Casos da doença que gera atrasos no desenvolvimento intelectual e cognitivo podem ser causados por zika vírus
O Ministério da Saúde declarou, nos últimos meses, situação de alerta por conta do aumento de casos de microcefalia que estão ocorrendo no país. Até o final do ano, dados do boletim epidemiológico apontavam 740 casos suspeitos nos Estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Ceará, Goiás e também em São Paulo, sendo que dentro deste número 487 bebês eram de Pernambuco.
A microcefalia é uma condição em que o tamanho do crânio é menor do que o tamanho mínimo padrão para a idade do feto ou da criança. “O tamanho reduzido da cabeça decorre de um atraso do desenvolvimento cerebral e, por conseguinte, da caixa craniana, estando altamente associada com o atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e deficiência intelectual”, explica o neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, dr. Gabriel Variane. Os sintomas mais frequentes relacionados à microcefalia são dificuldades para amamentação e alimentação, espasticidade (distúrbio de controle muscular), crises convulsivas e deficiência intelectual e cognitiva.
Ainda de acordo com o dr. Gabriel, a microcefalia pode ocorrer devido a síndromes genéticas, exposição materna a substâncias tóxicas, consumo de drogas, alcoolismo materno ou infecções congênitas, como citomegalovírus, toxoplasmose, rubéola e varicela. “Não há tratamento que seja capaz de reverter a condição. O manejo destes pacientes baseia-se na busca por minimizar as deformidades e, por meio de estimulação neurológica precoce, maximizar o desenvolvimento das capacidades da criança e sua interação com a comunidade”, esclarece.
A informação do Ministério da Saúde é que a principal hipótese para a causa deste surto de microcefalia seja a contaminação por zika vírus. Este vírus veio da África e é recente no Brasil, sendo identificado pela primeira vez em abril deste ano. “Ainda não há registro na literatura médica que comprove a ligação do zika com a microcefalia, porém há uma relação temporal entre os casos e a circulação de alguns vírus, como o da dengue, da chikungunya e do zika. Além disso, já se sabe que o zika vírus tem forte afinidade com o sistema nervoso central, inclusive em alguns casos de microcefalia aqui no Brasil foram confirmadas a presença dele”, comenta dra. Rosana Richtmann, infectologista e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital e Maternidade Santa Joana.
Da mesma família do vírus da dengue, o zika também é transmitido por meio do mosquito Aedes aegypti, que costuma se desenvolver em áreas tropicais e subtropicais. Os principais sintomas são febre, dor no corpo e erupções cutâneas. Assim sendo, sobretudo as gestantes devem ficar alertas ao sentirem esses indícios e logo procurarem serviço médico.
Também é importante ficarem atentas a possíveis focos de reprodução do mosquito que depositam seus ovos em água parada. “Ainda não há tratamento ou vacina, então o mais indicado é a prevenção. Eliminar possíveis focos de reprodução do mosquito ajudam no combate ao vírus”, afirma dra. Rosana.
Compreenda melhor a microcefalia:
A microcefalia ocorre pelo não crescimento do tecido cerebral, sendo agravada nos quadros infecciosos por uma destruição do parênquima cerebral (tecido que forma a função principal do órgão) associada à presença de calcificações periventriculares (enrijecimento do tecido). “O mais preocupante é quando essas alterações morfológicas ocorrem no primeiro trimestre gestacional, que é quando a estrutura básica cerebral está sendo formada. Ainda não podemos prever quais serão os distúrbios neurológicos que essa microcefalia irá acarretar, mas, levando-se em consideração o grau de atrofia cerebral verificado e a presença de calcificações grosseiras intracranianas, é de se esperar que esses recém-nascidos venham a apresentar sequelas neurológicas severas. Por isso, há um alerta de prevenção ao provável causador da doença, o zika vírus, principalmente nos três primeiros meses de gravidez”, enfatiza o dr. Sérgio Cavalheiro, neurocirurgião pediátrico. Segundo ele, o bebê diagnosticado com microcefalia pode apresentar crises convulsivas, necessitando de medicamento anticonvulsivante, e atraso severo do desenvolvimento neuropsicomotor, que compromete inúmeras funções, como a visão, a fala e a locomoção. “Não há ainda tratamento que leve à cura ou que evite a contaminação do feto após infecção da mãe. A destruição do tecido cerebral é irreversível. O que existe são tratamentos de suporte. Então, desde recém-nascidos, essas crianças deverão ter acompanhamento de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e hidroterapia, além do pediatra”, explica dr. Sérgio.
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