Plantar temperos, verduras e legumes em hortas domésticas e mesmo em pequenos vasos ajuda a garantir uma alimentação mais saudável para quem vive na cidade
Numa época em que a preocupação com a saúde é cada vez maior, verduras e legumes são protagonistas de qualquer cardápio. Fornecem fibras, vitaminas, sais minerais e sempre ajudam a balancear os pratos. Assim, criar uma horta em casa vira opção de vida mais saudável até para quem vive nas metrópoles. “Acima de tudo, colher o próprio alimento sem aditivos químicos é garantia de procedência e de qualidade de vida”, diz o técnico agrícola Marcos Victorino, conselheiro da Associação de Agricultura Orgânica (AAO) e consultor na área.
Nas grandes cidades, só mesmo quem vive em casas com quintais tem a oportunidade de dispor de um pedacinho de terra para iniciar seu canteiro. Os moradores de apartamentos, contudo, não devem desanimar. Vasos, jardineiras, caixotes e até kits especiais, à venda em lojas especializadas, permitem que qualquer interessado possa, ao menos, manter ao alcance da mão algumas variedades de verduras, ervas para temperos e plantas medicinais.
No chão, uma pequena faixa de terra de três metros quadrados -pouco maior que uma porta– é capaz de garantir suprimento para complementar as refeições de até duas pessoas .Como a terra das cidades costuma ser bastante ácida, segundo Victorino, é preciso fazer uma correção. “Basta misturar uma colher de cal comum, usada em construções, em cinco litros de água. Depois, é suficiente regar a terra com a solução”, recomenda o técnico.
Conhecer os desejos da terra
O terreno mais adequado é o plano para evitar erosões e distanciado de fontes de contaminação, como fossas sanitárias. Para começar, escave pelo menos 50 centímetros, remova a terra e deixe pedras e torrões no fundo. Na hora de preencher o buraco, use uma mistura de terra e adubo, sem se esquecer de corrigir a acidez. Em lojas especializadas é possível encontrar essa mistura já pronta. “Não se deve confundir com aquelas vendidas com terra preta. Este substrato é pouco fértil, contém resíduos químicos e deixa a planta mais vulnerável ao ataque de pragas”, ressalta Victorino.
O ideal é que este local tenha uma boa exposição diária à luz solar e isso vale também para quem plantar em jardineiras junto a uma janela. “Quatro horas de sol ao dia é o mínimo, porque a maioria das hortaliças se desenvolve muito rapidamente”, frisa o técnico. Mesmo para raízes, bulbos e frutas, como cenoura, cebola e tomate, a insolação também é fundamental. A exposição das plantas ao vento, ao contrário, não é recomendada. Neste caso, uma solução é contornar o espaço com cercas vivas. Também é necessário ter uma fonte de água limpa próxima da horta –nada que uma torneira e mangueira não possam resolver.
Antes de colocar as mãos na terra, faça pesquisas a respeito daquilo que você quer plantar. Algumas hortaliças, como a alface, exigem um processo de germinação em uma sementeira, ou seja, precisam ganhar corpo e raiz durante cerca de um mês antes de serem colocadas definitivamente no canteiro. Uma dica é usar caixas de ovos vazias para realizar este processo. Ervas como salsinha e a cebolinha podem ter as sementes plantadas diretamente. No caso da couve, por exemplo, basta retirar uma muda de uma planta adulta e colocá-la na terra.
Para as hortas que estiverem no chão, o primeiro passo antes de semear é preparar os canteiros. Faça uma vala continua de dez a 20 centímetros de profundidade nas laterais e no centro do terreno. As faixas de terra que ficarem no alto servirão para receber as mudas ou as sementes. Separe os aclives e declives da área com uma barreira de madeira ou tijolos para facilitar a irrigação e impedir erosões. Na hora de adubar, dê preferência às misturas orgânicas, como húmus de minhoca, farinha de ossos e torta de mamona. Cascas de ovos, de legumes e de frutas, além de palhas, cinzas e mato capinado, podem ajudar, mas não têm efeito imediato, pois precisam entrar em decomposição. Não há empecilhos para a utilização de adubos químicos, como o salitre do Chile, o sulfato de amônia e o NPK 4-14-8. Fique atento apenas para seguir à risca as instruções e recomendação de cada fabricante.
A principal vantagem de uma horta doméstica é a possibilidade de garantir um cardápio variado durante todo o ano, que inclui entre outros produtos a abobrinha, o espinafre e a salsa. Mas as épocas de plantio e colheita dependem da variedade das sementes. “Os processos de seleção criam sementes para diferentes tipos de clima e de solo. Só de alface são mais de 300. Por isso, o consumidor deve conferir as informações nas embalagens de cada semente”, lembra o conselheiro da AAO.
Para algumas famílias, além de significar comida de boa qualidade no prato, a horticultura doméstica chega a se transformar numa fonte de renda. Primeiramente porque é possível economizar dinheiro ao cultivar seus próprios alimentos e deixar de comprá-los em feiras e supermercados. Em segundo lugar, porque o envolvimento e o sucesso dessa empreitada de subsistência pode se transformar num negócio capaz de proporcionar algum lucro com a venda dos produtos.
“O preço de um pé de alface gira em torno de R$ 1. Com esse dinheiro, dá para comprar um pacote de sementes que pode render até 400 pés da verdura”, conta Victorino. E, além de garantir saúde na mesa e até algum dinheiro no bolso, cuidar de uma horta doméstica chega a servir de terapia. Muita gente faz do contato com a natureza um momento de prazer e relaxamento, capaz de levar literalmente por terra boa parte das preocupações e do estresse do dia-a-dia.
Faça a coisa certa
– O local da horta, no quintal ou em jardineiras, deve receber boa iluminação solar. O vento, entretanto, deve passar longe das plantas.
– Tente regar o canteiro pela manhã e no fim da tarde e nunca deixe de molhar as hortaliças pelo menos uma vez ao dia. Utilize sempre água limpa para evitar contaminações.
– Em caso de pragas, procure eliminá-las com remédio naturais, como cinzas, fumo em corda etc.; para garantir a quantidade orgânica da plantação, nunca utilize inseticidas químicos.
– Confira a origem, a espécie, a variedade e a validade de mudas e sementes antes de comprá-las. Isso garante produtos saudáveis e de qualidade.
– Limpe e capine o local com regularidade. Junte o mato e deixe num canto. Depois de apodrecimento, servirá como adubo orgânico, assim como cascas de frutas, legumes e ovos.
– Existem ferramentas específicas para plantio e jardinagem, como ancinho, enxadas, colheres, regador etc. Mas é bem fácil adaptar materiais domésticos para fazer suas próprias ferramentas.
– Insumos, sementes e mudas podem ser adquiridos em lojas de jardinagem, supermercados, feiras de planta e flores e até nas grandes casas de material de construção.
– Uma rápida pesquisa na Internet pode ajudar a localizar dicas, pessoal especializado e programação de cursos.
fotos: Caroline Rizzi