Maior colunista social do país em atividade, Amaury Junior coleciona histórias em 50 mil entrevistas e 35 anos de carreira
Com uma história fascinante, o jornalista Amaury Junior construiu sua carreira através de muita dedicação, tornando-se referência como um dos grandes apresentadores no Brasil. Hoje com 35 anos de trabalho e 50 mil entrevistas no currículo, o colunista social conta tudo o que aprendeu ao longo dos anos. “Hoje a riqueza de um jornalista são suas fontes. Eu era colunista do extinto ‘Diário Popular’ e, graças a esta coluna, consegui entrar na televisão, e, enfim, aumentar as minhas fontes. A vida é uma festa, mas a prospecção não é fácil”, afirma ele, que teve sua trajetória contada no livro “A Vida é uma Festa”, escrita pelo jornalista Bruno Meier. “Concordei que o livro fosse escrito. Eu jamais faria uma autobiografia, aliás, não acredito nisso, porque as pessoas acordam todos os dias pela manhã querendo melhorar a sua autobiografia”, comentou o jornalista que se encontrou com o escritor várias vezes, mas ficou chateado, por não ter lido a obra antes de sua publicação. “O único desentendimento que nós tivemos, que foi até saudável, é que eu acreditava que estava implícito no nosso relacionamento, era eu dar uma olhada no texto final, mas o Bruno disse que não. Fiquei um pouco bravo. Em tese, ele tem razão, mas a história do politicamente correto só pega quando é com a gente”, lamentou Amaury que, após uma leitura rápida em algumas páginas, encontrou algumas imperfeições. “Só tem uma correção para ser feita, porque o Bruno escreveu que eu acho que todos os garçons são safados. Ele não entendeu direito! Vai ter que consultar no gravador novamente, porque o que eu disse era que garçom é um bicho safado, com muitas exceções. Não quero me sentar num restaurante e correr o risco de colocarem alguma coisa no meu prato (risos) porque não é verdade”, disse em tom de brincadeira. A partir de agora, vamos conhecer um pouco mais sobre a vida deste fenômeno da televisão brasileira.
REVISTA REGIONAL – Apesar de ter nascido em Catanduva (SP), foi em São José do Rio Preto (SP) que você iniciou sua carreira jornalística. Em que momento você percebeu que seguiria este caminho?
AMAURY JUNIOR – Eu era aluno do “Instituto de Educação Monsenhor São Gonçalves”. Naquela época havia murais, onde elaborávamos notas e prendíamos com preguinhos. No nosso tempo, cada classe fazia um jornal. Isso significava olhar os jornais e as revistas que chegavam a Rio Preto. Nós recortávamos o que julgávamos interessante e colocávamos no mural. Nós fazíamos diagramação e era muito bonitinho. Eu ficava de longe, espreitando qual o mural mais tinha aglomeração de colegas, e era o meu. Eu adorava aquilo! Procurava fazer um melhor do que o outro. Como eu tinha um bom texto – meu pai (Amaury de Assis Ferreira) era professor de Língua Portuguesa e me obrigava a ler pelo menos um livro por mês – me convidaram para fazer uma coluna. Foi quando tudo começou. Depois fui trabalhar na televisão da cidade. Estou há 35 anos nesta estrada. O meu programa de televisão (Amaury Jr. Show) na Rede TV, ainda é um iceberg. A potencialidade está encoberta pela água… Eu tenho sempre pedido para a direção da emissora para me ajudar a subir, tirar e mostrar o iceberg. Este é um bom iceberg e não aquele do Titanic… (risos).
Há um tempo surgiu um boato de que você teria sido convidado para fazer parte do “Fantástico”, mas você recusou, porque preferia continuar onde estava. É verdade?
