A partir de seu último livro, “O modo de vida do caipira em obras de Almeida Júnior”, a escritora Durce Gonçalves Sanches lança o novo “Cozinha Caipira”, no qual usa personagens das telas do artista plástico ituano numa história de ficção
Quando ouvimos as palavras cozinha caipira pensamos nos pratos, no cheiro da comida, no fogão à lenha e na falta de pressa ao degustar as delícias gastronômicas do Interior brasileiro. A tela de 1895 de José Ferraz de Almeida Júnior intitulada “Cozinha Caipira” [acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo] nos mostra um universo passado, de moradia simples e rústica e o -sempre presente- fogão à lenha. Uma legítima cozinha caipira não se faz sem ele e, assim, a escritora ituana Durce Gonçalves Sanches começa sua história, com Nhá Chica alimentando o fogo do fogão e passando um café nas primeiras horas da manhã.
Com a cozinha como porta de entrada, a escritora nos envolve com uma trama do universo caipira, que tem Nhá Chica como personagem principal. “Ela é uma mulher caipirona de pé no chão, cospe, fuma pito e tem uma fala forte. A mulher do campo que comanda a casa, principalmente a cozinha”, explica Durce.
“Cozinha Caipira”, lançado no dia 08 de novembro, nasceu a partir do trabalho de mestrado da autora -e consequentemente livro publicado-, “O modo de vida do caipira em obras de Almeida Júnior”, uma análise das obras do artista plástico. Após esse trabalho, uma ideia nova: usar os personagens das telas em uma nova obra. “Foi por isso que fiz esse ensaio de novela. Tomei a linha de ver os personagens, tendo Nhá Chica como a principal, e trouxe para o contexto da cozinha. A ideia é algo que estava dentro de mim. Eu venho de um mundo caipira, sou caipira paulista e eu tenho em mim essas raízes”, acrescenta a autora.
Além de trabalhar os personagens existentes nas telas do artista plástico ituano, Durce afirma que a nova obra é uma remontagem de sua memória. Natural de Coroados, ela vive em Itu há 25 anos e tem orgulho de ser caipira. “O aspecto da cozinha foi muito marcante pra mim, remonta a memória, que é a memória que tenho do sítio dos meus pais e dos meus avós”, afirma.
Releituras
O livro, que conta com prefácio do historiador ituano Luís Roberto de Francisco, traz ilustrações do artista plástico ituano Braz Junior, que fez releituras dos quadros épicos de Almeida Júnior. Entre as páginas, o leitor poderá se deliciar com as visões de Braz em trabalhos como “Nhá Chica”, “Menino”, “Caipira Picando Fumo”, “Saudade” e outros. A linguagem é um espetáculo à parte. Todos os diálogos no livro são no dialeto caipira. Frases como “Das veis ele sirri à toa. O buticaro disse que é talequá criança”. Senão entendeu, não se preocupe! Ao final da obra um vocabulário com todas as palavras pode ser consultado. “Uma coisa que marca a obra, pra mim, é a questão do dialeto caipira. Anexei um vocabulário ao final, principalmente, para os jovens. Porque nós que somos mais velhos, lembramos ainda de como se dizia muita coisa”, explica Durce.
Uma trama gostosa, vocabulário rico, imagens lindas tornam o “Cozinha Caipira” uma leitura simples e indispensável para qualquer um que se considera, e acima de tudo, tem orgulho de ser caipira. “Ser caipira é sentimento”, finaliza a autora.
A autora
Durce Gonçalves Sanches é mestre em Comunicação e Cultura pela Uniso-Sorocaba. Estudou linguística pela Unicamp e cursou mestrado em Língua Portuguesa pela PUC/SP. Pedagoga atuante na Formação Continuada pela Secretaria Municipal de Educação de Itu, tem pós-graduação em Saúde Pública na área de Educação, em Gestão Escolar e em Docência Superior. Ocupa a cadeira nº 14 na Academia Ituana de Letras, que tem como patrono o poeta Guilherme de Almeida. É amante da cultura caipira, principalmente no aspecto dialetal, sendo Almeida Júnior um de seus principais focos de estudo.
texto e fotos: Gisele Scaravelli