Nem todo mundo gosta de mudanças, esse não é o caso de Vitória Strada que fez sua estreia na televisão em “Tempo de Amar”, seguida de “Espelho da Vida”, dois trabalhos importantes na carreira da atriz, que protagonizou histórias dramáticas e intensas com Maria Vitória e Cris Valência/Júlia Castelo. Com sua terceira protagonista em “Salve-se Quem Puder”, nova novela da Globo, Vitória encara o desafio de fazer rir, mas sem exagero. “É um aprendizado diário. Eu fico me questionando se está demais, mas eu acredito na verdade da personagem pra fazer acontecer”, revela. Simplicidade. Autenticidade. Reservada. Essas são características que resumem bem o comportamento da atriz diante dos holofotes, já que recentemente o seu nome foi um dos mais comentados, após a atriz assumir um relacionamento com outra mulher. “Eu acho que faz parte e eu me sinto preparada porque sei que isso acontece”, explica. “Mas sendo muito sincera como eu sempre quero ser, não gosto de mentiras, é uma coisa que não faz parte de mim. Sou uma pessoa relativamente reservada com todos os meus relacionamentos, mas chega um momento que mentir não é uma opção”, ressalta. A entrevista completa da atriz você confere a seguir.
REVISTA REGIONAL: Depois de interpretar personagens dramáticas, você vem com a Kyra em “Salve-se Quem Puder”, uma mulher atrapalhada, totalmente diferente dos seus últimos trabalhos.
VITÓRIA STRADA: Ela é uma menina muito serelepe, tem a alma muito alegre, mas é também muito espevitada e sonhadora. Desde pequena sempre sonhou em se casar, formar uma família, ser mãe e ao mesmo tempo ela tem um lado maduro, uma mulher responsável, uma decoradora de sucesso, mas a Kyra é também muito atrapalhada, desajeitada, desastrada. É com esse jeitinho que ela acaba conquistando as pessoas porque é natural e sincero da parte dela, ela é muito engraçada. Eu estou me divertindo muito em fazer porque ao longo da novela, as três personagens vão mudando. Imagine a dor que é você saber que a sua família irá receber a notícia que você está morta? Dói demais, mas ao mesmo tempo elas continuam entre elas sendo as mesmas pessoas, mas para os outros, precisam fingir essa nova identidade. A Kyra não é tão boa atriz assim, mesmo quando ela tem que chamar a Alexia (Deborah Secco) de Josemara, ela se confunde e está sempre fazendo alguma atrapalhada. O que eu gosto da Kyra é que no início você acha que ela é uma patricinha, mas é muito humana também, ela tem os costumes dela, porque tem uma vida confortável, estável e de repente tem que se adaptar com outra realidade totalmente diferente. É uma experiência única e muito boa, mas também um risco porque eu fiz três personagens muito densos e essa é a primeira vez que estou fazendo comédia, é um lugar novo, antes era tudo pequeno, uma atuação menor, e a Kyra é muito corporal, expansiva, ela cai, derruba as coisas… É um aprendizado diário. Eu fico me questionando se está demais, mas eu acredito na verdade da personagem para fazer acontecer. Nós somos tão diferentes uns dos outros, e existem, sim, pessoas de bom coração, mas que são atrapalhadas. Eu me permiti também entrar nesse lugar e tentar entender essa mentalidade do não raciocinar tanto antes de falar. Eu costumo ser mais racional.
O que você poderia dizer que tem em comum com a sua personagem e o que exatamente você aprendeu com ela?
Esse lado romântico, porque a Kyra acredita no amor, não sei se pra vida toda, mas ela acredita no amor verdadeiro. Nos dias de hoje existem muitas possibilidades, se não estamos felizes podemos mudar, nós temos a opção de escolher não estar mais com aquela pessoa se não estamos bem dentro do relacionamento. É um direito que nós adquirimos, mas ao mesmo tempo eu acredito em ter uma pessoa que me faz bem, estar junto, e a minha personagem é muito apaixonada, ela acredita que dessa vez vai dar tudo certo. Nós duas acreditamos no amor, ela está neste lugar, passou por muitos relacionamentos que não deram certo, e dessa vez ela encontrou o Rafael (Bruno Ferrari) e está apaixonada por ele. Ela é muito romântica. Mas apesar de você não ter me perguntando eu vou dizer o seguinte, o que nós não temos em comum é que eu penso antes de falar, e ela não, às vezes acontece dela falar o que não deve, ela é sincera demais e não é falta de delicadeza, ela não é insensível, ela é sincera. Ela toma conta das amigas, só não tem jeitinho para falar, mas depois percebe que não deveria ter falado daquela forma. Com ela, eu tive que aprender a derrubar as coisas (risos), aprendi a ser atacada por galinhas… (risos). Na verdade, eu acho que venho aprendendo como atriz, a personagem me ensina a trabalhar num outro lugar, mais leve, mas ainda estou entendendo uma medida para essa comédia porque não adianta ir para comédia muito grande, sendo que a novela não está nesse tom. Esse desafio está me fazendo muito bem, eu aprendo coisas totalmente diferentes do que eu trabalhava nos outros personagens.
