Itu mantém, há séculos, na Semana Santa, eventos que possuem riqueza única, com composições de artistas ituanos e também objetos que ajudam a recriar, quase que fielmente, as tradições dos séculos XVII e XVIII
A Semana Santa em Itu resgata eventos seculares que são considerados verdadeiros patrimônios materiais e imateriais da cidade, como obras compostas por padre Jesuíno do Monte Carmelo, Elias Lobo, Tristão Mariano da Costa, Miguel Dutra, entre outros.
Além da música, que é um patrimônio imaterial, destacam-se os Passos, montados desde o final do século XVIII nas casas de famílias ituanas para a procissão de Passos e o Santo Sudário, utilizado pela Verônica, que tem sua pintura atribuída ao artista plástico Almeida Júnior.
O historiador ituano Luís Roberto de Francisco, autor do livro “A Paixão Segundo Itu” e regente do Coral Vozes de Itu, afirma que desde que existe Paróquia em Itu, começou-se a fazer o Ofício da Paixão na Matriz, como evento oficial da igreja. Já a Procissão do Enterro (ou Procissão do Senhor Morto), provavelmente, teve início no final do século XVII e a Procissão de Passos, no final do século XVIII. Atualmente, a Procissão do Senhor Morto, na Sexta da Paixão, é realizada sem a presença do Coral Vozes de Itu.
“O Sermão das Sete Palavras começa, exatamente, em 1867, quando foi composta a obra de Elias Lobo. E acontece, quase sem interrupção nenhuma, até 1992. Voltando apenas em 2006”, afirma o historiador, que destaca que é difícil definir uma hierarquia dentro desses eventos, cultural e musicalmente, pois cada um tem sua música e elementos próprios. “Uma adaptação local é feita, com imagens, peças, tecidos e, inclusive, a música. Nós não emprestamos música, nós fizemos nossa própria música em Itu e isso tem um sentido de celebração da comunidade muito forte, pois ela promoveu um arcabouço cultural, que hoje está preservado, mas nem sempre esteve”.
Manter esses eventos recorrentes em Itu é preservar uma parte de sua história viva e sua identidade cultural singular. “Uma sociedade só existe porque ela recebeu um conjunto de informações e cultura e, à medida que ela mantém isso vivo, ela se mantém como uma comunidade. A identidade cultural do lugar se firma pelo patrimônio. O patrimônio são suas casas, os objetos, os costumes, a música, a dança, a cultura de um modo geral. Isso faz com que a sociedade se mantenha, pois tem um patrimônio vivo”, explica Luís Roberto.
A Semana Santa em Itu
Confira a programação deste ano:
– 23 de março, sábado, 19h30
Cerimônia do Ofício de Trevas: A celebração é realizada com as luzes apagadas e com todas as imagens cobertas. A única iluminação no local provém de velas, enquanto os mistérios de Jesus Cristo são contemplados. São executados salmos, antífonas, leituras e responsórios. O ofício conta com a participação do Coral Vozes de Itu.
– Local: Igreja de Nossa Senhora do Carmo
– Matinas de Quarta-feira Santa de Elias Álvares Lobo
– participação do Coral Vozes de Itu
– 24 de março, domingo, 10h
Procissão de Palmas e Missa do Domingo de Ramos
– Igreja de Nosso Senhor do Horto e São Lázaro
– participação da Schola Cantorum de Itu com obras de compositores ituanos
– 24 de março, domingo, 19h
Procissão do Senhor dos Passos: A tradicional procissão acontece em Itu desde o final do século XVIII. Ela refaz simbolicamente os caminhos de Cristo ao calvário, sendo que sete passos são montados em casas e nas Igrejas do Bom Jesus e do Carmo, no Centro da cidade. Na ocasião, é apresentado pelo Coral Vozes de Itu os Motetes de José Mariano da Costa Lobo e a Verônica faz seu canto, este de autoria de padre Jesuíno do Monte Carmelo. Além disso, o Santo Sudário, apresentado pela Verônica durante seu lamento em cada parada, é atribuído ao artista plástico Almeida Júnior. No terceiro passo, na Igreja do Bom Jesus, acontece o encontro da imagem de Nosso Senhor com a de Nossa Senhora das Dores.
– Motetes do Senhor dos Passos de José Mariano da Costa Lobo
– Coral Vozes de Itu e orquestra
– Início na Igreja de Nossa Senhora do Carmo
– 29 de março, Sexta-feira Santa, 20h
Procissão do Enterro / Procissão do Senhor Morto: Às 20h na Sexta-feira da Paixão, na Matriz da Candelária, acontece a procissão, representando o enterro de Jesus, evento realizado, provavelmente, desde o final do século XVII. Duas imagens são carregadas, a do Senhor Morto e a de Nossa Senhora das Dores. A primeira tendo sido adquirida em 1796 pela Irmandade do Santíssimo.
– O Vozes de Itu não participará da celebração deste ano.