Família de Indaiatuba socializa cão que no futuro será o acompanhante de um deficiente visual
Feche os olhos por alguns minutos e ande pela sua casa. Tropeçou no tapete, bateu na parede e ficou perdido em um lugar que você conhece de cor? Só nos colocando “na pele” de quem é cego, para sabermos o quão difícil se tornam as atividades corriqueiras do dia a dia.
Pensando em ajudar as quase 24 mil pessoas que não enxergam no Estado de São Paulo, (de acordo com o censo IBGE 2000), o Sesi-SP, através do Projeto Cão-Guia, realizará a doação de cães-guia às pessoas com deficiência visual, proporcionando a estes cidadãos mobilidade autônoma para o trabalho e desenvolvimento de suas atividades diárias com maior independência, segurança e inclusão social.
E como gente do bem existe em todos os lugares, em Indaiatuba uma família vem dando exemplo de solidariedade ao próximo. Os Macorin, (o pai Anderson, a mãe Leila e os filhos Enzo e Izadora), adotaram por um ano o labrador Faro-Fino, que na cidade já virou estrela, saindo nos jornais e posando para fotos. Mas o propósito da adoção é muito maior do que o sucesso. “Um dos principais motivos para adotarmos o Faro-Fino foi pensar na educação de meus filhos, pois podemos tirar várias lições, como: abdicar o amor do cão para ajudar o próximo, trabalhar o conceito de perda e saudade, visualizar as dificuldades e preconceitos da comunidade que desconhece como é treinado um cão-guia, entre outros”, explica Anderson Macorin.
O projeto passa por três fases até que o cão esteja apto a ser um guia para a pessoa com deficiência visual. A primeira etapa é justamente a qual a família Macorin faz parte, o acolhimento e a socialização. “O Faro-Fino entra no carro, acompanha as crianças até a escola, vai ao supermercado, açougue. Ele não pode ficar sozinho, precisa frequentar todos os lugares a que vamos”, completa. Para isso, a família e o cão precisam andar com identificações. “O Faro anda com uma bandana e nós com a mochila do projeto, além da carteirinha e de uma pasta com várias cópias da Lei e do projeto, pois mesmo sendo uma Lei Federal, encontramos dificuldades. Digo que além de educar o Faro, estamos educando a sociedade”. A Lei ao qual se refere, é a Lei nº. 11.126, de 27 de junho de 2005.
O projeto também visa a formação de novos treinadores e instrutores de dupla. Por isso que a segunda etapa é o treinamento. Nessa fase os profissionais formados durante o projeto estarão aptos a treinar novos cães e capacitados a unir as duplas: cão-guia e pessoa com deficiência visual. Cada animal precisa ser adaptado à sua dupla, não basta saber os comandos, é necessário também que o cão tenha noções de distância, altura e proporções da pessoa que o acompanha, evitando acidentes. Essa é a terceira, e última, etapa do programa.
Atualmente, 29 filhotes estão em socialização, e mais três serão entregues até o final do ano. Mas a pergunta que muitos devem estar se fazendo: Depois de um ano convivendo com o cão, como fazer para devolvê-lo? E mais uma vez, quem responde é a consciência social e a caridade. “Estamos preparados para devolver o Faro. Mas só iremos saber a dimensão da ‘perda’ no dia mesmo. O que sei é que quando vemos um cego na rua, todos nós já imaginamos o Faro ajudando”, finaliza.
MAIS: Quer ser uma Família Acolhedora? Entre no site http://www.sesisp.org.br/caoguia/index.asp, e faça sua inscrição. Certamente a dor de deixar o cãozinho ir após um ano, será recompensada ao ver um cidadão cego trabalhando, construindo família e sendo independente nas atividades diárias.
texto: Yara Alvarez
foto: Microfoto