Impulsionada pelo avanço da tecnologia, a fotografia se popularizou, incentivando profissionais e amadores a eternizar momentos. Advogado de Salto criou grupo virtual para troca de experiências
Uma viagem inesquecível, o baile de formatura, a observação da gente apressada em uma grande cidade ou o encontro com um ídolo. Várias experiências ou situações que vivenciamos são tão marcantes que, mesmo depois de muitos anos, somos capazes de revivê-las com a mesma emoção. Mas não apenas no coração e na memória estes momentos permanecem guardados para sempre: um arsenal de recursos permite que tais lembranças sejam registradas.
Impulsionados pela evolução contínua da tecnologia, alguns deles, inclusive, se popularizaram. É o caso, por exemplo, da fotografia que, hoje em dia, pode ser tirada de um celular ou máquina digital, para, no instante seguinte, ser compartilhada nas redes sociais. Tamanha facilidade incentivou profissionais e amadores a se dedicar a arte do “clique”. Alguns são mais habilidosos – outros, nem tanto – mas o interesse por esta atividade acaba se sobressaindo a toda e qualquer diferença de estilo. Diferenças estas, que, aliás, acabam unindo e não segregando, já que é possível aperfeiçoar a técnica em grupos virtuais, cuja base é a interação entre os membros.
Quem aposta nesta ideia é o advogado Flávio Garcia. Motivado pela constatação de que havia muita gente querendo expor trabalhos e trocar informações, ele criou, há pouco mais de um ano, o grupo “Fotógrafos Saltenses & Cia” no Facebook (veja link no final desta reportagem). Entusiasmado, nosso entrevistado revela que a iniciativa foi crescendo e, hoje em dia, os participantes formam “uma verdadeira família”, que superou o contato meramente virtual para realizar confraternizações e passeios fotográficos.
“Todos, indistintamente, sempre terão algo a aprender e algo a ensinar. O legal foi ter unido fotógrafos profissionais experientes com amadores, sem qualquer tipo de conhecimento técnico, mas com olhar fotográfico impressionante. Temos amigos no grupo que fazem ‘mágicas’ com Iphones, por exemplo”, constata Flávio, que nos faz uma revelação curiosa: por mais estranho que isso possa parecer, o fascínio por fotografia surgiu em decorrência de sua profissão.
Atuando como correspondente dos grandes escritórios, o advogado tinha que viajar para muitas cidades do país, nas quais participava de audiências. Lugares fantásticos que ele nunca havia sonhado visitar – nem mesmo como turista – aguçaram-lhe uma grande necessidade de levar um pouco daquilo que via para compartilhar com amigos ou parentes. Não demorou muito para que nosso personagem adquirisse a primeira câmera compacta digital e, desde então, a fotografia vem ocupando cada vez mais espaço em sua vida.
Embora já tenha executado alguns trabalhos remunerados, Flávio é categórico ao afirmar que jamais permitirá que a fotografia adquira o status de obrigação. “Mais do que um hobby ou uma paixão, é um amor incondicional e pleno. A forma mais eficaz de eternizar todas as emoções que estamos sentindo no momento do clique. Fazendo uma analogia, não é exagero dizer que fotografar é registrar com a alma aquilo que captamos com os olhos: basta colocar o coração na frente das lentes. O resto flui sozinho”, empolga-se.
Flagrantes da natureza
Nos últimos meses, ele vem se dedicando a registrar paisagens, animais e seres humanos, que serão afetados pela possível construção da Barragem do Ribeirão Piraí, projeto que, conforme nosso entrevistado faz questão de frisar, causará um impacto gigantesco no meio ambiente e nas riquezas históricas e culturais de Salto e região, caso seja efetivado. A vontade de registrar flagrantes da natureza, porém, é mais antiga e surgiu quando, cerca de dez anos atrás, Flávio fotografou uma águia cinzenta em liberdade.
