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Post: A força e a beleza de Taís Araújo

A força e a beleza de Taís Araújo

Taís Araujo fala sobre carreira e família nesta entrevista especial

Aos 41 anos, realizada profissionalmente, Taís Araújo é uma mulher incrível, não só pelo profissionalismo e dedicação que tem com a arte, mas por suas posições diante de temas ásperos como a injustiça social e o preconceito. Na TV como apresentadora de um programa musical e vivendo uma das três protagonistas da novela “Amor de Mãe”, da Globo, Taís concedeu uma entrevista à Revista Regional

Sua coragem e espontaneidade é o seu maior trunfo na luta contra a injustiça, em função de uma sociedade mais justa e igualitária para todos. E neste momento crucial em que se dedica a família e ao trabalho, ela representa a diversidade e o poder da mulher negra, numa novela em horário nobre, onde é uma das principais protagonistas da história. Em “Amor de Mãe” ela vem com Vitória, uma mulher que em sua plenitude anseia exercer a maternidade, mas não é só isso, a questão ética também será retrata na trama. “Ela aceita propina né? Diz que não, mas pega um pacotinho de dinheiro. Você pode me perguntar se ela é uma vilã, mas ao mesmo tempo, é uma excelente mãe, isso é o mais legal das novelas da Manuela (Escritora). Eu acho que ela quer mostrar que existem mulheres de todos os tipos”, disse. É com mulheres de fibra, como a nossa entrevistada, que a “Regional” quer começar o ano, em busca de um mundo com mais oportunidades, onde as pessoas possam viver, amar e trabalhar.

REVISTA REGIONAL: “Amor de Mãe” é uma novela recheada de histórias interessantes e sua personagem é diferente de tudo que você já tenha feito…

TAÍS ARAUJO: Essa novela fala de um tema universal, que conversa diretamente com todo mundo. Quem não se emociona quando fala de mãe? Ela é necessária e essencial. “Amor de Mãe” é cheia de conflitos e consegue explorar bem as várias maneiras de exercer a maternidade. Não são apenas nós três (Regina Casé e Adriana Esteves), mas todos os temas são muito bem amarrados. A Vitória, minha personagem, é uma mulher que priorizou a profissão, mas depois percebeu que todas as conquistas não adiantaram em nada. Depois que ela consegue realizar o sonho da maternidade, ela continua no mesmo ritmo de trabalho, mas fica neste conflito – da nossa geração – que você precisa aprender a se dividir entre família e vida profissional que exige mais tempo da gente. Não é só o volume de trabalho que aumentou, mas também o tempo de deslocamento, a tecnologia faz com que a gente trabalhe o dia inteiro, a demanda aumentou e passamos o maior tempo da nossa vida com nossos colegas de trabalho do que com a família.

Estar mais tempo com a família é algo que você se cobra?

O tempo inteiro. Eu controlo tudo pelo celular, sou chata, fico de olho em tudo, mas eu tenho uma mãe que é completamente disponível para os meus filhos, tenho duas pessoas que trabalham comigo, sendo uma nos dias de semana e outra aos finais de semana. De todo modo, minha mãe está todos os dias na minha casa. Se eu ou o Lázaro (Ramos, esposo) não estamos, ela vai até a

minha casa colocá-los para dormir, e volta pra casa dela. Este é o amor de mãe. O Lázaro e eu só conseguimos trabalhar tanto, porque a minha mãe, o meu pai e o meu sogro são muito disponíveis pra nós, eles se alternam e estão dispostos a nos ajudar.

Em algum momento na sua vida você pensou na possibilidade de não poder ser mãe?

Já, antes de eu ter o João Vicente (8 anos), passei muito por essa questão, foi doido porque eu pensei em fazer fertilização in vitro e achava que não tinha estrutura emocional para lidar com essa frustração. Logo em seguida eu fiquei grávida dele. Aí ficou tudo bem. Tem que ser muito perseverante, as chances não são muito grandes, várias mulheres tiveram por meio deste método, mas as chances de frustração são enormes, você tem que saber lidar com a situação, é muita dureza.

Você acha que se tornou mais sensível depois da maternidade?

Eu sempre fui uma manteiga derretida, sim, em determinados temas. Parece que a maternidade tirou um véu dos meus olhos. Você sente mais medo, te impulsiona a trabalhar, penso mais no que fazer para melhorar e criar duas crianças.

