Pesquisar

>

Post: Os 60 anos de Xuxa!

Os 60 anos de Xuxa!

Xuxa em ensaio especial fotografado por Blad Meneghel

Com o sucesso do documentário no GloboPlay, que retrata seus 60 anos, Xuxa fala com a imprensa, reconhece erros do passado e comenta os dramas e as alegrias que viveu

Com alguns livros publicados, entre eles infantis e outro que celebra sua trajetória, Xuxa Meneghel está pronta para dividir com o público um pouco mais sobre a sua extensa carreira na televisão, mas desta vez através de um documentário que faz sucesso no GloboPlay, com direção geral do jornalista e amigo Pedro Bial. São 40 anos de muitas histórias da carreira e 60 de vida. Em um papo com a imprensa, Xuxa abre o coração e solta o verbo, reconhece os erros do passado, sabendo da importância que sua história tem, não só para quem cresceu a assistindo na TV, mas para o mundo. Muito mais consciente e madura, a Rainha dos Baixinhos entrou de cabeça no combate contra a violência sexual na infância, e falou sobre os dramas que vivenciou quando era criança. Mas sua trajetória não se resume a apenas isso, pelo contrário, ela viajou o mundo, conheceu pessoas como Michael Jackson, e teve amores diversos como Pelé, Ayrton Senna, Luciano Szafir (pai de Sasha, de 25 anos) e o atual namorado Junno Andrade. Nesta entrevista, você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história da Rainha dos Baixinhos e entender que nem tudo na vida da apresentadora foram flores, mas que hoje a fizeram uma mulher forte, determinada e dona do próprio nariz.

REVISTA REGIONAL: “Xuxa, O Documentário” relembra a sua história, o seu começo na televisão. Das pessoas que participaram, qual foi a história que te impressionou por não saber ou não se lembrar do que havia acontecido na época?

XUXA: Eu recebi um convite para fazer o programa nos EUA, e eu só fiquei sabendo através do documentário que foi o Michael Jackson que comentou sobre mim com um diretor americano, o Lynch. Foi uma grande surpresa. Eu não sabia disso. Eu descreveria a série como um raio-x, uma grande homenagem em vida. Mas não é muito agradável mexer em certas caixinhas. Eu acredito que o sentimento correto é o de que, embora não seja agradável, é importante e necessário, senão seria um documentário em que as pessoas só veriam e ouviriam coisas que elas já sabem ou que eu já mostro quase diariamente.

O mundo inteiro te conhece, sabe muito sobre a sua vida e você fala abertamente sobre muitos assuntos, mas ainda assim você acredita que o público pode se surpreender?

Eu acredito que sim, porque tem coisas no documentário que não colocamos, algumas eu pedi para tirar e outras que a própria direção decidiu excluir. Não achamos que seria relevante até porque chamaria muito mais atenção do que qualquer outra coisa. Mas sempre vai ter algo para surpreender. Não tem como colocar 60 anos de vida, sendo 40 de profissão, em cinco episódios. Eu assisti duas vezes e achei compacto, não mudaria nada. Foi um trabalho de pesquisa muito grande. Eles tiveram um respeito enorme pela minha história, por mais que não seja um documentário “Xuxa, eu te amo”, tem puxada de orelha. Eu vi vídeos da maneira como eu falava. De como eu agia. Ou seja, não colocaram apenas o lado bom.

Você comentou que assistiu ao documentário duas vezes. Dessa experiência, qual foi a situação mais desconfortável, aquela que te fez refletir?

Xuxa em ensaio especial

Foi durante um dos momentos de gravação, mas já sai pedindo para não colocarem. Eu até pensei para falar ali, mas nem todo mundo está preparado para ouvir. O Bial concordou, até porque eu me excedi demais, eu falo demais. Foi isso. Não está no documentário. Não tem nada desconfortável não. Pode ser que tenham coisas que as pessoas irão pensar: “como ela deixou passar isso?”. Eu deixei porque é a minha história, tem que estar ali. Como eu disse, existem coisas que aconteceram que talvez não seja o momento de eu falar, mas vai chegar a hora certa, mas ainda não porque as pessoas só falariam sobre isso, como por exemplo, estão falando muito sobre o meu encontro com a Marlene Mattos. O documentário não é só sobre isso, são 40 anos de carreira, a minha vida toda, coisas muito importantes, as pessoas não precisam ficar presas numa coisa só. Quem sabe num próximo documentário eu tenha a oportunidade de falar.

Mas como foi reviver algumas marcas profundas do seu passado, como o abuso que você sofreu ainda na infância?

