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Alexandre Nero em entrevista especial

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Poderoso, conservador e machista. Assim é o personagem de Alexandre Nero em “Onde Nascem os Fortes”, série das 23h da TV Globo. Pedro Gouveia é um mau-caráter que também tem suas fragilidades, o que o torna humano, como diz o ator nesta entrevista ao site da REVISTA REGIONAL. “O mais interessante é que muitas das decisões que ele toma, podem esconder seu verdadeiro caráter. É um homem encantador, capaz de amar e proteger, sobretudo, a família, mas também pode agir de forma intempestiva quando se sente afrontado”, conta Nero. Bem-humorado e caprichando nas ironias, o ator não esconde a vaidade de interpretar personagens sedutores que levam as mulheres à loucura, como foi o caso do Comendador em “Império” e Romero Rômulo de “A Regra do Jogo”. “Não sou eu que mexo com as mulheres, mas os personagens. Eu acho ótimo. Tem que ser proposital e quando o personagem pede, nós temos que fazer, o que não quer dizer que vamos conseguir. O Comendador mexia com os homens também. Eles queriam ter aquele cabelo. É muito curioso. Foi um fenômeno. Eu adoro e não nego, fico honrado. Com ‘Os Filhos da Pátria’, eu não consegui seduzir ninguém, pra você ver”, ironiza. Com gravações que aconteceram na Paraíba, Nero teve pouco contato com a população local, mas não falta de oportunidade, mas por ser um lugar distante de tudo. Ele deu detalhes sobre a região e relatou que a farmácia mais próxima ficava há dez, 20 quilômetros de distância. “Não havia praticamente nada. O contato com as pessoas foi raríssimo. A não ser as que estavam trabalhando no hotel, onde estávamos hospedados, mas eram três, quatro, no máximo. Esse dia a dia das pessoas locais, pra nós, não existia. Era realmente uma cidade fictícia, quase deserta, com lugares muito afastados, com fazendas uma longe das outras”, lembra. Confira abaixo a entrevista exclusiva:

Seu personagem em “Onde Nascem os Fortes” é um homem apaixonado pela terra onde nasceu e, assim, construiu uma fortuna, mas o que o telespectador ainda pode esperar?

Basicamente, o meu personagem (Pedro Gouveia) se desentende com Nonato (Marco Pigossi) que após uma discussão, desaparece. Ele é acusado. O juiz da cidade (Fábio Assunção) é meu inimigo, e o delegado (Enrique Diaz), que supostamente deveria ser meu aliado, logo no início da trama, se descobre que é não é quem eu imaginava ser. O Pedro é um homem forte da porta pra fora, mas tem fragilidade na vida privada. De algum modo, não se revela por completo e ele usa a imagem de um todo-poderoso da região como defesa. Ele é muito poderoso na cidade e, por isso, tem muitos inimigos, principalmente entre os poderosos. Não é um personagem totalmente bom, nem totalmente mau, o que o torna muito humano. O mais interessante é que muitas das decisões que ele toma podem esconder seu verdadeiro caráter. É um homem encantador, capaz de amar e proteger, sobretudo, a família, mas também pode agir de forma intempestiva quando se sente afrontado.

Você comentou do personagem Nonato (do Marco Pigossi). Podemos confirmar a morte dele? Ou ainda teremos surpresas na trama?

