Atriz comemora 20 anos de carreira em 2024
Em uma conversa franca e reveladora com a Revista Regional, a atriz Vanessa Giácomo compartilhou suas perspectivas sobre a evolução das personagens femininas na dramaturgia, refletindo um movimento global em direção a uma representação mais autêntica e poderosa das mulheres nas telas. “Vejo uma mudança nas histórias, na maneira como elas são contadas”, afirma Vanessa, evidenciando um cenário em que as mulheres não são apenas coadjuvantes românticas, mas protagonistas de suas próprias narrativas complexas e envolventes. A atriz também discorreu sobre seu profundo comprometimento com a arte, revelando que, além de atuar, está explorando a escrita e produção de suas próprias obras. “Descobri em mim esse desejo de escrever histórias”, disse ela, demonstrando uma evolução natural em sua carreira que a levou a buscar novos desafios e formas de expressão artística. Dedicada a trabalhos que desafiam e expandem sua arte, Vanessa compartilhou experiências marcantes em projetos recentes, como no filme ‘In Bloom’, onde interpreta uma mulher enfrentando adversidades extremas, e na série ‘O Jogo que Mudou a História’, onde dá vida a uma personagem profundamente enraizada na realidade das comunidades cariocas. Através desses papéis, ela não apenas transmite histórias, mas também provoca reflexões sobre resiliência, direitos e a complexidade humana. Esta entrevista não apenas lança luz sobre as convicções e transformações de Vanessa Giácomo como artista, mas também celebra sua contribuição significativa para uma narrativa mais rica e diversificada no universo da dramaturgia brasileira.
REVISTA REGIONAL: A sociedade está passando por uma transformação em relação aos direitos das mulheres. Você acredita que a dramaturgia tem conseguido acompanhar essa evolução, especialmente em relação às protagonistas retratadas nas histórias?
VANESSA GIÁCOMO: Acredito que uma das características mais marcantes da dramaturgia é acompanhar e retratar o que acontece na sociedade. Vejo uma mudança nas histórias, na maneira como elas são contadas e apresentadas ao público. E eu fico feliz de ver personagens fortes, protagonistas que possuem seus próprios enredos, para além das questões românticas, que fazem parte dessa estrutura. Nós já tínhamos personagens femininas muito potentes antes, mas a diferença para mim é a constância dessa presença nas histórias.
Quando iniciamos em uma profissão, é comum sentir insegurança quanto à escolha certa. Ao decidir seguir a carreira de atriz, você se questionou sobre suas escolhas em algum momento?
Eu escolhi essa profissão muito consciente. Sabia o que eu queria para mim desde muito cedo. Como eu sempre tive essa certeza, além de ter começado a trabalhar cedo, eu não me questionei nesse lugar da indecisão. Tive momentos de reflexão sobre o que eu queria para mim como profissional, o que é algo diferente e muito comum. Acredito que chega um momento em que paramos, olhamos para as conquistas e decidimos por novas metas, novos sonhos… E é preciso ficar atenta ao novo, aos novos desejos. Eu sou muito realizada com a minha profissão. Mas, por exemplo, descobri em mim esse desejo de escrever histórias, de produzir mais as minhas próprias obras. Tudo é resultado de um processo, de uma evolução natural da vida mesmo. Mas tenho muito orgulho das minhas conquistas e do caminho que percorri até aqui.
No filme ‘In Bloom’, você interpreta uma personagem que enfrenta desafios extremos de violência física e psicológica. Como foi o processo de preparação para retratar essas experiências intensas e como isso impactou sua perspectiva sobre resiliência e a busca por segurança pessoal?
É uma personagem muito potente, num filme que capta histórias que estão no mundo. Ele tem esse caráter mais universal, é um filme internacional. E a minha personagem é um desses recortes. Foi um trabalho muito minucioso, porque mais do que a comunicação verbal, é uma personagem que se comunica pelo olhar, pelo corpo. E nosso olhar, nosso corpo, ele carrega todas as nossas histórias. Foi um exercício de buscar essas sutilezas e subjetividades que cada cena exigia. Foi o meu primeiro trabalho após encerrar o contrato de longo prazo com a Globo e fiquei feliz por ser um filme como esse.
