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Post: Médicos Sem Fronteiras: além da ajuda humanitária

Médicos Sem Fronteiras: além da ajuda humanitária

A médica Rachel Soeiro atendendo no Níger
crédito: Arquivo pessoal

Guerras, cataclismos, ebola… O ano de 2014 foi marcado por várias tragédias e, na maioria delas, os Médicos sem Fronteiras estiveram prestando socorro

O ano de 2014 infelizmente foi marcado por inúmeros conflitos pelo mundo, principalmente na Faixa de Gaza e na África. Nessas áreas, a população acaba sentindo na pele os efeitos de uma guerra: sofrimento, fome, doenças e mortes.

A ajuda, quase que na maioria dos casos, vem de fora e muito longe, por meio de grupos. Um deles é o Médico sem Fronteiras (MSF), uma organização internacional, independente e comprometida em levar ajuda médico-humanitária a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição e exclusão do acesso à saúde, sem discriminação de raça, religião ou convicções políticas.

Rachel prestes a entrar em zona de isolamento para tratamento de Ebola na Guiné
crédito: Arquivo pessoal

Presente em cerca de 70 países, entre eles o Brasil, o MSF oferece cuidados de saúde a pessoas em necessidade de ajuda humanitária. Conta com mais de 34 mil profissionais, de diferentes áreas e nacionalidades e tem 80% de seu financiamento proveniente de doações de indivíduos e da iniciativa privada.

A decisão sobre os locais onde realizam os projetos é sempre baseada nas necessidades de saúde da população, e não em opiniões políticas, ideológicas, religiosas, e até mesmo ditada por interesses econômicos. “Para decidir pela abertura de um projeto, profissionais experientes da organização realizam uma avaliação in loco, por meio da qual analisam as condições de saúde da população, as instituições e organizações presentes, o possível papel do MSF no local, entre outros fatores. É feito um planejamento e, então, o projeto é iniciado”, explica o presidente do MSF-Brasil, Mauro Nunes.

São várias as dificuldades do MSF, mas entre elas, Mauro cita os três principais parâmetros: o ponto de vista médico, o acesso a medicamentos e o ponto de vista organizacional. No primeiro, em muitos países onde a organização trabalha, a população está envelhecendo e o perfil epidemiológico está mudando de doenças infecciosas para doenças crônicas como diabetes e transtornos mentais e é preciso encontrar novas formas de tratar tais necessidades.

Já o acesso a medicamento é outro problema e é preciso buscar formas de desafiar as barreiras globais que impedem a redução de preços dos remédios necessários para salvar vidas. “Do ponto de vista organizacional, temos que continuar sendo uma organização inovadora e ágil. Mesmo crescendo cada vez mais, precisamos manter sempre o foco nas necessidades dos projetos e dos pacientes”, completa Mauro.

Enfermeira que trabalha com promoção de saúde caminha na chuva retornando para Kalungu II depois de visitar vilarejo para campanha de vacinação em área remota de Masisi, República Democrática do Congo.
crédito: Phil Moore

MSF-Brasil

A primeira ação direta do MSF no Brasil foi em 1991, para combater uma epidemia de cólera na Amazônia. Até 2009, a organização desenvolveu outros projetos, como a oferta de cuidados a pessoas sem acesso a serviços de saúde em Vigário Geral e vítimas da violência no Complexo do Alemão, favelas do Rio de Janeiro. Desde então, responde a emergências pontuais, onde as necessidades médicas da população ultrapassam a capacidade de resposta do Estado.

Outras atuações do MSF no Brasil aconteceram em Alagoas e na região serrana do Rio de Janeiro, durante as enchentes de 2010 e 2011. Entre dezembro de 2011 e fevereiro de 2012, a organização levou ajuda humanitária a mais de mil haitianos na cidade de Tabatinga, no Amazonas, além de sensibilizar autoridades para a urgência da situação. Em 2013, o MSF também apoiou o desenvolvimento da estratégia de atendimento de saúde mental às vítimas do incêndio da boate Kiss, no Rio Grande do Sul.

Além disso, eles têm um escritório no Brasil dedicado à captação de recursos, seleção de profissionais para trabalhar nos projetos do MSF pelo mundo, sensibilização do público sobre crises humanitárias e representação institucional junto a entidades brasileiras.

Atualmente, o MSF-Brasil conta com aproximadamente 120 profissionais em sua equipe, disponíveis para atuar em projetos em todo o mundo. Destes, cerca de cem são brasileiros. A organização seleciona constantemente profissionais, com os perfis adequados para os contextos onde atua e, uma vez que recruta um novo profissional, procura um projeto específico para ele, não o contrário.

