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Post: Domingos Montagner conversa com a Regional

Domingos Montagner conversa com a Regional

Montagner é sucesso como o Santo de “Velho Chico”

Com olhar sedutor, talento e determinação, o ator de “Velho Chico” conquistou não só os grandes diretores da dramaturgia, mas principalmente o público feminino

Não faz muito tempo que Domingos Montagner encarou seu primeiro papel na televisão. Sua estreia aconteceu em 2008, no seriado ‘Mothern’ no canal GNT. Em seguida foi escalado para ‘Força Tarefa’ engatando em ‘A Cura’, ao lado de ninguém menos que Selton Mello. Com olhar sedutor, talento e determinação, ele conquistou não só os grandes diretores da dramaturgia, mas principalmente o público feminino. Mas o que poucos sabem é que o ator começou sua carreira artística no teatro, participando do curso de interpretação de Myriam Muniz e no Circo Escola de Picadeiro. Sendo esta sua grande paixão, sua dedicação e carinho pela profissão, ganhou destaque quando ele e seu amigo Fernando Sampaio decidiram fundar o ‘Circo Zanni’. Desde então, ele tem se dividido entre inúmeros projetos que surgem em diversas frentes. “Gosto muito de intercalar o meu trabalho na televisão com o cinema, que pode ser encaixado, entre uma novela e outra. Consigo me dedicar aos espetáculos no circo e à minha companhia de teatro. É importante manter essa relação com o meu ofício e, ainda ter essa diversidade. A televisão chegou bem à frente nessa trajetória e eu tenho uma história muito longa com o teatro quando ela apareceu”, diz. Dessa vez ele encarna Santo em ‘Velho Chico’, um homem do sertão que aprendeu a lutar pelos diretos do povo através do trabalho. “Ele é um homem muito forte e consegue superar os problemas da vida. É apaixonado pela família, pela causa e briga pela oportunidade que deve ser dada a todas as pessoas”, completa. Nesta entrevista, Domingos revela mais detalhes sobre sua carreira, além de contar sobre outros projetos ao qual esteve envolvido e como tem sido levar a experiência dos palcos para a televisão. Confira!

REVISTA REGIONAL: São inúmeros personagens com características diferentes que você tem interpretado ao longo de sua carreira na televisão. O que normalmente costuma emprestar da sua personalidade?

DOMINGOS MONTAGNER: Sempre temos os personagens dentro de nós! O meu trabalho como ator é encontrar e me deixar contaminar pelas questões principais que ele tem e procurar descobrir a verdade da minha personalidade dentro deles. É determinação e superação! Acredito que todos nós, atores, temos essa característica. É procurar deixar em primeiro plano o que ele está pedindo. Existe uma busca que nós acabamos exercendo, até para se parecer cada vez mais com o personagem, na pureza de instinto e no olhar.

Seu personagem em “Velho Chico” é um homem forte que cresceu em meio à seca do sertão e você já comentou sobre superação. Poderia dizer que, de alguma forma, ele remeteu alguns momentos da sua vida?

Especificamente não, porque a trajetória do personagem é bem diferente da minha. Ele nasce no sertão, no meio da terra, no meio da fome, na dificuldade e, nós não temos ideia do que seja isso, do que seja passar fome. Quando vou construir um personagem, tento me contaminar com a história dele, pra chegar mais próximo da verdade. Busco essa característica o tempo todo. Ele é um homem muito forte e consegue superar os problemas da vida. É apaixonado pela família, pela causa e briga pela oportunidade que deve ser dada a todas as pessoas. O Santo ama a terra que ele vive, é apaixonado por uma mulher (Camila Pitanga), um amor de infância que ele conheceu e ficou gravado pela vida. O silêncio descreve esse conflito. Aos se encontrarem no Bar de Chico Criatura foi bem surpreendente, pois é representativo para os dois. Não é óbvio. Esse lugar imparcial favorece essa emoção transbordar. Tem o contraste com a emoção e a natureza prática do lugar. Foi interessante captar essa sensação. Ele é regido pelo amor e a luz. Nós tivemos um processo de preparação de quatro meses que foram intensos e maravilhosos. Essa é uma característica muito particular dos trabalhos do Luiz Fernando (Carvalho, diretor da trama) que traz uma interação com o elenco, uma temática com o assunto. Um trabalho bastante peculiar do diretor.

