Conheça a tradicional arte da Ikebana e seus princípios fundamentais para criar arranjos harmoniosos
A Ikebana é uma arte milenar oriental, cujo significado em japonês significa Ike = Vida e Bana = Flor. Podemos traduzi-la como “Vida com Flor”, ou “Flores Vivas, Artísticas”. Diferente de arranjos florais ocidentais, os de Ikebana trazem consigo princípios mais espirituais e minimalistas, característicos das filosofias orientais.
Conta uma lenda que a Ikebana nasceu há mais de 2 mil anos, quando Sidarta Gautama (Buda) viu algumas flores caídas no chão. Ao se deparar com a beleza delas, sugeriu prolongar sua vitalidade e colocou-as em um vaso com água, onde poderiam esbanjar cor e alegria a todos os que pudessem observá-las. O ato se tornou conhecido e tradicional entre os budistas, que passaram a ornamentar os altares dos templos com lindos arranjos de flores como oferendas de beleza para Buda.
A história dessa arte ainda pouco praticada no Brasil teve início junto com o Budismo na Índia, e depois migrou para a China e finalmente ao Japão, onde se tornou mais praticada e conhecida. A intenção do arranjo não é apenas ornamentar ou decorar, mas acima de tudo trazer mais vida e alegria através do belo, da arte. “Diferente dos arranjos florais em geral, a Ikebana tem muitas modalidades, porém todas são bastante minimalistas, a ideia é criar muito com pouco” – diz Márcio Soares de Souza, professor do Templo Luz do Orienteem São Pauloe praticante da arte da Ikebana desde os cinco anos de idade.
A diferença da arte floral (que é uma técnica europeia) é que através do mínimo, com poucos elementos, se consegue o máximo de beleza e harmonia. “Enquanto os arranjos tradicionais ocidentais são feitos utilizando como princípio o máximo de simetria e preenchimento, na Ikebana valorizamos a tridimensionalidade e os espaços vazios, que implicam em assimetria” – comenta Márcio.
Princípios fundamentais
Qualquer pessoa de qualquer idade pode criar lindos arranjos de acordo com sua dedicação, intenção e vontade. De acordo com a assessoria de comunicação da Fundação Mokiti Okadaem São Paulo, que oferece aulas de Ikebana Sanguetsu, qualquer pessoa pode criar um arranjo, mas precisa ter os conhecimentos básicos, tais como cortar o galho dentro da água, usar plantas de verdade, não de plástico, organizar o ambiente e sempre mantê-lo limpo.
Podem ser usados vasos altos ou baixos e não há restrição quanto ao uso de flores, folhas e galhos. Tudo depende da modalidade escolhida.
Em primeiro lugar, deve-se prestar atenção a escolha do vaso para que a harmonização com o ambiente e com as flores seja perfeita. “A escolha do vaso correto é muito importante, pois as flores usadas serão adequadas a ele. Geralmente utiliza-se os de cerâmica, outra arte japonesa muito valorizada. Ao unir essas duas artes, conseguimos harmonia” – comenta Márcio Soares.
Além da escolha do material, que consiste em: vaso, flores, galhos e folhas de cada estação do ano, também é importante conhecer alguns princípios orientais que fundamentam os arranjos. “Em cada trabalho de Ikebana estão contidos três elementos: o céu, o homem e a terra, em um respeito profundo pelo espírito, pela natureza e pela humanidade” – complementa Márcio, que pratica a Ikebana chamada de Kadô-Dai-Shizen, ou “Caminho da Flor da Grande Natureza”. Nesse estilo a criação começa com o princípio de triângulo escaleno, que corta a regra de simetria. “O sentido do triângulo escaleno é evidenciar o tridimensional, onde cada plano simboliza um dos três elementos: céu, homem e terra” – diz.
Diferentes modalidades
As modalidades de Ikebana são muitas: Moribana – um estilo de vaso clássico japonês, mais baixo. Nele, as flores e plantas são fixadas em um material chamado de Hanadome, cuja base é feita de chumbo com pregos finos de cobre, que mantém galhos firmes no lugar. Há também o estilo Nagueire, onde os arranjos são criados em vasos altos e não precisam do Hanadome. Há o estilo Jiyuka, mais livre onde o ikebanista tem mais liberdade para trabalhar a própria sensibilidade artística e incluir elementos diferentes nos arranjos, tais como esculturas de ferro ou pinturas, ou mesmo utilizar vasos mais ocidentais.
Além das modalidades mais conhecidas, também é praticada no Brasil a Ikebana Sanguetsu, proposta por Mokiti Okada, líder espiritual da Igreja Messiânica. “San” significa montanha e “Guetsu” significa lua. Nela, predomina a convicção de que a beleza dos arranjos depende da intenção de quem os cria, podendo transmitir mais luz e purificar os ambientes e a todos aqueles que tiverem contato com ele. Através da simplicidade e dos poucos elementos usados, o homem consegue despertar e transmitir sua beleza interior. A professora de Ikebana Sanguetsu, Sra. Yoshico Baba, diz que as flores trazem beleza aos ambientes e tem o poder de alegrar. “Ao criar um arranjo, podemos irradiar essa alegria para outras pessoas e embelezar os ambientes com uma arte que envolve equilíbrio e harmonia interior” – diz.
Princípios básicos da Ikebana:
– Vivificar as ramificações de modo que os ramos complementares não venham a competir com os principais.
– Vivificar a beleza do espaço entre o ramo principal e o secundário, criando profundidade e volume; estabelecer o equilíbrio deixando espaços vazios.
– Adaptar as medidas da vivificação ao vaso e ao local onde será colocada, considerando, sobretudo, a harmonia do conjunto. Atentar para o equilíbrio entre os dois galhos, pois o segredo da harmonia e beleza reside na sua assimetria e diferença de ângulo.
MAIS: Fundação Mokiti Okada: www.fmo.org.br
Templo Luz do Oriente: www.temploluzdooriente.org.br
texto Paula Ignácio
fotos: Ricardo Fuchigami/Divulgação