Ela é cheia de vida, inteligente, autoconfiante, batalhadora, construiu uma carreira bem-sucedida e uma família linda, ao lado do também apresentador Luciano Huck. Essa é uma breve descrição sobre os longos anos que Angélica traçou para sua própria vida. Agora, buscando deixar sua marca no mundo, após 11 anos à frente do programa Estrelas, na TV Globo, ela decidiu dar espaço a quem é solidário, lançando o novo formato de “Estrelas Solidárias”. “A solidariedade é muito interessante para se despertar nas pessoas nesse momento”, revela. Em busca de bons exemplos, a apresentadora concentrou suas energias para o bem, e durante nossa entrevista, afirmou que a atitude de algumas pessoas, inclusive dos filhos, a inspirou a pensar num mundo melhor para viver. “Às vezes assistindo ao jornal, a gente perde um pouco a esperança, mas ao vermos pessoas que tiram o pouco que tem para dar ao outro, pensamos: ‘Poxa, o futuro dos meus filhos vai ser legal, porque existe gente boa, mas às vezes dá medo, e você se questiona’”, explica ela, que também procura dar exemplos aos filhos, mostrando através de atitudes e de ações. E apesar de assustada com a violência, sua vida não poderia ser em outro lugar, que não, em seu próprio país. “Confesso que quando viajamos com as crianças, e normalmente é para fora do Brasil, até pra ter uma vida mais tranquila e tal, percebemos a diferença, que é muito grande, com algumas questões como cidadania, educação. Isso tudo mexe um pouco, mas é um pensamento que vem e vai embora. Só em outra vida, porque nessa nós somos brasileiros e moramos aqui, os nossos filhos serão criados aqui, nosso trabalho é aqui. Nós temos que tentar ser melhor, porque aqui é o nosso país, mas realmente temos a oportunidade de viver dois meses por ano essa outra realidade, que mexe com a gente, balança. Poderia ser melhor”, ressalta. Confira a seguir a entrevista especial que Angélica concedeu à Revista Regional.
REVISTA REGIONAL: Após 11 anos à frente do “Estrelas”, você surge com uma nova proposta, que é falar sobre os projetos sociais espalhados pelo Brasil. Como tem sido essa experiência?
ANGÉLICA: São pequenos gestos que vão te marcando. Recentemente participei de um projeto em que as flores usadas num casamento deveriam ser desperdiçadas. Essas pessoas buscam, tratam e fazem doações para asilos. Eu passei a ter um olhar diferente, e o “Estrelas Solidárias” é isso. Estar ali praticando um ato solidário, como voluntário, e aprendendo a viver também. O caminho mais bacana pra seguirmos é ajudar ao próximo, porque o mundo está muito confuso, vemos muito desamor. Poder incentivar as pessoas a olharem para o lado, e perceberem que tem alguém ali, e que elas podem ajudar, é o máximo.
Você diria que essas atitudes influenciam no seu dia a dia?
Procuro passar isso para os meus filhos. Chego em casa e conto onde eu fui, e o que aconteceu. É a minha forma de tentar viralizar em casa o meu sentimento. Dá pra perceber que as pessoas que são voluntárias, tiveram muito incentivo em casa, ou às vezes os pais já faziam voluntariado. Se a gente começar a formar uma geração de pessoas mais solidárias, o mundo pode daqui a algum tempo ser diferente. É isso.
Quais são as pessoas que você pretende convidar pra participar do programa?
Quando anunciamos o novo formato, descobrimos muitas celebridades e artistas que já fazem trabalho voluntário e procuraram a gente pra poder participar também. Eu não imaginava que tinha tanta gente solidária no Brasil. Serão ao todo 13 programas inteiros, e não quadros, e cada programa tem três ações de voluntariado com estrelas, onde, no final, vamos sentar e conversar sobre as ações realizadas naquele dia. Dividir opiniões, sobre o que vimos e vivemos. É muito legal ver o depois, porque fica todo mundo muito tocado.
Em que momento você sentiu que era necessário mudar o formato do programa?
