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Post: Os profissionais na linha de frente do Hospital de Campanha de Itu

Os profissionais na linha de frente do Hospital de Campanha de Itu

  • Regional conversou com profissionais que estão atuando no único Hospital de Campanha da região, exclusivo para doentes de covid, em Itu

 

Itu é o único município da região a investir em um Hospital de Campanha e a mantê-lo ativo até os dias atuais. De acordo com os boletins epidemiológicos, de março de 2020 a janeiro deste ano, o hospital, que é exclusivo para pacientes com covid-19, registrou 466 internações, das quais 110 evoluíram para intubações, com 22 óbitos. Tais números refletem uma realidade exaustiva e estressante por parte dos profissionais envolvidos em salvar vidas e, por mais que tentemos imaginar o que é estar cara a cara com um vírus mortal, jamais saberemos exatamente o significado de tudo isso.

 

A Revista Regional conseguiu entrevistar alguns dos profissionais que estão na linha de frente neste que é o único Hospital de Campanha da região e destaca, abaixo, o perfil e a rotina exaustiva de cada um deles. Agentes de saúde que colocaram a vida pessoal em segundo plano e que ainda seguem lutando diariamente com um inimigo sem face, mas com muita força: a covid-19.

 

Dr. Rehnan: médico na linha de frente

 

Dr. Rehnan

Carioca de nascimento, o médico Rehnan Cavalcante de Carvalho chegou a Itu há apenas sete meses. Especialista em clínica médica, o profissional está à frente na luta contra a covid-19, no Hospital de Campanha de Itu e também na UPA do bairro Jacaré, em Cabreúva.

 

Mesmo com o dia a dia intenso no hospital, ele segue seu trabalho na unidade de atendimento com amor e diz ter criado um laço afetivo com seus pacientes. “Percebi que os pacientes que utilizam o referido serviço necessitavam de um médico que cuidasse de todos de uma forma diferente, que desse a eles a atenção que precisavam”, comenta.

 

Tal atenção, respeito e carinho não são exclusividades apenas dos pacientes da UPA, mas principalmente dos que passam pelo Hospital de Campanha durante a pandemia de covid-19. Além de todo seu conhecimento e profissionalismo, Rehnan é dono de uma fé em Deus que lhe permite se aproximar ainda mais dos seus pacientes. “Acho que fui escolhido por Deus para trabalhar na linha de frente, porque sempre o coloquei em minha vida em primeiro lugar, desde que conheci a Sua palavra, e só depois me apresento como médico, pois acredito que sem a presença de Deus na minha vida nenhum atendimento seria possível”, afirma.

 

Na época em que cursava Medicina, Rehnan já sabia que o dia a dia da clínica médica não seria fácil, mas nunca podia se imaginar em meio a uma pandemia, ainda mais na linha de frente. Além da ética médica, que prioriza sempre o salvar vidas, uma experiência pessoal o fez ter ainda mais forças e determinação para ajudar no combate à covid-19. Sua avó, de 93 anos, foi acometida pela doença e, graças aos profissionais de saúde tão atenciosos e competentes que cuidaram dela, ela ainda segue ao lado da família.

 

Sua rotina pessoal mudou completamente após a pandemia, principalmente agora na segunda onda, pois suas horas de trabalho aumentaram e o tempo com a família diminuiu. Tanto que quando consegue estar com ela, faz o possível para ser o melhor pai, filho, neto e marido e se considera um homem de sorte por todos eles entenderem que a humanidade está precisando dos seus cuidados.

 

No ano em que a pandemia do novo coronavírus obrigou o mundo a ser menos egoísta e mais empático, a se isolar e rever conceitos sociais e morais, os profissionais de saúde à frente no combate à covid-19, principalmente os médicos, também tiveram as suas imagens transformadas perante as pessoas. Antes vistos como frios e até insensíveis, hoje o mundo os veem como heróis e, principalmente, pessoas com sentimentos.

 

“Acredito que os médicos ficaram muito sensibilizados com essa doença por presenciarem várias mortes e estarem impotentes em relação ao tratamento. Devido a isso, alguns fazem com que familiares de desconhecidos se tornem nossos familiares e tentamos de qualquer forma dar uma palavra, dar um abraço e até dar uma oração para que cada um leia ao dia como uma forma de conforto. Faço vídeo chamadas com meus pacientes, faço questão de emitir boletim médico diário para ter contato com as famílias que encontram-se fragilizadas e precisam ouvir uma palavra de conforto e não termos técnicos”, ressalta.