Há anos a Rede Globo não apostava numa trama rural no horário nobre, e “Velho Chico” tem sido muito bem recebida pelos telespectadores. O que você está achando desse novo formato?

Na verdade, o que nós pensamos é na qualidade da história que está sendo apresentada. Nós temos um elenco incrível. É inegável o alcance de uma novela. Quanto mais faces desse Brasil nós conseguirmos mostrar através da novela, melhor. Quanto maior a diversidade apresentarmos nos temas, será muito mais rico para o país e para o espectador. Cada vez mais a população irá se identificar. É muito importante levamos esse tema, que conta a história de uma porção da população.

Você não é daqueles atores que está sempre emendando uma novela na outra. O que te seduziu neste convite?

Trata-se de uma relação com a emissora e os convites que vão surgindo são encaixados de acordo com os meus compromissos. Gosto muito de intercalar o meu trabalho na televisão com o cinema, que pode ser encaixado entre uma novela e outra. Consigo me dedicar aos espetáculos no circo e à minha companhia de teatro. É importante manter essa relação com o meu ofício e ainda ter essa diversidade. A televisão chegou bem à frente nessa trajetória e eu tenho uma história muito longa com o teatro quando ela apareceu, mas faço questão de manter esse vínculo, porque fui formado aí, e sinto falta do contato com o público, vamos dizer assim. No cinema eu tenho outro tipo de experiência de dramaturgia para o vídeo, que também é muito importante e complementar para o nosso ofício. Não é nada pensado. Se a emissora me solicitar, termino aceitando. Eu já emendei novelas, mas ultimamente tenho conseguido um espaço considerável entre uma e outra, de pelo menos meio ano, para cumprir com outros compromissos. Esse convite foi maravilhoso e irrecusável. Eu nunca tinha trabalhado com o Luiz Fernando, sou um grande admirador. Do Benedito (Ruy Barbosa, escritor) nem se fala. Com essa proposta e elenco, não tinha nem como negar.

Já que estamos falando de outras novelas, você também fez “Cordel Encantando” (2011) que tinha esse universo do sertão. Você acha esse tipo de tema mais atraente?

Eu acho legal! Nessa novela nós tínhamos uma fábula sobre o sertão, inspirada em personagens de uma história que não tinha compromisso com o contemporâneo, porque nós tratávamos, por exemplo, de um momento da história desse país, mas de uma forma lúdica, mas muito importante. Nós mostramos um momento que foi muito legal e a novela foi um sucesso porque provocou identificação. Quanto mais diversidade alcançarmos, para agregarmos ao espectador, melhor. Inclusive, estamos voltando para uma região onde gravei muito próximo quando fizemos o Cordel. É uma região incrível, maravilhosa. Eu tenho certeza de que algumas pessoas não conheciam as paisagens que estão dentro do nosso país. Quando eu fui pela primeira vez, fiquei muito surpreso e maravilhado. Essa região do país é muito especial.

A novela tem um cunho político muito forte. Quais são suas expectativas em relação aos últimos acontecimentos no Brasil?

Esse é um assunto muito complexo para discutirmos. Nós não temos tempo para isso. Analisar a situação do país nesse momento, acho que não vai dar, mas acho que nós estamos vivendo um momento muito importante dentro da nossa história. O que eu poderia resumir nesse ‘muito importante’, é que nós temos que estar muito atentos, porque tem mudanças significativas, atitudes que talvez nós tenhamos o privilégio de vivenciar.

Da última vez que conversarmos você estava reservado para fazer “A Lei do Amor”, mas resolveu aceitar o convite para “Velho Chico”. Foi surpreendido com a notícia?

