Mostra que será aberta dia 14 de junho no Museu Republicano resgata quase um século de história, imagens e memórias da família Katahira — pioneiros na arte fotográfica


No dia 14 de junho, o Museu Republicano Convenção de Itu abre as portas para uma mostra que vai muito além da fotografia. A exposição “Foto Katahira: uma família nikkei no interior paulista” resgata quase um século de história, imagens e memórias da família Katahira — pioneiros na arte fotográfica e exemplo de como imigrantes japoneses ajudaram a moldar a identidade do Interior paulista. A mostra, com entrada gratuita, permanece em cartaz até junho de 2026 e conta com curadoria de Francisco de Carvalho Dias de Andrade, Maria Aparecida de Menezes Borrego, Anicleide Zequini e Aline Zanatta.
A iniciativa marca os 90 anos da chegada de Ryochi e Hideko Katahira ao Brasil, em 1934, e é fruto de um trabalho minucioso de pesquisa, preservação e reconstrução de memórias afetivas e culturais. Para a neta Rochele Katahira, que participou ativamente da organização ao lado da prima Denise, e conversou com a Revista Regional, o projeto é um marco para a família. “É uma honra e um prazer muito grande poder participar desse projeto. Quem não se sentiria orgulhoso com isso?”, conta.
O acervo reunido na exposição — composto por fotos, objetos pessoais, câmeras fotográficas e documentos — revela não apenas a trajetória da família Katahira, mas o papel crucial da fotografia como instrumento de pertencimento e resistência cultural. Segundo o curador Francisco de Carvalho, essa é a primeira vez que o público poderá conhecer também os objetos do estúdio fotográfico, como câmeras de várias épocas e itens usados no dia a dia do ofício. “Essa exposição aborda a história do fotógrafo e a popularização da fotografia amadora”, afirma.
O estúdio fotográfico fundado em Itu, em 1950, permaneceu ativo por mais de seis décadas, atendendo gerações de clientes e formando parte da memória visual da cidade. Criado após a mudança da família da região de Marília para Itu, o estúdio envolveu filhos, noras e netos, e se consolidou como um ponto de referência para profissionais e amadores.


Memória e reencontro
A ideia da exposição surgiu em 2022, quando Rochele compartilhou com o artista Paulo Aranha que a família guardava rolos de filmes caseiros gravados na década de 1970 em Super 8. A partir daí, conversas com a museóloga Aline Zanatta, esposa de Aranha, e a professora Maria Aparecida de Menezes Borrego levaram ao resgate do acervo e à lembrança da data simbólica dos 90 anos da imigração da família. “Pronto! Já tínhamos um tema!”, relembra Rochele.
A mostra também é um tributo a Victor Katahira (1938–2025), que faleceu recentemente, semanas antes da abertura do evento. Fotógrafo profissional e guardião do acervo, ele foi peça-chave para a preservação dos objetos que hoje estão expostos. “A exposição só foi possível graças à sua generosidade em ceder os objetos e compartilhar conosco a história e o funcionamento de cada um deles”, ressalta o curador Francisco de Carvalho.


Imagens que falam
Como não poderia deixar de ser, as fotografias ocupam lugar de destaque. São retratos familiares, registros do cotidiano na lavoura, festas, paisagens e cenas que revelam muito mais do que aparentam. Uma das favoritas de Rochele mostra seus avós e seu pai ainda pequeno, sentados no campo e olhando para o horizonte. “Gosto de pensar que estão olhando para o futuro. É uma foto que transmite perseverança, tranquilidade, fé e esperança. Por isso fotografar é uma arte”, comenta emocionada.
A exposição traz ainda registros utilizados na exposição dos cem anos da imigração japonesa (2008), além de imagens que foram reaproveitadas pelo Museu do Ipiranga na reabertura em 2022, no setor “Mundos do Trabalho – Mãos à Terra”.
Entre os itens em exibição, há câmeras fotográficas raras, roupas trazidas na viagem do Japão ao Brasil, discos de vinil, documentos históricos e objetos com mais de 90 anos. Para Rochele, cada peça carrega uma história, uma memória, uma emoção. “O tio Victor tinha uma coleção enorme de câmeras, inclusive algumas muito antigas e raras. Algumas delas estarão expostas”, revela.
O acervo também lança luz sobre a jornada de adaptação e superação enfrentada por Ryochi e Hideko. Ao decidir embarcar rumo ao Brasil, o casal planejava ficar apenas alguns anos, juntar dinheiro e voltar. Mas a realidade das lavouras paulistas — bem mais difícil que o prometido — os levou a ficar. “Essas são nossas raízes. É importante registrar para as novas gerações da família. Se contar só com a transmissão oral, é certeza que informações se percam”, afirma Rochele.


Uma homenagem que ecoa
Mais do que uma celebração familiar, Foto Katahira representa a trajetória de milhares de imigrantes japoneses que encontraram no Brasil uma nova pátria. A exposição reforça como o ofício fotográfico foi não só um meio de sustento, mas também uma forma de afirmação cultural e preservação da memória.
Ao expor esse acervo, o Museu Republicano fortalece seu papel como espaço de reflexão sobre o papel das famílias imigrantes na formação da sociedade brasileira e na produção cultural local. O visitante é convidado a conhecer de perto não apenas a história de uma família, mas de uma comunidade, de um tempo, de uma identidade.
A exposição conta com recursos de acessibilidade, como textos em Braille, audiodescrição e um objeto tátil, tornando o conteúdo mais inclusivo e ampliando o alcance das histórias contadas.
MAIS:
Exposição: Foto Katahira: uma família nikkei no interior paulista
Período: De 14/06/2025 a 14/06/2026
Local: Museu Republicano Convenção de Itu – Rua Barão de Itaim, 67, Centro Histórico –Itu
Entrada: Gratuita
Funcionamento: Terça-feira a domingo, das 10h às 17h
fotos: Acervo Família Katahira/Museu Republicano de Itu