Giovana Cordeiro iniciou sua jornada na carreira artística de forma promissora. Seu primeiro trabalho aconteceu em 2015, em “Dois Irmãos”, e, de lá para cá, foram inúmeras personagens. Em “Mar do Sertão” (2022), o reconhecimento chegou em boa hora. Também pudera, ela estudou teatro e se dedicou a aprimorar suas habilidades em Artes Cênicas. Sua atuação foi elogiada pela crítica e pelo público, consolidando-a como um nome a ser observado no cenário artístico brasileiro. Seu carisma e talento lhe renderam uma oportunidade única, ser protagonista de “Fuzuê”, novela que acaba de estrear na TV Globo. Nesta entrevista exclusiva, Giovana é só alegria! Mesmo com o corre-corre do dia a dia de gravações, ela conseguiu reservar um tempinho para bater um papo com a Revista Regional. Nas próximas páginas, a atriz reflete sobre visibilidade na profissão, feminismo e novos projetos. Confira.
REVISTA REGIONAL: Depois do sucesso em ‘Mar do Sertão’, você embarca em ‘Fuzuê’, mas como protagonista, uma heroína da comédia romântica. Dizem que fazer rir é difícil. Como você se sente nesta posição? Quais são os truques para que a personagem não se torne exagerada e estereotipada?
GIOVANA CORDEIRO: O riso é uma consequência. Não temos total controle sobre nenhuma reação do público, mas, por uma observação constante e muito estudo, o ator já domina algumas técnicas de tempo de comédia e se permite brincar dentro do que outros grandes artistas já deixaram registrados como possibilidade. Nesse sentido, para a construção de Xaviera, tive muito como referência a relação feminina entre Andrea Beltrão e Fernanda Torres, em “Tapas e Beijos”. A pesquisa me levou de volta até essa série e há o reflexo desta inspiração ali no meu trabalho. No audiovisual, muitos outros profissionais ajudam a contar essa história. A musicalização, a edição, a caracterização… Tudo contribui. Aprendi com Ana Beatriz Nogueira, logo na minha primeira novela, que o ator que interpreta para reproduzir o riso, se lasca. Estive de perto ali em “Mar do Sertão” com ótimos atores, também ótimos em fazer comédia. Observá-los foi fundamental. Eu me refiro a Titina (Medeiros), Thardelly (Lima), Enrique Diaz, Suzy (Lopes), Welder (Rodrigues) e muitos outros. Também sempre escolho encontrar um caminho mais popular, palavras, expressões e ritmos que eu observo comuns na rua, nos lugares que frequento e sempre me identifiquei. A novela pede essa aproximação. “Fuzuê” segue a linha mais misteriosa, é bacana descobrir um nosso jeito de contar história. É a mistura entre uma realidade vibrante e constantemente solar e o suspense subterrâneo, também sempre esperançoso. Aqui eu cumpro um papel na trama e cada personagem meu se apresenta de uma maneira. A construção da linguagem é coletiva e vamos descobrir ao longo do processo, e também agora com a estreia, ainda muitas outras possibilidades surgirão. A adrenalina de fazer uma obra aberta é também o que mantém o frescor. Tudo é possível.
Giovana, falando sobre interpretação, você gosta de dar opiniões sobre a personagem, na maneira como ela poderia se portar, ou prefere seguir a direção dos autores e diretores?
Não é apenas uma opinião, faz parte do nosso trabalho propor, faz parte da construção da personagem. É uma junção de propostas. Primeiro do autor, depois do diretor, entra a camada visual, figurino, entra o ator contribuindo com o que já entendeu sobre aquela personalidade e, assim, nasce uma personagem.
Você é formada em Artes Cênicas, mas em que momento soube que seguiria a carreira de atriz? Aliás, estar na TV sempre foi o seu plano? Pergunto isso porque muitos atores começam suas histórias no teatro. Conte-me como foi o início e quais foram as dificuldades.
Estar trabalhando sempre foi o meu plano. Trabalhar no teatro, na TV, na rua sempre será uma possibilidade muito digna de ser artista. Isso me encantou na arte: a possibilidade de poder fazê-la em qualquer lugar, de todo jeito. O teatro também me ensinou isso. Minha primeira peça de teatro foi no corredor do prédio. Produzida por cinco meninas entre sete e 12 anos: minhas irmãs, duas vizinhas e eu. Ensaiamos por dias, com direito a número musical e bolo servido no final feito pela Natália, minha irmã mais velha. Marcamos a apresentação para as 18h, quando todos os vizinhos do andar chegariam do trabalho. Essa sempre foi a minha brincadeira, o jeito que eu me explicava para o mundo, apresentava trabalho na escola, me expressava. Eu sempre fui artista. E sempre tive muito desejo de trabalhar. Eu assistia com água na boca a “Chocolate com Pimenta”, “O Clone”, “Caminho das Índias”, “Hoje é Dia de Maria” e já me imaginava trabalhando ali. Quando precisei escolher uma faculdade, não tinha mais dúvida de que queria seguir nas Artes Cênicas e, durante o curso, veio a confirmação de uma vocação que sempre arrumou um espaço para ser expressa.
Frequente no universo feminino, muitas mulheres sofrem com a síndrome da impostora. Já aconteceu com você?