Não foi bem assim. Eu estive com o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor da Rede Globo) no Rio de Janeiro e quem me apresentou foi o meu querido amigo Faustão. O Boni tinha um projeto – The Late Show – e o Jô Soares nem estava no ar ainda. Ele gostava do que eu fazia, mas não queria o meu formato na emissora. Lembro-me desta conversa como se fosse hoje, nós dois na sala dele, conversando sobre o assunto, inclusive ele queria saber qual era o meu signo. Fiquei tentando adivinhar que signo ele mais gostava… (risos). Conversamos, e ele pediu calma, porque analisaria um formato de programa, e depois me chamaria. Eu teria que sair de São Paulo e eu tinha acabado de chegar de Rio Preto. Estava com dois filhos pequenos (Amaury e Maria Eduarda) nas costas. E aquele não era o momento de me mudar para o Rio de Janeiro. Daí me buzinaram de que me encostariam em algum lugar na emissora, para somente depois, eu ser repórter do “Fantástico”, enquanto formatariam um novo programa. Mas o Boni foi embora, saiu da emissora e já relembramos no ar e eu até perguntei para ele porque queria saber o meu signo. Ele explicou se eu tivesse signo ruim, não iria nem conversar comigo (risos).
Relembrando um pouco sobre a sua carreira, quem você gostaria que estivesse aqui hoje para celebrar com você todo este sucesso que alcançou com muito trabalho e suor?
Lamento a minha mãe (Clélia Ceribelli) não estar aqui hoje, ao meu lado, num momento bom como este. Mas tenho certeza de que ela está aqui de alguma forma. Eu agradeço toda a minha família que sempre me ajudou muito. Os meus filhos obviamente eram pequenos, na época quando eu comecei, mas a minha mulher (Celina Ferreira) de maneira informal organizava tudo pra mim. Hoje a riqueza de um jornalista são suas fontes. Eu era colunista do extinto “Diário Popular” e, graças a esta coluna, consegui entrar na televisão e, enfim, aumentar as minhas fontes. A vida é uma festa à noite, porque durante o dia, temos que trabalhar, que pagar contas, empregados, mas à noite deixamos os problemas trancados e vamos comemorar e festejar. Vamos conhecer o mundo antes de deixá-lo. O tempo passa rápido. Festejem sempre e eu espero que a atual crise política e econômica no Brasil termine logo para que possamos voltar a festejar. A vida é uma festa, mas a prospecção não é fácil.
Recentemente foi lançado o livro “A Vida é uma Festa”, o qual conta onde tudo começou, não só sua carreira como jornalista, mas alguns fatos pessoais. Como surgiu esta oportunidade de contar um pouco mais sobre a sua história?
Concordei que o livro fosse escrito. Eu jamais faria uma autobiografia, aliás, não acredito nisso, porque as pessoas acordam todos os dias pela manhã querendo melhorar a sua autobiografia. O meu encontro com o jornalista Bruno Meier, autor do livro, foi provocado pela minha assessoria de imprensa. Ele veio me auscultar para fazer uma possível matéria para a “Revista Veja”. Felizmente ele encontrou um bom conteúdo. Comentou que se eu resolvesse falar tudo, daria uma matéria maravilhosa. Eu disse que só falaria 50% (risos). Eu não quero advogado na minha porta a essa altura do campeonato (risos). A minha vida não dá uma reportagem, mas sim um livro. Ele gostou da ideia.
Você comentou que concordou com o livro, mas saíram muitas notícias de que você não teria conseguido ler a obra. Agora que ele já está sendo comercializado, conseguiu ter uma ideia do que o livro fala sobre você?
Eu não consegui ler o livro inteiro e o único desentendimento que nós tivemos, que foi até saudável, é que eu acreditava que estava implícito no nosso relacionamento, era eu dar uma olhada no texto final, mas o Bruno disse que não. Isso aconteceu depois que nós ficamos amigos. Ele comentou que não me deixaria ler a biografia, porque se eu quisesse mexer, ela perderia a credibilidade. Fiquei um pouco bravo. Em tese ele tem razão, mas a história do politicamente correto só pega quando é com a gente né?! O politicamente correto é bom para todo mundo, mas não quando pega em você. De qualquer forma, comprei o livro e encontrei algumas imperfeições que depois vamos conversar (risos).
Como foi o seu encontro com o jornalista? Durante estes períodos, você se emocionou ao recordar alguma parte da sua história?
