Ficar de olho na balança é importante não apenas para fins estéticos, mas também para prevenir doenças metabólicas – que podem comprometer o funcionamento de diversos órgãos, como os rins
Quatro de março é o Dia Mundial da Obesidade. Como consequência de dietas inadequadas, o sobrepeso e a obesidade podem culminar em problemas metabólicos, como diabetes e hipertensão, que prejudicam também a saúde renal. “A obesidade, doença crônica que acomete um terço da população de certos países, está diretamente ligada ao diabetes e à hipertensão arterial. Quando o corpo fica maior devido ao acúmulo de gordura, os rins filtram em ritmo acelerado – o que chamamos de hiperfiltração – que em longo prazo leva à doença renal crônica, com um risco estimado de duas a até sete vezes mais do que em indivíduos sem obesidade”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
Segundo ela, entre os erros mais comuns na dieta estão o excesso de sal e de açúcar. “O sal é a maior causa de hipertensão arterial (pressão alta). Além de causar retenção de líquidos, o sal causa constrição (estreitamento) das arteríolas, com consequente elevação da pressão arterial. A hipertensão de longa data lesa os rins e seus diversos vasos, ou seja, ocorrem lesões de órgãos-alvo, como acontece no coração e no cérebro. Dados recentes mostram que o sódio (sal) também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo. O açúcar em excesso também acarreta essa maior inflamação, com consequente risco de diabetes – que é o maior fator de risco para doença renal crônica no mundo. A resistência à insulina (condição típica do diabetes tipo 2) gera vasoconstrição (estreitamento de vasos) e retenção de sódio e água pelo organismo, como também o endurecimento dos vasos sanguíneos; tudo isso é prejudicial aos rins”, conta a médica.
Para controlar o peso, a especialista indica hábitos de vida saudáveis, como a prática de exercícios físicos, uma vez que os benefícios cardiovasculares refletem diretamente na saúde renal, maior consumo de alimentos in natura em uma dieta equilibrada, e consumo adequado de água. “O exercício tem um efeito positivo em uma série de riscos de doença renal crônica, como inflamação crônica, doenças cardiovasculares e diabetes/ hipertensão. O maior efeito do exercício em pacientes com doença renal crônica é melhorar sua saúde cardiovascular e função vascular. Tanto a musculação (exercícios resistivos) quanto exercícios aeróbicos auxiliam de forma global a saúde dos rins em pacientes com e sem doenças renais”, diz a nefrologista.
Com relação à alimentação saudável, para proteger os rins e o coração, a médica indica a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension). “Comprovadamente, essa dieta reduz a formação de pedras nos rins, além de diminuir a chance de diabetes e de pressão alta, grandes vilões para a saúde renal. A Dieta DASH é baseada na alta ingestão de frutas, verduras, vegetais, nozes, legumes, laticínios desnatados, grãos integrais e baixa ingestão de açúcares e carnes vermelhas ou processadas”, revela.
Dra. Caroline lembra que beber água, isoladamente, não é a única forma de manter os rins saudáveis, então o consumo adequado deve ser combinado com a prática de exercícios e a dieta saudável. “A ingestão hídrica auxilia no transporte de nutrientes e na hidratação geral do corpo. Devemos ter em mente que um corpo em equilíbrio também passa por um organismo pouco inflamado, ou seja: bem alimentado, com pouco sal circulante e sem toxinas como cigarro e álcool”, aconselha. Para quem tem dúvidas sobre a quantidade de água a ser ingerida, a nefrologista destaca que a quantidade diária ideal de água é de 35ml por quilo. “Para população geral, isso significa uma média de dois a três litros de água por dia”, diz. “Os sinais de que estamos bebendo pouca água são: a sede, o aumento da frequência cardíaca ou a pressão baixa, além da coloração da urina mais escura. Todos esses são sinais de desidratação. Também podemos notar a presença de prisão de ventre e o cansaço. Até a fome pode ser confundida com sede”, destaca.
Por fim, a médica lembra de um hábito que muitas pessoas não costumam dar a devida importância: o sono. “A apneia obstrutiva do sono, distúrbios do ritmo circadiano, hipersonia (dormir muito) e insônia têm sido associados a uma série de distúrbios metabólicos. As evidências sugerem que os distúrbios do sono afetam o desenvolvimento da doença renal, possivelmente como resultado do meio inflamatório e da ativação simpática que ocorrem no leito vascular renal, danificando estruturas como a membrana basal glomerular e o aparelho tubular renal, partes anatômicas importantes para a filtração do sangue. Ou seja: além de todos os benefícios já conhecidos de uma boa noite de sono, ainda temos mais esse: dormir bem faz bem para os rins”, finaliza.
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