 

Entre os ensinamentos que o novo coronavírus deixará, não apenas aos profissionais de saúde, mas a todas as pessoas é que a covid-19 não escolhe gênero, dinheiro ou idade e, infelizmente, todos estamos vulneráveis ao vírus. Ao ser indagado sobre a palavra que define tudo o que foi e está sendo vivido em consequência da doença, Rehnan foi enfático: “Conhecimento, estudo, amor, fé, desgaste físico e mental. Conhecimento e estudo para tratar um vírus mortal; amor para cuidar do próximo, fé para ver a cura próxima da covid-19, e desgaste físico e mental pelas exaustivas, porém, imprescindíveis horas de trabalho”.

 

Luciana: enfermeira responsável pelo Hospital de Campanha

 

Luciana

A enfermeira responsável pelo Hospital de Campanha de Itu, Luciana Maria Nunes Lelli, sempre foi desafiada a novas lutas. Admiradora do projeto Médicos Sem Fronteiras e a todos as ações desenvolvidas por eles, já sabia que não poderia se acovardar quando viu que a covid-19 estava se alastrando pelo mundo.

 

“Era a hora em que a população mais precisava dos profissionais de saúde. Estar na linha de frente não é fácil, estamos chegando ao esgotamento físico e emocional e não vemos um fim para essa doença que acomete a todos, sem distinção de classe social, raça ou religião. Sei que o isolamento é necessário, mas também sei que o ser humano tem um limite para aguentar esse isolamento e, hoje, vejo que a população está pagando para ver e a todo o momento procuram culpados para tamanha chaga que acomete a humanidade”, desabafa.

 

Para Luciana, a culpa não é do poder público municipal, estadual, federal ou até mundial, mas sim a culpa pessoal, afinal cada um é responsável pelas suas escolhas e se expor ao vírus é algo único e individual.

 

Só que as contas de tantas culpas pessoais uma hora chegam, de forma coletiva. Os hospitais seguem lotados, a angústia por causa da falta de leito perto do tamanho da população com tantas complicações causadas pela doença e que precisa deles, além do negacionismo por parte de tantos causam algo que pode comprometer todo esse trabalho incansável e bem realizado das equipes de saúde: a exaustão.

 

“Para mim, o maior desafio de tudo que estamos vivendo é encontrar força física para continuar, porque força espiritual eu tenho. Venho de uma família cristã de bases sólidas e me sinto fortalecida por Deus diariamente, mas o meu corpo não é mais o mesmo de 22 anos atrás. Além disso, me entristece ver que os profissionais de saúde mais jovens se acovardaram frente a esta tão grande batalha. Já a minha maior conquista, sem dúvida, é o fortalecimento da minha fé”, afirma.

 

Apesar de todo o cenário triste e negativo que a pandemia trouxe, Luciana escolheu como definição de tudo a palavra agradecimento. “Agradecimento à minha família e meus amigos que foram capazes de entender a minha abnegação para viver este momento histórico da saúde”, finaliza.

 

Jaqueline: assistente social

 

Jaqueline

“A melhor notícia que podemos e desejamos dar a todos os pacientes é que eles estão aptos para a alta e poderão seguir com recuperação em casa, pois venceram a covid-19”. Essa é a notícia que a assistente social Jaqueline Maldonado gostaria de dar aos familiares dos pacientes do Hospital de Campanha de Itu.

 

Ituana, é especialista em saúde da família e comunidade, e nesta pandemia que parece não ter fim, Jaqueline tem sido ainda mais atuante no contato familiar dos pacientes. “Acredito que a pandemia seja desafiadora para todos os profissionais de saúde. Em um Hospital de Campanha, o paciente não pode receber visitas ou ter um acompanhante no quarto, isso torna o tratamento ainda mais difícil, já que muitos entram para se curar e nunca mais poderão abraçar seus familiares novamente, pois chegam a óbito, então, diante dessa situação, buscamos aproximá-los ao máximo para que se sintam queridos e amados”, afirma.

 

Para a assistente social, o maior desafio é lidar com os conflitos internos, nas dificuldades encontradas quando precisa ficar distante dos familiares para protegê-los, além da preocupação em ser contaminada. “Por outro lado, a pandemia me fez aprender muito com essa experiência, sendo essa uma grande conquista, valorizando cada dia e agradecendo a Deus por cuidar de todos nós”, ressalta.

 

A forma de trabalho da assistente social foi adaptada, afinal a rotina de um Hospital de Campanha tem suas peculiaridades. Foi necessária uma adequação para manter o vínculo com a família e com o máximo de distanciamento físico, já que o hospital é uma grande zona de risco de contágio. “Completamente diferente do cotidiano do serviço social na atenção primária em saúde, que é a minha principal experiência profissional, onde mantínhamos atendimentos sociais e visitas domiciliares rotineiras, aqui (no Hospital de Campanha) precisei me distanciar e ao mesmo tempo me aproximar. Mas é um trabalho significante para todos os profissionais de saúde e ao final de cada expediente nos sentimos aliviados por vencermos mais um dia e termos dado o nosso melhor a todos os pacientes e familiares”, finaliza.