Atualmente eu tenho desafiado o meu lado impostora. Toda vez que acho que não vou dar conta de algo, penso em como será depois que aquela dificuldade passar e das duas uma: ou restará um arrependimento gigante por deixar que o medo me impedisse de viver o momento como eu gostaria ou, em vez disso, estarei em outro lugar completamente diferente, com desafios ainda maiores e me sentindo ainda mais preparada. É sempre assim quando encaramos uma novidade. Daí eu me lembro de todas as coisas surpreendentes que já vivi por ter tido coragem de seguir mesmo num caminho desconhecido e vejo como, hoje em dia, eu lido com naturalidade e conhecimento com situações que antes me apavoraram. Penso que tudo é costume e quanto mais a gente se desafia a vencer os desafios apresentados, mais a gente começa a encarar um possível crescimento. É um diálogo constante comigo mesma. A manutenção da nossa autoestima é um trabalho intenso.
Nós sabemos o quanto é intensa e agitada a vida de atores quando estão com trabalhos na TV. Muitos, inclusive, praticam yoga ou meditação. Normalmente o que você faz para relaxar?
Estou num momento de tanto trabalho que até levei um tempo para refletir sobre essa pergunta. E, sendo sincera, o que tenho conseguido fazer é encontrar brechas para me escutar, antes de tomar alguma decisão, pegar mais leve quanto à minha autocobrança, sempre fazer com prazer e por inteiro os compromissos que assumo, mas também saber categorizar o que é realmente urgente, deixando para depois o que é para depois e vivendo cada dia de uma vez, ou simplesmente aproveitando quando chego em casa para me afastar de tanta informação que o mundo traz e acalmando, assim, a ansiedade. Nas minhas folgas, não tem feito sol, confesso que assim fica mais difícil fazer o que realmente me dá a sensação de relaxamento. Amo aproveitar os dias de sol, estar perto da natureza e isso me renova.
As mulheres estão assumindo um protagonismo quando pensamos em posicionamento e enfrentamento ao machismo e preconceito. Como você enxerga o movimento feminista e suas conquistas?
A gente sabe que ainda tem muito caminho a percorrer, mas, para mim, a maior conquista é o amadurecimento e a cumplicidade que nós mulheres fomos conquistando entre nós ao longo de todo esse tempo. Ainda vejo mais homens em posição de liderança no meu trabalho, por exemplo, então isso ainda é um desafio na hora de construir um ambiente onde as falas e as propostas sejam 100% confortáveis para nós, mulheres, porque só a gente sabe de fato sobre o que estamos falando. Mas ter com quem dividir as questões, ser acolhida e pensar em grupo sobre as mudanças que precisam ser feitas é um ponto muito importante. Também temos homens mais abertos a nos ouvir e isso é também um motivo para celebrarmos, mas, como disse, a estrada ainda é longa e ainda é preciso que a diversidade ocupe mais espaço para dividirmos opiniões até que não seja mais possível reproduzir nenhum discurso de soberania ou que invalide experiências de um coletivo que tem muito a contribuir com o desenvolvimento da nossa sociedade.
Uma das coisas que você gosta de compartilhar com o público são os exercícios físicos. Qual a importância da atividade física na sua vida?
Eu amo estar em movimento e desenvolver habilidades do meu corpo, ganhando mais consciência sobre a sua capacidade. Fazer exercício me ajuda, sobretudo, como atriz: fico mais bem colocada em cena, alivia minha ansiedade, me dá mais energia e disposição para trabalhar, além de aumentar a minha autoestima. O esporte sempre fez parte da minha vida. Pratiquei esporte durante toda a minha infância e adolescência. Para mim, é uma questão de bem-estar mesmo.
Vivemos numa sociedade cada vez mais acelerada, provocada principalmente pelas redes sociais que transformaram a maneira de interagir com o próximo. O que você considera essencial para ter uma vida em equilíbrio? De que maneira você mantém suas amizades reais?
A minha forma de lidar com as redes sociais mudou muito de uns poucos anos para cá. Eu já briguei muito com essa relação, mas hoje encaro como um espaço de aproximação com o público que me acompanha e como divulgação da minha carreira. Ficou mais fácil quando eu entendi que eu precisava me organizar para não me sobrecarregar e não ter obrigatoriedades que não fizessem sentido para mim, quando relacionada com o excesso de presença nas redes. Encaro como uma extensão do meu trabalho, então me dedico a entregar o melhor que posso e ser sempre coerente com o que pretendo comunicar.
A gente sabe que enquanto o ator está com trabalho na TV dificilmente terá outros projetos, mas você planeja lançar algum trabalho no cinema, que já tenha sido filmado, ou quem sabe após a novela? Quais os projetos para o futuro?
Está previsto para estrear no segundo semestre o filme “Meu Sangue Ferve por Você”, a cinebiografia de Sidney Magal. Um filme que conta a história de amor entre ele e sua esposa, Magali. Eu interpreto Magali nessa comédia romântica musical, cheia de nostalgia. Esse é um projeto antigo, fiquei muito tempo trabalhando nele, atravessando uma longa espera por conta da pandemia e, recentemente, vi algumas imagens do filme e fiquei ainda mais animada para a sua estreia. Está lindo, fazendo jus a essa história de amor à primeira vista que dura até hoje! É bonito homenagear um artista, uma família, com eles tão presentes e apaixonados pela própria história. Acho que o público vai amar e se divertir muito nos cinemas!
entrevista: Ester Jacopetti
fotos: Vivi Bacco