Eu já falei sobre os meus abusos, coisas que eu vivi desde os três até os meus 13 anos de idade. Eu era uma menina/mulher que as pessoas queriam naquele momento. Para eu me tornar essa pessoa que sou hoje, ter revivido, ter remexido, me fortaleceu muito, mas, como ser humano, a ponto de chegar e dizer “quando eu me proponho a fazer uma campanha contra a exploração de crianças e adolescentes, eu não estou vestindo uma camisa, estou vestindo um macacão, eu sinto na pele, está tatuado em mim, gravado em mim essa dor.” Mas claro que reviver é bem dolorido, dá um enjoo. Eu gostaria de colocar essa história no baú e jogar no fundo do mar e esquecer, mas é importante porque cada vez que eu digo, não que seja libertador, mostro para as pessoas que também viveram ou convivem com situações parecidas que elas não estão sozinhas, e isso é importante.

Há alguns anos, te fiz uma pergunta se você tinha vontade de lançar um livro ou um filme, de um jeito brincalhão você disse que só se fosse uma comédia. Senti que você não estava a fim de abrir algumas caixinhas. Por que hoje? É porque essa Xuxa é mais dona de si?

Sem pressão para minha filha, mas estou com muita vontade de ser avó, mas não vou pressioná-la. Ela tem que fazer no momento certo, mas queria muito que os meus netos tivessem a possibilidade de ver a minha história através de um documentário. Eu vou guardar esse documentário para os meus netos verem como eu vivi. Estou muito preparada para ser chamada de vovó. Ao invés de mostrar um álbum de família, vou poder mostrar um documentário. Eu me emocionei e vi que a Sasha se emocionou também, principalmente nas cenas dela nascendo. Eu queria que a Sasha participasse de tudo, eu a levava para vários lugares onde eu cresci, passei pela Lagoa e comentei a história de quando comprei o meu primeiro apartamento. Eu adoro contar essas histórias. Imagina, ao invés de contar poder mostrar. Eu digo que é o momento certo, mas é muita vontade de que essa pessoa que me ama e que eu amo tanto veja a minha história.

Você comentou sobre as dificuldades de abrir e explorar algumas caixinhas, mas qual foi o momento mais difícil?

Foram sobre o abuso e a conversa com a Marlene Mattos. Foi bastante difícil. Quando o Bial me perguntou se poderia chamar todo mundo, eu disse que sim. “Podemos chamar a Marlene?”. Deve. Depois que falei que podia, eu pensei e repensei bastante, mas eu mudei muito e queria ver essas mudanças, queria ouvir, mas foi um pouco decepcionante quando não senti nada disso, mas foi válido, muito válido. Hoje me vejo muito diferente e o documentário faz isso. Quando escrevi o livro foi diferente porque tem a minha cabeça, a minha visão, o meu olhar, mas o documentário não, eu vi imagens, eles pesquisaram e mostraram arquivos que eu fiquei um pouco chocada com essa grande diferença. Eu era uma modelo e me colocaram para apresentar um programa infantil. Eu não sabia o que falar e nem como agir. Inclusive os maiores memes que tem hoje sou eu falando coisas ridículas para as crianças. Eu peço desculpas a todas as crianças que cresceram comigo. Eu não estava preparada. Como não me pararam? Você não pode dizer isso. Você é uma mulher e ela é uma criança. É estranho ver aquela pessoa que não estava preparada e hoje, eu sendo uma mulher madura, peço desculpas, mas não estou pedindo porque tem que pedir, mas do fundo da minha alma. Eu era um meme ambulante com muitos equívocos. Eu sei que todo mundo fazia isso naquela época, mas ninguém tinha o tempo de televisão que eu tinha, eu não fui preparada para estar ali, fazia cinco programas por dia e não cortavam o que eu falava e não era um programa ao vivo, parecia porque eu falava as maiores bobeiras e elas iam. Eu sinto muito. O que fizeram comigo era fora do comum e o que eu fiz com as crianças também. Sempre que me derem a chance vou pedir desculpas aos baixinhos que cresceram comigo. Hoje falamos muito sobre inclusão, e uma das coisas que eu coloquei quando fizemos a música Abecedário foi a língua de sinais, isso aconteceu naturalmente, mas talvez se eu tivesse aprendido, lido, não tinha site de pesquisa naquela época, quanta coisa eu poderia ter feito? Se alguém tivesse me ensinado teria sido muito melhor. Eu fui aprendendo na prática, usando a minha intuição, usando a minha vontade. Depois que eu fui mãe comecei a olhar diferente a necessidade de cada criança. Eu posso dizer que a virada de chave foi depois que a Sasha nasceu e eu deixei de ser filha para me tornar mãe. Comecei a ter um olhar mais cuidadoso com as crianças, que não tive naquela época.

