Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) está incluído nessa categoria e afeta cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil, aponta OMS
Os transtornos de ansiedade foram classificados, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como a sexta maior causa de perda de saúde não fatal em todo o mundo. O órgão estima que quase 1 bilhão de pessoas convivem com algum transtorno mental.
Uma das doenças mais comuns que está incluída nessa categoria é o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que, segundo a OMS, afeta cerca de 2% da população mundial. No Brasil, em torno de 4 milhões de pessoas são afetadas por esse tipo de transtorno de ansiedade.
O TOC é caracterizado pela presença de pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes. Essas obsessões dão origem a compulsões, que são comportamentos adotados para diminuir a angústia e a ansiedade sentidas.
“Por ser intrusiva e indesejada, na maioria das vezes, a obsessão gera uma ansiedade ou angústia. A partir disso, a pessoa adota um comportamento para buscar um alívio, que é imediato, mas não é duradouro. Isso cria o ciclo do TOC, reforçado todas as vezes por essa associação. Se uma pessoa bate na madeira duas vezes, por exemplo, para evitar que algo catastrófico aconteça e nada acontece de fato, isso contribui para que o ciclo se repita”, explica a psicóloga Juliana dos Santos Carvalho.
A profissional afirma que nem sempre o indivíduo tem clareza sobre as obsessões que caracterizam o transtorno: “Há pessoas com TOC que possuem clareza de que nada de ruim vai acontecer verdadeiramente. Outras sabem que é pouco provável e algumas não conseguem identificar que essa é uma obsessão, um pensamento que não é real”, destaca.
Há, ainda, quem associe o TOC às manias, mas a psicóloga garante que são questões diferentes. “Um dos prejuízos que a pessoa com Transtorno Obsessivo Compulsivo experimenta é o fato de que essas compulsões e obsessões são incapacitantes. Para se ter uma ideia, um dos critérios para diagnosticar o TOC é a pessoa perder mais de uma hora por dia com esses comportamentos. Já com as manias, você consegue viver normalmente e fazer outras coisas”, diz Juliana.
Sintomas e tratamento
Os sintomas do TOC não são os mesmos para todos, mas a psicóloga aponta os prejuízos causados à vida como os principais indicativos para a busca por diagnóstico e tratamento: “As compulsões, os rituais, podem causar prejuízos que nós chamamos de clinicamente relevantes para a qualidade de vida de uma pessoa. Se alguém não tem a dimensão de que aquilo está afetando, quem está ao redor pode perceber”.
Juliana usa o exemplo do TOC de limpeza, considerado um dos mais comuns. Alguém que sofre com esse transtorno pode chegar atrasado a todos os compromissos, não sair de casa ou, até mesmo, não conseguir receber visitas.
Ainda de acordo com a profissional, o TOC não tem cura e, diferentemente de outros transtornos mentais, não há remissão total dos sintomas. O tratamento é focado em reduzir os impactos das obsessões para que o paciente tenha mais qualidade de vida.
“O que nós temos de melhor evidência para o tratamento do TOC são as terapias comportamentais, que ajudam a entender o transtorno e lidar melhor com os sintomas. Outra técnica é a exposição com prevenção de respostas, que leva o indivíduo a enfrentar as dificuldades dele em um ambiente seguro”, detalha.
Medicamentos, geralmente antidepressivos, são associados à terapia para que o transtorno deixe de causar prejuízos significativos à vida do paciente.
Como diferenciar o TOC de um tique?
“Eu sou capaz de lembrar com precisão o dia em que a minha vida mudou. Foi como virar uma chave. No dia anterior ao evento que desencadeou o início da progressão do meu TOC, eu era um garoto sem TOC e, depois do fatídico episódio, tudo mudou”. Esse é o relato que abre um dos capítulos do livro “É tique ou TOC?”, escrito pelo doutor em Biomedicina, perito em Toxicologia e professor universitário Éric Barioni, que foi diagnosticado com Transtorno Obsessivo Compulsivo aos 24 anos.
A brincadeira no título da publicação faz alusão a uma confusão comum de ser feita. “Nem todo indivíduo que tem TOC, tem tique. As pessoas podem confundir muito. O tique é um transtorno de neurodesenvolvimento e se caracteriza por ser mais involuntário do que o TOC”, esclarece a psicóloga.
Episódios traumáticos na infância, como abusos sexuais e um problema de saúde da mãe, explicam a origem do TOC de Barioni, que passou a ter pensamentos intrusivos ligados à morte, doença e sexo. A partir dessas obsessões, vieram as compulsões, entre elas, autoagressões físicas e repetições de movimentos que traziam o alívio descrito pela psicóloga.
Nem sempre o TOC pode ser associado a um trauma, conforme explica Juliana. “As causas para o transtorno podem ser ambientais, relacionadas ao contexto em que a pessoa vive, como é o caso das agressões e dos eventos traumáticos. Mas também pode haver fatores genéticos e questões ligadas à gestação que podem aumentar os riscos à doença”, pontua a profissional.
A busca pelo diagnóstico e tratamento do TOC ajudou o professor universitário a lidar com o transtorno e o fez compartilhar a experiência com o transtorno no livro. “Ainda tenho TOC, mas, hoje, tenho mais clareza para tratar desse assunto. Sou muito seguro sobre os meus conhecimentos da doença e consegui com que ela se moldasse, para que não fosse tão aparente como na época da adolescência”, finaliza Barioni.
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