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Post: Diogo Almeida: sucesso e representatividade

Diogo Almeida: sucesso e representatividade

Diogo em ensaio exclusivo para a Revista Regional

Do tablado à tela grande, a jornada de um ator completo

 

Nascido em Campo Grande, zona oeste da capital fluminense, Diogo Almeida desde cedo demonstrava paixão pela arte dramática. Aos 11 anos, ingressou no curso “Nós em Cena”, dando início a uma carreira marcada por talento, versatilidade e representatividade. Após a experiência inicial, Almeida integrou o Teatro Arena, aprimorando suas habilidades. Em 2007, realizou o sonho de estrear na novela “Duas Caras”, da Rede Globo, consolidando sua presença na TV. Entre desafios e conquistas, a busca por crescimento profissional o levou a estudar Psicologia, experiência que contribuiu para o seu amadurecimento como ator. Em 2023, viveu o protagonista da novela “Amor Perfeito”, um marco em sua trajetória. Na luta pela representatividade e contra o racismo, Diogo reconhece essa importância na indústria cinematográfica e defende a participação equitativa de atores negros em todos os setores da produção audiovisual. Para o futuro, alguns projetos estão em andamento, incluindo um longa-metragem e a divulgação de seu livro “Com Afeto, Kayin”. Nesta entrevista exclusiva, Diogo revela que está sempre em busca de novos desafios e oportunidades para contribuir com a arte e a representatividade. Conheça mais sobre a trajetória deste ator que ainda tem muitas histórias para serem construídas.

 

REVISTA REGIONAL: Diogo, sua jornada na atuação começou aos 11 anos no curso “Nós em Cena”. Como foram esses primeiros passos e de que forma moldaram sua carreira?

DIOGO ALMEIDA: Sempre desejei trabalhar como ator. Nascido em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, não venho de uma família de artistas. As informações sobre cursos de teatro nem sempre chegavam até mim, então comecei a pesquisar e fazer contatos para encontrar um curso. Foi quando descobri que o André Mattos ia ministrar um curso de teatro aos finais de semana, lá em Campo Grande. Obviamente me inscrevi e a experiência no palco foi incrível. Minha família se juntou para me assistir no teatro e foi um momento memorável que me fortaleceu. Depois do curso, entrei para o Teatro Arena, dirigido por Regina Pierini, onde permaneci por alguns anos. Durante esse período, fiz um teste para o filme “Cidade de Deus” e passei para participar da oficina de preparação para o longa, ministrado pelo Guti Fraga. Esse foi o meu primeiro contato com o cinema. Participar dessa oficina na Fundação Progresso foi importante para o meu desenvolvimento como ator e contribuiu para as minhas escolhas após esse período, mesmo não tendo participado do filme final. Na época, eu era jovem e não vivia a realidade retratada no longa-metragem, o que buscavam na seleção de jovens atores. Após essa experiência, ingressei na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), para estudar mais a fundo Artes Cênicas.

 

O fato de você ter começado cedo, de certa forma te deu mais confiança no seu desenvolvimento como ator? Como foi ter que lidar com essa pressão?

Desde pequeno, ao ver crianças na TV, eu já sonhava em fazer parte daquele mundo. Quando me formei em teatro, ouvia histórias de profissionais que faziam muitos testes e enfrentavam longas esperas por um trabalho significativo. Em 2007, realizei meu sonho de estrear na novela “Duas Caras”, da TV Globo, escrita por Aguinaldo Silva e dirigida por Wolf Maia, após a minha formação em Artes Cênicas, em 2006. Quando passei no teste para a novela, senti uma sensação do tipo: ‘nossa, eu desejei muito isso, agora que está acontecendo, preciso dar o meu melhor’. Foi um aprendizado e uma grande experiência. Mas, como em toda profissão, a vida é uma constante construção. Depois da novela, não tive outros trabalhos na emissora. Seguindo em frente, fui para a Record e também me dediquei ao teatro. Fiz alguns espetáculos, dentre eles a peça “Mania de Explicação” sob direção do Gabriel Villela e a peça “Drhama de João Falcão sob direção do Luiz Estellita Lins. Essa peça também foi muito especial porque conseguimos realizar a partir de um desejo meu e da minha amiga parceira de cena, a atriz Adriana Zattar, de contar uma história cheia de símbolos e reflexões. Sempre estive em movimento, buscando crescimento e amadurecimento profissional. Foi nesse contexto que decidi estudar Psicologia. Após me formar e trabalhar na área, tive a oportunidade de participar do filme “Errante Corazón”, com o ator argentino Leonardo Sbaraglia, que admiro muito. Foi uma experiência enriquecedora. É claro que tive que passar por muitos desafios até chegar aqui. Eu tenho os meus sonhos, anseios e muita fé. Estudei, trabalhei e sempre acreditei que daria certo. Nada foi fácil, nunca recebi nada de mão beijada, tudo foi conquistado com muito suor. Se não fosse naquele momento ou naquele trabalho, havia um motivo, e o melhor ainda estava por vir. Desde que me conheço por gente, queria ser ator, mesmo sem ainda ter noção da profundidade que precisamos ter para seguir nessa profissão. A Psicologia entrou na minha vida como parte da minha construção pessoal e contribuiu muito para o meu amadurecimento. Ela me deu mais tranquilidade para trilhar meu caminho e buscar o sucesso como ator, me proporcionou segurança, que era o que eu precisava para finalmente poder fazer parte de produções que me fazem brilhar os olhos.

