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Marjorie Estiano em entrevista exclusiva

“Minha trajetória é muito rica, tive muita sorte de poder ter essas oportunidades. São papéis que demandaram muito estudo e dedicação”

Atriz fala de sua personagem na trama das 18h e de seus projetos na música e no teatro. Qualquer que seja o seu palco, ela se destaca por sua versatilidade

Já em sua estreia na televisão, a paranaense Marjorie Estiano demonstrava que tinha um futuro promissor. Ao dar vida à baixista Natasha em “Malhação” – em uma das temporadas de maior sucesso do seriado – ela conquistou o público, que se encantou não apenas por sua atuação, mas também por sua voz. Quando deixou o elenco da novela teen, não demorou para que a atriz alçasse vôos mais altos, participando de três novelas das 21h entre 2006 e 2009.

Depois do sucesso em “A Vida da Gente”, encarnando a doce Manuela, Marjorie está de volta ao horário das 18h em “Lado a Lado”, a primeira produção de época da qual participa. Na trama – escrita por Cláudia Lage e João Ximenes Braga – ela dá vida à Laura, que formou-se professora sob o olhar atento e reprovador de sua mãe, a ex-baronesa de Boa Vista, Constância Assunção (Patrícia Pillar). Apesar de nascida em berço de ouro, possui mentalidade à frente de seu tempo e vai lutar para poder trabalhar fora e expressar suas ideias, a exemplo de feministas pioneiras do Brasil, que, aliás, serviram de inspiração para a personagem.

Paralelamente ao trabalho como atriz, a jovem investiu na carreira musical, impulsionada pelos hits que entoava em “Malhação”. De lá para cá, já foram lançados dois CDs (“Marjorie Estiano” e “Flores Amores e blá blá blá”) e um DVD (“Marjorie Estiano – Ao vivo”), que juntos venderam mais de 400 mil cópias. Com facilidade para trafegar por diferentes estilos musicais – ela já fez releituras bem peculiares de canções consagradas, como “Perigosa”, de Nelson Motta, e “Ta hi”, interpretada pela “pequena notável” Carmem Miranda – a cantora está escolhendo o repertório de seu próximo álbum.

Mas os fãs vão ter que esperar um pouco: na melhor das hipóteses, o CD só será lançado quando “Lado a Lado” terminar, “pois o propósito do trabalho com a música é fazer shows e isso torna-se inviável durante a novela”, admitiu Marjorie em entrevista exclusiva, concedida por telefone, à equipe de Regional. Durante o bate-papo, ela explica como se preparou para a personagem, fala de seus projetos no teatro e faz uma revelação que pode surpreender: a estrela não tem “o menor interesse” em participar de projetos que unam música e dramaturgia. Mas, de qualquer forma, a versatilidade de Marjorie é digna de aplausos. É um talento para ser visto, ouvido e apreciado, na televisão, nos palcos e também nas próximas páginas desta edição.

 Revista Regional: “Lado a Lado” é sua primeira novela de época. Fale um pouco do seu desafio em viver a Laura.

Marjorie Estiano: É uma delícia poder falar dessa mulher que abriu espaço para as coisas serem naturais hoje em dia; então eu acho que, de certa forma, é também falar um pouco de mim – com a mentalidade da Laura – e de que maneira você vê a história do Rio de Janeiro. A gente entende um pouco melhor como veio parar aqui.

E como foi o seu laboratório: você pesquisou, viu filmes, os autores deram referência?

Durante o processo de composição, eu trabalho muito com a Helena Varvaki – que é uma estudiosa do trabalho do ator – juntamente com elementos diversos. Em se tratando de uma novela de época, que se passa em 1904, existe um estudo histórico dessa realidade. Fora isso, há os livros e, em especial, a pintura, que ajuda muito numa pesquisa do gestual, de maneira que eu possa me aproximar desta época, em que tudo era diferente. A Nísia Floresta, uma feminista que viveu na mesma época em que se passa a novela, é uma inspiração também; além, é claro, do roteiro. Aliás, o texto é fundamental, pois já vem repleto de referências históricas, além de informações sobre o temperamento e o tom da personagem.

Ela é uma mulher à frente do seu tempo, que se casa forçada, mas se descobre apaixonada pelo seu marido, é isso? O que mais pode adiantar?

Ela se casa por pressão, mas depois acaba conhecendo, se identificando e se apaixonando pelo marido, Edgar (Thiago Fragoso). Não posso adiantar nada da trama, mas eu acredito que a situação da Laura nessa novela vai estar focada entre essas relações: com a Isabel (Camila Pitanga), o marido, a mãe, com o que ela acredita e o trabalho: com certeza, vai ser alguma coisa dentro desse padrão (risos).

