A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta até 28 de janeiro de 2019 a exposição Coleções em Diálogo: Museu Histórico Nacional e Pinacoteca de São Paulo, no segundo andar da Pina Luz. Com curadoria de Valéria Piccoli, curadora-chefe da Pinacoteca, e Paulo Knauss, diretor do Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro), a coletiva apresenta uma seleção de obras dos dois museus, incluindo telas em grande formato e em papel inéditas ou pouco vistas pelo público geral, como parte do programa desenvolvido pela Pinacoteca que propõe criar novas interpretações sobre as coleções das instituições, ao contrapor obras de seus acervos.
A mostra é estruturada em quatro núcleos principais: Arte colonial, Pintura de história, Paisagens de guerra e Arte e patrimônio. Da coleção do Museu Histórico Nacional, instituição vinculada ao Ibram, podem ser vistas obras de Leandro Joaquim (1738-1798), Manoel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) e João Baptista da Costa (1865-1926), entre outros. Destacam-se também obras de Johann Moritz Rugendas (1802-1858), um dos mais importantes artistas viajantes que estiveram no Brasil ao longo do século XIX. Deste último, além de um conjunto de desenhos, integra a mostra uma rara pintura, a tela Descobrimento da América (1820), bem como o passaporte que o artista utilizou para vir ao Brasil. Trata-se de uma curiosidade que nunca foi mostrada na capital paulista.
Segundo Knauss e Piccoli, outro conjunto importante do museu carioca são as aquarelas de José dos Reis Carvalho (1800-1872), que foi aluno do pintor Jean-Baptiste Debret na Academia Imperial de Belas-Artes (Aiba) do Rio, e que acompanhou uma expedição científica, organizada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, pelo Nordeste, entre 1859 e 1861. “As vistas que apresentamos são do Ceará, que é uma região com pouca iconografia, ainda mais no século XIX”, revela a curadora Valéria Piccoli.
Conforme o curador Paulo Knauss, figura, entre as peças pouco vistas pelo público, um retrato colonial de Padre Antonio Vieira, de autoria de Frei Agostinho de Jesus (1600-1661), “que pode ser considerada rara pela sua antiguidade e pelo fato de existirem poucas pinturas reconhecidamente atribuídas ao pintor”, ele conta. Piccoli destaca pinturas históricas importantes, como o estudo para a Coroação de D. Pedro II (década de 1840), de Araújo Porto-Alegre, artista representado com uma única obra na Pinacoteca, produzida durante sua fase de aperfeiçoamento em Paris. Também consta um estudo de Passagem do Chaco (1870), de Pedro Américo (1843-1905), cuja tela final em grande formato pertence ao acervo do MHN.
Integra o conjunto inédito em São Paulo, além do passaporte de Rugendas, uma série de pinturas (que terá sala própria) do italiano Edoardo de Martino (1836-1912), que vem se somar às três obras do artista da coleção da Pinacoteca. O artista, que foi pintor da Rainha Vitória e da corte inglesa, foi contratado para documentar as batalhas da Guerra do Paraguai (1864-70) e registrou, com maestria, as belas paisagens da região do rio da Prata. “Muitas, como é o caso de Praia de Botafogo, da coleção da Pinacoteca, são iluminadas com luz de luar, o que é bem típico da produção dele”, comenta Piccoli. Para Knauss, a batalha naval é um gênero da pintura pouco conhecido pelo público paulista: “O Museu Histórico Nacional tem a maior coleção de telas do pintor no Brasil, e a mostra na Pinacoteca será uma das raras vezes em que serão apresentadas em conjunto”.
Para ambos os curadores, o ineditismo da mostra concentra-se mais em identificar recortes de gêneros pouco conhecidos da pintura e na relação dos conjuntos apresentados que nas peças individuais. Boa parte do conjunto dos dois acervos foi selecionada por sua associação direta, a exemplo das esculturas de Rodolpho Bernardelli (1852-1931), das quais o Museu Histórico Nacional detém exemplares de caráter cívico, como a maquete do monumento ao General Osório, que hoje se situa na Praça XV de Novembro, no Centro do Rio, e de Baptista da Costa, cujas obras podem ser encontradas na coleção das duas instituições. Para finalizar, a última sala é dedicada à pintura como instrumento para documentação de patrimônio histórico, que arremata, com um laço final, os dois acervos, uma vez que a Pinacoteca possui, em seu acervo, diversas pinturas com esse perfil.