Na verdade, não porque o período em que “A Lei do Amor” (próxima novela das 21h) estaria sendo exibida, seria neste momento e, eu já havia equacionado os meus compromissos de acordo com o projeto. Quando ela foi adiada, fiquei me movimentando para modificar esse quadro, mas logo em seguida recebi o convite para fazer “Velho Chico”. Não mudou nada, no sentindo de agenda, mas de novela, que era estritamente urbana com um personagem que seria quase um vilão da trama, para outro completamente diferente, que é quase um santo.

Que personagem você viveria na trama?

Ele seria um empresário do ramo financeiro. Mas são surpresas da vida que nós acabamos tendo que nos adaptar. A nossa grande missão como artista é mostrar para o público algo que ele gosta e não sabe. Esse é o grande desafio para o ator. Eu também fiz um filme chamado “Um Namorado para Minha Mulher”, da Júlia Rezende, uma comédia com a Ingrid Guimarães e o Caco Ciocler. Já o circo, nós acabamos uma temporada em Campinas, e estamos voltando para São Paulo, mas talvez eu ainda participe num final de semana, porque sempre fico com saudades.

Em entrevista, o ator Rodrigo Santoro comentou que as externas de “Velho Chico” foram intensas por causa do calor. O que é mais difícil e prazeroso quando tem essas cenas em regiões mais inóspitas?

Eu adoro fazer externas, mas também me sinto bem, tanto na cidade cenográfica como em locações. Talvez pela experiência, porque eu trabalhei muito em teatro de rua. O ambiente real é muito inspirador. Sentir o clima, se está calor, se está chovendo, para compor a cena e trazer mais emoção, é sempre enriquecedor. Mesmo que nós estejamos sofrendo, porque perrengue sempre tem, mas se não tiver não vale a pena. Eu tenho estudado muito essa fase contemporânea da novela, porque nós temos envolvimento com a plantação, frutas, uvas, cultivos…  Essa parte prática. No galpão do Luiz Fernando, nós trabalhamos a parte teatral, digamos assim, a partir do princípio dos jogos de relações, de motivações e reconhecendo muito o meu trabalho teatral também. O Luiz gosta dessa abordagem, da representação. Ele gosta de superar o realismo, entrar para o mundo e contar uma história.

Recentemente você participou de uma série (Romance Policial – Espinosa) e havia muitas cenas quentes entre o seu personagem e da Bianca Comparato. Você acredita que para a atriz é muito mais difícil do que para o ator?

Não sei dizer se é mais difícil para mulher do que para o homem. São cenas bastante delicadas, que exigem o comprometimento de toda uma equipe, porque é de uma intimidade muito grande e, que você precisa construir um ambiente para que aconteça da maneira mais eficiente possível, para a dramaturgia. Não acredito que seja mais difícil para mulher, do que para o homem. Pelo menos pra mim é muito difícil. Nós temos que deixar a cena num nível de naturalidade. Isso exige uma discussão com a direção, para sabermos o que eles querem em cena, porque intimidade dentro de determinada dramaturgia, funciona de forma diferente. Algumas exigem um tipo de apreciação. O Espinosa e a Luana eram completamente apaixonados. Tinham uma relação muito interessante, porque os dois se encontravam num universo paralelo. Se afastavam para viver outro tipo de relação emotiva, que eles não viviam no cotidiano. Eles tinham verdade, intimidade, confiança sem precisar formalizar o compromisso, o que era bárbaro na relação entre os dois.

E já que estamos falando no seriado, existe alguma diferença na hora de gravar? É mais difícil participar de um projeto mais curto, porque você não pode entregar detalhes do personagem que tem começo, meio e fim?

Eu fiz “O Brado Retumbante” (2012) então eu já tinha dito essa experiência. A abordagem da dramaturgia é diferente. Você conhece a história do início ao fim, o que faz muita diferença e é fundamental para construir as nuances do personagem e a duração também. É necessário dosar a intensidade ou a curva dramática de maneira completamente diferente.

texto: Ester Jacopetti

foto: João Cotta/TV Globo

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