Sergei Eleazar de Carvalho é hoje colaborador da Assatemec, em Itu
Filho do maestro Eleazar de Carvalho e da pianista Sonia Muniz, Sergei Eleazar de Carvalho é violinista e colaborador da Assatemec – Associação dos Amigos do Teatro e Escola de Música Eleazar de Carvalho –, em Itu. O jovem começou a estudar música na década de 80, quando ainda era criança. Ele conta que antes de dormir, o pai solfejava [cantava os intervalos musicais seguindo alturas e ritmos anotados em partitura] com ele todas as noites. “Aprendi a ler música antes de ler e escrever”, lembra o violinista. O primeiro instrumento que aprendeu foi o piano, com a mãe, o violino apareceu depois, em 1982, quando ele tinha apenas seis anos.
Sergei acompanhou os pais a festivais e eventos voltados à música. Aprendeu violino na mesma época em que eles estavam no Festival Internacional de Música de Gramado, e assim, ao final do evento, os surpreendeu com algumas músicas que tinha aprendido. A relação com Eleazar sempre foi intensa e, por isso, sempre soube que queria fazer o mesmo que o pai fazia, mas a decisão veio mais tarde, em 1993, em Itu. Na ocasião, ele estava na cidade para participar de um festival.
Hoje, Sergei se dedica à regência, além de possuir uma produtora que auxilia a Fundação Eleazar de Carvalho, desenvolve projetos culturais, educacionais e artísticos, além de trabalhar especialmente com gravações de artistas brasileiros como Chitãozinho e Xororó, Exaltassamba, Sandy e outros. Já foi assistente do maestro João Carlos Martins por dois anos e, assim, passou a acreditar que poderia seguir a carreira do pai. Em entrevista exclusiva à Revista Regional, Sergei conta um pouco de sua trajetória, sua ligação com a Assatemec e lembranças de seu pai.
Revista Regional: Quando você soube que gostaria de seguir os passos de seus pais e atuar na música também?
Sergei Eleazar de Carvalho: A minha relação com meu pai era muito, mas muito intensa. Eu o idolatrava. Por isso, sempre soube que queria fazer o que ele fazia. É lógico, que, a decisão mesmo, veio em 1993, na cidade de Itu, quando vim para o primeiro festival, formei um quarteto de cordas e acabei desistindo de cursar administração em uma faculdade americana.
Seus pais faziam questão que seguisse carreira na música ou te deixaram livre para seguir o que quisesse?
Bom, meu pai nunca tocou no assunto. Ele sempre falava que eu devesse ser o melhor possível, mas a escolha teria que ser minha. Minha mãe, entretanto, já não largava do meu pé para estudar violino. Nossa relação era um pouco difícil por causa disso.
Qual foi seu primeiro instrumento e quais você toca hoje?
Comecei a estudar música por volta de 1980, quando tinha quatro anos. Antes de dormir, meu pai solfejava comigo, todas as noites. Aprendi a ler música antes de ler e escrever na escola. Nesta mesma época, comecei a ter aulas de piano com a minha mãe. Hoje eu toco apenas o violino. Comecei a estudar violino por acaso em 1982. Estava acompanhando meus pais em Gramado onde houve duas edições do Festival Internacional de Música. Eu era uma criança bastante levada, mas todo dia, um rapaz que acabara de voltar do Japão depois de ter se formado para dar aulas do método Suzuki, me ensinava violino. O arco era um foguete, os dedos da mão esquerda eram porquinhos que bebiam água e etc. Aprendi a tocar umas músicas até o final do Festival, e surpreendi meus pais. Pedi para continuar a estudar o violino. Como meu pai era diretor artístico da Ospa – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – ia com ele todo mês para ter aulas. O nome do rapaz é José Carlos Lima, o Zeca da família Lima.
Com apenas 11 anos, você saiu do país para estudar com a professora Syoko Aki, em Yale. Como foi essa experiência, já que ainda era uma criança? Quem te acompanhou?
Fiquei sete anos morando em New Haven. Fiz todo o ginásio lá. Morei com meu pai e com a minha mãe, minha irmã ficou no Brasil porque tinha acabado de entrar em Direito na USP. Meu pai aceitou um convite para ser o professor de regência de Yale e nos mudamos para lá. Tive a oportunidade de estudar numa escola de ponta e conviver diariamente no ambiente da Escola de Música da Yale. Conheci os maiores nomes da música nessa época.
Você foi regente assistente do maestro João Carlos Martins. Como foi essa experiência?
Eu fui assistente do João Carlos por dois anos, de 2009-2011. Foi essa oportunidade que me fez acreditar e perseguir a carreira de regente. Quando voltei dos EUA pela segunda vez, em 2009, encontrei o maestro na avenida, quando fui ver a Vai-Vai (escola de samba de São Paulo) desfilar. No dia seguinte, interfonei no prédio dele, que é ao lado do meu, após três anos sem o ver e sem falar com ele. Eu havia participado desde o começo de sua carreira como regente, que começou em 2004, ao integrar a Bachiana Chamber. Temos uma relação quase de pai pra filho. Neste dia de carnaval, ele me recebeu com um livro e uma dedicatória maravilhosa e me falou para voltar a integrar a orquestra dele. No final de 2009, ele conseguiu um patrocínio do Sesi-SP, o que o permitiu transformar a Bachiana Chamber e a Bachiana Jovem em uma orquestra só. Foram selecionados 25 dos 60 jovens, e adicionados a um corpo estável de 40 profissionais. Participei intensamente do processo, ajudando a formar a orquestra que temos hoje. Nesta mesma época, João Carlos ficou doente e não pôde reger um concerto no interior, seu assistente da época não podia participar e então, ele me chamou. Cancelei todos os meus compromissos e regi meu primeiro concerto. Deu certo, e com a nova orquestra se formando, fui convidado para ser seu assistente. Devo muito a ele. Só assim, sendo jogado na “cova dos leões”, que pude resolver os issues [questões] de ser filho de quem eu sou e seguir na mesma profissão. É como ser filho do Pelé e querer ser jogador do Santos.
Quais são as lembranças mais marcantes que tem do seu pai nos momentos em casa e com a música?
É muito difícil dizer exatamente as lembranças que tenho do meu pai nos momentos em casa, com a música. Como agora estou me dedicando a estudar regência, quase tudo me lembra dele. Seja a partitura que era dele, na qual ele estudou e regeu diversas vezes, mas que agora eu uso para estudar e reger; fotografias, revistas, espalhadas pela casa; ou quando ouço alguma obra no rádio, ou onde seja, da qual ele era especialista.
texto Gisele Scaravelli
fotos Arquivo pessoal