 

Janaina

Janaina: secretária de Saúde de Itu

 

Ao assumir a Secretaria de Saúde de Itu, no início do primeiro mandato do prefeito Guilherme Gazzola, Janaina Guerino de Camargo jamais imaginou que teria que gerenciar os serviços de saúde pública em meio a maior crise sanitária do século. Para ela, saúde é um desafio constante, afinal, ao mesmo tempo em que se avança em um tratamento, se está sujeito a enfrentar uma nova doença, ou um novo vírus, como é o caso de agora.

 

“Confesso que tive que aprender e que ainda aprendo a cada fase desse contexto. Aprendo com a minha equipe, com a generosidade da população ituana, com outros setores da Prefeitura que também auxiliam a Secretaria de Saúde, com os familiares das vítimas, com os pacientes. O desafio é e sempre será, ainda mais em um momento como este, efetivar todos os planos, ampliar os serviços já existentes e implantar outros, pois o desejo principal é aprimorar cada vez mais a qualidade do atendimento à saúde dos ituanos”, afirma Janaina.

 

Apesar de não ser nascida em Itu, foi aqui que sempre residiu e se considera ituana de coração. Pós-graduada em Tecnologia em Saúde pela Faculdade de Tecnologia pela Fatec, em Administração Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), em Engenharia Biomédica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, Janaina trabalhava na iniciativa privada quando aceitou o convite para estar à frente da Secretaria Municipal de Saúde, impulsionada pela contribuição que poderia dar ao crescimento da cidade.

 

O principal desafio de sua gestão foi, sem dúvida, a pandemia de covid-19. Aprender a lidar com um vírus mortal e fazer com que os casos fossem resolvidos ainda é tão desafiante como no início. Uma das principais ações da Secretaria de Saúde de Itu foi instalar um Hospital de Campanha na cidade. “Ativar e mantê-lo ativo até agora faz parte da atenção que a atual administração municipal dá para o setor de saúde. Entendemos que é uma área que precisa de constantes investimentos e é exatamente dessa forma que trabalhamos. Em nossa opinião, até mesmo pelo histórico de epidemias e pandemias, não seria viável desmontar um hospital sendo que a pandemia não chegou ao fim. Mas, é importante dizer que o nosso Hospital de Campanha tem infraestrutura diferenciada da de muitos municípios que utilizaram ginásios para tal. Sem dúvida, esse também foi um ponto favorável para a manutenção do equipamento em pleno funcionamento. Mantê-lo em atividade, mesmo com a redução das internações (em meados de setembro), foi uma escolha sensata. O equipamento estava lá, pronto, com equipe multidisciplinar, quando os casos voltaram a crescer”, orgulha-se.

 

A princípio, o Hospital de Campanha contava com seis leitos de UTI e em janeiro foi ampliado para dez, considerando o avanço da pandemia local. Janaina afirma que tudo o que estiver ao alcance será feito para o enfrentamento da pandemia, principalmente em relação ao planejamento da vacinação. “Temos muito trabalho e muita coisa ainda tem que ser realizada para combatermos a pandemia. Por isso, faço questão de agradecer, ainda mais ao profissionalismo do prefeito, que nos acompanha de forma incansável antes mesmo da pandemia ser decretada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), e à equipe da Secretaria de Saúde de Itu. Aos nossos profissionais da linha de frente, dos demais serviços de saúde, da limpeza, do administrativo, o meu mais sincero agradecimento”, ressalta.

 

Para a secretária, a palavra que define tudo o que foi vivido com a pandemia e todo o trajeto que há pela frente é esperança. “Quando o governo municipal começou a se mobilizar, antes mesmo de a OMS decretar a pandemia, sabíamos que a luta seria árdua. Mas, meu coração se encheu de esperança, porque me vi junto a um gestor extremamente comprometido com a causa e a profissionais que deixam suas casas para promoverem saúde, para se dedicarem ao próximo e escreverem, ainda que inconscientemente, uma história de amor. Foi a esperança quem norteou os meus passos, as minhas decisões; a esperança em saber que tenho uma equipe capacitada e humanizada; a esperança na ciência que, agora, nos entrega a vacina. Eu sigo com a esperança de um ano melhor, de imunização, de menos óbitos. E meu desejo é que a esperança adentre aos corações de todas as famílias enlutadas, com as quais me solidarizo, para que possam continuar suas vidas sempre com as boas lembranças dos entes queridos que a pandemia lhes furtou”, conclui.

 

reportagem de Aline Queiroz

fotos: Juca Ferreira/Prefeitura Itu

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