Eu não sei o que dizer. É complicado. Qualquer informação pode ser spoiler. Foi o Pedro Gouveia que matou? O Nonato morreu ou não? Eu fico limitado. É sacanagem contar isso na fila do cinema. Meu personagem é suspeito. O Zé (José Luiz Villamarim, direção artística) diz que ele não é vilão, mas eu acho que é sim, ele é sacana. Dentro desse padrão que nós temos na sociedade, o Pedro Gouveia é um homem típico da sua região. Um cara machista, poderoso, mas dentro dessa cultura, ele não é um vilão, nem mau-caráter, pilantra que passa a perna nas pessoas, que mataria facilmente. Eu defendo a ideia de que qualquer pessoa pode matar alguém, seja pra defender seu filho, ou alguém que invada sua casa, sei lá. É uma situação muito particular, mas uma pessoa pode fazer qualquer coisa, por mais absurda que seja. Ninguém está livre de ser acusado de assassinato, ou qualquer outra coisa. O Pedro brigou com esse cara fisicamente, e a cidade inteira sabe. No dia seguinte ele desaparece. Eu acho que todo mundo é dúbio, ou triplo, quadruplo. Somos milhões de pessoas dentro de uma. Estou com saudades de fazer teatro infantil, porque lá é vilão ou mocinho. Como nós não estamos tratando de um assunto infantil, mas com adultos, uma novela das onze, dá pra brincar um pouco mais com essas várias facetas e cores do personagem. Ninguém é 100% bom ou mau. Para nós, atores, temos que enxergar os personagens dessa forma. Não estou falando de maneira pejorativa não, porque eu já fiz muito teatro para a criança e adoro, é muito mais fácil, divertido, você poder ser vilão e ponto final. Quando temos uma história mais complexa e mais adulta, é sempre mais difícil para o ator, autor e para o público. Essa é a graça.

Na trama ele é tido com o Rei do Sertão, como é interpretar esse homem tão distante de você e como foram as gravações no Nordeste?

O passo mais difícil sempre é me tornar um cara rico, porque nunca tive essa experiência e nem ideia. Essa é a parte mais difícil, e eu nem conheço essas pessoas (risos). Eu poderia fazer um laboratório, viajar pra Viena, ficar convivendo com essas pessoas ricas. Eu ia adorar. Nós fizemos laboratório em relação ao sotaque. Não localizamos o lugar, não é um sotaque da Paraíba ou de Pernambuco. A cidade fictícia se chama Sertão e se passa no Nordeste brasileiro. Por ter sido gravado na Paraíba, muitos irão reconhecer, mas o sotaque está misturado e foi intencional. Não tem como dizer que está errado. Ficamos durante meses no sertão, foi bem complicado e difícil. Muito diferente dos outros processos, normalmente vamos para a cidade, e nos afastamos para fazer as gravações, mas temos contato com as pessoas da região, porém, nesse caso, ficamos absurdamente afastados a ponto de não ter nem farmácia por perto, a mais próxima era há dez, 20 quilômetros. Não havia praticamente nada. O contato com as pessoas foi raríssimo. A não ser as que estavam trabalhando no hotel, onde estávamos hospedados, mas eram três, quatro pessoas, no máximo. Esse dia a dia das pessoas locais, pra nós, não existia. Era realmente uma cidade fictícia, quase deserta, com lugares muito afastados, com fazendas uma longe das outras. Havia uma praça onde as pessoas se encontravam, mas elas não moravam por ali. Se você for caminhar, vai pra onde? A primeira comunidade que encontramos, havia três casas. Eu achando que seria maior e que haveria um mercado… É realmente muito deserta.

Esse é o seu primeiro encontro com o diretor Villamarim?

Sim, e muito esperado por mim. Ele tem uma linguagem poética, uma preocupação com silêncio, com a respiração, e tudo vai acontecendo através do olhar, não é o tempo inteiro falado; é algo que a televisão havia perdido com o tempo. Para o ator, é maravilhoso. É uma maneira diferente porque ele gosta muito de trabalhar com plano sequência, então são cenas imensas num plano só. Não fica essa coisa toda decupada, que também é bacana e pra nós, atores, é muito mais fácil porque você consegue esquecer o texto, parar e continuar daqui, mas ali é a cena inteira, e não dá pra parar. Se errar, tem que começar do início.

Nessa viagem ao Nordeste, foi muito difícil ficar longe do seu filho Noá, já que ele ainda é um bebezinho? É a primeira vez que você fica longe dele?

Com essa distância sim. Pra mim, essa foi a parte mais difícil, ficar longe dele. Quando dava matávamos a saudade pelo celular, mas havia lugar que não pegava. É uma coisa de doido. Só no hotel funcionava o Wi-Fi, mas quando saíamos pra gravação, ficávamos absolutamente sem celular, nada!