A experiência em campo

Uma dessas profissionais é a médica da família e comunidade, Rachel Soeiro. Natural da capital paulista, a profissional está no MSF desde 2011 e atuou em países como Niger, Sudão do Sul, República Democrática do Congo e Guiné. Rachel sempre quis seguir no trabalho humanitário e a sua história com o MSF começou no segundo ano da faculdade, quando assistiu a uma palestra da organização, e naquele momento, decidiu que queria trabalhar com eles. A partir daí se formou, fez especialização, trabalhou o tempo que precisava e, quando teve o perfil do MSF, enviou o currículo e foi recrutada.

Segundo a médica, apesar de todos os contextos do MSF terem as suas dificuldades, uma das experiências mais difíceis de atuação foi na epidemia de Ebola, na Guiné. “Trabalhar com esta doença é desgastante fisicamente e emocionalmente. O MSF era a única organização atuante na região, então o nosso trabalho ia desde visitar moradores com suspeita da doença, levá-lo até o local de tratamento quando possível, tratá-lo e em muitos casos, cuidar do funeral. Em uma cultura que as pessoas têm a tradição de lavar o corpo e cobrir com um lençol de linho, é muito complicado proibir de tocar no seu ente querido para evitar uma contaminação”, relembra Rachel durante a entrevista que concedeu à Revista Regional após um evento do MSF realizado em Campinas.

Estrada entre Kazinga e Nyabiondo, em Masisi, República Democrática do Congo.
crédito: Phil Moore

Os cuidados em relação aos pacientes de Ebola são inúmeros. Para entrar no centro de tratamento, os profissionais precisam estar devidamente protegidos com roupas impermeáveis, botas e luvas. O atendimento só é feito nessas condições, o que dificulta muito aos médicos, pois as temperaturas na África ultrapassam 40 graus. “Ficamos de 40 minutos a uma hora em atendimento, saímos do local, nos hidratamos e começamos tudo novamente. Além de cuidar do tratamento dos doentes, também fazíamos a sensibilização com a comunidade sobre o que é o Ebola e o que estávamos fazendo lá. É um trabalho muito pesado, tanto para a comunidade como para nós. Todas as vezes que ia para casa não sabia se encontraria meus pacientes vivos quando voltasse no outro dia”, detalha a médica.

O próximo destino de Rachel é uma surpresa. “A epidemia de Ebola está longe de terminar e tem muitas outras urgências acontecendo. Tem gente morrendo de cólera, malária e em conflitos armados e infelizmente os recursos humanos do MSF estão se esgotando para todos esses projetos. Precisamos de mais gente, de pessoas treinadas e capacitadas. Temos muito trabalho a ser feito e não temos médicos suficientes para fazê-lo”, desabafa.

Para Rachel, voltar de um trabalho de campo é um processo muito difícil, pois é sempre quem vai, nunca retorna o mesmo. Apesar de ser um trabalho muito complicado e delicado, de acordo com ela, a população sempre ensina muito. “Vivemos intensamente com eles e é uma troca de convivência e experiência muito grande. Quando voltamos, trazemos um pouco desse aprendizado e vivência e hoje, graças às redes sociais, conseguimos manter contato, mesmo que esporadicamente com as pessoas com quem trabalhei em todos os projetos”, comemora.

Quando não está em serviço com o MSF, Rachel trabalha em Campinas. A médica faz parte de um projeto do governo federal chamado “Consultório na Rua”, que leva assistência à saúde a pessoas que estão em situação de rua. Além disso, dá aula de Medicina em duas instituições na cidade.

Há vagas

Os profissionais que o MSF busca são médicos generalistas, clínico-gerais, ginecologistas/obstetras, cirurgiões, anestesistas, infectologistas e pediatras, além de especialistas em saúde pública, epidemiologia, HIV/Aids e medicina tropical. Há vagas também para enfermeiros generalistas, enfermeiros obstetras, enfermeiros para centro cirúrgico, farmacêuticos, fisioterapeutas, profissionais de laboratório e análises clínicas, psicólogos e psiquiatras. Fora da área de saúde, também seleciona profissionais de administração, finanças, logística, antropologia e especialistas em água e saneamento.

O escritório do Brasil recebe, em média, 500 currículos por ano. Ao longo de 2013, foram 466, dos quais recrutou 37 candidatos, o que equivale a 8%. Em todos os casos, os candidatos precisam ter, no mínimo, dois anos de experiência profissional, falar fluentemente inglês e ou francês e ter  disponibilidade para trabalhar com a organização por pelo menos um ano.

reportagem de Aline Queiroz

 Fotos:

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