 

A sua base foi o teatro. Você acredita que para ser um bom ator, o tablado é fundamental para solidificar a carreira?

O teatro é extremamente importante para a nossa profissão. É verdade que existem atores e atrizes que não tiveram contato com o teatro e fazem TV, mas o teatro é uma fonte inesgotável de aprendizado para o nosso ofício. No teatro, você aprende muito. Entramos em contato com o que é necessário para a criação e desenvolvimento de um espetáculo: cenário, figurino, iluminação, sonoplastia, contra-regragem, atuação, direção, produção, etc.. Tudo ali é muito presente e fundamental para o sucesso da peça. No teatro, aprendemos a trabalhar em equipe. É o mesmo movimento de dar as mãos e saber da importância que cada um tem dentro de um projeto. Essa união faz com que tenhamos um olhar mais amplo em relação à nossa profissão, um olhar mais generoso e colaborativo. O teatro também nos proporciona a oportunidade de vivenciar diversos personagens. Essa experiência nos torna mais versáteis e preparados para enfrentar os desafios da carreira de ator. Em resumo, o teatro é uma base fundamental para a formação de um ator completo.

 

Desde que você ingressou na profissão, existe algum artista que admire e tenha um profundo desejo de trabalhar em algum projeto juntos?

Em minha primeira novela, tive a oportunidade de trabalhar com ícones da TV brasileira, como Suzana Vieira, Paulo Goulart, Betty Faria, José Wilker, Marília Pêra e Renata Sorrah. Sou extremamente grato por essa experiência. Em “Amor Perfeito”, tive a honra de trabalhar com profissionais que me inspiraram, como Antônio Pitanga, Tony Tornado e Isabel Fillards. Artistas negros que abriram caminho para a nossa representatividade na televisão. Foi um momento muito importante para mim, tanto pessoal quanto profissionalmente. O meu maior sonho era ser protagonista de uma novela na Globo e eu devo isso a todos que batalharam, acreditaram e torceram por mim, em especial o diretor artístico André Câmara, e os autores da novela Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. Ainda falando em grandes atrizes, gostaria de destacar Glória Pires, eu a conheço pessoalmente e ela sempre foi muito gentil comigo, mesmo antes de eu ser protagonista de novela. Admiro a forma como ela trata as pessoas. Outra atriz que admiro muito é Zezé Motta. Tive a honra de passar o último dia do ano passado em sua casa. Foi um momento muito especial. Admiro Zezé como pessoa e como profissional. Ela é também uma referência para mim.

 

Nos últimos anos percebemos que muitas novelas estão sendo refeitas, uma onda de remake que tem agradado ao público. Se fosse para você participar e reviver um desses personagens, que novela seria?

Haverá um remake de “Vale Tudo”, e confesso que ainda não tenho nenhum personagem em mente. No entanto, lembro-me muito bem da história de Odete Roitman, uma personagem marcante da novela. Seria interessante participar desse remake, mas também adoraria fazer parte de um remake de “Renascer”. Essa novela é extremamente bonita, rica em detalhes e possui uma essência única. Quando criança, de alguma forma, eu já era capaz de identificar isso, mas não sabia nomear. Hoje continuo me encantando com a sua história e personagens.

 

O ator lançará seu primeiro livro agora em abril, “Com Afeto, Kayin”, uma fábula além do espectro autista

Considerando a importância da representatividade e da visibilidade na luta contra o preconceito racial, de que maneiras específicas os profissionais da indústria audiovisual podem atuar para garantir que os atores pretos tenham oportunidades, mas participem de maneira equitativa na criação de narrativas?

