Projeto social em Itu ensina o ofício da arte de restauração para adolescentes em situação de vulnerabilidade social; O Oficina Escola é inspirado em projeto de Ouro Preto (MG), considerado um celeiro de restauradores
Ensinar o ofício da arte de restauração de edificações históricas. Esta é a essência do projeto social “Oficina Escola de Artes e Ofícios de Itu”, em Itu, implantado em 2006. Direcionado a adolescentes entre 14 e 17 anos incompletos, de famílias em situação de vulnerabilidade social, o Oficina Escola é inspirado em um projeto semelhante de Ouro Preto (MG), considerado um celeiro de artistas e restauradores.
Em Itu, a realidade não é diferente. A cidade, de 413 anos, conta com 235 imóveis tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico) e pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), além de 30 fazendas históricas dos séculos XVIII e XIX. “Itu é um terreno fértil, um mercado vasto e promissor para o trabalho de um restaurador”, afirma o presidente e representante legal da Associação Projeto Escola de Artes e Ofícios de Itu (POEAO), Raul de Souza Almeida.
Em uma das primeiras turmas do Oficina Escola, 12 estações da Paixão de Cristo foram restauradas pelos aprendizes. Após o restauro, as peças foram fixadas nas paredes da Igreja de São Luís Gonzaga, pertencentes ao 2º Grupo de Artilharia de Campanha (2º GAC) – Regimento Deodoro, sediado em Itu. Uma mesa de 1890 feita de cedro rosa, que pertenceu ao Colégio São Luís de Itu, foi restaurada na oficina de marcenaria do projeto e, hoje, está em exibição no Museu do Regimento Deodoro, cuja sede história serve de canteiro escola para os aprendizes do Oficina Escola de Itu.
As oficinas do projeto estão instaladas no interior do Quartel de Itu, fruto da cessão de local pelo Exército Brasileiro e resultado de uma das parcerias e convênios que mantém o Oficina Escola funcionando. Por ser uma associação apolítica, não lucrativa e ter como missão a inclusão social de adolescentes de famílias carentes e o preparo de sua inserção produtiva no mercado de trabalho, o projeto tem contado, para o desenvolvimento das atividades letivas de 2022/2023, com recursos oriundos do Programa de Ação Cultural – ProAC Direto Expresso 2021, que é administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Os adolescentes que participam do projeto recebem uma bolsa-auxílio mensal, precisam estar matriculados em escola pública e ter frequência de 90% nas atividades do projeto. A grade curricular é extensa e, além das disciplinas: Educação Patrimonial, Marcenaria e Restauro de Bens Móveis e História da Arquitetura, os adolescentes têm aulas de Sketch Up – Modelagem Arquitetônica, AutoCad 2D, Marketing, Inclusão Digital, Instalações Hidráulicas e Elétricas, Leitura e Interpretação de Projetos e Desenhos de Obras Civis, Planejamento e Orçamento de Obras, entre outras.
“Um dos nossos principais objetivos é preparar estes jovens para entrar no mercado de trabalho da construção civil voltado para as atividades de conservação, revitalização e restauração do patrimônio histórico e artístico”, ressalta Almeida.
Inserção no mercado de trabalho
Renato da Silva Machado, hoje com 18 anos, foi aprendiz do projeto e é um exemplo de como a participação nas aulas do Oficina Escola o direcionaram para a conquista do atual emprego. “Eu nunca tinha aberto um computador. Não tinha noção nenhuma, mas com as aulas de AutoCad 2D, por exemplo, hoje eu consigo ‘ler’ um projeto gráfico e isso foi um diferencial na conquista do meu atual trabalho, no setor de construção civil”, conta Machado.
O jovem relembra o quanto a grade curricular era robusta e as exigências eram rigorosas. “Participar do projeto era bem difícil. Hoje atuando no mercado de trabalho é que percebo o real significado da oportunidade. Sou muito grato”, comenta.
foto: AdobeStock e Divulgação