A região de Provence, no sul da França, guarda aldeias medievais, natureza exuberante, luzes e sabores inigualáveis
Se você já visitou Provence, esta região ficará gravada para sempre na sua memória e nos seus sonhos com cores luminosas, principalmente com o amarelo-gema das paredes das casas e com duas tonalidades de azul: o alfazema, planta que é a imagem de Provence, e o vivo azul brilhante de um céu límpido, na altura em que o vento feroz ruge pelo vale do rio Ródano.
Esta região francesa é tão encantadora que se transformou num dos recantos mais amados de toda a Europa e, no que à França diz respeito, no topo da lista dos lugares que todos querem visitar. O desejo de viver lá é tão universal que pensamos que o resto do mundo sente o mesmo que nós em relação às maravilhas do local.
As fronteiras de Provence não se podem delimitar com muita exatidão, uma vez que esta zona engloba uma área enorme, diversos microclimas e, num certo sentido, diferentes culturas. Ela se aproxima dos Alpes, sobre os campos de vinhas, de oliveiras e de alfazema. Apenas a fronteira italiana consegue travar a progressão desta província para leste, mas mesmo assim, as várias – e tão atraentes – nuances da cultura provençal entraram pela “bota” e impuseram-se também na Itália. A Provence atravessa o Ródano, por dentro do Maciço Central, e serpenteia para norte em direção a Valença, onde as suas comidinhas especiais são responsáveis por parte da tradição valenciana de criar grandes chefs. Ninguém consegue delimitar com exatidão a fronteira sul de Provence. Embora todos se refiram a esta quando fala no sul da França, o Languedoc fica muito mais a sul ainda.
Provence tem a sua própria gastronomia, com destaque ao marisco e às arrojadas especiarias. Um dos pratos típicos da região é o bouillabaisse, à base de peixes e criado pelos trabalhadores da cidade portuária de Marselha. Se reparar nas prateleiras das mercearias de toda a França, encontrará latas de atum provençal, ideal para um belo prato, com molho de tomate, azeitonas e ervas bem picantes. Esqueça por momentos as suas bem intencionadas promessas de dieta ou regime e compre um pacotinho de batatas fritas made in Provence. Não há melhores batatas no mundo inteiro! São fritas em azeite e polvilhadas com diversas ervas aromáticas e especiarias.
A mais solar das regiões
Pense em motivos alegres, nos quais predominam o amarelo e o azul, e terá encontrado a própria essência dos padrões provençais. Nas várias lojas e butiques das estradas que atravessam esta região tão solar, encontrará aventais, paninhos para cestos de pão, toalhas de mesa e vistosos tecidos.
Mas foram os pintores e escritores que conseguiram definir Provence. Ainda vemos toda a zona ao redor da Aix-en-Provence através dos olhos de Paul Cézanne, pintor que viveu praticamente a vida inteira nesta bonita cidade cheia de fontes, que se encolhe a sombra da dramática Montagne Saint Victoire, presente em tantos dos seus quadros.
O artista dominante de Provence foi, no entanto, Vincent Van Gogh, esse holandês que chegou à França e descobriu Arles, onde viveu durante o período mais produtivo da sua vida. Ele adorava a luz de Provence e serviu-se dela para convencer Paul Gauguin a partilhar sua casa, em 1888. Não se tratou de uma amizade fácil e Gauguin viveu lá apenas nove semanas, antes de literalmente fugir às exigências e intensidade de Van Gogh. Pouco tempo depois, o artista deu entrada no hospital psiquiátrico de St. Remy. Durante essa estada, ele executou algumas de suas obras mais dramáticas.
Provence é terra de bonitas aldeias, e são estas aldeias e pequenas cidades – mais do que, propriamente, as cidades – que dão alma à região. Marselha é, no entanto, uma cidade fascinante, construída no meio de um grupo impressionante de montanhas, com rochedos que descem a pique até o mar, e povoada por raças e culturas de todo o mundo – por alguma razão o seu porto é um dos mais concorridos do Mediterrâneo. No entanto, a maioria das pessoas vê Provence como “charme rural” e não como sofisticação urbana. Um trator que puxa uma carroça carregada de uvas acabadas de colher através dos caminhos de aldeia, em direção às cooperativas vinícolas, será uma melhor definição da Provence do que os problemas de trânsito em horas de pico.
St. Remy
Para muitos, St. Remy é a cidade mais tipicamente provençal, em parte devido à sua aparência, noutra parte devido à enorme quantidade de artistas e escritores que a elegeram como sua casa. Mesmo atualmente, cerca de cem artistas vivem na área englobada por St. Remy, todos atraídos pelo mesmo motivo que para lá levou Van Gogh: a intensidade mágica da luz.
O local também é reduto de dois escritores. O primeiro e mais famoso é Michel de Nostradamus, nascido em St. Remya 14 de dezembro de 1503. Foi lhe dada a alcunha de Nostradamus (“nós damos o que é nosso”) quando frequentava a famosa escola de Medicina de Montpellier. Um dos maiores intelectuais do Renascimento, Nostradamus ficou conhecido, principalmente, devido à sua enigmática obra “Os Séculos”, que muitos acreditam ser um livro de profecias. (fonte: Volta ao Mundo)
texto Fábio Silveira Zanoni
fotos: Arquivo pessoal e Fotolia