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O sucesso de Rainer Cadete

Rainer Cadete é um sedutor, mas não estou falando de Luigi, o italiano mau-caráter da novela “Terra e Paixão”, que vem atraindo os olhares do público para a trama. Rainer é educado, sensível, inteligente, divertido, está em sua maioria das vezes de bom humor, tem um sorriso atraente e sabe da importância de se entregar por completo aos personagens que interpreta. A começar por Visky, de “Verdades Secretas 1 e 2”, trabalho pelo qual ainda é lembrado carinhosamente. Carismático, conversamos sobre outros assuntos, como vaidade (aliás, o ator adora compartilhar com seus seguidores fotos e vídeos que tem tirado o sono de muita gente, normalmente mostrando partes de seu belíssimo e malhado corpo em meio à natureza). Também falou sobre a necessidade das políticas públicas na vida das pessoas, especialmente as de baixa renda, e da importância de levar conhecimento para a próxima geração, especialmente Pietro, seu filho de 16 anos. Quer conhecer mais sobre a história de vida deste ator que vem conquistando o coração do público? Leia a seguir a entrevista na íntegra.

Ensaio com o fotógrafo Faya

REVISTA REGIONAL: O público ainda tem na memória o ousado Visky de “Verdades Secretas”, mas desta vez você surge como o vigarista Luigi em “Terra e Paixão”. Para o ator, como é transitar por personagens tão distintos e qual a importância de variar? É um exercício de autoconhecimento?

RAINER CADETE: É muito importante para mim, enquanto profissional, experimentar lugares tão diferentes. Isso é muito rico para um ator, para o meu processo de investigação e pesquisa. E, por consequência, isso acaba interferindo na minha personalidade. Desbravar mundos tão diferentes e ver as minhas diferenças e similaridades com esses personagens me faz enxergar quem eu sou com mais clareza. Assim, consigo saber o que eu posso acrescentar da minha vida para essas personas e descobrir outros jeitos de se viver com elas.

Sem dúvidas, o Visky foi um personagem importante na sua carreira, mas você diria que foi o que te deu maior projeção?

O Visky foi, sem dúvida, um dos maiores personagens da minha carreira. Foi um presente, diria eu, escrito magistralmente pelo Walcyr Carrasco. Construí esse personagem de uma maneira muito profunda, foram muitos meses de preparação, me transformei fisicamente e aprendi muitas coisas a partir da ótica desse personagem. Muitas coisas que me ajudaram, inclusive, na minha vida pessoal. Ele me deu a possibilidade de mergulhar profundamente em mim e de voltar com alguns tesouros desse mar. Até hoje, pessoas me param nas ruas para falar que amam o Visky. E eu também. Foi um encontro muito potente. Foi um momento em que colocaram uma lupa de aumento no meu trabalho e perceberam que sou um ator de construção, um trabalho que eu realizo há muitos anos no teatro de fazer vários personagens diferentes de mim. Com o Visky tive a oportunidade de fazer na televisão também. Era muito interessante porque muitas pessoas, desde colegas que trabalharam comigo até fãs e pessoas que já acompanhavam o meu trabalho, ficavam impressionadas, achando que era outro ator e não o mesmo que tinha feito outros trabalhos, como o Dr. Rafael de “Amor à Vida”, por exemplo. Eu escutava todos os dias: “Nossa, não acreditei que era o mesmo ator”, “Como está diferente!”. Foi muito bacana, além de eu também ter recebido vários prêmios no final de “Verdades Secretas”. Todos os prêmios para os quais fui indicado eu ganhei para ator coadjuvante. Foi um momento muito especial e marcante na minha carreira.

Ao longo do tempo percebemos que as tramas procuram abordar um mundo de aparência, de poder, dinheiro, entre outros temas. Qual a importância de trazer à tona tantas questões em uma novela?

É muito importante iluminar pontos escuros e acho que a arte, mesmo a de entretenimento, pode sim iluminar pontos pouco discutidos na sociedade e fazer com que a gente desenvolva esse diálogo, essa reflexão e essa transformação que a arte se propõe a contribuir. Por isso é muito importante trazer assuntos como esses e questionar essa nossa sociedade hipócrita, que tem um abismo entre o ser, parecer ser e querer ser. Então acho muito bacana participar de uma obra que traz tantas questões à tona.

Ensaio com o fotógrafo Faya

Por ser um universo totalmente diferente do seu, já que estamos falando de um vigarista, um sedutor, é muito mais divertido para o ator viver esses personagens?

A gente acaba se divertindo na investigação e na pesquisa de qualquer personagem que fazemos. E a construção diária, de dedicação extrema, de abraçar os pormenores dessa persona e fazer de forma mais leve possível é o que torna esse processo mais rico.

Rainer, você é um ator que começou no teatro. Ir para a TV foi algo planejado ou aconteceu naturalmente na sua carreira?

