A Bahia é um país à parte! Terra da diversidade no sentido mais amplo possível, ela possui um verdadeiro tabuleiro de roteiros turísticos e viagens pela história, cultura e religiosidade. De igrejas seculares ao artesanato e culinária típicos, da crença diversificada de seu povo aos mitos e ritos do folclore, o Estado, em especial a histórica Salvador, se abre em um verdadeiro mosaico de opções.
E é no Pelourinho que Salvador reúne sua maior riqueza cultural. Tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade, o local se revela nos detalhes arquitetônicos, nas igrejas e nas casinhas coloridas, que se dedicam e vivem de turismo. Localizado no centro histórico da capital, o Pelourinho é considerado atualmente um grande shopping a céu aberto por oferecer atrações artísticas, musicais e opções de bares, restaurantes, lojas de roupas, artesanatos e joias, museus, teatros e igrejas. A praça XV de Novembro, mais conhecida como Terreiro de Jesus, mantém características urbanas dos séculos passados. Sobrados ricamente adornados e três igrejas testemunham a época áurea em que Salvador foi capital da colônia. No centro da praça, um chafariz de origem francesa, todo em ferro fundido, representa a deusa Ceres, da agricultura.
Como o local sobrevive do turismo, há guias e vendedores de todos os tipos. São artesãos, artistas plásticos, guias turísticos, baianas querendo ser fotografadas em troca de alguns Reais, garçons atrás de clientes para seus restaurantes, enfim, um grande tabuleiro de coisas. Embora às vezes estressante para o turista, no final nada tira o encanto do velho Pelourinho. Aliás, muito velho! Depois de anos de abandono e deterioração, o local ressurgiu com toda a sua beleza arquitetônica. Cerca de 800 casarões coloniais foram recuperados, servindo como ponto de partida para a revitalização econômica, social e cultural da área.
Passo a passo no Pelô
Quando pisar nas calçadas do Pelô, preste bastante atenção nas sinalizações. Esta é uma ótima forma de identificar os pontos mais importantes do local, que já foi o ponto de castigo dos escravos no período colonial e o principal bairro residencial da aristocracia baiana. Tradicionalmente, o roteiro começa no Elevador Lacerda, na praça Tomé de Sousa (ou Praça Municipal), onde se encontra a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, que funcionou como cadeia pública durante o domínio português. Na Ladeira da Praça e rua Rui Barbosa, quem gosta de antiguidade pode visitar antiquários onde se encontram à venda raros itens em madeira, louça, cristais e outras preciosidades. Uma passadinha para contemplar o Palácio Rio Branco também vale a pena. Recentemente reformado, o prédio, que já foi sede do governo e abrigou reis, vice-reis, imperadores e presidentes de províncias, conta com exposição de móveis coloniais e também abriga o memorial dos governadores.
Um pouco mais adiante, na Praça da Sé, o turista já vislumbra a paisagem composta pela Catedral Basílica, antiga Faculdade de Medicina (primeira do Brasil) e parte do Terreiro de Jesus, com seu intenso comércio de suvenires. Se você gosta de capoeira, com certeza vai sentir muito prazer em assistir às apresentações de grupos que sempre se reúnem no Terreiro de Jesus e um pouco mais adiante, na rua das Laranjeiras, onde funciona a Fundação Mestre Bimba. Um dos cenários mais famosos do Pelourinho é o largo em frente à Fundação Casa de Jorge Amado e o Museu da Cidade. O local foi cenário de clipes e filmes, a exemplo de “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, e dos filmes e seriados “Dona Flor e Seus Dois Maridos” é “Ó Paí Ó”.
Outras grandes atrações do Pelourinho são as igrejas, famosas pela arquitetura colonial: Ordem Terceira de São Domingos, São Pedro dos Clérigos, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Ordem Terceira de São Francisco e a Igreja e Convento de São Francisco. A última é conhecida como “a igreja de ouro”, por ter na composição das suas paredes o metal mais valioso do mundo, que reluz aos olhares dos visitantes. Também a Igreja do Rosário dos Pretos é ponto obrigatório para visitação. Todas as terças-feiras, às 18h, é celebrada a missa dos atabaques (que chama a atenção pelo sincretismo religioso).
O turista não pode sair do Pelô sem conhecer museus como o Museu da Cidade, Museu Tempostal, Solar Ferrão, Casa de Cinema da Bahia e Fundação Casa de Jorge Amado – criada para preservar e estimular o estudo das obras do saudoso escritor baiano. Lá é possível ver exposições de capas dos livros de Jorge traduzidos para vários idiomas e assistir a filmes baseados nas obras do baiano.
