculo como diretora. Fiquei muito feliz dirigindo. É bonito acompanhar o processo de um ator, desde a primeira leitura até a aquisição que ele vai fazendo para o personagem. Ele floresce do conhecimento, entendimento, da proposta teatral que é lindo de acompanhar. Realmente cheguei a chorar de alegria e de emoção no dia da nossa pré-estreia, onde pela primeira vez pude vê-los em cena. Essa alegria é incomparável e posso dizer que hoje é maior do que estar em cena. Dirigir é uma emoção grande que se multiplica pelo número de pessoas em equipe. A emoção de dirigir essa sinfonia é um prazer inenarrável.

A gente sabe que você está na novela “Sete Vidas”, mas podemos esperar uma Regina Duarte muito mais diretora do que atriz?

Com certeza! Há muito tempo eu pensava no meu futuro e imaginava tendo que me despedir da minha função de atriz. Ou por alguma dificuldade de memorizar um texto ou física de não ter a mesma desenvoltura em cena, que um ator precisa ter. Eu já sei disso. Dava-me uma dor no coração e eu dizia “Para onde eu vou? O que vou fazer?”. Hoje eu já sei. Posso ficar sentadinha, gritando, regendo essa garotada toda. É uma delícia, é adorável! Minha alegria é multiplicada. Desde o ano passado venho pensando numa maneira de investigar, como nós artistas e autores, podemos contribuir para novas aquisições para acrescentar qualidade nas programações de teatro e televisão. É o desejo de estar sempre correndo atrás de novos aprendizados e propondo desafios.

Como você escolheu trabalhar o texto de um romeno [Matéi Visniec] nesta última peça [A Volta Para Casa]? O que mais te chamou a atenção nesse texto?

Conheci esse escritor em Curitiba e fiquei apaixonada. Primeira coisa que fiz quando cheguei a São Paulo, foi correr para uma livraria e comprar todos os livros deles. Uma pilha de livros. Graças a Deus alguém de muito bom gosto e muita inteligência teve a lucidez de traduzir e publicar no Brasil. No texto falamos sobre guerra, que não é uma disputa sobre o certo e o errado. É uma disputa entre dois certos. Profundo né?! As pessoas fazem guerra para provar que estão certas. É interessante. Num stand up você ri do começo ao fim. Leva para a casa e certamente tira uma série de reflexões importantes. Estamos falando de uma guerra interna do ser humano. Todos nós travamos com o nosso ego a vontade de impor o que nós achamos certo ao outro que pensa diferente da gente. Essa grande guerra tem que ser combatida sempre. Não posso guerrear com o outro só por pensar diferente. Esse é o princípio da democracia e do convívio saudável no mundo. Caso contrário, estaríamos ferrados.

Quais são as diferenças que você percebe quando está dirigindo e quando está atuando? Com o personagem você mergulha num universo, mas quando está dirigindo é um olhar de fora.

É lindo é prazeroso fazer parte da obra que está sendo ensinada, partícula por partícula. Sinto-me em cena com eles. Aprendi que todo ator tem que conhecer todos os personagens da trama. Trabalhamos com rodízio de personagens. Todo mundo precisa ver o espetáculo e a peça de todos os ângulos. Não só do seu personagem, porque ele não existe sozinho. Isso é o que vai impactar o público. Esse é entendimento da mensagem que o texto tem a propor.

Quando está dirigindo você é uma pessoa detalhista, crítica consigo mesma? Costuma fazer uma avaliação?