Então, eu comecei no teatro experimental de Brasília. Sou fruto de políticas públicas. Venho de uma infância humilde, a gente não tinha condições de pagar um curso de teatro. E essas iniciativas do governo de educação continuada, tanto na área das artes quanto em outras áreas, foram muito importantes para mim. Muitos amigos da minha infância se envolveram com coisas ilícitas, foram mortos pela polícia ou ficaram pelo meio do caminho. Então, eu acredito que o teatro que conheci através dessas políticas públicas salvou a minha vida. Desde que eu pisei no palco pela primeira vez, eu soube que era isso o que eu queria. Esse exercício de ser o outro me tornava cada vez mais eu. Eu amo a minha profissão. Acredito que existem diferenças técnicas entre TV, teatro e cinema. Mas acredito também que dá para fazer um pouco de teatro na TV, um pouco de TV no cinema, um pouco de cinema no teatro… Acredito muito nesse corpo multifacetado, que se expressa em vários canais diferentes. Então, eu me considero um ator de todas essas plataformas. E ainda um ator interessado em explorar outras plataformas que possam vir a existir – como foi na pandemia, que eu fiz uma peça online da minha casa. Foram maneiras de continuar existindo artisticamente. Sou muito motivado por essa inquietação de trabalhar o meu corpo e as minhas emoções. A primeira peça que eu fiz foi “Revolução da América do Sul”, do Augusto Boal. Uma peça que tem um cunho completamente político e foi muito importante para a minha formação como pessoa. E a segunda peça que eu fiz foi inspirada no “The Wall”, do Pink Floyd, que fizemos dentro de uma companhia que experienciava o fazer teatral como um todo. Então, a gente ouvia o The Wall e a partir dessa obra a gente construía textos, cenas, figurinos… Unia o espetáculo inteiro, tendo a oportunidade de passar por todos esses lugares – como o de autor, diretor, figurinista, caracterizador, produtor. Isso foi uma base muito legal que eu tive no Espaço Cultural Renato Russo, com a direção da Adriana Lodi, em Brasília.

Como Luigi na novela “Terra e Paixão”

Muitos atores que gostam de teatro, fazem pelo amor à arte, já que a remuneração não é tão gratificante quanto os trabalhos na TV. Qual a sua visão sobre este tema?

Vivemos num país com imensas diferenças sociais e ir ao teatro não faz parte da cultura da grande maioria dos brasileiros. Porém, o teatro é uma das mais poderosas armas de transformação social, ele reflete seu tempo, e por isso é tão fundamental que se lute por sua existência.

Recentemente você postou uma foto nas redes sociais, em que aparece nu, e causou burburinho, foram quase 2 mil comentários, tanto de homens quanto de mulheres. Como você lida com a vaidade?

A vaidade é um sentimento humano, gosto de valorizar qualidades minhas e ao mesmo tempo amo tê-las reconhecidas pelos outros. Mas não deixo que isso seja guia da minha vida ou do meu trabalho.

Rainer, podemos dizer que a pandemia chegou ao fim, embora o vírus da covid não tenha sido erradicado, mas controlado. Diante da situação que enfrentamos, em que muitos morreram, você passou a olhar a vida de outra forma?

Com certeza. A pandemia nos deu a oportunidade de perceber o que é realmente fundamental, como a vida, a saúde, o espírito de coletividade. Não acredito que tenha sido possível passar por essa circunstância planetária sem ter vivido algum tipo de transformação.

Aliás, além de atuar você também tem investido na carreira de cantor. Como surgiu esse novo álbum “Leves e Reflexivas” e em que momento você percebeu que tem talento também para a música?

Houve um agente de transformação na minha vida, sim. No auge do enclausuramento, em que eu estava na minha casa com o meu filho, fiquei pensando o que eu gostaria de fazer que não tinha feito ainda. E me veio muito forte essa história com a música. O primeiro palco que eu pisei foi cantando, ao lado da minha irmã Sandra numa igreja. A gente chegou a cantar em alguns casamentos. E durante a vida fiz alguns musicais, mas as artes cênicas acabaram me absorvendo mais intensamente. Na pandemia, eu voltei a estudar música, comecei a conversar com o Renato Luciano, com a Cibelle Hespanhol e comecei a compor. A gente fez várias músicas, e aí surgiu o projeto “Leves e Reflexivas”, que é o meu duo musical com o Renato. Sempre refletimos sobre coisas que a gente tem vontade de falar, mas de maneira leve. Temos dois clipes – um que fala sobre masculinidade e outro sobre hierarquia. Tenho o maior orgulho desse projeto, gostaria de fazer turnê, cantar ao lado do Renato. Assim que eu tiver tempo, irei fazer. E essa coisa de ter trabalho autoral, de escrever, de ter a ideia do clipe, correr atrás para gravar, produzir, me excita bastante, me deixa muito feliz. Acredito que é só o início de uma longa história de amor com a música.

Como Luigi na novela “Terra e Paixão”

De que maneira você encara o movimento feminista e como é ser responsável por levar esse conhecimento para a próxima geração, já que você é pai do Pietro, um menino em construção?

Todo mundo que acredita na igualdade de direitos entre homens e mulheres é feminista. Eu acredito nisso com muito orgulho. A melhor forma de ensinar aos filhos é através do exemplo. Costumo brincar falando que o Pietro é meu coração, que bate fora do meu corpo.  Minha linguagem com ele é fluida no afeto. O afeto, respeito e o amor são revolucionários. A responsabilidade de ter um filho me faz buscar sempre o melhor de mim.

Para concluir, eu gostaria de saber se você está envolvido em mais algum projeto, além da novela da Globo, que será lançado no cinema, teatro ou streaming? Ou você prefere se dedicar exclusivamente a um trabalho de cada vez?

Poder me dedicar exclusivamente a um trabalho garante a ele uma qualidade diferente. Sou inquieto, gosto de transitar, mas estou feliz em poder me dedicar apenas ao Luigi neste momento. Ah, também acabei de lançar a música “Farinha do Mesmo Saco” em todas as plataformas digitais, com clipe, e gostaria muito que todos pudessem ouvir e ver essa mensagem. A gente é igual porque somos diferentes. E percebendo e respeitando essa diferença, a gente vai caminhar com a humanidade. Essa música traz essa reflexão que eu gosto, de perceber que somos diferentes, mas que todo mundo tem o seu lugar.

 

entrevista e texto: Ester Jacopetti

fotos: João Miguel Júnior/TV Globo e Faya

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