Icônico, o edifício de arquitetura modernista representa um projeto engajado do ponto de vista político, unindo diariamente moradores de todos os credos, classes econômicas e sociais
Estima-se que cerca de 5 mil pessoas morem e circulem pelo Edifício Copan todos os dias. Apesar disso, ao conhecer de perto a realidade do prédio e dos seus moradores, é fácil perceber que o local é extremamente organizado e conta com a ajuda de um síndico e de um conselho de moradores bastante participativo, o que tem valorizado cada vez mais o espaço.
Localizado no Centro de São Paulo, ao final da rua da Consolação e de frente para a avenida Ipiranga, o edifício chama a atenção pelas formas sinuosas tão marcantes. Sempre rodeado por pessoas com suas câmeras fotográficas prontas para registrar esse ícone arquitetônico, o prédio conta com 1.160 apartamentos divididos em seis diferentes blocos, cada um com uma entrada e portarias individuais.
No Bloco A encontram-se 64 apartamentos de dois dormitórios cada, o famoso Bloco B, o maior em tamanho e em números de apartamentos, conta com 640 apartamentos que podem ser de um dormitório ou estúdio. Os Blocos C e D contam com 64 apartamentos de três dormitórios cada, no Bloco E são 168 apartamentos de um dormitório cada e no F são 160 apartamentos de um dormitório e estúdios.
Com números tão impressionantes, é impossível não se perguntar como um lugar com tantos espaços diferentes pode manter sua organização. De acordo com o síndico, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, isso só é possível graças a muito planejamento e a participação ativa dos moradores. “Moro no Copan há 50 anos e me tornei síndico há 20 anos. Quando me mudei, o edifício havia acabado de ser construído, e eu ainda era estudante de administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas, com localização bem próxima. Mudei e gostei bastante pela facilidade de locomoção do Centro da cidade, bem como pelo próprio prédio em si. Apesar do tamanho, os moradores cooperam bastante com a organização, e geralmente quem muda pra cá se apaixona”.
O sr. Affonso não revela nomes, mas afirma que no Edifício Copan moram e já moraram grandes nomes do teatro brasileiro, chefs de restaurantes conhecidos e grandes empresários. Não é difícil encontrar músicos, atores, dançarinos, designers, arquitetos e artistas.
O morador Ricardo Faller é um deles. “Moro no Copan desde 2006, há sete anos. Estudei arquitetura e sempre tive curiosidade em saber como seria morar em um cartão postal. O edifício, pela sua dimensão de “quase cidade”, além da localização com fácil acesso para todos os lugares da capital foi uma experiência que para mim deu certo. Trabalho em casa e quando encontrei o apartamento onde moro hoje foi perfeito: o tamanho, a praticidade e a vista que tem uma beleza única. Além disso, o prédio oferece toda a infraestrutura necessária e é muito seguro, ao contrário do que muitas pessoas imaginam. Você vive uma experiência social muito boa, além da vivência do espaço que é muito interessante”.
História
Nos anos 50 o Brasil era um país em crescimento econômico, e a cidade de São Paulo apresentava grande avanço industrial. Com esse desenvolvimento, surgiram novos e grandiosos projetos para a cidade, incluindo novidades arquitetônicas.
Projetado nos anos 50, o Condomínio Edifício Copan foi desenhado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer a pedido da Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo para homenagear a cidade de São Paulo durante o ano do IV Centenário. A princípio, a companhia teve a intenção de transformar o edifício em um grande complexo hoteleiro aliado a apartamentos residenciais, mas seu futuro era incerto. Com a falência dos investidores e incorporadores do projeto, a obra chegou a ser interrompida algumas vezes, mas um banco comprou os direitos de construção e o edifício foi concluído nos anos 60.
Ainda vivendo o burburinho ocasionado pelo modernismo, os artistas e arquitetos brasileiros tiveram contato com movimentos de arte trazidos especialmente da França. Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho, mais conhecido como Oscar Niemeyer, era um arquiteto ainda jovem, mas que teve a oportunidade de conhecer de perto o trabalho de Le Coubusier, famoso arquiteto francês responsável pela arquitetura modernista que exaltava, a despeito de tudo, as curvas acentuadas em seus projetos, dando adeus a visão de que as edificações e construções deveriam seguir sempre as formas duras e rígidas mais quadradas.