A Vitória é uma advogada muito bem-sucedida, mas que segue uma ética um pouco duvidosa…

Ela aceita propina né? Diz que não, mas pega um pacotinho de dinheiro dentro de um barco na Baía de Guanabara. Ela sabe que o cara (Irandhir Santos – personagem Álvaro) matou uma pessoa, escondeu o corpo e está lá defendendo. Você pode me perguntar se ela é uma vilã, mas ao mesmo tempo, é uma excelente mãe, isso é o mais legal das novelas da Manuela Dias (Escritora). A Vitória engravida de um ambientalista (Vladimir Brichta) que é o maior rival do cliente – Álvaro – dela, ele está jogando poluentes na Baía, enquanto o namorado está tentando salvar as tartarugas. É um conflito maduro quando se fala em novela. O grande amor da vida dessas mulheres é a família, além de tudo o que elas construíram; a profissão. A personagem da Adriana tem a questão do filho (Chay Suede), mas também tem o trabalho, as personagens vão além de uma história de amor. O que impede a minha personagem é o conflito ético. Ela defende que não é cúmplice dele (Irandhir), mas apenas a advogada e ele (Vladimir) rebate, por isso que ele continua solto. Eu acho que a Manoela quer mostrar que existem mulheres de todos os tipos.

Então podemos dizer que as pessoas cometem erros?

Eu acho que sim, assim como pessoas más podem ter atitudes incríveis, existe uma complexidade nessas personagens, que não é do tipo que você consegue torcer, ou se pega apaixonada por alguém que jamais torceria, talvez seja a personagem mais complexa que eu já fiz, por ter uma quantidade enorme de conflitos. São muitos e um deles é a ética, até então a maternidade não era um conflito, ela vem abrir os olhos fazendo-a se questionar. Que tipo de exemplo ela quer ser para essa criança?

E foi muito difícil construir essa personagem? Quais métodos você usou?

Foi mais pela vivência, conversando com pessoas que adotaram crianças, a questão da perda do filho eu não tive coragem de conversar com ninguém. Existe algo muito curioso: Quando a chamada entrou no ar, três mulheres entraram em contato comigo e me relataram suas histórias, sendo uma pelo instagram e outras duas amigas que eu sabia que passaram por essa situação,

mas que entraram na minha vida depois deste histórico. Eu já sabia, mas não me senti à vontade para tocar no assunto, essa personagem tem muitos lugares que as mulheres se identificam.

Além da novela você também está envolvida com o “Popstar”, nesse momento de muito trabalho como fica sua família, em especial as crianças?

Eu consigo acordar cedo, dar café da manhã para as crianças, colocá-las no banho e levá-las para a escola todos os dias, mas claro que tem dias que eu só não consigo colocar para dormir. O Lázaro e a minha mãe assumem esse papel, mas no domingo consigo ficar com elas boa parte do tempo. De todo modo, eu as vejo todos os dias. Já o Popstar eu adoro! Parece que estou no recreio. Eu sempre dou os parabéns para todos os participantes porque eu não teria coragem de estar ali. É uma experiência linda, diferente de tudo que eu já fiz, posso dizer que me divirto. Não desgrudo dos participantes.

Como você fica durante as gravações?

Parece a apresentação dos meus filhos na escola, se alguém erra a letra ou desafina, eu fico apreensiva. Eu fico tensa querendo que acerte. Nem me emociono porque fico tensa o tempo todo. Eu me divertido muito fazendo. Já me perguntaram se eu poderia me apresentar como cantora, mas é claro que não. Fiz apenas em “Mister Brau”, adoro cantar, mas não sei! Queria saber.

Como foi pra você gravar na Amazônia?

Essa série é muito especial porque observamos o meio ambiente, a sustentabilidade, são assuntos que dizem respeito a todos nós, mas não aprofundamos tanto, temos que levar esse assunto pra nossa vida porque essa é a garantia de continuidade neste planeta, essa série nos dá chance de repensarmos a maneira como lidamos com o meio ambiente. Desde as instalações onde estamos até as relações que nós temos, a sociedade que vivemos, não podemos tirar o corpo fora só porque em teoria não diz respeito a nós, porque no fundo diz.

Uma vez você citou que tinha preocupação em relação ao racismo com os seus filhos, essa preocupação ainda existe?

A preocupação é diária, não só pra mim, mas para todas as mães, porque nos preocupamos com os nossos filhos, e eu ainda tenho mais essa porque sou mãe de crianças negras, o que vai fazer parte da minha vida pra sempre.

foto: Divulgação

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