Você costuma se assistir para corrigir algo na cena?
Eu me assisto porque a Kyra é totalmente diferente de mim e de tudo que eu já tinha feito, às vezes fico “Gente não sei o que estou fazendo”. Ou vai dar muito certo ou muito errado, não que dê muito errado, mas é um risco, como eu falei, é um friozinho na barriga que eu acho bom.
Essa é sua terceira novela e terceira protagonista. Essa personagem seria de outra atriz, mas caiu no seu colo. Como você enxerga essas oportunidades que foram surgindo no seu caminho?
Deus! Eu acho que tudo acontece no momento que tem que acontecer. Nós estamos numa profissão onde muitos gostariam de estar fazendo a Kyra, mas eu acredito que o sol brilha pra todo mundo, tanto aqui quanto no Japão, então eu acredito que o que é meu, vai ser meu, e o que é seu, vai ser seu. Existe chance e oportunidade pra todo mundo, quando não acontece algo pra nós é porque não era pra acontecer, eu acredito nisso. Você não precisa diminuir ninguém pra conquistar alguma coisa, você não precisa criticar alguém pra se sentir melhor, porque o mundo é tão grande, tem espaço pra todo mundo.
Como você encara quando as pessoas estão interessadas em saber um pouco mais sobre a sua vida particular?
Nós temos que viver cada momento da vida nos respeitando e agora com esse trabalho novo, eu posso dizer que estou num momento muito alegre da minha vida. Eu estou muito feliz. Passou o momento de Júlia Castelo (“Espelho da Vida”, 2018) onde eu vivia chorando, agora estou contando uma história de comédia, com o coração feliz. Mas sendo muito sincera como eu sempre quero ser, não gosto de mentiras, é uma coisa que não faz parte de mim, não compactuo e não me sinto bem. Sou uma pessoa relativamente reservada com todos os meus relacionamentos, mas também chega um momento que mentir não é uma opção, pra mim é muito natural. Se é uma pergunta que está vindo recorrente e eu não tenho problema em responder, respondo, claro que também não há um interesse em contar ou dar detalhes porque acho que não tem necessidade.
Mas você se sentiu invadida quando saíram notícias sobre o seu relacionamento com a Marcella Rica?
Invasão é uma palavra muito forte, eu acho que faz parte e eu me sinto preparada porque sei que isso acontece. Eu acho engraçado porque as pessoas contam umas histórias: “Se conheceram de tal jeito, a partir de tal pessoa…” É engraçado porque muitas das vezes não é a história que aconteceu, mas eu não fico chateada, cada um está fazendo o seu trabalho, eu prefiro acreditar na bondade das pessoas, a gente aprende a ser menos ingênua com a vida, mas prefiro acreditar que existam pessoas boas.
Já que você comentou sobre as notícias falsas de como vocês se conheceram, quer aproveitar pra esclarecer?
Não! Eu vou guardar isso, dizem muitas coisas, mas no momento eu ando tão apaixonada pela Kyra…
Muitas pessoas devem ter se inspirado em você depois que tomou a atitude de assumir um relacionamento com outra mulher, como você recebeu esse apoio nas redes sociais?
As pessoas admiraram a minha coragem, mas ao mesmo tempo eu acho uma pena nós termos que ter coragem pra ser feliz. O amor não devia ser visto como um ato de coragem no sentido que a gente não devesse compartilhar estar amando. O amor é a coisa mais linda do mundo e estamos aprendendo cada vez mais a respeitar o amor do outro, todo mundo ama diferente, independentemente do relacionamento que você está, até com amigos mesmo. A gente tem que respeitar o amor de cada um.
Depois que você tomou essa atitude em algum momento pensou na possibilidade de não ser chamada para outros trabalhos?
Sinceramente eu nem gostaria de entrar muito nesse assunto porque é fora de uma realidade, que eu gosto de entender como mundo. É como eu falei, o mundo é muito grande e tem espaço para todos. Só temos que respeitar o próximo, se você faz um bom trabalho, você pode trabalhar. Eu nem sei como responder certas perguntas porque sou de uma nova geração, que encara com muita naturalidade. Eu sei que muitas gerações passaram por coisas muito mais difíceis, mas o mundo vem evoluindo em todos os sentidos. Eu tenho esperança de que o mundo evolua cada vez mais. Eu sou do sul e não cresci acostumada com uma vida pública. Entendo o passo a passo, vou me acostumando aos poucos com tudo, não só sobre relacionamentos, mas em sair na rua e ser reconhecida… Mas é normal o interesse porque no momento que você começa a entrar na casa das pessoas todos os dias, e tem a questão das redes sociais, é diferente. Hoje em dia é um paparazzi no shopping, na rua, algumas pessoas gostam de compartilhar suas vidas, o que está fazendo no dia a dia, e isso foi gerando um interesse maior. O que essa pessoa veste, o que ela come, quem são seus amigos, seus namorados e namoradas, ela pinta ou não os cabelos, usa que batom? Nós somos seres humanos, o interesse é normal.
texto: Ester Jacopetti
foto: João Miguel Junior