De acordo com o síndico, foi iniciado um projeto para resgatar as memórias do edifício. “Estamos trabalhando na criação de um Museu do Copan que ficará localizado no Terraço. Ainda não há previsão para a inauguração, mas garanto que haverá imagens antigas, peças usadas na construção original, entre outros objetos que revelarão boa parte da história do prédio”.
Revitalização do Centro
Mesmo para aqueles que não vivem em São Paulo, é fácil perceber em uma visita que o Centro da cidade tem se tornado cada vez mais limpo, organizado e culturalmente mais rico. Além da restauração de edifícios antigos (o Copan é um deles), há o incentivo da Prefeitura para as mais diversificadas manifestações culturais, como grupos de dança, teatro, arte de rua, etc.. Localizada bem próxima ao edifício Copan, a famosa praça Roosevelt é um dos lugares que passaram por uma grande reforma e agora abriga pessoas de todos os cantos da cidade. Skatistas convivem com atores, bandas de rock, garotas de programa, casais hetero e homossexuais, crianças e animais. É um local onde as pessoas podem conviver em paz, apesar de algumas divergências dos skatistas com a polícia que reacenderam as discussões nas redes sociais nos últimos meses.
A consultora Adriana Zacchi é moradora do edifício Copan há apenas dois meses, e diz que sempre foi fascinada pelo prédio. “O Copan abriga moradores de classes mais altas, mais baixas, pessoas que gostam de animais, as que não gostam, famílias, pessoas sozinhas, idosos, apartamentos de todos os tipos e metragens. São cerca de 5 mil moradores, população maior do que vários municípios de São Paulo, o que é impressionante. Comprei o apartamento há alguns anos e resolvi me mudar para cá agora porque a região é muito boa, a oferta de comércio e transporte público é farta e a galeria do térreo do edifício oferece muitos serviços. Antes de vir morar aqui, morei na Vila Mariana, mas escolhi o Centro pela praticidade”.
Assim como Adriana, muitos moradores da cidade têm escolhido a região central como opção de moradia. Em tempos de trânsito crescente e de falta de segurança em algumas regiões, o Centro está melhorando bastante e facilita a vida de quem não suporta enfrentar horas de trânsito e prefere pedalar, por exemplo. Cada vez mais você pode avistar pessoas que substituíram os carros pelas bicicletas, especialmente na região central. Aos domingos, as principais vias da capital se transformam em ciclofaixas, um verdadeiro incentivo para os sedentários paulistanos pularem dos sofás e pedalarem bastante.
De acordo com o morador Ricardo Faller, a revitalização do Centro é importantíssima. “É uma vergonha o Centro de uma cidade grande como São Paulo ter ficado abandonado por tanto tempo. Há alguns anos tenho reparado no processo de revitalização, o que é ótimo, mas tornou as coisas mais caras por aqui, incluindo os aluguéis dos apartamentos. O Centro precisa melhorar para atrair novos moradores, mas sou contra a remoção das pessoas que viveram por toda a vida aqui e estão sendo forçadas a se mudarem por causa da especulação imobiliária. O ideal seria, seguindo o exemplo do Copan, que todos pudessem usufruir dessa nova fase do Centro, incluindo especialmente aqueles que fazem parte da história do lugar”, afirma.
Curiosidades sobre o Copan
– Uma vez por mês os moradores podem praticar meditação com um monge budista. A atividade acontece no Terraço do edifício de 32 andares.
– Atualmente os moradores também podem fazer aulas de tango que acontecem eventualmente no foyer do Copan.
– O sr. Affonso Celso Prazeres de Oliveira, síndico do edifício, recebe diariamente a visita de estudantes de arte e arquitetura e oferece palestras sobre o arquivo do acervo que será exibido no Museu do Copan, cuja inauguração ainda não tem previsão para acontecer.
– Para quem não sabe, o arquiteto Oscar Niemeyer era convicto em suas posições políticas, voltadas para o socialismo. O Edifício Copan não deixa de ser um projeto que traz em sua raiz a necessidade de inclusão e convivência de diferentes classes sociais, o que coincidentemente casou perfeitamente com o posicionamento de Niemeyer.
texto Paula Ignácio
fotos Leonardo Gali