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Cesar Cielo concede entrevista exclusiva à Revista Regional

Cielo exibe mais uma medalha de ouro para sua coleção

Nadador já treina em ritmo intensivo para as Olimpíadas de Londres: objetivo é defender o título nos 50m e brigar pelo ouro nos 100m livre. Em meio aos seus vários compromissos, ele concedeu entrevista exclusiva à Revista Regional

O esporte estava no caminho de Cesar Cielo desde bem cedo. Ainda pequeno, o garoto acompanhava a mãe, Flávia – professora de Educação Física – às aulas de natação que ela ministrava no Clube Barbarense, de Santa Bárbara D’Oeste, sua cidade natal. Primeiro, experimentou o judô. Como era bem maior que os meninos de sua idade, competia contra atletas de categorias superiores e perdia, o que o fez desistir da modalidade.

Tempos depois, quando cursava o ensino fundamental, ele se interessou pelo vôlei: a estatura, desta vez, o favorecia. Embora jogasse bem, Cesar já sabia, àquela época, que esta não era sua verdadeira paixão. Na água, o menino que aprendeu a nadar por sugestão do pai – de quem herdou o nome – viu seu talento desabrochar: a primeira vitória em uma competição veio aos oito anos, em uma prova de 25m livre.

Era o início de uma trajetória extremamente bem sucedida, marcada pela quebra de muitos recordes e a conquista de medalhas em competições importantes, como por exemplo, o Ouro nos 50m livre e o Bronze nos 100m livres, conquistados nas Olimpíadas de Pequim (2008). Agora, quase quatro anos mais tarde, ele já se prepara para defender o seu título nos 50m livre, ao mesmo tempo em que promete brigar pelo ouro nos 100m livres nos Jogos de Londres.

Para atingir objetivos “cada vez mais ambiciosos” – como ele faz questão de frisar, nessa entrevista exclusiva concedida à Regional, por e-mail – o atleta se compromete a aumentar seu ritmo de treinamento, em busca de melhores tempos e mais medalhas. Apaixonado pelo que faz, Cesar conta, orgulhoso, que a natação é a sua vida. Com 25 anos recém-completados em 10 de janeiro, ele admite não temer a pressão em função de seus bons resultados: isso porque, assim como muitos outros esportistas que fizeram história, o jovem se cobra muito, pois não gosta de perder, principalmente quando sabe que não fez tudo o que estava ao seu alcance.

Assumidamente autocrítico, o nadador faz questão de frisar ainda que o apoio da torcida também é crucial, pois acaba se convertendo em motivação. Diante de tanto empenho, fica fácil entender o motivo pelo qual, por tantas vezes, ele ocupa o lugar mais alto do pódio. Como sugere a letra do Hino Nacional – que embala a todas as suas vitórias – “Cesão” é um gigante, não apenas pelo apelido, que usa ao final de todas as postagens em seu site, ou pela altura, mas principalmente por levar o nome do Brasil tão longe. Até 2020 – ano em que talvez encerre a carreira – o esportista terá muitas outras oportunidades de mostrar seu talento. Leia, abaixo, a íntegra da entrevista.

 

Regional – Embora tenha conquistado quatro ouros e três recordes nos jogos Pan Americanos de Guadalajara, você considerou que sua preparação não teria sido a ideal. Quais os seus objetivos nas Olimpíadas?

Cesar Cielo – A Olimpíada de Londres já começou no momento em que retomei os treinamentos, 15 dias após o Pan-Americano de Guadalajara. Para o Pan a preparação foi boa: era o que permitia o calendário de uma temporada longa como foi a de 2011. Gostei dos tempos que fiz, apesar da altitude. Este é o momento de reverter os bons resultados do Pan em treinamento e motivação. Eu sempre sou meio ambicioso com os tempos que defino para as temporadas. Agora é treinar para fazer.

