>

Post: Os discos de vinil voltaram!

Os discos de vinil voltaram!

Ponta da agulha: “Quando as pessoas entram em contato com o som caloroso do vinil, imediatamente sentem o quanto a música digital roubou dele em qualidade”

Os antigos bolachões em vinil voltaram com tudo; novos artistas também lançaram títulos em LP

Após 20 anos fora do mercado, dominado pelos CD’s e pela tecnologia, os discos de vinil, LP’s, ou os populares bolachões estão de volta. Uma onda de nostalgia que a cada dia conquista mais adeptos, dispostos a encarar horas dentro de um sebo empoeirado garimpando o que há de melhor em música, ou até mesmo os que não se incomodam em desembolsar algo em torno de R$ 200 por lançamentos ou exemplares antigos e impecáveis nas grandes lojas.

Mas, todo esse movimento em torno do retorno do vinil vai muito além à onda retrô e à nostalgia. Para os colecionadores, o vinil é uma experiência tátil, visual e auditiva, impulsionada pela qualidade do som, a beleza da capa e a oportunidade de colocar um disco no prato e a agulha para tocar.

Segundo o consultor da Polysom -única fábrica de LP’s da América Latina-, João Augusto, manusear os quase 200 gramas do disco nas mãos, colocá-lo no toca-discos, observar artes estampadas em 31×31 cm (contra os 12 cm do CD), ler o encarte e a contracapa, trocar de lado e ainda ouvir um som que tem vantagens cientificamente comprovadas sobre qualquer som digital é uma experiência ímpar.

“Tudo isso faz com que o vinil seja encarado como um fetiche, um objeto de desejo. Quando as pessoas entram em contato com o som caloroso do vinil, imediatamente sentem o quanto a música digital roubou dele em qualidade”, afirma João Augusto.

Qualidade que artistas como Adele, Coldplay, Katy Perry, Muse, The Strokes, entre outros, não abrem mão, afinal suas obras já encontram-se em vinil nas lojas e custam, em território nacional, de R$ 120 a R$ 180. Mas os brasileiros não ficaram de fora, entre eles, Cachorro Grande, Fernanda Takai, Nação Zumbi e Pitty, relançaram seus recentes trabalhos no formato Long Play.

Após o fechamento da Polysom em 2007, devido a dificuldades financeiras, quem quisesse adquirir um vinil tinha que garimpar em sebos ou comprar importados. No exterior as fábricas continuaram em pleno funcionamento e todas sempre afirmaram um crescimento na demanda. Em 2010, a Polysom reativou a fábrica, localizada em Belford Roxo (RJ) e desde então produziu mais de 135 mil exemplares, entre eles alguns muito procurados como “A Tábua de Esmeralda”, de Jorge Ben e “Todos os Olhos”, de Tom Zé, além das discografias de artistas como Los Hermanos e Nação Zumbi.

De acordo com os últimos dados divulgados pela IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), o valor global arrecadado com a venda de discos de vinil foi 52% maior em 2012 do que no ano anterior. As pesquisas apontam um crescimento nos EUA e Europa. No Brasil ainda não há um levantamento específico da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Disco), mas tudo indica que por aqui segue a mesma tendência dos grandes mercados. “O crescimento por aqui é mais lento, fundamentalmente pela falta de players a preços acessíveis”, conta João Augusto.

O alto preço praticado no mercado tem feito muito colecionador e amante do vinil “dar um tempo” em novas aquisições. Os colecionadores mais radicais, aqueles que nunca abandonaram o vinil, nem mesmo nos tempos de glória do CD, consideram o modismo atual o principal causador dos valores. Outros acham que o preço terá um ajuste com o passar do tempo e consideram a velha lei da oferta e da procura, presente em todas as áreas de consumo, a grande vilã.

Outro objeto do desejo em relação aos vinis é a vitrola. Muitos optam por toca-discos antigos, relíquias de famílias que foram guardadas e conservadas com o passar do tempo. Os que não têm a mesma sorte aventuram-se em encontrar design moderno, qualidade, beleza e preço justo, em algumas lojas. Uma tarefa difícil, mas não impossível. Em Itu, uma dessas lojas é a Ribeiro e Pavani, que disponibiliza vários modelos de vitrolas.