Nesses últimos trabalhos, você tem dado um tempinho de novelas, já que a última foi em 2015 (A Regra do Jogo) por que?

Estamos fazendo um novo formato. Eu acho que a emissora nunca havia feito nada parecido. É algo bastante inédito. Porque o nome é supersérie? De cara pensamos que é uma série, mas não é, e não é uma novela. Ainda não sabemos definir, mas a emissora encontrou uma nomenclatura. É complicado para nós, atores, diretores e toda a equipe, gravar esse processo, porque são 50 capítulos, e nós gravamos como se fosse uma série, ou seja, praticamente como se gravássemos quatro ou cinco temporadas de uma só vez. Isso é uma cacetada. Diferente de novela, a série é uma temporada com 12 capítulos, então construímos essa história facilmente na cabeça. Um filme nem se fala, são duas horas, então é mole, mas 12 capítulos vão num lugar. A novela, são quase 200 capítulos e as pessoas compreendendo a história semanalmente, então gravamos e descartamos. Esse não. Chegam os 50 capítulos, gravamos o terceiro, e pulamos para o 40º, depois o 20º, 50º. Chega uma hora que a gente fica louco e não sabe mais o que está fazendo. O personagem já se separou, já bateu no filho, já fez as pazes, já nem sei mais o que está acontecendo com o personagem, de tanto que vai e volta. É uma novidade pra todo mundo, para os diretores, e para a continuísta que tem o trabalho mais difícil, porque ela precisa saber cada detalhe da história. Não é novela, mas também não é uma série. É um negócio. Sem dúvida, o trabalho mais difícil que eu já fiz. Em cinema é diferente, quando você é protagonista de um filme, tem 30 cenas. Aqui nós fazemos essa quantidade em um único dia. Não tem comparação.

Em torno do seu personagem, a morte do Nonato acontece porque ele se envolve com a sua amante na trama. Essa relação é de posse já que ele é Pedro Gouveia poderoso?

Eu sempre acho que é amor ou paixão. O casamento dele não está bem, mas tudo fica flutuando, ele se desentende com a mulher o tempo inteiro. Eles têm problemas sexuais, a amante é uma mulher bonita, fervorosa, quente, sensual e tudo vai acontecendo. Ah, então por que não se separa? Porque se fosse fácil todo mundo se separava. É difícil. Existe a família, ele tem amor pela esposa, mas é muito complexo. O Pedro se apaixona pela amante sim, a ideia é o melodrama na televisão, que é estar sempre próximo das pessoas que estão nos assistindo. É claro que ele tenta salvar o casamento e todo mundo merece perdão. Ele não vai embora, porque ele e a esposa ficam tentando, mas não só pelos filhos. Você não casa com alguém, só por casar, mas porque gostou dela. As pessoas não deixam de se amar, os envolvimentos são outros. Enquanto você está com aquela pessoa, você acredita que tudo pode recomeçar, e, às vezes, recomeça, outras não.

Nesse trabalho você reencontra a Lara Tremouroux e que pela segunda vez ela faz a sua filha. Como tem sido essa experiência entre vocês?

A relação é ótima, mas bem diferente do nosso primeiro trabalho em “Filhos da Pátria”.  O amorzinho é o mesmo, mas aqui é drama porque ela é uma menina doente, e lá era comédia, muito mais leve. O Pedro é um cara afetivo, amoroso, ele se transforma numa criança perto dos filhos, mas dentro desse universo, apesar de eu nunca ter vivido, deve ser muito difícil para o homem, mas pra mulher nem se fala. Mulher, infelizmente nesse universo a briga é muito maior. Num mundo machista. O homem tem que mostrar o tempo inteiro que é macho, que grita mais, que é o poderoso. É um lugar em que as pessoas andam com um revólver na cintura. Ele não anda porque tem segurança, mas é meio faroeste. É uma brincadeira que o Zé está fazendo, mas seria até leviano comparar com um faroeste, porque é superficial, mas tem aquele vento que bate e levanta a poeira, que é muito típico. E com a Débora (Bloch) é a primeira vez. É uma admiração muito grande, desde “Bete Balanço” (filme de 1984).

