Há um ano, o “Músicos do Elo” vem desenvolvendo um trabalho em nossa região que é pioneiro no país, utilizando a música como instrumento de humanização em hospitais
Imagine-se na recepção de um hospital! Angustiante, não? Afinal de contas, se você está esperando para ser atendido é porque algo não está bem com sua saúde. De repente, duas pessoas entram delicadamente, cantando e tocando uma música, bem baixinho, e por um minuto você se esquece de que está à espera do médico. Se não acontece desta forma, ao menos uma sensação de conforto irá sentir. Sim! A música tem esse poder. Agora, se na recepção de um hospital isso já é bom, imagine para pacientes que estão internados há um ou vários dias e até mesmo meses. Wilson Brisola Fabro e Leilianne Camargo formam o “Músicos do Elo”, que há um ano desenvolve trabalho em hospitais através de um projeto de humanização, levando momentos de prazer e emoção, colocando a doença e a hospitalização em segundo plano.
Os principais instrumentos utilizados por eles? A voz e a sensibilidade. Com objetos sonoros que vão de instrumentos musicais a brinquedinhos de borracha, os “Músicos do Elo” são responsáveis por um trabalho pioneiro no Brasil e atualmente estão desenvolvendo um projeto dentro do Hospital São Camilo, a antiga Santa Casa de Itu.
A história desses dois músicos na intervenção em hospitais começou em 2011 ao participarem do 1º Curso de Formação para Músicos Atuantes em Hospitais, sediado pelo Hospital Premier, em São Paulo. De 300 músicos inscritos, apenas 35 foram selecionados; destes, apenas dois receberam o diploma de competência com mérito reconhecido pela “Association Euepé de Musique lá Lhôpital”. Esse diploma torna Wilson e Leiliane aptos a trabalhar em alguns países da Europa e em hospitais e casa de idosos. “Pela proximidade de nossas cidades [Wilson é de Indaiatuba e Leiliane de Salto] formamos uma dupla e fizemos estágios juntos no Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba, na área de Diálise”, conta Wilson. Esse projeto rendeu um documentário de final de curso que já foi apresentado em quatro congressos nas áreas da saúde.
O curso feito por ambos foi ministrado pelo professor doutor Victor Flusser, educador musical e compositor, graduado em Composição e Regência pela USP e Doutor em Sociologia da Música pela Universidade de Aix-en-Provence, na França. “Atualmente, ele é o responsável pelo Diploma Universitário de Músicos Atuantes na Aéra Social e da Saúde do Centre de Formation de Musiciens Intervenants da Universidade de Estrasburgo, na França”, explica Wilson.
Antes dessa formação, Leilianne já trabalhava na área da saúde, como técnica em enfermagem. Além disso, é musicista e já atuou como professora de Canto e Canto Coral. Wilson é educador musical há 23 anos, estudou no Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, e assim, tem atuado em escolas da rede pública e privada de ensino, bem como em entidades de caráter sócio-educativas.
“Um espaço de vida”
O “Músicos do Elo” faz intervenções musicais no ambiente estressante que se torna a rotina de um hospital. “Buscamos resgatar as pessoas, tanto pacientes como colaboradores, e todos envolvidos neste ambiente que é de dor e morte, mas que pode ser encarado, também, como um espaço de vida”, detalha a dupla. Diferente do trabalho de um musicoterapeuta, Wilson explica que o objetivo do “Músicos do Elo” é justamente criar elos com os doentes, familiares e com as equipes hospitalares, criando interações musicais com as pessoas presentes no hospital.
O projeto de música desenvolvido no Hospital São Camilo de Itu compreende diversos setores como UTI, UTI-Neo, maternidade, centro cirúrgico, pediatria, clínica médica e cirúrgica, pronto-socorro, quarto particular e SUS, RH, almoxarifado, manutenção, refeitório, administração, hotelaria e eventos. Além da voz e violão, um carrinho é levado pela dupla com diversos objetos sonoros. “Muitos objetos retratam e resgatam sons da natureza, e até mesmo de sonoridade familiar às pessoas que, reclusas no ambiente hospitalar, se veem impedidas de vivenciarem estas paisagens sonoras, além dos instrumentos musicais que são partilhados com as pessoas em momentos de interação musical”, acrescenta Leiliane. No repertório está um compilado de músicas que atende a várias gerações e gostos musicais que estão em constante renovação.
Música do bem
Os músicos abriram mão de apresentações, aplausos e de buscar uma carreira e, quem sabe, chegar à fama um dia. Tudo isso pelo simples prazer de ajudar. O “Músicos do Elo” é motivo de orgulho para os dois, que além de amar música, buscam fazer o bem e levar pelo menos uma hora de alegria no dia de quem está hospitalizado e dos funcionários que têm que lidar com doenças, tristeza e muitas vezes, óbitos em seu cotidiano. “Poder atuar com a música como forma de linguagem e resgate do valor que as pessoas têm mudou minha maneira de ver as pessoas, pois todos nós trazemos uma reserva e um histórico de grande valor humano. Encontrar com essas pessoas é um encontro comigo mesmo. É partilhar a vida!”, detalha Wilson ao ser questionado sobre a escolha de sua carreira. Já Leiliane acredita que esse trabalho a faz alcançar o humano. “A mudança é novamente ter aquele olhar para si mesma e perceber que podemos sempre compartilhar coisas boas com cada pessoa que passa em nossa vida”, encerra.
Assim, da maneira que entra, cantando e tocando baixinho e buscando a troca nos olhares dos pacientes e funcionários do hospital, a dupla deixa cada ambiente da mesma forma que entrou, aparentemente, mas com a certeza de ter tocado, de diferentes formas, cada um que ouviu seus sons e canções.
MAIS: O “Músicos do Elo” desenvolve intervenções em Congressos e Cursos de Capacitação e Consultoria na área Hospitalar e Pastoral. Para conhecer mais o trabalho deles basta acessar o site www.musicosdoelo.com.br ou a página “Músicos do Elo” no Facebook.
texto e fotos: Gisele Scaravelli