Os sebos são os locais preferidos para garimpar discos, afinal dispõem de exemplares de qualidade e preços mais justos

A paixão pelo vinil

Os amantes do vinil estão espalhados pelo mundo! No Brasil, podemos achá-los em encontros do segmento, sebos, feiras de antiguidades, lojas de renome, porões de casas e, claro, nas redes sociais. No Facebook há diversos grupos destinados a colecionares, alguns deles com cerca de 9 mil participantes, que trocam figurinhas, exemplares e informações.

Em um desses grupos encontramos o colecionador José Carlos de Souza, de Joinville (SC), um apaixonado por música e que recorda, com carinho, os primeiros vinis que teve contato na vida, quando o pai adquiriu uma vitrola, por volta de 1976/1977: Benito de Paula, Elvis Presley, Secos e Molhados e um disco de músicas natalinas. Aos 18 anos veio o primeiro emprego e o pontapé de uma coleção que já tem 30 anos de estrada e mais de 700 exemplares. Ele parou de contar com o tempo, por isso não é possível um número exato.

José Carlos foge do perfil dos colecionadores tradicionais. Sua coleção está armazenada em uma estante e a falta de espaço faz com que divida terreno com duas bicicletas e outros objetos. Detalhes insignificantes para o conteúdo que adquiriu ao longo dos anos. “Sempre vou a feiras e sebos aqui na minha cidade e quando começo falar de música, termino pedindo LP’s que estão abandonados em algum canto. Quando sei que algum amigo está no exterior, peço alguma coisa! Não me fixo em determinado artista, mas se curto o som compro”, conta.

Mas a paixão pelo vinil do José Carlos vai além do som na ponta da agulha e da música e passa pela capa dos LP’s, a ponto dele realizar em sua cidade, uma exposição de capas de vinil, em agosto de 2013. Foram mais de 120 capas expostas em um bar de Joinville, sem apoio financeiro. “Sempre vi uma capa de LP como uma obra de arte e na exposição, mostramos um pouco da música, história, fotografia e artes plásticas”, comemora.

O fascínio pelas capas deu início aos oito anos, quando viu pela primeira vez o LP do Elton John “Captain Fantastic” e desde então não parou mais de admirar. Outra capa que tem muito significado para ele é “Stange Days”, do The Doors.

E ele define a paixão por vinil e por capas assim: “enquanto existir essa cultura do físico, do pegar, olhar a capa e ler a ficha técnica do álbum pra mim sempre será interessante!”.

 Pelos sebos da vida

Vida de colecionador de vinil é regida por um verbo: garimpar! E os sebos são os locais preferidos para isso, afinal dispõem de exemplares de qualidade e preços mais justos. Nas principais capitais brasileiras encontramos sebos enormes, alguns com mais de 1 milhão de exemplares. Acervo que deixa qualquer amante dos bolachões completamente alucinado.

No Interior também tem muita coisa boa! Em Itu, por exemplo, há quatro anos o Sebinho divide o espaço com livros e LP’s e atrai compradores de toda a região. São aproximadamente 5 mil vinis, um acervo variado que engloba de samba a rock, o mais procurado pelos colecionadores.

Segundo o proprietário, João Lima, o João Japonês, houve um aumento significativo pela procura de vinil nos últimos dois anos e para dar conta da demanda, ele adquire os exemplares em lotes de no mínimo cem discos ou menores quantidades quando o preço é convidativo.

“Precisamos saber comprar discos e garantir um material bom. Na hora da compra e da venda também, avalio os valores pelo estado de conservação e raridade”, comenta João Japonês.

reportagem de Aline Queiroz

 fotos:

© jordieasy

© rgvc – Fotolia

# DESTAQUES

Abrir WhatsApp
1
ANUNCIE!
Escanear o código
ANUNCIE!
Olá!
Anuncie na Revista Regional?