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Coletivo de mulheres promove exposição em Itu

“Sustentar o Efêmero” segue em cartaz até 07 de dezembro no Estúdio Extraordinário, compartilhando a experiência de ser mulher no mundo das artes; Mostra terá desdobramento até 25 de janeiro no Centro de Estudos do Museu Republicano

Artistas na abertura da Exposição Coletiva “Sustentar o Efêmero”

“Sustentar o Efêmero” é uma exposição coletiva das integrantes do grupo Rosa Choque no Estúdio Extraordinário, em Itu. Resultado de um ano de trocas e discussões entre as artistas e as curadoras Juliana Monachesi e Thais Rivitti, a mostra reúne obras recentes, muitas feitas especialmente para a ocasião, com o propósito de ampliar a escuta e compartilhar com a cidade de Itu a experiência de ser mulher no mundo das artes, contra todas as adversidades. A exposição segue até 07 de dezembro no Estúdio Extraordinário, em Itu, com desdobramento até 25 de janeiro, no Centro de Estudos do Museu Republicano.

Participam as artistas Eliane Gallo, Gersony Silva, Gessica Morais, Luciana Boaventura, Ninetta Rabner, Raquel Fayad, Rosa Grizzo e Shirley Cipullo. Em suas obras, elas lidam com as mudanças — internas e externas — imersas no fluxo inconstante da vida e elaboram estratégias de sobrevivência, repensam suas próprias identidades, ativam memórias, atentam para um horizonte histórico provocando idas e vindas do passado ao presente. Buscam posições possíveis. 

“O efêmero aparece como condição de estar no mundo. E a sustentação adquire inúmeros contornos: desde seu significado econômico, passando por assumir a prática artística socialmente menosprezada, até a afirmação de uma experiência singular, própria, e nem por isso fechada em si mesma”, observam as curadoras.

As artistas

Eliane Gallo cria instalações com tecido e tramas escultóricas, tirando dos contextos de funcionalidade ou finalidade o labor da tecelagem. Conformar materialidades a partir dos elementos têxteis e espacializar essas formas, conferir-lhes peso, espessura, corpo e extensão resulta, no processo da artista, em ambientes de cura e transformação. 

Gersony Silva também propõe um espaço meditativo na obra desenvolvida para a exposição. Trata-se de uma instalação que evoca um corpo de mulher se exaurindo à sombra das estatísticas de feminicídio e outros crimes de violência contra mulheres. Ao apagamento de histórias pessoais irrecuperáveis, ao incontornável desaparecimento de memórias e sonhos de cada uma das vítimas, Gersony responde com um gesto de sororidade.

Gessica Morais apresenta quatro fotografias-manifesto que retratam mulheres empoderadas. As modelos são parentes ou amigas que a artista dirige na cena, acolhe com a câmera, deixa à vontade para interpretarem a si mesmas nesse lugar que historicamente foi destinado a outros rostos, outros corpos. Gessica confere protagonismo às mulheres negras nesse retrato sem retoque e sem concessão do Brasil.

Luciana Boaventura mostra um conjunto de obras, entre guaches e colagens, que plasmam experiências cotidianas em torno do ritual de tomar chá. A bebida que as ancestrais recomendam tirar para se acalmar, ou para curar uma dor de cólica, o chá que se serve às visitas e em torno do qual a família se senta à tarde no domingo. Os trabalhos são parte de uma longa investigação da artista com sachês de chá, aproveitando deles todos os recursos, o papel, o embrulho, a própria erva, tudo é matéria-prima de suas composições pictóricas. 

Exposição Coletiva no Estúdio Extraordinário

Ninetta Rabner pesquisa os índices arquitetônicos da memória. Em suas pinturas, uma fachada evoca a casa da infância, um arco promove o encontro de espaços e tempos entre a cidade natal e Itu, um descampado repõe o oceano atravessado de navio quando criança, uma escadaria é metáfora para a condição de estrangeira. A artista expõe parte de seu processo em reproduções de seus desenhos, prática que informa toda a sua obra. 

Raquel Fayad trata de ciclos e tempos espiralados em trabalhos que incorporam materiais orgânicos em sua constituição. Lascas e raízes de árvore encontradas na cidade são colecionadas pela artista, aguardando o momento de integrarem uma obra, somando a esta o dado concreto da mutação constante da vida. A artista expõe também uma pintura de sua série de figuras femininas e aranhas, que abordam o renascimento. 

Rosa Grizzo apresenta um conjunto de trabalhos têxteis. Suas obras, via de regra, partem de peças usadas, ou de fragmentos que delas restaram, como lenços, toalhas, panos de prato, ou mesmo roupas que carregam sua história pregressa. Esses tecidos são recompostos por meio de uma costura que sutura os rasgos, desgastes e esgarçamentos na trama e conferindo uma nova presença que se soma ao uso anterior. São itens de uso cotidiano e do universo doméstico que conduzem um questionamento sobre as tarefas historicamente associadas ao universo feminino.

Shirley Cipullo mergulhou na pesquisa sobre Itu, trazendo alguns elementos de sua poética artística, como a costura, o desenho e a escultura para elaborar uma reflexão sobre esse território. O conjunto de obras exposto traz, em seus materiais, a lembrança da cultura do açúcar na região de Itu e memórias dolorosas de um passado escravagista. Numa composição com vários elementos, podemos ver como a volta ao passado é um passo importante para se elaborar o futuro.

Desdobramento na Casa do Barão, do Museu Republicano

 No Museu Republicano

O desdobramento da mostra no Centro de Estudos do Museu Republicano, a famosa Casa do Barão, no Centro histórico de Itu, propõe dialogar diretamente com a meta do museu de abrir questionamentos à formação histórica e cultural brasileira, pois esta é uma exposição feita por mulheres que lutam por um reconhecimento da potência de seus trabalhos.

O grupo Rosa Choque – composto por 12 mulheres entre artistas, curadoras, colecionadoras e educadoras – se reúne online quinzenalmente para refletir e propor formas de legitimação de suas trajetórias. A invisibilidade do trabalho das mulheres dentro e fora de casa, as lutas por manter avanços sociais conquistados e contra a violência e o resgate da memória, são algumas recorrências desse conjunto de trabalhos reunidos, agora acrescidos pela obra da artista Thiá Sguoti, que é convidada na mostra do Centro de Estudos, se aprofundando no mundo das ambiguidades de gênero.

 

MAIS:

“Sustentar o Efêmero”

Estúdio Extraordinário

Rua Dr. Graciano Geribello, 24, Bairro Alto, Itu

Exposição: de quinta-feira a sábado, das 14h às 18h

Tel: (15) 99784.7146

 

Centro de Estudos do Museu Republicano

Rua Barão de Itaim, 140 – Centro, Itu

 

 

fotos: Bruna Fiamenghi

 

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