Advogada ituana dá exemplo e doa suas longas madeixas para instituição que auxilia pessoas com câncer e que precisam de perucas
Não parecia ser um salão de beleza. Afinal, são nesses locais que as mulheres trocam “figurinhas”, comentam sobre as celebridades e testam novas técnicas, ou seja, muito barulho misturado ao som dos secadores, vozes e músicas. Mas no dia em que a advogada Silvana Lopes Araujo foi cortar suas longas madeixas, o salão parou. Dava para sentir a tensão no ar. Até o cabeleireiro Paulo Neto desabafou: “Estou tremendo”.
Mas você deve estar se perguntado. Por que tudo isso? É fácil explicar. Para a maioria das mulheres, os cabelos são parte importantíssima do corpo, eles estão ligados diretamente à vaidade, feminilidade e autoestima. Tanto que uma pesquisa divulgada em julho mostrou que as brasileiras gastam mais de R$ 40 bilhões por ano com suas madeixas, o que faz do mercado nacional um dos maiores do mundo, correspondendo a 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Por isso que mexer com eles pode trazer muito mais consequências do que “só” mudar o corte. Mas quando o ato tem um sentimento mais profundo, tirar uns bons “dedinhos” fica mais fácil. E foi assim que Silvana encarou as tesouradas. “Decidi cortar os cabelos há um ano, mas para estar em um bom tamanho, esperei até agora. Tanto que nem luzes mais fiz e tomei cuidado com a hidratação”, conta a advogada ituana, que em 21 de setembro cortou mais de 20 centímetros do seu cabelo, doando para que instituições que auxiliam pacientes em tratamento contra o câncer façam perucas com ele.
Exemplos em família
A ideia começou quando sua sobrinha cortou seus cabelos para doar para uma amiguinha. Inspirada pela atitude, ela resolveu fazer o mesmo. “Muita gente me perguntava por que estava deixando os cabelos crescerem tanto, mas só a minha família sabia”, completa. Agora, muito mais pessoas sabem a causa dos longos fios e o novo corte, mas nem no dia das tesouradas, Silvana contou para as mulheres que, de boca aberta, viam Paulo repicando e tirando as madeixas.
Se para quem corta os cabelos o ato pode doer um pouco, para quem recebe a felicidade transborda. Izildinha Lopes, presidente do Lar de Velhos de Indaiatuba, passou por uma quimioterapia no começo desse ano e com o tratamento, perdeu os cabelos. “É muito difícil quando os cabelos começam a cair, depois de raspar o resto, chorei uma noite inteira e no dia seguinte fui mandar fazer minha peruca, que me acompanhou por oito meses. A lição foi importante, pois aprendi que não posso dizer para uma pessoa que está passando por isso, que não é nada. É sim! Chorei uma noite e depois ri muito quando a peruca estava torta ou coisa parecida”, recorda. “Mas sabe que eu até fiquei bonitinha careca”, diz Dinha, como é conhecida.
Silvana não sabe em que cabeça seu cabelo irá passear por aí, mas o tempo todo falava que o tinha cultivado com muito amor e boas energias, tanto, que antes da primeira tesourada, fez uma oração. “Meu marido também se despediu da ‘cabeleira’, mas eu disse que ele vai viver em uma cabeça mais precisada que a minha”, fala já mostrando seu novo look, muito mais moderno.
Doações
Se você se sentiu tocada, saiba que muitas instituições aceitam doações de cabelos. O Hospital do Câncer de Barretos é um deles. “Mas tem que seguir algumas instruções. Por exemplo, eles precisam ser entregues limpos, secos, presos por elásticos e em saquinhos plásticos”, finaliza Silvana, que seguiu todas as instruções ao pé da letra.
Coragem nata
Em agosto, Campinas presenciou uma história emocionante. Uma menina de dez anos, que até então nunca havia cortado os cabelos, conheceu uma garota enquanto visitava o Centro Infantil Boldrini, instituição de apoio a crianças com câncer, que fazia tratamento e já havia perdido os cabelos. Decidida, a menina não hesitou em pedir aos pais que cortassem seus cabelos para que o excesso fosse doado para sua nova “irmã de cabelo”, como passaram a se chamar. Isso comoveu muitas pessoas, ganhou matéria no programa “Fantástico”, da Globo, e inspirou tantas outras!
Inspiração na rede
Aos 35 anos, a produtora de moda Flavia Flores, descobriu que tinha câncer de mama, e uma das primeiras coisas que temeu foi perder os cabelos. Ela, que tinha longos fios castanhos, logo teve de passar máquina zero na cabeça e se acostumar com a nova realidade. Mas, para comprovar que a beleza se sobrepõe à doença, Flavia começou a dar suas dicas na internet.
O blog Quimioterapia e Beleza já arrebatou mulheres que passam pela mesma experiência e lançou a dona ao estrelato, uma vez que diversas redes de televisão a entrevistaram pedindo que passasse suas dicas. Hoje em dia, a mulher não poupa esforços para amarrar lenços de diversas maneiras, ousar nas perucas e caprichar na maquiagem.
texto Yara Alvarez