O livro demorou mais de um ano para ficar pronto porque nós tivemos sessões variadas e repetidas. Foram mais de 50 encontros. Ele é um profissional que me conheceu como fonte, mas hoje eu o considero amigo. Passei a admirá-lo cada vez mais! É um editor respeitadíssimo, me sinto homenageado por ter sido escolhido por ele. O livro é muito bom e o texto do Bruno é precioso! Ele dividiu em capítulos importantes, e em nenhum momento fugiu da realidade do que nós conversamos. Ele também falou com algumas fontes, porque ele não articulou apenas comigo, mas foi até a minha cidade (Catanduva) e conversou com alguns amigos, com patrocinadores e até com desafetos. Descobriu que eu já tive sete gonorreias que equivalia na época a um resfriado. Ele consultou o filho do médico que me atendia. Descobriu até como ficava o meu menino Jesus (risos). É um louco o Bruno Meier. O texto dele tem uma suavidade de uma sonata de musa. Está perfeito! Não gostei muito da capa, porque eu não estava num bom dia. No mais, tudo bem!
O título do livro é bem sugestivo. A vida pra você é uma festa mesmo? Folheando um pouco, percebemos que é possível conhecer um pouco a sua história e até mesmo, um pouco da sua intimidade…
É mesmo?! Se você quiser conto o que eu não contei para o Bruno (risos). Sempre brinco que no Brasil as coisas mudaram, porque biografia era somente de pessoas que já tinham partido. Agora não, as biografias são feitas para as pessoas que ainda estão vivas, para matar a curiosidade dos outros. Nasceu essa história minha com o Bruno, e eu brinco que é uma biografia não autorizada, porque ele não me deixou ler o livro antes. Só tem uma correção para ser feita, porque o Bruno escreveu que eu acho que todos os garçons são safados. Ele não entendeu direito! Vai ter que consultar no gravador novamente, porque o que eu disse era que garçom é um bicho safado, com muitas exceções. Sempre fui muito bem tratado. Não quero me sentar num restaurante e correr o risco de colocarem alguma coisa no meu prato (risos) porque não é verdade. Agora, que tem garçom safado tem! Eu fui dono de boate duas vezes, uma em Rio Preto, a “Pops”, inclusive o Bruno conta no livro. Metade da cidade se conheceu e se casou lá. Depois foi o “Clube A” em que fiquei três anos, e depois mais dois para poder criá-lo. Então, quando falo que tem garçom safado, tem mesmo, mas em todas as profissões tem! Mas no livro saiu que todos são. Estou banido dos restaurantes do mundo (risos).
Ao longo da sua vida na televisão, que já somam 35 anos de trabalho e 50 mil entrevistas realizadas até hoje, que personalidade ficou de fora, que você gostaria de ter entrevistado, mas por algum motivo não conseguiu? Aliás, tem algum entrevistado que você tenha criado uma expectativa, mas na hora não foi do jeito que você esperava?
Marisa Monte! Ela é o João Gilberto de saias! E olha que ele me deu entrevista, mas a Marisa Monte eu não consegui entrevistar. Já convidei centenas de vezes. Uma vez ela topou, mas não deu certo, ela viajou, na outra eu viajei. Eu quero entrevistar a Marisa Monte, mas ela é o João Gilberto de saias. Quem sabe um dia… Você entende a extensão do que estou falando?! Eu já entrevistei o Luiz Fernando Veríssimo, umas duas ou três vezes. Ele é o entrevistado que mais decepciona um repórter, porque é monossilábico, não fala nada, mas é de uma riqueza. Seus livros, eu já li todos. Ele é um excelente saxofonista! Durante uma entrevista pedi pra ele tocar, já que não ia falar mesmo… Depois acabou a entrevista (risos). Não digo que tenha sido decepcionante, até porque ele tem um universo muito rico e maravilhoso e nós queremos extrair isso dele, mas ele fica derrapando e não sai nada… Quando eu estava na Rede Bandeirantes, comemorei 20 mil entrevistas. Fomos a uma festa onde entrevistei 27 pessoas, numa só noite. Nós só consideramos entrevista, quando falamos com a pessoa sobre algum assunto, entrevista mesmo.
Recentemente você recebeu o convite para participar da Febracos (Federação Brasileira de Colunistas Sociais). Como reagiu quando ficou sabendo?
Fiquei muito orgulhoso, inclusive quando me convidaram para a festa em Cuiabá. Concordei em tomar pose imediatamente. A Febracos tem uma força muito grande. Quanto mais os colunistas estiverem unidos, nós representaremos significativamente uma classe consistente no Brasil.
texto: Ester Jacopetti
foto: Fernanda Simão/Rede TV!