O programa vai fazer 11 anos no ar, e ele merecia este presente, e o público do “Estrelas” merecia algo novo. Era uma vontade minha e da nova equipe de fazer coisas novas. E eu fico muito feliz por isso, porque temos que estar sempre renovando. A solidariedade é muito interessante para se despertar nas pessoas nesse momento. Já me perguntaram se tinha a ver com alguma coisa que eu vivi, e não, isso não aconteceu dessa forma, mas como eu acho que nada é por acaso, nós acabamos atraindo coisas que são importantes, e eu acabei atraindo esse projeto, sem ter programado.
O programa também atrai a terceira idade, e percebe-se que você tem uma certa empatia por eles…
Isso sempre! Desde que eu trabalhava com crianças, sempre atraí as avós, e eu adoro. Asilo é um negócio que me marca, porque sempre gostei muito de estar com idosos. Acho uma loucura nesse país, não existir atenção com o idoso. As pessoas trabalham tanto e, às vezes, no fim da vida ficam lá jogadas, é uma coisa que não consigo entender. Mas eu atraio as crianças também. O interessante desse novo formato é que me possibilita ir até o público. Eu parei de fazer programa com plateia desde o fim do “Vídeo Game”, há quatro anos, e eu nunca tinha ficado sem fazer programa de auditório antes. Estou revivendo esse contato, de estar junto das pessoas. Gravamos numa instituição com 700 crianças, tive a oportunidade de estar junto, ouvir o que elas querem, o que elas esperam. Eu sentia falta disso.
Então você está gostando desse contato com o público novamente?
É um barato. É muito gostoso porque todo mundo parece que já te conhece. Eu uso crachá com o meu nome, porque as crianças não sabem quem sou de verdade, afinal não faço programa pra criança há muito tempo, mas é muito confortante ser recebida como se fosse parte da família.
Eles têm muita curiosidade sobre a sua família?
Eles perguntam muito sobre a minha família. As crianças adoram o Luciano, e me pedem pra mandar beijos, as vovozinhas também, e falam dos meus filhos, e dizem que eles são tão bonitinhos. É diferente do contato que sempre tive com a plateia, porque agora é uma conversa ao pé do ouvido.
Diante desse novo desafio, você também terá que passar mais tempo longe da família, viajando. Você pretende levar os filhos?
Eu os carrego comigo quando dá, atualmente no período escolar não tem como. Quando fazíamos o “Estrelas” de férias em janeiro e julho, eles iam comigo, mas agora são viagens bem mais curtas, em que eu consigo ir e voltar no mesmo dia. Não inclui meus filhos nos programas. Por enquanto, eles estão só observando. Esse projeto que visitei as crianças, que eu comentei, me arrependi de não tê-los levado, porque eles iriam adorar. Se tiver oportunidade e tempo, vou levá-los porque é importante o exemplo. Espero que o programa deixe uma mensagem bacana para o público, e para os meus filhos.
Quando falamos de solidariedade, lembramos do Luciano (Huck) porque o programa dele tem muito disso. Com o “Estrelas” reformulado, vocês vão ficar revezando quem faz o público chorar?
Não. Tanto ele como eu, não queremos fazer ninguém chorar, mas acontecer. Eu não gosto de ficar chorando, fico chateada quando não consigo controlar a emoção, porque estou lá pra mostrar uma situação, mas, às vezes, a gente não consegue segurar. Que bom que o programa emociona e toca, porque mostra que as pessoas têm sensibilidade para o outro. O “Caldeirão” tem a questão da premiação, mas nós queremos premiar o público com gestos apenas.
E como tem sido a sua participação em relação aos projetos escolhidos? Você tem colocado a mão na massa?
É o que mais estou gostando de fazer. Claro que nós temos que mostrar o projeto, conversar, fazer entrevistas com as pessoas, mas o mais legal é ser voluntário. É legal poder fazer, carregar a caixa, e sentir na pele o que as pessoas fazem. É interessante observar alguém sair de casa, doar o seu tempo, seu suor pelo próximo, que nem conhece. As instituições são muito especiais, mas quando tem idosos, fico mais sensibilizada. Gravamos em duas diferentes: uma mais carente e outra um pouco menos. Chamou-me a atenção a solidão dos idosos, independentemente da condição financeira, e fiquei refletindo sobre isso. A instituição que visitamos, e falamos sobre o desperdício de alimentos, também me tocou, porque às vezes quando você percebe que aquela maçã, que você só comeu um pedaço e jogou fora, pode ser a única refeição de alguém. Aí você passa a olhar diferente, para o que você vai jogar fora, e eu estou vivendo isso. Eu me sinto privilegiada, e tenho a sensação de estarmos fazendo um trabalho muito gratificante.