“Voltava de Angra dos Reis e portava uma compacta limitadíssima – com baixa resolução e sem o recurso de zoom ótico. Na minha frente, pousada em um galho seco a poucos metros da estrada, deparei-me com aquela ave gigantesca e imponente, em risco de extinção e naturalmente rara, dando um verdadeiro show da natureza. Tinha acabado de abater um grande teiú (lagarto) e estava com ele nas garras”, descreve.
A imagem, obviamente, ficou horrível. Mas foi decisiva para que ele percebesse que fotografar a natureza e paisagens fazia parte de sua essência, embora se considere eclético e se mostre interessado em aprender sobre retratos de pessoas e aspectos do mundo macro. Aos que têm o desejo de dar os primeiros passos ou aprimorar o processo de captura de imagens, Flávio aconselha: ainda que se tenha a fotografia meramente como um hobby, é sempre melhor poder desfrutá-lo com o máximo possível de técnica, prática e conhecimento.
O advogado pondera que o equipamento ajuda – e muito. Mas, em contrapartida, os resultados serão muito melhores se a pessoa dominar completamente as funções de uma câmera compacta, ao invés de utilizar um equipamento profissional no modo automático. As dicas e informações postadas no grupo “Fotógrafos Saltenses & Cia” e colocadas em prática durante as saídas, aliadas a uma boa leitura e cursos de fotografia também são fundamentais para este aprendizado.
Por fim, Flávio encoraja: todos nós somos fotógrafos, o segredo é apreciar a beleza do universo. E este é um exercício diário, que qualquer um pode praticar, mesmo sem o auxílio da câmera. “O legal é isso: olhar fotográfico é algo único. Singular. Cada um tem o seu. E ver o mundo pelos olhos de outra pessoa é sempre uma experiência fascinante. O meu olhar não é melhor nem pior do que o de ninguém. Talvez um pouco pior, porque sou míope”, diverte-se.
Contemplação, surpresas e imprevistos
Convidado por Flávio, o supervisor de Controle de Qualidade aposentado Luiz Gentile Filho entrou para o grupo no Facebook há aproximadamente dez meses. Durante esse período, participou de cinco encontros – que, conforme faz questão de frisar, foram sensacionais – e teve a oportunidade de repassar aos colegas informações sobre a grande variedade de aves, concomitantemente a necessidade de preservá-las cada vez mais. Para explicar o seu fascínio por estes animais, Luiz, que já registrou 252 espécies, faz menção ao trecho de um texto escrito por Marcelo Camacho.
“Fotografar aves é testar a sua capacidade técnica em condições imprevisíveis e frequentemente desfavoráveis. É aproximar-se delas, entendê-las, explorar os limites de nossos próprios instintos. É surpreender-se com o acaso, que a cada momento pode lhe trazer uma nova espécie, novas cores, novas formas, novos cantos, vôos, comportamentos. Contemplar, inebriar-se, encantar-se, reapaixonar-se pela vida”, cita o supervisor. Abandonando um comportamento previsível, ele ressalta que melhor que fotografar uma ave solitária é registrá-las no ninho, caçando ou alimentando os filhotes.
Questionado sobre imagens inesquecíveis, elege duas: a primeira é um retrato da Cachoeira do Tabuleiro, que possui273 metrosde queda livre e está situada em Conceição do Mato Dentro (MG). Outra foto que o marcou bastante foi a de Joaquim, um pantaneiro que mora às margens do Rio Cuiabá. “Ele vive quase que isolado, nunca foi na cidade, mas sua alegria e simplicidade nos convidam a refletir sobre a vida. Para entender melhor tudo o que esta imagem representa, o ideal seria conhecer o lugar”, esclarece.
Luiz também expõe o desejo de fotografar um raio e lembra que, para se obter uma boa imagem, alguns fatores devem ser considerados, sendo os principais: luz, altura e ângulo corretos, além do domínio do equipamento. “Capturar um momento e eternizá-lo numa foto é algo muito especial. Algumas pessoas já têm um dom, mas, por outro lado, é possível se aprimorar: para isso, são necessários interesse e perseverança”, incentiva o supervisor, que desde criança se interessa pelo tema e até hoje faz desta atividade uma de suas preferidas em suas horas de lazer.
