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Post: Bruna Lombardi: “felicidade é autoconhecimento”

Bruna Lombardi: “felicidade é autoconhecimento”

Bruna em momentos de descontração em sua casa
  • Bruna Lombardi tem apenas um compromisso consigo mesma: ser feliz e fazer do mundo um lugar melhor;
  • A atriz e escritora é nossa capa e entrevistada especial  

Ela tem uma leveza na voz e nos primeiros cinco minutos de conversa a energia e a serenidade transbordam nesta entrevista. Tudo isso vem de uma única pessoa, Bruna Lombardi, com quem já tive o enorme prazer de conversar algumas vezes. E acompanhar essa mulher, atriz, roteirista, apresentadora, produtora e escritora em sua jornada traz uma sensação de que a humanidade pode ter um futuro melhor se assim desejarmos e colocarmos em prática. Otimista e esperançosa, mas com os pés no chão, Bruna enxerga que o mundo está passando por uma evolução significativa. “Estamos indo para um caminho de conscientização coletiva e ela é muito difícil porque nós estamos num movimento espiritual de grande abrangência”. Durante a conversa falamos sobre outros assuntos como, por exemplo, de que maneira as redes sociais contribuem para a fabricação da falsa felicidade, tema pela qual Bruna tem profundo conhecimento, e já tratou inclusive em seu site, Rede Felicidade. “A felicidade não é um movimento de ostentação, de aparência. A felicidade é um movimento em relação ao outro, ela é a compreensão dos seres humanos e do seu ambiente, é ter amor ao próximo, ter amor a você mesma”. Aqui, nesta entrevista especial e exclusiva para a edição de fim de ano da Regional, você irá conhecer um pouco mais sobre essa mulher inspiradora, cheia de sonhos e com uma energia maravilhosa, mas faz reflexões profundas sobre o mundo e o ser humano.

 

REVISTA REGIONAL: Uma pergunta simples, mas que exige reflexão: o que de fato mudou no seu olhar em relação ao mundo após o momento mais crítico da pandemia? De que maneira você viveu os seus conflitos interiores, como foi ficar isolada durante tanto tempo?

BRUNA LOMBARDI: Eu vou colocar dentro de um contexto, a adaptabilidade é uma das coisas mais importantes para os seres humanos. Nós estamos em constantes mudanças, minuto a minuto na vida, no mundo em que vivemos, dentro e fora de nós. Nós temos que aprender a nos adaptar porque se você não se adapta termina criando um conflito que vai ficar cada vez maior. Eu tenho uma capacidade de adaptação muito grande. Logo que pintou a pandemia, e foi um choque pra todo mundo, a primeira coisa que eu fiz foi deixar todas as pessoas que trabalham comigo em casa e dizer pra elas ficarem tranquilas que nós íamos continuar pagando todo mundo, pra que elas tivessem uma segurança num momento tão inseguro e de incertezas. Essa foi a primeira medida. Em seguida, estávamos o Ri (Carlos Alberto Riccelli – marido), o Kim (Riccelli – filho) e eu em casa. Nós somos muito unidos, estamos acostumados, cada um a sua maneira a ficar em casa e fazer as coisas. Fazíamos comida, cumprimos todas as medidas que todo mundo tomou. Mas dentro de mim eu estava muito serena, apesar de ver e me preocupar com o sofrimento do coletivo. Já que eu estava serena e eu via esse sofrimento e a ansiedade crescendo nas pessoas, comecei a fazer duas vezes por semana lives sobre assuntos relevantes com pessoas das mais variadas atividades, muito pensantes, informadas, com empatia pelo mundo, com comportamentos exemplares de valores e princípios. Com isso, alcançamos milhões de pessoas. Foi grandioso. A era digital permitiu esse contato humano com essas pessoas que estavam fechadas em casa, tínhamos um compromisso. Foi um sucesso enorme com o público e o retorno que tivemos das pessoas é que estávamos fazendo muito bem a elas, que estavam pensando em coisas que nunca tinham pensado, conversei com profissionais da área da saúde mental sobre ansiedade, depressão, sobre os três, quatro turnos que as mulheres tinham que fazer, sobre o homem trabalhando tanto quanto a mulher nos afazeres de casa e que isso não é uma ajuda para a mulher, mas sim uma divisão natural de tarefas que dizia a respeito aos dois, e por aí um misto de filosofia, uma forma amorosa de mostrar a vida com soluções, pensamentos e informações. Quanto à minha visão de mundo, quando aconteceu a pandemia eu dei uma entrevista enorme falando sobre o que eu estava sentindo, o que de certa maneira estavam se revelando do ponto de vista espiritual, que eu além da saúde, do bem-estar, da qualidade de vida, sei o quanto a espiritualidade é importante nisso. Do ponto de vista espiritual, nós estávamos tendo uma quebra de paradigma, uma mudança, e as pessoas passariam a revelar coisas, a se posicionar dentro de surpresas, quem é violento ia demonstrar sua violência, quem é da paz ia demonstrar a sua paz. O mundo hoje, passado o período gravíssimo da pandemia, mostrou isso. É como se subisse dos bueiros uma série de coisas que a gente nem sabia que estava lá. Eu acredito que depois disso há de vir uma grande limpeza espiritual também, acompanhada desse movimento, e as pessoas irão fazer escolhas, quem optar pelo ódio vai ter seus resultados em ódio, quem optar pela paz vai ter seus resultados em paz, e por aí, o mundo segue.