O trabalho vai ser difícil, mas vou a Londres defender o meu título olímpico nos 50m livre e também para brigar pelo ouro nos 100m. O tempo que eu fiz no Pan de Guadalajara abriu perspectivas novas para esta prova, diferente do que aconteceu no Mundial de Xangai, quando fiquei em quarto – hoje acredito que poderia ter isso ao pódio lá, se não tivesse enfrentado tantos problemas, nos 100m assim como fui nos 50m.

 

Como será a rotina de treinamento até lá? Pretende mudar alguma coisa, baseado nesta sua autoanálise? Esta reflexão, aliás, é uma prática bastante recorrente…

Tecnicamente falando, não haverá nenhuma grande mudança. Fora da água também devo seguir o que venho fazendo nos últimos anos. Nas férias – nunca muito longas – eu procuro me divertir. Nas folgas e horas vagas durante a temporada, por sua vez, gosto de jogar videogame, de ler, conversar com amigos… Mas tenho que manter a rotina de treinos, descansar e me alimentar direito. Não dá para sair do foco: a natação de alto nível não permite isso.

Tento me organizar – minha mãe, Flávia, gestora da minha carreira, cuida da minha agenda comercial, tenho uma assessoria de imprensa para os assuntos de mídia, além, é claro, da comissão técnica, responsável por tudo o que está diretamente ligado à piscina e a minha performance.

 

Aos oito anos, você venceu sua primeira competição, nadando uma prova dos 25m livre. De lá para cá, construiu uma trajetória vitoriosa, conquistando títulos e quebrando recordes ao redor do mundo. Qual (is) momento (s) foi (foram) mais marcante (s)? Por quê?

Foram muitos os momentos marcantes, cada um de uma forma. É difícil falar isso. Acho que o Mundial de Indianápolis em Piscina Curta, em 2004, abriu as portas para mim.  Tanto as medalhas da Olimpíada quanto as do Mundial foram muito especiais. Na Olimpíada, deixei de ser um coadjuvante. No Mundial, tive sensações diferentes nas duas medalhas. Nos 100m livre, foi incrível bater o campeão olímpico e o recorde mundial. Nos 50m a sensação foi de alívio por vencer a prova. Em Xangai, uma superação incrível…

 

 

Com tantas conquistas no currículo, até onde quer chegar? Há um limite?

Meus objetivos são hoje mais ambiciosos. Não penso num limite. Quero melhorar, acreditar que vai dar certo.  Na minha vida sempre foi assim, dando passos até o momento de eu acreditar que poderia ganhar um Mundial, não era mais um NCAA, um Brasileiro. Hoje, eu tenho a alegria de andar na rua e o pessoal vir pedir autógrafo. Quero continuar na batalha, buscando me superar.

Eu não cheguei até aqui por sorte ou por acaso. É muito trabalho. Estou ciente do que está vindo pela frente. Vou treinar cada vez mais, é isso o que eu sei fazer, buscando melhores tempos, mais medalhas, objetivos mais difíceis. Conheço o caminho das pedras e pretendo usar essa experiência para continuar em cima.

 

 

Ao mesmo tempo em que ratifica o êxito de um trabalho bem feito, o bom desempenho não acaba se convertendo em pressão, à medida que aumenta a sua “responsabilidade” em vencer? Como César Cielo reage quando não alcança o resultado desejado? Que lições tira desses momentos?

Eu não gosto de perder quando sei que não fiz tudo o que poderia para ganhar. Aí sim, a sensação que fica é muito ruim. Sempre busquei um objetivo pessoal mesmo. Não penso: “quero ganhar porque estão cobrando de mim”. Eu me cobro muito mais do que os outros. Se eu não ganho algo que estou buscando, fica muito mais uma insatisfação por tudo o que eu treinei, pelo que acho que poderia ter feito e não fiz do que estar decepcionando alguém. De tudo, se tira uma lição.

 

Como avalia o incentivo ao esporte em nosso país? Que eventuais deficiências precisam ser contornadas para que os atletas tenham condição de “fazer bonito” em 2016?