O canto da cidade
Cidade da música, Salvador exala melodia em cada esquina; no rebolado da morena, na boemia de suas vielas, nas apresentações que reúnem do samba de raiz ao axé, do forró ao reggae, da MPB ao afoxé, da Bossa Nova ao Carnaval. A terra do sincretismo religioso é, também, a do caldeirão musical. Não é à toa que lá existe o ditado de que em Salvador não se nasce; mas estreia. Mesmo fora do Carnaval, a cidade ferve. Basta procurar nas agendas culturais o que de melhor acontece pelo centro histórico, orla e demais pontos da cidade.
Mesmo sem a folia dos trios elétricos, não deixe de conhecer parte da orla, principalmente o corredor entre a Barra (do famoso Farol, onde existe um Museu Náutico) até Ondina. Dando sequência ao passeio, sentido Farol de Itapuã, o visitante conhecerá o bairro Rio Vermelho, reduto de bares e casas noturnas, onde a cidade ferve à noite, com muita gente bonita e turistas. Há ainda o Mercado do Peixe, que serve vários pratos típicos durante a noite toda. O local é bastante simples, porém vale a pena conhecer, saborear uma boa moqueca e ouvir as histórias locais. Com quase uma hora de passeio pela orla, lá está a bela e famosa praia de Itapuã (claro, você deve passar uma tarde em Itapuã!). Ela é bem como na música, talvez mais bonita ainda!
Cidade Baixa
Nessa parte também histórica da capital baiana, estão atrativos religiosos, como igrejas e terreiros; centros de cultura popular, a exemplo do Mercado Modelo e da Feira de São Joaquim, nos quais se encontram artesanato; espaços gastronômicos, com opções diversas da culinária afro-baiana; entre outros bens do patrimônio histórico e cultural da capital.
É também na Cidade Baixa que acontece uma das festas religiosas mais populares de Salvador, a Lavagem da Escadaria da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, construída no século XVIII. O local, de pura devoção de baianos e milhares de turistas, oferece um valioso acervo pictórico, de autores locais, destacando-se os trabalhos de Teófilo de Jesus e Francisco Velasco.
Um ponto interessante da igreja é a conhecida sala dos milagres, famosa pelo acervo de impressionantes ex-votos. As grades que cercam a porta principal da igreja são transformadas em cortinas com as famosas fitinhas do Senhor do Bonfim, que são amarradas por fieis e turistas. Diz-se que para ter o pedido atendido, deve-se amarrar a fita na igreja ou no pulso com três nós, para cada um deles faz-se um pedido. A fita só deve ser tirada quando arrebentada naturalmente, com o tempo. Tradição local, hoje exportada até para os EUA, as fitinhas são benzidas pelo próprio padre da Igreja do Senhor do Bonfim, que valoriza a devoção e garante a confissão de vários milagres por parte dos fieis.
Irmã Dulce, ‘a santa baiana’
Com um fluxo anual de 35 mil turistas por ano, o Memorial de Irmã Dulce, próximo à Igreja do Senhor do Bonfim, é outro destaque da viagem. O local se prepara, inclusive, para receber mais de 100 mil visitantes de outros Estados e países após a beatificação da freira, que ocorrerá no próximo dia 22 de maio. A informação é da superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita Pontes, sobrinha da “futura santa”.
Chamada de “Anjo Bom da Bahia”, Irmã Dulce dedicou toda sua vida em prol dos doentes e dos pobres, criando inclusive diversas obras assistenciais, como asilos, orfanatos e até mesmo hospitais, que funcionam até hoje. Após sua morte, uma multidão passou a venerá-la e a creditar a ela diversos milagres. Tantos que o Vaticano iniciou um processo de beatificação da freira, que agora aguarda mais um milagre comprovado pela Igreja para tornar-se santa Irmã Dulce.
O Memorial guarda diversas fotos, além de objetos pessoais da madre, como a cama e a cadeira onde ela passou seus últimos dias e até mesmo uma sanfona, que ela usava para alegrar os doentes assistidos em suas obras. Cada painel dentro do museu traz um pouco da história da “santa”. Impossível não se comover com tamanha dedicação aos necessitados. Ao lado da igreja, há uma sala onde estão os restos mortais de Irmã Dulce. O grandioso túmulo vive coberto de flores, fotos e pedidos de fieis em busca de milagres ou em agradecimento por graças já alcançadas.
fotos: Zeca Almeida e Renato Lima