Além de alimentos bem selecionados, a panela ideal faz toda a diferença na hora de preparar as refeições

Um dos ingredientes principais em uma moqueca de peixe é a panela de barro, é ela quem dá o gosto peculiar ao prato. Assim como a panela de ferro ajuda a dar o gostinho especial ao feijão. A boa notícia é que, além do sabor, o tipo de panela ajuda no valor nutricional dos pratos e, até, a prevenir doenças.

A doutora em alimentos e nutrição, Késia Diego Quintaes, que se especializou no estudo da ligação entre os tipos de panelas e valor nutricional dos pratos, começou seu interesse no assunto quando teve conhecimento da composição química da pedra-sabão e enxergou nela uma possibilidade para o tratamento e prevenção de anemia por deficiência de ferro que, de acordo com a profissional, é a principal deficiência nutricional da população brasileira.

Durante os anos de estudo, Késia descobriu três coisas que mais chamaram a atenção. “Saber que a transferência de elementos e componentes dos materiais que entram em contato com alimentos ocorre, e que no caso do ferro, ele é biodisponível ao organismo humano; entender que cada material tem propriedades e interação com os alimentos de forma única, resultando em indicação de uso diferenciada para melhor proveito dos nutrientes e aspectos sensoriais; e que não podemos dizer que um material é superior ou melhor a outro, mas sim que tem mais ou menos aplicações no contato com os alimentos”, inicia a nutricionista.

E dentro dessas descobertas, a profissional diz que, por exemplo, a panela de ferro não é indicada para frituras, enquanto a de alumínio tem melhor desempenho neste tipo de preparação. “Por outro lado, para armazenar alimentos, o inox é superior a panela de ferro. Assim, cada material tem sua especificidade e é possível de forma prática tirar proveito de todos eles, sem jogar fora as panelas já existentes”, completa.

O ideal é fazer uma mescla nos tipos de materiais. Um exemplo é a tradicional panela de barro, que não é aconselhada a ser usada mais do que quatro vezes por semana. “Devido à composição química heterogênea do barro, não é possível afirmar sobre sua real interação com os alimentos. Como medida preventiva, e visando manter as características sensoriais, uma alternativa seria preparar a moqueca em panelas de pedra-sabão, curadas previamente”, diz.

E como o melhor remédio é prevenir, Késia afirma que as possíveis interferências entre o tipo de panela com a nossa saúde ocorrem a médio e longo prazo. “Talvez por isso algumas pessoas se sentem confortáveis com o uso habitual das panelas acreditando que estão seguras. Todavia, a exposição contínua a certos elementos ou compostos transmitidos pelos materiais que entram em contato com alimentos pode resultar em problemas à saúde no futuro, na idade mais avançada. Por outro lado, a escolha sensata entre o material e o tipo de alimento, bem como forma de preparo, pode resultar em boa saúde e prevenir doenças”, ressalta.

Há contraindicações

As necessidades nutricionais são distintas entre as pessoas de acordo com sexo, idade, se praticam atividades físicas e o estado de saúde. Assim, quando se considera, por exemplo, pessoas com colesterol ou triglicérides elevados, uma ingestão maior de ferro pode ser considerada contraindicada, uma vez que este elemento é pró-oxidante. Neste exemplo, as panelas de ferro não deveriam ser utilizadas, é necessário dar preferência por outras, como as de vidro e aço inoxidável. “Mas para as gestantes e os bebês, principal público sujeito à anemia ferropriva, é indicado o preparo em panela de ferro de um alimento no almoço e de outro no jantar. Ter muitos, ou todos os alimentos preparados em panela de ferro, pode resultar em ingestão excessiva da vitamina, o que é contraindicado também.”

Por isso, na hora de preparar seu almoço e seu jantar, leve em conta, além da procedência dos ingredientes, o tipo de panela que vai receber a receita. Afinal, a saúde começa nela.

 texto Yara Alvarez

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