Fazendo paralelo ao título da série e as atrocidades que estão acontecendo, não só no Rio de Janeiro, mas no mundo, você diria que seu filho nasceu forte?

Só pra nascer já é preciso ser forte. Depois que o meu filho nasceu, eu descobri que o intestino dele só se desenvolve depois que ele nasce, e por isso, ele sente muita dor. Nós temos que aprender a andar e a falar. Nós somos muito foda por estarmos aqui. Quando afunilamos pelo Brasil afora e o mundo, percebemos onde estão as pessoas mais fortes mesmo. Algo típico e curioso, por exemplo, a grande criação dessas pessoas onde gravamos, é que eles comem a carne de bode, porque é um animal forte que come até pedra. O gado não sobrevive, porque além de pouca água, ele precisa do verde, do pasto. Esse animal é típico da Ásia, um bicho que se vira, sobe em árvore, cava, acha comida pra sobreviver. O brasileiro é assim também. Lá no Nordeste eles têm muito orgulho, e, pra nós, é um preconceito, porque é pejorativo, mas lá não, eles se orgulham muito do animal porque é muito forte.

Quais foram as principais influências na construção do seu personagem?

O Zé (diretor) deu várias referências de filmes, cheguei a assistir “Boi Neon” (2015) com Juliano Cazarré que foi maravilhoso, mas o personagem era um cara simples, que tem dinheiro, mas aqui não cabe essa humildade. O Pedro é quase um coronel contemporâneo. O Zé tomou muito cuidado nesse sentido. O personagem tem tatuagens, e talvez as pessoas irão estranhar, mas é um cara contemporâneo, que viaja pelo mundo, que tem bom gosto porque toma vinhos e queijos e não um cara que só toma pinga e come bode. Ele tem dinheiro, vive no universo dele, conhece o mundo inteiro. É difícil se mirar em alguém.

Em 2014, você fez “Império” e seu personagem mexeu com o imaginário das mulheres, talvez pelo poder que ele mostrava ter. Você acredita que esse seu personagem atual também tenha esse efeito?

Acredito que sim, por ser um homem poderoso, e estar muito próximo desse universo do Comendador. Obviamente algumas pessoas irão comparar, porque são universos próximos, mas eu também não vejo problema, porque é inevitável. Eu sou a pessoa e não tem como trocar o olho, o nariz, a não ser que eu me torne outra coisa, mas já fiz personagens que estão muito mais parecidos com esse, do que o Comendador, e que tem muito mais a ver. Ele é mais humorado que o Comendador, muito mais potente, forte no sentido de contemporâneo, divertido, carismático, mas tem esse lugar do poder, do homem poderoso e nordestino. Ele não é um sedutor, nem eu achava que o Comendador era, pelo menos não lembro. O Romero Rômulo (‘A Regra do Jogo’, 2015) era.

Mas você sabe que as mulheres ficam mexidas quando você tem um personagem novo na televisão…

Sinto-me ótimo e que isso dê ibope, mas é muito particular e tem a ver com o personagem, sem dúvida nenhuma. Eu tinha acabado de fazer esses dois (Romero e Comendador), não sou eu que mexo com as mulheres, mas os personagens. Eu acho ótimo. Tem que ser proposital e quando o personagem pede, nós temos que fazer, o que não quer dizer que vamos conseguir. O Comendador mexia com os homens também. Eles queriam ter aquele cabelo. É muito curioso. Não era só com as mulheres, mas ele mexia com todo mundo. Foi um fenômeno. Eu adoro e não nego, fico honrado. Com “Os Filhos da Pátria”, eu não consegui seduzir ninguém, pra você ver (risos).

reportagem de: Ester Jacopetti

foto: Estevam Avellar

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