As condições da área de esportes em nosso país vêm melhorando. Espero que o Brasil realmente faça uma Olimpíada bacana e que as crianças tenham condições de praticar esportes e até possam escolher: natação, vôlei, ginástica, basquete, pólo ou futebol.

 

Falando nisso, você se considera um exemplo para a nova geração? Tem algum plano para as Olimpíadas do Rio?

Nunca me vi como um exemplo, mas se eu for inspiração para que as crianças pratiquem esporte acho que é positivo. Esporte é bom para disciplina, é bom para a saúde e espero ter ajudado a difundir essa ideia. Quanto ao meu futuro, me vejo nadando até 2016. Quem sabe encerre a carreira em 2020.

 

Certa vez, você escreveu em seu site: “O mundo em que vivemos sente falta de agradecimento, muitas vezes ganhamos, temos sucesso em algo e não agradecemos. Dessa forma mudamos o curso natural e perfeito das coisas”.  Partindo desse pressuposto, a quem (ou a quê) César Cielo é grato? Fale um pouco sobre você: de que maneira os ensinamentos do esporte são incorporados em sua rotina diária?

Acredito que contou muito o estímulo que eu sempre recebi dos meus pais, Flávia e Cesar, para praticar esportes e ter uma estrutura que me permitisse aprender natação. Também fiz judô e joguei vôlei. Na verdade, não comecei a praticar esportes para ser um campeão olímpico e sim para a socialização. Hoje posso dizer que você aprende muito com o processo profissional, nas vitórias, derrotas e dificuldades. Como a natação é minha vida, posso dizer que todos os ensinamentos do esporte estão incorporados na minha rotina. É inevitável.

 

Deixe uma mensagem aos leitores de Revista Regional, enfatizando suas expectativas para 2012.

Toda a vibração, tudo o que os torcedores me falam quando ando por aí ou nas mensagens que recebo, o carinho das crianças… tudo isso também se transforma motivação para eu treinar por mais resultados. O caminho não é fácil, mas conto com a torcida de todos os brasileiros para brigar por medalhas na Olimpíada de Londres no meio do ano.

 

Mais sobre Cesar Cielo:

 

  • No Pan de Guadalajara, César, que é nadador do Flamengo, conquistou ouro nos 50m livre (21s58), nos 100 m livre (47s84), no revezamento 4x100m livre – com Nicholas Santos, Nicolas Oliveira e Bruno Fratus (3min14s65) – e no revezamento 4x100m medley, ao lado de Guilherme Guido (costas), Felipe França (peito), Gabriel Mangabeira (borboleta), que completaram a prova em 3min34s58;
  • As duas medalhas de ouro do Mundial de Xangai e as quatro do Pan de Guadalajara lhe renderam o título de melhor atleta da natação brasileira em 2011 pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB);
  • Também no ano passado, Cesar ganhou pela terceira vez o título de melhor atleta do ano – do qual já havia se sagrado vencedor em 2008 e 2009. Ele disputou a preferência dos internautas com o ginasta Diego Hypólito e o jogador de vôlei de praia Emanuel Rego. A cerimônia de premiação foi realizada em 19 de dezembro;
  • Intensa, a preparação para as Olimpíadas só foi interrompida durante as festas de fim de ano. O retorno às piscinas aconteceu em 03 de janeiro;
  • Na natação, seus ídolos são Gustavo Borges, Fernando Scherer (Xuxa) e Alexander Popov. Em comum, o fato de todos serem velocistas, assim como ele;
  • Cesar adora comida japonesa, mas também o frango com polenta da avó e o filé a parmegiana do Restaurante Castelo, de Santa Bárbara;
  • Na internet:

site: www.cesarcielo.com.br

twitter: www.twitter.com/CesarCielo

 

texto e entrevista Piero Vergílio

fotos: Gianmattia D’Alberto/La Presse e Leandra Benjamin/FLA Imagens

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