Assim como a sua personagem anterior, a Laura também vive em conflito com a mãe. Há mais algum ponto em comum com a Manuela, de “A Vida da Gente”? Em ambas as tramas, você teve atrizes consagradas – Patrícia Pillar e Ana Beatriz Nogueira – como parceiras de cena. Como é contracenar com elas?

A relação da Manuela com a Eva (Ana Beatriz Nogueira) é absolutamente oposta à da Laura com a Constância (Patrícia Pillar). A Laura talvez tenha mais um traço de familiaridade com a Ana (Fernanda Vasconcelos) no que diz respeito ao comportamento da mãe: a Constância idealiza o que é felicidade, projeta isso tudo em cima da filha e interfere, como a mãe da Manuela fazia com a Ana. Para mim, é um privilégio poder trabalhar com a Patrícia e com a Ana Beatriz. São atrizes extremamente talentosas e generosas, próximas, e isso facilita muito, agrega ao trabalho inteiro. É um encontro muito feliz.

Você trabalhou com nomes consagrados da nossa dramaturgia, como Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Glória Perez, além dos estreantes Lícia Manzo, Cláudia Lage e João Ximenes Braga. Que balanço faz desta trajetória?

Eu fico muito feliz, pois fiz personagens sempre bastante intensas, com conflitos muito interessantes e bem desenvolvidos; pude trabalhar com autores e diretores diferentes. Minha trajetória é muito rica, tive muita sorte de poder ter essas oportunidades. São papéis que demandaram muito estudo e dedicação. Isso faz com que você evolua muito no seu trabalho, na sua descoberta enquanto ator. A minha trajetória me levou ao crescimento.

Falando agora de sua outra paixão: a música. Eu me lembro que quando a vi cantando pela primeira vez, numa cena de “Malhação”, fiquei encantado com a sua voz. Como conciliar as duas carreiras?

Existem essas duas paixões na minha vida e o interesse de mantê-las ativas, porém, enquanto estou fazendo novela, conciliá-las é inviável. Embora gravar um CD e tê-lo em mãos seja interessante, o propósito do trabalho com a música, para mim, é fazer show. O processo sempre fica dividido entre pré-produção durante esse período. Há a intenção de lançar esse próximo álbum quando a novela acabar ou assim que estiver maduro. Eu estou num processo de pesquisa de repertório, elaboração de conceito, já estou com a minha equipe formada, ele vai ser uma gradação do “Combinação”, que já era um show instrumental onde eu queria testar os timbres e as sonoridades.

“A minha trajetória me levou ao crescimento” (Marjorie Estiano)

Então, provavelmente o CD vem depois da novela?

Não há uma data estabelecida. Eu vou depender da maturidade desse repertório; se estiver pronto até lá, vai ser quando eu finalizar minha participação em “Lado a Lado”. Senão, vai ficar um pouco mais para frente. Eu, realmente, não tenho urgência em lançar esse material de qualquer forma.

Ainda na área musical, o que a motivou a criar o projeto “Combinação sobre todas as coisas”?

O “Combinação” foi um show laboratório, experimental, que acabei fazendo no Rio,em São Paulo, e também em outros lugares, mas não com a intenção de entrarem turnê. Eurealmente precisava materializar aquilo que estava na minha cabeça, como um exercício, não como um produto. Mas há algumas coisas do “Combinação” que eu vou levar para o CD: “Ta-hi”, por exemplo, é uma releitura que eu amo muito e quero manter no próximo álbum.

Depois de alcançar o sucesso como atriz e cantora, com quem gostaria de contracenar e também de fazer um dueto?

O Brasil é muito rico de artistas, extremamente eclético nesse sentido. Há diversos cantores e músicos com os quais eu gostaria de dividir o palco, e atores que eu admiro demais também. Estou tendo o privilégio de trabalhar com pessoas muito talentosas, como a Patrícia [Pillar, na televisão] e a Maria Luiza Mendonça, uma atriz que eu admirei muito e hoje é minha colega de elenco na peça. Eu não tenho nenhuma meta com quem eu quero contracenar: graças a Deus, já tenho me encontrado com os meus ídolos. As circunstâncias estão nos aproximando naturalmente e eu estou bem satisfeita com esses encontros.

Recentemente, chegou ao fim a novela “Cheias de Charme”, que uniu música e dramaturgia e  fez um estrondoso sucesso. Você gostaria de participar de um projeto nestes moldes, em que pudesse “combinar” seus dois talentos?

Não tenho o menor interesse. Na verdade, já tive muitos convites nesse sentido, mas eu acho importante estabelecer uma independência, até para poder haver esse encontro em algum momento. Do contrário, isso pode se tornar uma condição, porque se você pensa em alguém que atua e canta, já associa a mim. É claro que se fosse uma história que me envolvesse demais, eu não deixaria de fazer porque se trata de uma cantora ou, de alguma maneira, tem relação com a música, mas, a princípio, esses elementos isoladamente, fora de um contexto, não me interessam.