Saindo de um personagem vulnerável para uma mulher que trabalha em uma associação de moradores de uma comunidade no Rio de Janeiro, na série ‘O Jogo que Mudou a História’, que acompanha a ascensão do narcotráfico durante as décadas de 1970 e 1980. Eu gostaria que você falasse sobre a sua personagem e a construção para interpretá-la.
Eu estou cada vez mais em busca de trabalhos que me instiguem, que me façam pensar fora da caixinha. É um desejo meu de transitar e exercitar diferentes tipos e narrativas. Esse trabalho é muito interessante, ele tem um olhar que mistura a história real com a dramaturgia. E eu faço uma mulher muito real, como muitas que existem na vida. É uma obra impactante, muito bem elaborada e contada.
Esses projetos [séries] são mais variados, com isso a quantidade de trabalhos aumenta e a possibilidade de viver outras vidas também. Como é para o ator se desconstruir de um personagem e ingressar em outro? Com o passar do tempo isso se torna automático?
Nunca é automático. E que bom porque é exatamente esse exercício que nos enriquece artisticamente. É você ler o roteiro, entender a história, o contexto… Daí buscar referências, estímulos que te guiam nessa composição da personagem. Cada vez mais os trabalhos têm priorizado por uma preparação prévia, o que é ótimo para conhecermos os colegas e o entrosamento. Arte nunca será automática, porque estamos falando de processos, de sentimentos, de uma busca que exige de nós, artistas, o tempo todo.
Ao longo dos anos foram inúmeros personagens que marcaram a sua carreira. Eu, por exemplo, lembro muito da Zuca em ‘Cabocla’. Para você, qual foi a personagem mais importante que te marcou de alguma forma e que hoje você olha para trás e sente muito orgulho?
A Zuca é muito simbólica porque ela marca a minha estreia, que completa 20 anos em 2024. Tenho muito carinho por ela. Porém, ao olhar para trás, tem tantos trabalhos que amei fazer. Muitos! Tive a oportunidade de fazer personagens diferentes, tive esse privilégio. Poderia escolher muitos trabalhos, mas, como você mencionou a Zuca, e ela é quem começa essa minha história, eu tenho muito carinho por ela.
Em um post recente, você comentou que chegou a praticar natação e até mesmo competir. Chegou a pensar em se tornar uma profissional do esporte? O que te fez seguir para outra carreira?
Meu caminho é o artístico. Sempre foi, talvez por isso eu sempre estive muito focada, muito dedicada à minha profissão. Gosto de esportes, mas ele tem outro lugar na minha vida. Profissionalmente, o que mexe comigo e me move é arte.
Como você equilibra o uso das redes sociais para manter uma relação saudável com essas plataformas, considerando a busca por validação online? Quais táticas você emprega para proteger sua privacidade e evitar invasões na sua vida pessoal?
Eu descobri nas redes uma forma genuína para me comunicar. Eu não sou de postar tudo a todo momento, mas, quando eu posto, é algo que acredito que faz sentido estar ali. E, claro, busco contar essa história nas redes de uma forma verdadeira. Como eu não me sinto obrigada a nada com relação às redes, eu posto o que eu quero, quando eu quero… Entram ali as coisas que eu gosto, que acho que podem interessar a outras pessoas e preservo o que acho que precisa ser preservado. Sempre foi assim na minha vida, muito antes das redes. Gosto de viver a vida real, aquela que nem sempre tem uma câmera por perto.
Para fechar, quais são os projetos futuros?
Estou filmando um longa neste momento. Assim que terminar esse filme, começarei a trabalhar em outro longa, escrito e produzido por mim, no qual também irei atuar. Para depois disso, tenho alguns convites que estou avaliando.
entrevista: Ester Jacopetti
ensaio:
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