 

Quando você menciona tudo isso está se referindo ao atual momento político que nós estamos vivemos?

O momento político em que vivemos é um reflexo disso tudo, é um reflexo de anos de um país que distorce e coloca a política como se não fosse um serviço ao povo, quando a política em primeiríssimo lugar é um ato de servir, mas está tão distante da mentalidade que é difícil repensar, conseguir recuperar essa ideia. Nós temos que lutar! Eu me propus, dentro das minhas redes sociais e da Rede Felicidade, lutar por causas independentes. As pessoas vêm e passam, mas os propósitos que uma nação precisa adquirir para que exista um futuro para todas as crianças, não só para as privilegiadas porque elas são privilegiadas hoje e amanhã são ignorantes, é a saúde e a educação. Esses são os grandes pilares. Tudo vai ser política, mas quem olhar para o meio ambiente, que é um pilar que sustenta esses dois, saúde e educação, é isso que vai construir finalmente uma nação.

 

Na vida temos várias escolhas ao longo do caminho. De que maneira você lida quando tem que fazer as suas? O amadurecimento profissional te dá mais liberdade para escolher os projetos que quer trabalhar?

Sem dúvida, você acaba tendo, se conseguir uma gestão correta, vamos dizer assim, mais independência na sua vida. Não que todos nós tenhamos que fazer concessões ao longo do caminho, mas porque é inevitável, nenhum de nós é um ser isolado e nem nasce com uma situação que se completa em si mesma, todos nós somos seres dependentes, então inevitavelmente faremos concessões, mas a verdade é que nós como pessoas, temos que traçar um princípio na nossa escola de valores, que vai nos manter coerentes. Até onde você vai e até onde você não vai? O que você faria e o que não faria de jeito nenhum? Independentemente de você ter uma situação financeira. Você não faz e pronto. Eu não mato ninguém por uma situação financeira, qualquer que seja, cada um vai escolher a sua consciência e essa consciência vai inevitavelmente ser aquilo que vai fazer o caminho da pessoa, porque tudo tem um efeito em longo prazo. Eu acredito na justiça divina, acredito cem por cento.

 

Bruna em momentos de descontração em sua casa

Ao longo dos anos as mulheres têm conquistado o seu espaço, mas a luta é constante contra a opressão, desde que o sistema patriarcal se instalou há 5 mil anos. Evoluímos muito. Mas qual a sua visão sobre o movimento feminista?

