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Post: Débora Bloch e os desafios de reviver a vilã mais icônica da TV

Débora Bloch e os desafios de reviver a vilã mais icônica da TV

A estreia do remake de “Vale Tudo” traz o desafio de reviver uma das personagens mais emblemáticas da TV brasileira: Odete Roitman. Sob a batuta de Débora Bloch, a vilã, imortalizada por Beatriz Segall, ganha uma releitura rica e contemporânea. Embora mantendo a essência de mulher arrogante, classista e preconceituosa, a nova versão reflete as tensões da sociedade atual. Em entrevista coletiva, na qual a Revista Regional esteve, Bloch compartilhou seu processo criativo ao assumir o papel, revelando os desafios de interpretar uma personagem tão atual quanto repulsiva. A atriz optou por se distanciar das gravações de 1988, focando no texto e criando sua própria versão da personagem. “Achei mais interessante me concentrar no texto. Procurei encontrar a minha Odete, a minha maneira de contar a história”, explicou. A vilã permanece como um reflexo de um Brasil que desdenha de seu próprio valor, como retratado nas falas emblemáticas da primeira versão, sendo um espelho de uma elite que se beneficia do país enquanto o despreza. “A Odete representa esse pensamento que, infelizmente, ainda persiste no mundo”, afirmou a atriz. O público certamente será desafiado a refletir sobre as questões sociais que ainda permeiam a realidade brasileira por meio dessa personagem. Abaixo trechos da entrevista coletiva concedida por Débora Bloch no lançamento da nova novela da Globo.

Débora caracterizada como Odete Roitman

“Vale Tudo” foi uma novela histórica. Como você se preparou para esse desafio? Assistiu à versão original ou optou por se distanciar para criar uma Odete com a sua identidade?

DÉBORA BLOCH: Eu acredito que para cada um dos atores foi uma experiência diferente. Não posso responder por todos, mas sei que alguns maratonaram a primeira versão. Eu, por exemplo, na época em que a novela foi exibida, assisti um pouco porque, no período, eu estava envolvida com o teatro; portanto, não assistia todos os dias. Mas revi algumas cenas e depois achei que aquilo não estava exatamente me ajudando. Achei mais interessante me concentrar no texto. Nesta nova versão, eu procurei encontrar a minha Odete — a minha maneira de fazer e contar a história dessa personagem. Essa novela é um clássico. Os atores e o diretor farão uma nova leitura, será acrescentado um novo repertório e uma nova visão daquela história, de como contá-la.

O que você resgatou da Odete de 1988 e o que trouxe de novo para a vilã de 2025?

A Odete é uma personagem fascinante, um retrato de uma classe brasileira que, ao mesmo tempo em que despreza o país, se beneficia dele, sugando suas riquezas. Ela é uma figura complexa e, infelizmente, extremamente atual. O Brasil evoluiu muito, mas estamos vendo, não só no país, mas globalmente, uma ascensão de pensamentos conservadores e retrógrados. Nunca imaginei que assistiríamos novamente a uma exaltação de ideias tão ultrapassadas e preconceituosas. No entanto, é o que vemos, como se a história estivesse se repetindo. Odete reflete esse tipo de mentalidade, que infelizmente ainda está presente no mundo. O que trazemos da versão de 1988 é exatamente isso: uma mulher que desdenha do Brasil e não consegue reconhecer seu valor. A base do texto, com a brilhante escrita de Gilberto Braga, permanece atual, e foi atualizada por Manuela Dias para refletir o contexto de hoje. Estou tentando fazer com que a Odete represente, no Brasil atual, essa personagem que, com seu complexo de vira-lata, subestima tudo o que é nacional, acreditando que o mundo civilizado está na Europa. Ela não consegue reconhecer o valor do Brasil, o que se reflete até em sua relação com seus filhos, que vê como um problema.

Débora em ensaio como Odete Roitman

Na trama, você e a Malu Galli estarão juntas. Como você enxerga essa relação entre Odete e Celina? Digo a partir do ponto de construção entre vocês.

Eu e a Malu nos conhecemos antes; já havia visto ela no teatro. Fizemos alguns trabalhos, “Queridos Amigos”, uma minissérie, foi ali que nos tornamos amigas. Depois, “Sete Vidas”, e agora estamos com essa parceria. Estou curiosa também para saber como vai ser, porque a gente sempre fez papéis de amigas, quer dizer, não sempre, mas amigas. Aqui, somos irmãs, e claro que a nossa relação pessoal é diferente da que temos no trabalho. Embora a gente tenha trabalhado juntas e nos demos muito bem em cena, aqui essa relação é diferente… às vezes eu olho o texto e digo: ‘como eu vou tratar a Malu assim’ (risos)… porque nós somos amigas e a Odete não é exatamente uma irmã fofinha (risos). Mas estou curiosa para ver como vai ser, mas acho que a gente vai se divertir.

A Odete era uma personagem abertamente racista; ela chega a dizer na primeira versão, em uma cena, que a mistura de brancos, índios e negros no Brasil não deu certo. De que maneira você irá fazer esse tipo de comentário, já que ela vai ter uma nora negra?

Olha, eu ainda não sei te dizer como vai ser a relação dela com a Maria de Fátima (Bella Campos), porque não gravamos juntas ainda. Mas a Odete continua preconceituosa; ela fala coisas horríveis, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como eu disse, na minha opinião, é uma personagem que continua presente e é atual. Por mais que a gente tenha evoluído e tenhamos conhecimento sobre muitas questões, eu acho que essas pessoas preconceituosas e racistas continuam aí, infelizmente. Temos muito a avançar nesse sentido. E a maneira de caminhar é assumirmos papéis de poder na sociedade para mudar isso. Quando olhamos para o nosso Congresso, a quantidade de mulheres ainda é pequena; então, não teremos leis que pensem nos direitos das mulheres enquanto forem apenas os homens a pensar sobre isso. E a Odete é uma personagem muito preconceituosa, muito classista, e infelizmente está muito atual. A Odete é controladora e manipuladora, e vê em Maria de Fátima alguém que acredita ser capaz de controlar e manipular. Ela a subestima, mas acaba levando uma rasteira e descobrindo que não pode controlar tudo, felizmente. A Odete só entra no capítulo 24, então chego depois que todo mundo já gravou.

Atriz na festa de lançamento de Vale Tudo

 

fotos: Catarina Ribeiro/Manoella Mello/TV Globo

 

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