Você sempre esteve envolvida com esse tipo de projeto, ou é a primeira vez?
Eu sempre estive envolvida com campanhas, mas nunca tinha participado de um trabalho assim, colocando a mão na massa. E estar ali doando meu tempo, está me motivando muito. Nas redes sociais vemos muitas campanhas, e a gente ajuda, às vezes, sem falar que está ajudando, porque as pessoas acabam julgando, falando que estamos querendo aparecer. Sempre tem um espírito de porco pra tumultuar a campanha, mas o importante é ajudar o outro sem se importar com o que as pessoas vão achar.
Você comentou que sempre teve vontade de fazer esse tipo de programa, quem são as pessoas que te inspiraram?
Eu me inspiro vendo pessoas boas, me inspiro nos meus filhos. Eles inspiram a gente a querer um mundo melhor, e fazer mais pelo outro. Às vezes assistindo ao jornal, a gente perde um pouco a esperança, mas ao vermos pessoas que tiram o pouco que tem para dar ao outro, pensamos: “Poxa, o futuro dos meus filhos vai ser legal, porque existe gente boa, mas, às vezes, dá medo, e você se questiona do que vai ser o futuro deles”.
Você e o Luciano são pessoas muito bem-sucedidas, por conta da violência, em algum momento vocês pensaram em sair do país?
Olha, a nossa vida é toda aqui. Confesso que quando viajamos com as crianças, e normalmente é para fora do Brasil, até para ter uma vida mais tranquila e tal, percebemos a diferença, que é muito grande, com algumas questões como cidadania, educação, como por exemplo, das pessoas atravessarem a rua tranquilamente, e as outras respeitarem. Isso tudo mexe um pouco, mas é um pensamento que vem e vai embora. Só em outra vida, porque nessa nós somos brasileiros e moramos aqui, os nossos filhos serão criados aqui, nosso trabalho é aqui. Nós temos que tentar ser melhor, porque aqui é o nosso país, mas realmente temos a oportunidade de viver dois meses por ano essa outra realidade, que mexe com a gente, balança. Poderia ser melhor.
Quando você diz que fica mais tranquila quando viaja, é porque você também gosta desse anonimato?
Eu adoro! E gosto principalmente também pela convivência com os meus filhos. Por ver eles soltos na rua, poder andar e brincar, porque aqui não tem a menor condição. Não por serem conhecidos, e nem são na verdade, mas pela violência mesmo. Se você vai ao shopping, tem medo de ser assaltado no estacionamento. É uma coisa que nem parece real. Então são coisas assim, absurdas. Por eles eu adoro. Por mim, tudo bem porque eu nasci e cresci nessa coisa das pessoas me conhecerem, então tanto faz, mas pra eles eu vejo que faz muita diferença.
No programa do Luciano você participou de um quadro, em que voltou a ver a sua antiga casa. Como foi essa experiência?
Quase morri! Nunca esperei que o Luciano fosse fazer essa surpresa. Eu fiquei uns dois dias perturbada, o quadro mexeu demais, e aquilo serve para sessão de análise por um ano. Havia coisas ali dentro, que eu já nem lembrava mais. Foi lindo e feito com muito amor. Aquele quadro é maravilhoso, mas o meu foi especial, porque você percebe que foi o marido que fez. Ele pegou detalhes que ninguém faria. Foi realmente um gesto de amor muito bonito.
Em 2018, a escola de samba Grande Rio vai homenagear o Chacrinha, e nós sabemos que ele fez parte da sua vida, já que foi no programa dele que você apareceu na TV pela primeira vez num concurso infantil. Você pretende voltar a desfilar?
Total! Mas não me chamaram… Eu gosto de assistir, mas pela televisão. Eu tenho um pouquinho de preguiça do Carnaval, mas se for pelo Chacrinha… Durante muitos anos, eu saia, às vezes, em duas escolas. Eu acho lindo, maravilhoso, tem muita energia, mas confesso que eu ando com um pouco preguiça. Mas é claro que se me chamarem, pelo Chacrinha eu vou.
texto: Ester Jacopetti
fotos: Raquel Cunha/TV Globo