Mudança climática afeta especialmente idosos e a saúde cognitiva
A exposição prolongada ao calor extremo pode causar danos à saúde cognitiva, principalmente dos idosos, em especial àqueles que residem em bairros pobres, sem acesso a equipamentos de refrigeração, como ar condicionado. É o que revelou um estudo publicado em agosto deste ano no Journal of Community Epidemiology and Health. O impacto de longos períodos sob altas temperaturas foi diretamente associado ao declínio cognitivo dessa faixa da população. O achado é mais um fator de preocupação pelas mudanças climáticas que atingem todo o planeta.
Sob a perspectiva médica, o neurologista David Tanne, diretor do Instituto de AVC e Cognição e do Centro de Ensino para AVC do Rambam Health Care Campus, em Haifa, Israel, e presidente da Associação Neurológica de Israel, explica: “a literatura médica descreve como o calor extremo aumenta o risco de comprometimento cognitivo e até mesmo de acidente vascular cerebral. Esse declínio cognitivo, semelhante à doença de Alzheimer, já foi observado em ratos de laboratório”.
“Quando as temperaturas externas são altas, a qualidade do sono, crítica para as funções saudáveis do sistema corporal e da estrutura cerebral, é afetada negativamente. O declínio cognitivo, então, pode não se manifestar imediatamente, mas exposições repetidas ou prolongadas ao calor extremo podem ser prejudiciais, desencadeando uma série de eventos no cérebro, os quais podem esgotar a reserva cognitiva”, destaca Tanne.
O especialista do Rambam, hospital referência em Israel, reforça que “ainda são necessárias mais pesquisas de modo que possamos compreender melhor os efeitos nocivos à saúde da exposição ao calor intenso em longo prazo, mas que os achados até aqui demonstram um sinal adicional de alerta à saúde, com mais essa consequência direta das mudanças climáticas que o mundo tem vivido”.
Calor intenso no Brasil
Nesta e na próxima semana, entre 18 e 27 de setembro, meteorologistas avisam que o Brasil deve bater recordes históricos de temperatura máxima, com termômetros em várias regiões do Brasil, inclusive no Interior paulista, alcançando e até passando dos 40°C. Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem enfrentar um calor ainda mais intenso, com previsões de 43°C e 45°C nos próximos dias.
Essas altas temperaturas são uma das consequências do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, fenômeno chamado de El Niño, que tem ganhado cada vez mais força, mostrando já no início da primavera como os brasileiros enfrentarão a estação mais quente do ano, a partir de dezembro.
A ocorrência de eventos extremos de temperatura no país, inclusive, está cada vez mais recorrente. Um estudo recente conduzido por pesquisadores do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostrou que toda a costa brasileira já está sofrendo algum impacto das mudanças climáticas em relação à temperatura do ar, com os litorais das regiões Sudeste e Sul sendo mais impactadas do que das regiões Norte e Nordeste.
A pesquisa identificou que, nos litorais de RS, SP e ES, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor, caracterizada por dias consecutivos de extremos máximos de temperatura, tem aumentado ao longo do tempo. Nos últimos 40 anos, a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase dobrou em SP (84%), dobrou no RS (100%) e quase triplicou no ES (188%). O número de eventos por ano é variável, dependendo de condições específicas como pelos fenômenos La Niña e o El Niño, responsável pela onda de calor que o país terá nessas semanas.
Para Ronaldo Christofoletti, professor do IMar/Unifesp e coordenador da pesquisa, “o aumento de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade em todo o mundo, que vão desde o desconforto térmico até o aumento de incêndios florestais, problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos, especialmente, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estudos recentes demonstram um aumento de quase 70% na mortalidade de idosos devido ao calor intenso, algo visto recentemente em países como Espanha, Canadá e Portugal”, conclui o docente.
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