Você recebeu algumas críticas ao desabafar sobre a sua relação com a Marlene Mattos…

O que me choca é como as pessoas veem certas situações, porque, na realidade, eu fui assediada moralmente, sofri abusos não só físicos, mas psicológicos, de confiança, de poder. Está claro, está nítido! Mas tem pessoas na internet, e outros lugares, que ficam do lado do abusador e não da vítima. Não foi apenas eu quem viveu tudo isso, foram as Paquitas, as pessoas que conviveram e viveram ao meu lado. Eu fico chocada quando vejo que as pessoas ainda arrumam um jeito: “isso é normal”, “isso é da pessoa naquela época”. Se foi em outra época, mas hoje vivemos de maneira diferente, é hora de dizer que isso não pode mais. Basta! Você não pode ficar do lado do opressor. Hoje em dia se tem o mocinho e o vilão, as pessoas torcem para o vilão. Isso me choca porque tento me colocar no lugar das pessoas vendo e ouvindo. Por que elas tiveram essa reação? Eu não teria. As pessoas dizem: “como ela é mal-agradecida porque tudo que ela ganhou foi através de tudo que ela viveu”. Mas não é bem por aí, a gente tem altos e baixos, erramos, e temos que dizer quando erramos, ou que acertamos e que não vamos fazer mais, mas ficar do lado ruim não dá.

Xuxa em ensaio especial

Você já foi vítima de fake news em alguns momentos da sua carreira, mesmo antes do termo surgir. O que o documentário significa?

No documentário falamos sobre o filme “Amor Estranho Amor” e o Marcelo Ribeiro (ator que fez o filme) também estava lá para podermos conversar. Eu via pessoas com faixas: “Venha ver o que a Xuxa faz com os seus baixinhos”. Na realidade, não foram apenas fake news, foram pitadas do tipo: “Se eu não falar mal dela, não vai ter espaço”. Que é o que muita gente costuma fazer nos dias de hoje, mas com um requinte de crueldade, porque sabia que isso machucaria muito, fora a minha falta de experiência e maturidade. “Amor Estranho Amor” é um filme baseado no ano de 1960, se não me engano, ou seja, desde aquela época as crianças eram exploradas sexualmente, e a ideia é falar sobre este assunto que existe até hoje. A verdade é que eu fiz um filme, não posso negar, mas eu ainda sofro com isso, com as fake news. Eu queria tanto que as pessoas vissem o filme, que elas soubessem que ainda existe e que lutassem comigo contra esses crimes, mas, às vezes, acham que pintar um clima entre um velho e uma criança é normal.

Existe algo que você tenha sentido falta no documentário? Quais resgates de imagens ou da sua história mais te emocionaram?

Faltam algumas pessoas que fizeram parte da minha vida e que não tiveram espaço, eu sinto muita falta de todas as Paquitas, mesmo as que não gostam de mim, eu sinto falta, mas talvez seja para outro documentário. Eu vivi a minha vida toda ao lado delas, gostaria também de saber como elas me veem. Eu sei qual é a minha visão através de cada uma, mas eu queria saber a visão delas, do que elas viveram, do que elas estão vendo, eu sinto falta, mas teria que ser outro documentário. Tiveram vários momentos que me emocionaram, mas posso citar o depoimento da Maria, que eu mesma pedi que gravassem, e um mês e meio depois ela faleceu. Uma das coisas que ela falou foi que gostaria de morrer ao meu lado, e foi o que aconteceu. Mas o documentário tem muitas passagens que me emocionaram, mas vou deixar que as pessoas que assistem falem as que mais emocionaram elas.

Quem foi a Xuxa de 30 anos atrás? E a Xuxa de hoje? Como você avalia essa evolução profissional e também pessoal?   

Trinta anos atrás eu tinha 30 anos e ainda não era mãe, então eu posso dizer que existe uma pessoa antes de ser mãe, antes de ter a Sasha, e uma pessoa depois de ter a Sasha. Eu me transformei numa pessoa melhor para ela, para que ela sentisse orgulho de mim, para que ela sentisse vontade de dizer para todos que é minha filha. Eu quis melhorar como pessoa, como ser humano e como profissional.

texto: Ester Jacopetti

fotos: Blad Meneghel

# DESTAQUES

Abrir WhatsApp
1
ANUNCIE!
Escanear o código
ANUNCIE!
Olá!
Anuncie na Revista Regional?