De trabalho a hobby
Se para Flávio e Luiz clicar é somente um hobby, o mesmo não se aplica ao jornalista Fernando Schiavon. Repórter de um jornal – ele é responsável por duas editorias bem diferentes: Artes & Lazer e Polícia – a fotografia é parte essencial de seu trabalho. “No início, era uma obrigação do curso, mas fui pegando gosto e, com o passar dos anos, deixei a sensibilidade aflorar e me permiti ‘falar’ por meio da foto, que se revelou uma maneira prática de ‘poetizar’ o momento. Sinto que há dias em que não quero me expressar; e de repente a fotografia diz tudo! É um gritar em silêncio, sabe?”, questiona.
O jornalista acredita que depois de algum tempo de prática novas possibilidades vão surgindo. As cenas do cotidiano – crianças correndo, pessoas sentadas numa praça ou até mesmo um objeto – nunca mais são vistas da mesma maneira. Apesar da experiência, Fernando enaltece a ideia de criar um grupo virtual e garante que o entrosamento entre os membros é ótimo: os encontros são sempre prazerosos e cheios de alegria. O maior aprendizado, segundo ele, é o exercício do companheirismo.
“Há tempos precisava disso e não sabia. Conviver com pessoas que, por meio da fotografia, poetizam o mundo, sem medos, nem pudores. Em nossos passeios fotográficos, por exemplo, todos clicam um mesmo cenário, mas quando os membros vão postando percebo a sutileza de cada um, o olhar, a emoção que cada pessoa coloca ali. O que era para ser praticamente igual fica sempre quase tudo diferente”, conclui.
A respeito de suas preferências, o jornalista conta que gosta muito de fotografar texturas – como, por exemplo, troncos de árvores – e também objetos em ângulos que fogem do convencional. Mais do que a sensação de liberdade, o ato de virar a câmara em outras direções confere a Fernando “o poder” de transformar aquilo que, até então, parecia imutável. Em meio a tantas imagens já feitas, profissionalmente e também por lazer, ele demonstra certa hesitação ao ser convidado a escolher a mais marcante, mas revela que teve “uma linda surpresa” ao ver um registro que fez do andor com a imagem de Jesus, no início deste ano durante a saída da Romaria de Salto a Pirapora.
Orgulhoso, ele revela que o interesse por fotografia é uma tradição de sua família: se, quando pequeno, o pai era o seu exemplo, hoje em dia é o sobrinho quem ensaia os primeiros passos nesta arte que, segundo nosso entrevistado, está ao alcance de todos: não é preciso ter equipamentos maravilhosos e caros; basta uma máquina simples e vontade de enxergar o mundo e as pessoas. Entre os fatores que devem ser considerados por quem busca captar uma boa imagem estão também a inspiração, o momento, o local, a luz, a sensibilidade e a ousadia no olhar.
Àqueles que estiverem dispostos a seguir o seu conselho, Fernando adianta: o resultado pode ser surpreendente. “Fotografar nos dá a chance de presentearmos o mundo com nossas impressões sobre ele. Algumas pessoas são talentosas ao extremo; verdadeiros artistas das lentes independentemente de técnicas ou equipamentos. Mas, na outra ponta, não há dúvida de que cursos e troca de experiências são enriquecedores. Essa abertura para aprender sempre é necessária em todas as áreas, pois triste é aquele que acha que já sabe de tudo”, finaliza.
reportagem de Piero Vergílio
fotos de Flavio Garcia, Luiz Gentile e Fernando Schiavon
MAIS: A todos aqueles que desejam trocar experiência, expor o seu trabalho ou apreciar belas imagens – sem necessariamente ser de Salto – o endereço do grupo “Fotógrafos Saltenses & Cia” é www.facebook.com/groups/185955741502792/?fref=ts . Para ter acesso a todos os recursos, o usuário precisa ter um perfil nesta rede social.