As conquistas, muito embora a gente não esteja onde deveríamos estar, ou seja, em equilíbrio de salário, com uma posição de segurança, de respeito, de não violência e tem muitas questões nisso, mas estamos muito melhores e o progresso do muito melhor está cada vez mais acelerado. Se você pensar que hoje existe a possibilidade de fazer uma denúncia, de você mandar o chefe que abusa dos seus funcionários para a cadeia, como nos EUA com o movimento ‘Me Too’ em que centenas de pessoas aderiram, ou melhor, milhares aderiram. Eu estou lendo um livro exatamente sobre as dificuldades de como as mulheres eram tratadas nos anos 1950, de como elas estavam se desenvolvendo no trabalho e eram menosprezadas e vistas sempre com inferioridade, mesmo que elas tivessem capacidade até mais do que os homens. Eu sempre fui feminista, nasci feminista, a minha mãe era feminista, mas nunca tive um feminismo de guerra, de oposição, só se for necessário porque nós temos que nos entender. Só se cria na união!

 

 

O antropólogo Michel Alcoforado elaborou uma pesquisa “Economia do mal-estar”, sobre os impactos da felicidade fabricada pelas redes sociais, das pessoas precisarem obrigatoriamente estar felizes o tempo todo. De que maneira você enxerga essa busca constante por uma felicidade inexistente especialmente nas redes sociais?

Nós abrimos a Rede Felicidade justamente para falar sobre este assunto porque a palavra felicidade se desgasta, assim como as outras, até a própria palavra amor que talvez seja o maior poder do mundo. É como você disse: fabricada, superficial, uma distorção. Eu tenho feito muitos vídeos falando sobre isso, a felicidade pode ter nela momentos de tristeza, você precisa ter, nós somos seres humanos e passamos por tristezas, sofrimentos, dor, luta… A felicidade não é um movimento de ostentação, de aparência, muito pelo contrário, geralmente quem faz isso está profundamente infeliz só tentando disfarçar até pra si mesma. A felicidade é um movimento em relação ao outro, ela é a compreensão dos seres humanos e do seu ambiente, é ter amor ao próximo, ter amor a você mesma. A felicidade é autoconhecimento. Esse poder você conquista. Muitas pessoas só querem a flor e o fruto, mas se esquecem de que precisam de um tronco, de uma boa raiz, de uma boa terra, de uma seiva, então são aquelas falsas alegrias que não se sustentam.

 

Um dos grandes dilemas que cercam a vida do ser humano em convívio com os outros é a questão de não desagradar. Mas, ao mesmo tempo, não corresponder às expectativas alheias e o que irão pensar a nosso respeito é libertador, além de ser autêntico. Mas de que maneira você encara esses conflitos?

Ótima pergunta! Ela inclui dois movimentos humanos: de você colocar a sua felicidade na opinião dos outros e de colocar a sua felicidade na opinião de você mesma. Você não querer confrontar é uma coisa, pode até ser uma estratégia, mas não colocar a sua opinião num momento correto em que deve ser colocada porque a sua opinião é importante de alguma forma, é uma traição de você com você mesma. Então, o que está em jogo? Não é agradar, porque obviamente vivemos numa sociedade e você não quer desagradar, mas colocar a sua verdade e se ela for segmentada em honestidade, sinceridade, não vai desagradar a ninguém, vai simplesmente poder começar um caminho de respeito à pessoa que você é. Hoje temos a polarização política, mas isso é breve, há opiniões diferentes em milhões de causas que podem fazer diferença social muito grande. Então, é importante se posicionar, mas não batendo de frente e apontando uma arma pra prevalecer a sua opinião, porque é uma questão de opinião, é preciso trabalhar nessa direção que você considera importante pro seu bem e para o bem de todos.

 

Bruna em ensaio especial

Estamos na era da tecnologia, das notícias que são bombardeadas diariamente sobre casos de violência, riscos de doenças e mortes. O pavor da solidão, da exclusão e do desamor. Você é otimista em relação à evolução humana e acredita que essa seja apenas uma situação passageira ou precisamos aprender a lidar com os dilemas que nos cercam?