Em princípio, sempre digo para a minha equipe que convicção e atitude é tudo. Procuro cultivar em mim, as intuições que tive em relação a esse texto, que são corretas porque são as que eu tenho. Não adianta eu ficar sonhando com a perfeição, com ideias geniais, ou desejando colocar tudo que sei, tudo que já vi em teatro, num espetáculo. Aprendi com o Paulo José. Todo espetáculo tem o seu limite de criatividade. Não adianta querer colocar tudo que é lindo num espetáculo por que corro o risco de desvalorizar detalhes importantes. Ele tem o seu tamanho. Alguns dias antes da pré-estreia, entrei em curto circuito. Fiquei muito mal porque duvidei da minha direção e de tudo que eu estava vivendo. Não sabia porquê e nem por onde ir. Deu-me uma profunda angústia e uma noite inteira de insônia. Gosto de contar porque acho importante. No meio do café da manhã me questionei e procurei entender porque eu tinha escolhido aquela peça. Comecei a me questionar. Porque estou nessa roubada? Naquele momento me parecia uma roubada. Olha a responsabilidade. Precisei voltar para o início, para poder entender os porquês. Não foi à toa. Comecei a relembrar e foi quando entendi que caminho eu deveria seguir. Cheguei no ensaio nova e pronta. Hoje não tenho nenhuma dúvida. Sei que alguém pode dizer que está tudo errado, que não gosta disso ou daquilo. É um direito de julgamento que todo o público tem, mas eu tenho absoluta convicção que este espetáculo foi feito dentro das medidas que inclui tempo de preparação, amadurecimento, pesquisa e confecção.

Você é uma das atrizes mais antigas da televisão brasileira e do teatro também, mas o que mudou na maneira de se fazer teatro para os dias atuais? Você percebe essa diferença?

Acredito que os departamentos fizeram com que perdêssemos o espírito de grupo, o artesanal de fazer teatro amador, no sentindo de quem ama o que faz. Se eu amo o que faço, por que não posso me envolver como, por exemplo, trazer coisas que acho adequado para o meu personagem?  Fazer a própria maquiagem, cuidar do figurino, aprender a cuidar de si para criar seu personagem, e não um profissional de fora, que impõe um visagismo que ele acha que o personagem tem que ter. Estamos tentando recuperar um jeito de fazer teatro que eu vivi lá atrás. Queremos recuperar, porque esse ambiente é um exercício de cuidar do espetáculo como um time. Acaba repercutindo num clima que só acrescenta qualidade na comunicação do espetáculo e com a plateia.

Não tem como deixar de perguntar, mas ser a “namoradinha do Brasil” é um título que ainda te incomoda de certa forma?

Tenho dito durante muitos anos que não, não, não e não, mas tem alguns detalhes que fazem parte do passado, e que não precisam ficar voltando toda hora. Vamos deixar lá sossegado e que descanse em paz. Mas o título é só carinho. Não tenho mais nada dela.

Você já passou dos 50 anos de carreira. É possível destacar um ou mais personagens que você tenha interpretado?

É complicadíssimo porque personagens são como filhos. Você tem 60 e escolhe dois?! Todos foram muito importantes, mas vou citar um, porque é inevitável. Até porque ela foi campeã de audiência. É a Porcina [Roque Santeiro – 1985]. Diverti-me demais com ela e o público também. Na minha enquete pessoal, ela é a primeira que vem à mente das pessoas quando falam comigo. Não há como não falar dela.

Falando um pouco sobre vaidade, quando nos encontramos você está sempre muito bem vestida. Você é uma mulher vaidosa?

Para uma pessoa da minha idade, acredito estar vestindo algo adequado (risos)… As minhas roupas a maioria é de acervo pessoal, mas os brincos que estou usando, ganhei dos meus filhos. Eu acho lindo! Quando preciso fazer algo diferente nos cabelos, eu mesma faço. Coloco bobe nos cabelos, arrumo, penteio, mas também gosto de ir ao salão de beleza. Gosto de lavar, hidratar. Depende só de onde estou, porque viajo muito, mas tem um salão perto da minha casa, muito bom. Tem também o Oliveira que é o meu cabeleireiro há mais 40 anos. Quando ele está em São Paulo, vai até a minha casa para cortar, tonalizar a raiz… Ele é maravilhoso!

 entrevista e texto: Ester Jacopetti

 fotos: Alex Palarea/Agnews

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