A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que proíbe o fumo em ambientes fechados de acesso público em todo o país, a exemplo dos Estados de SP, RJ e PR. Mas afinal o Brasil está fumando mais ou menos?
Atualmente o Brasil possui 25 milhões de fumantes, em sua maioria, homens, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A consciência sobre os males que o cigarro causa ao corpo e mente humana vem crescendo com o passar dos anos, porém o tabagismo ainda é a principal causa – evitável – de morte no mundo todo. São 5 milhões de óbitos por ano, sendo 200 mil apenas em nosso país. Entre as substâncias presentes no cigarro, a nicotina é a mais perigosa, provocando diversos tipos de câncer e outras doenças. São mais de 7 mil substâncias químicas na fumaça do tabaco, entre gases e metais tóxicos.
O Brasil está em 86° lugar no ranking dos países com maior incidência de adultos que fumam diariamente. Entretanto, a população fumante caiu de 35% para 15% entre os anos de 1989 e 2011. Campanhas antitabagistas e leis vêm sendo criadas a fim de diminuir cada vez mais o número de fumantes, ou para aqueles que não querem deixar o vício, pelos menos dificultar o acesso ao cigarro e locais onde seja permitido fumar.
No mês de dezembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que proíbe o fumo em ambientes fechados de acesso público em todo o país. Os fumódromos, áreas criadas especificamente para fumantes em bares, restaurantes, danceterias e empresas, ficam expressamente proibidos. A lei foi publicada no dia 15 de dezembro no “Diário Oficial da União” e já entrou em vigor, faltando apenas regulamentar a lei para fixar o valor de multa a ser aplicado em locais que desrespeitem a nova regra.
No Estado de São Paulo a lei já existe desde 2009. Além disso, um parágrafo na nova lei prevê que, a partir de 2016, os maços de cigarros deverão trazer mensagens de advertência sobre os riscos do produto à saúde em 30% da parte frontal, que hoje existe apenas na parte de trás, e proíbe pontos de venda a ter propaganda de cigarro, podendo expor somente os produtos e suas advertências aos males causados à saúde.
O ministro da saúde Alexandre Padilha afirmou que dados de outros países mostram que restringir o uso de cigarro em espaços coletivos e a propaganda no espaço de venda contribui para reduzir o fumo. Muitos acreditam que parar de fumar é apenas uma questão de escolha, mas o que fazer quando o que começou como hábito, se tornou um vício? David Mazurchi tem 34 anos e fumou por mais de 15. Há pouco mais de um ano parou de fumar. Chegou a consumir um maço de cigarros e meio por dia, ou seja, uma média de 30 cigarros até que se deparou com o inesperado. “Fui fazer alguns exames de rotina e foi identificado início de enfisema pulmonar e alguns nódulos, fiz mais exames para saber se era câncer, mas não deu nada”, conta o empresário, que levou um susto. Decidiu no mesmo instante deixar o vício, mas acabou engordando mais de 20kg em um ano, teve alterações de humor e insônia. Mas pouco tempo depois encontrou o lado bom de ser um ex-fumante. “Meu paladar melhorou, minhas roupas não fediam mais e eu também. O cigarro fede demais”, conta.
Para conseguir parar de fumar, David buscou um médico que lhe receitou um remédio para conseguir ficar sem cigarro. “Você não acreditar que o cigarro pode te viciar é o maior erro, ele é uma droga muito forte”, acrescenta. Ainda hoje quando sente vontade de fumar, ele toma um copo de água e espera entre cinco e dez minutos a vontade passar. “A nossa opinião é a mais importante, mas eu aconselho a uma pessoa que fume, que tire um raio-X do seu pulmão e dê uma olhadinha”, ressalta.
Deixar de fumar não é uma decisão fácil e muitas pessoas que deixam o cigarro, tentam por várias vezes até conseguir parar de vez. A gerente de conteúdo Patrícia Mendonça fuma há sete anos e já parou de fumar várias vezes, mas acabou se rendendo ao vício novamente. Ela começou a fumar aos 17 e de lá pra cá fuma diariamente. “Eu sempre gostei muito do cigarro e da sensação de torpor que ele me causava. Aos 19 parei de fumar, fiquei um ano sem colocar cigarro na boca. Engordei uns 20kg e acabei voltando após o término de um relacionamento. Desde então, fumo continuamente. Antes um maço durava por duas semanas, hoje no máximo dois dias”, revela.