Precisamos ter pessoas pretas em todos os setores da sociedade. Isso nos permite ter um olhar mais atento para as questões raciais, pois apenas quem vivencia essa realidade pode mensurar seus impactos. Estamos evoluindo, como podemos observar na novela que participei, que contou com inúmeros atores pretos. No entanto, é extremamente importante que tenhamos profissionais pretos em todos os setores. É fundamental que, ao iniciarmos um projeto, tenhamos homens e mulheres pretos. Abrir espaço para discussões sobre temas diversos é essencial para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Uma pergunta que me surgiu durante a nossa conversa, por que você escolheu Psicologia?

Sou formado em Artes Cênicas, mas decidi fazer Psicologia. Sempre admirei essa profissão, mas no começo achei que estava velho para iniciar outra faculdade. Quando resolvi voltar a estudar, pensei em fazer algo na minha área, como Cinema, para potencializar minha profissão e abrir novas possibilidades. Mas pensei na Psicologia também porque conversa muito bem com a arte e pode somar muito ao meu trabalho de ator. Tive a coragem de mergulhar na Psicologia. Não foi uma faculdade fácil, mas foi muito interessante. Fiquei feliz em ter concluído o curso e pude realizar trabalhos voltados para crianças dentro do espectro do Autismo e mulheres vítimas de violência. Durante a pandemia, escrevi um livro sobre o poder do afeto dentro do espectro do Autismo. Ele se chama “Com Afeto, Kayin”, uma fábula além do espectro. Kayin em iorubá significa “filho muito aguardado”. Dediquei muito amor a esse trabalho e estou organizando o lançamento, que será no mês de abril desse ano.

 

Como você descreveria a sua experiência no “The Masked Singer Brasil”?

Participar do “Masked Singer” foi uma experiência única que me tirou, literalmente, da minha zona de conforto. Encarnar um novo personagem, com vestimentas e canto, foi um desafio que abracei com entusiasmo. Eu me dediquei ao máximo, como sempre faço em todos os meus trabalhos, e o resultado foi gratificante. Ao ver a fantasia do cuco, me emocionei e me arrepiei. O tempo é um tema que me toca profundamente, especialmente em tempos de ansiedade como os que vivemos. Apesar de também sentir essa pressão às vezes, acredito que é importante ter um olhar respeitoso sobre o tempo, reconhecendo seu poder sobre todas as coisas. Só estou aqui hoje porque soube aproveitar e respeitar o tempo. Se não tivesse feito isso, talvez não estivesse aqui conversando com você. Agora, posso mensurar a importância da minha participação no programa. Foi um desafio superado com sucesso!

 

No filme ‘Missão Porto Seguro’ nos cinemas, qual foi o aspecto mais desafiador ao interpretar seu personagem neste projeto? Como você abordou a construção desse papel e como ele se diferencia dos personagens que você interpretou anteriormente?

Este filme, com direção da talentosa Cris D’Amato, está previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano. Foi um feliz encontro: não nos conhecíamos pessoalmente, mas sou um grande admirador do trabalho da Cris. Ela é uma profissional extremamente generosa e empática. No filme, interpreto o dono de uma empresa que promove eventos, dá aulas de kitesurf e organiza um concurso de danças em Porto Seguro, na Bahia. Foi interessante contracenar em um universo da década de 1930 na novela “Amor Perfeito”, logo após ter dado vida a um personagem contemporâneo e completamente diferente do anterior. Estou curioso para ver o resultado do filme, que é uma comédia policial.

 

Neste momento, você tem planos? No cinema, no teatro ou na TV?

Embora não esteja precisando descansar, estou pensando em tirar 15 dias para viajar e relaxar completamente. Quero me desligar do trabalho e curtir esse período sem pensar em nada profissional. No entanto, o lançamento do meu livro está me ocupando bastante. Estou envolvido em toda a divulgação e promoção. Além disso, estou envolvido em um novo projeto de longa-metragem. As filmagens devem começar no meio do ano, mas ainda não posso falar muito sobre ele, pois está em fase inicial. Ainda tenho outros dois projetos para este ano, que dependem de algumas respostas. No entanto, estou empolgado com todos e ansioso para ver o que o futuro reserva.

 texto: Ester Jacopetti

ENSAIO:

fotos: Priscila Nicheli

styling: Samantha Szczerb

agradecimentos: Raffer, Amil Confecções e Portinho RJ

 

 

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