E no teatro, o que você está fazendo agora?

Estou fazendo a peça “O Desaparecimento do Elefante”, baseada em contos do [Haruki] Murakami, um autor japonês que fala sobre temas contemporâneos, como a solidão e a dificuldade na comunicação, só que de uma maneira muito particular. Ele parte de situações aparentemente rotineiras, cotidianas, e subverte aquilo de uma maneira quase surreal. O espetáculo é adaptado e dirigido pela Monique Gardenberg e está bem interessante. Eu estou muito empolgada. A temporada carioca estreou em 12 de outubro.

A peça vai percorrer o Brasil inteiro?

Por enquanto, já estão fechadas temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Qual o seu maior aprendizado no teatro? Existe diferença entre estar em um estúdio de TV e enfrentar uma plateia?

Sim, a diferença é que há outro diapasão, é outra escala que você usa no teatro. Eu, particularmente, acho até que televisão é mais difícil, porque favorece menos o ator. O processo é muito mais fragmentado. A novela é uma obra aberta: você não tem um personagem fechado – ao contrário, vai conhecendo-o no decorrer dos capítulos – um período de exercícios, de laboratório, até selecionar o que entendeu de melhor daquele papel e apresentar, como no teatro. Além disso, gravamos de uma maneira não-cronológica – as cenas são muito fragmentadas – e dependemos de enquadramento, de luz, ou seja, há um bloqueio daquele fluxo: é um exercício muito grande de concentração. No teatro, acontece o inverso: é preciso manter frescos os elementos já fixados – você estabeleceu, já entendeu e, agora, repete. É como manter aquilo vivo, com o elemento ainda de descoberta.

Você quer deixar mais algum recado, ressaltar mais alguma coisa?

Eu só queria agradecer o espaço e chamar todo mundo para acompanhar a novela e a peça: em novembro, a gente ainda vai continuar em cartaz no Rio de Janeiro e, em março ou abril, começa a temporada paulista.

Mais de Marjorie Estiano

  • Marjorie Estiano nasceu em Curitiba (PR). Iniciou os estudos de teatro e canto aos 15 anos, no Colégio Estadual do Paraná, escola de mestres como Ary Fontoura e Luiz Mello. Seu primeiro papel na rede Globo foi em 2004, no seriado Malhação, onde interpretou a vilã Natasha, baixista de uma banda fictícia;
  • Em 2006, participou de “Páginas da Vida”, novela de Manoel Carlos, no papel de Marina, uma jovem de classe média que vive uma relação tumultuada com os pais. No ano seguinte, protagonizou “Duas Caras”, de Aguinaldo Silva;
  • Dois anos mais tarde, foi convidada para “Caminho das Índias”, de Glória Perez, vivendo Tônia, uma personagem atrapalhada, mas com toques de dramaticidade. Paralelamente às gravações, fez seu primeiro filme “Malu de Bicicleta”, com direção de Flávio Ramos Tambellini;
  • Em janeiro de 2010, partiu para o teatro e estreou na peça “Corte Seco”, dirigida por Christiane Jatahy e, em seguida, gravou a minissérie “Amor em Quatro Atos”, baseada em canções de Chico Buarque, exibida no início do ano seguinte;
  • Também em 2011, protagonizou o espetáculo “O Inverno da Luz Vermelha”, com direção de Monique Gardenberg, e surpreendeu ao interpretar uma prostituta francesa. A atriz, porém, admitiu que teve receio de aceitar o papel, por conta de “um certo desconforto”;
  • Em paralelo à peça, Marjorie encarnou Manuela em “A Vida da Gente”. Por este trabalho, ela recebeu o Prêmio Quem, de melhor atriz coadjuvante.
  • Logo após a novela, a atriz recebeu o convite para o filme ”O tempo e o vento” de Jayme Monjardim, no qual dá vida a personagem Bibiana jovem (interpretada, em sua versão mais velha, pela grande atriz Fernanda Montenegro);
  • Na internet:

site: www.marjorieestiano.com.br

twitter: www.twitter.com/EstianoMarjorie

facebook: www.facebook.com/EstianoMarjorie

youtube: www.youtube.com/marjorieoficial

entrevista e texto de Piero Vergílio

fotos: Divulgação/Piny Montoro Assessoria

NA GALERIA VEJA DIFERENTES MOMENTOS DA CARREIRA DA ATRIZ (fotos de: Rede Globo/João Cotta, João Miguel Júnior, Estevam Avellar e Zé Paulo Cardeal):

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