Há algum tempo ela pensa em parar de fumar todos os dias. Tentou várias vezes, já passou até com médico e fez uso de medicação, mas basta uma saída com os amigos ou um momento de estresse, que o cigarro é o lugar para onde ela recorre. “Eu ainda vou conseguir largar. Um dia vou acordar e falar: não vou mais fumar! É o que eu espero”, confessa. Patrícia sabe que fumar não é algo agradável, nem pra quem fuma e nem para quem está perto. “Somos fedidos e só nos damos conta disso quando paramos de fumar. Em uma semana sem cigarro o olfato e os sabores tornam-se mais perceptíveis e agradáveis. Outro fator também, além da saúde é o dinheiro. Gasto muito com cigarro. É uma loucura pagar para morrer”, demonstra consciência, porém sem sucesso em suas tentativas de se tornar uma ex-fumante.
“Sigo incendiando bem contente e feliz”
A maioria dos fumantes sabe dos males do cigarro, mas prefere não pensar muito sobre o assunto. Doenças como câncer de pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, estômago, rim, bexiga, leucemia, infarto do miocárdio, enfisema pulmonar, impotência sexual, bronquite, trombose vascular, catarata, aneurisma arterial, rinite alérgica, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e angina têm como principal responsável o cigarro.
A pneumologista Catharina Ruiz Silvestre Pagotto tem nove anos de profissão e alerta sobre os malefícios do cigarro para todos. “Quando a fumaça do cigarro é inalada, a nicotina é absorvida pelos pulmões e chega ao cérebro em cerca de nove segundos causando aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial”. Uma conscientização na população mundial vem acontecendo com o passar dos anos. Antigamente fumar era sinal de status e beleza. Além disso, as propagandas televisivas eram permitidas, o que atingia a um número muito maior de pessoas. Mas não é só o fumante que é prejudicado com seu ato, e sim os que vivem ao seu redor. “As leis estão protegendo os não fumantes dos efeitos nocivos da fumaça. Os fumantes passivos também apresentam um maior risco de problemas cardíacos como infarto e angina, problemas pulmonares como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), câncer de pulmão, exacerbação da asma, além dos efeitos imediatos do contato com a fumaça, tais como irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, dor de cabeça e piora de sintomas alérgicos. É importante ressaltar o aumento no índice de problemas respiratórios apresentados por crianças filhos de pais fumantes, além de dificuldade de aprendizado e problemas de comportamento”, alerta.
A pneumologista ainda acrescenta, expondo sua opinião pessoal, que principalmente os fumantes que iniciaram o vício na época em que não havia informações, avisos, campanhas contra o tabaco são sem dúvida grandes vítimas do cigarro. Para quem deixou ou está deixando o cigarro, dra. Catharina dá algumas dicas para controlar a vontade de fumar, e não cair em tentação. “Tomar água, chupar balas, chicletes, escovar os dentes, tomar suco de frutas e praticar exercícios físicos. É muito importante mudar temporariamente os hábitos relacionados ao cigarro como o consumo de café e bebidas alcoólicas. Os fumantes devem saber que os sintomas da abstinência são passageiros, duram em média duas semanas. Outra dica importantíssima é que não desistam de abandonar o vício, em muitos casos o sucesso é obtido após algumas tentativas frustradas. Tratamentos medicamentosos orientados por um pneumologista e acompanhamento psicológico são também importantes armas de combate ao vício”, finaliza.
Estudos comprovam que o cérebro de quem tem um tipo de vício muda, sendo assim, ele nunca mais volta ao normal. Por isso, algo que pode parecer uma simples recaída, pode ser a perda de anos de resistência ao vício. São três passos: decidir, resistir e persistir.
‘Brasil sem Cigarro’
O médico Drauzio Varella estreou uma série e campanha no Fantástico, na TV Globo. O ‘Brasil sem Cigarro’ tem como missão acabar com o vício que mata milhares de brasileiros todos os anos. Na série o médico, que fumou durante 19 anos e parou há 32, afirma que todo fumante quer parar de fumar, mesmo aqueles que dizem o contrário. Na série, o Fantástico convidou os fumantes a largarem o cigarro com base no esforço pessoal e através do dr. Drauzio está ajudando com orientações. Uma data foi fixada, 13 de novembro. A partir desse dia, três fumantes, escolhidos através de vídeos enviados ao programa dominical, estão recebendo acompanhamento do médico e fazendo esforços para deixar o vício, além de depoimentos de artistas brasileiros e até mesmo do próprio médico, que perdeu o irmão, também médico Fernando Varella, vítima de um câncer de pulmão em decorrência do cigarro.
reportagem de Gisele Scaravelli
foto: Microfoto