São ótimas as suas perguntas! Eu sou uma pessoa otimista. Eu acredito que nós vivemos num universo em espiral que é um dos vetores de movimentos mais comuns no universo, na ciência, e vemos isso em toda parte. Eu acredito que o universo se mova da mesma maneira. Vivemos numa espiral e pelo fato de vivermos nela voltamos ao mesmo ponto e parece que estamos voltando duzentas casas, que estamos regredindo igual ao jogo, mas com uma pequena evolução, porque o formato da espiral é evolutivo. Então, quando você diz: “pra onde estamos indo?” porque no fundo é essa a sua pergunta, acredito que nós estamos indo para um caminho de conscientização coletiva, e ela é muito difícil porque nós estamos num movimento espiritual de grande abrangência e social também. Existem pessoas vivendo numa extrema pobreza, miséria, passando por necessidades extremas e tem pessoas vivendo de maneira vergonhosa. Nesse movimento nós temos que achar caminhos que possam tirar os extremos que possam fazer com que sejam melhores para todos de uma forma mais humana. Um grande risco que a gente corre com tanto antagonismo, com o estímulo para o ódio, é uma desumanização.

 

Você acha que isso pode ser um caminho sem volta?

Nada é sem volta, mas é importante falarmos sobre isso pra que exista um alerta, assim como existe um grande alerta para o meio ambiente, assim como os extremos no clima estão se apresentando. Um caminho de alerta em todas as áreas da vida pra conseguirmos alcançar uma conscientização maior. Não é rápida, mas está cada vez mais acelerada, estamos caminhando para uma conscientização. Se você pensar que há cem anos existia escravidão (…) não que hoje não exista, mas é denunciada e criminalizada, então existe progresso.

 

Em 2019 você lançou “A Vida Secreta dos Casais” pela HBO. De lá para cá, eu gostaria de saber se você está envolvida em algum projeto com alguma emissora e se pretende voltar a atuar em novelas na televisão aberta? Quais são os projetos em que você pretende se envolver?

Fizemos a primeira e a segunda temporadas, desenvolvi a terceira a pedido deles, que compraram no final desta última fase da pandemia, mas foi justamente quando eu soube que a HBO tinha sido vendida para a Discovery Channel. Com isso, eles suspenderam produções no mundo todo, inclusive grandes produções como “Raised by Wolves”, do Ridley Scott. Nós podemos apresentar tanto para eles quanto para outras emissoras, mas estou preparando outras coisas no momento, estou trabalhando em livros, mas não posso falar sobre este projeto ainda.

 

Já que estamos falando de trabalhos, como é ser roteirista e produtora de cinema num país em que a cultura tem sofrido com os cortes de verba?

Eu tenho uma posição privilegiada porque trabalhei durante a pandemia, fiz o desenvolvimento da terceira temporada e recebi por isso, mas a área da cultura, do entretenimento parou. Olha que contradição, o que mais foi consumido durante a pandemia e a tornaram suportável foi a ideia de assistir um filme, ver uma série, ler um livro, todas essas coisas foram essenciais para a saúde mental durante a pandemia. Mas elas foram sistematicamente suspensas por uma total falta de verba e de apoio, mas obviamente essa situação vai se reverter, é óbvio que mesmo revertendo o Brasil perde, tem perdido sistematicamente. Nós estamos no ostracismo no mundo. É uma pena porque temos um país rico, jovem, querido, tínhamos uma ótima imagem, mas estamos vendo essa regressão dramática no Brasil.

 

E para fechar a nossa entrevista: o que é felicidade para você?

Pra mim felicidade é você conquistar uma simplicidade muito grande, é compreender que não existe sofisticação maior do que a simplicidade como disse Leonardo Da Vinci. A felicidade é um movimento interior de descobrir dentro de você, através do autoconhecimento, a importância do amor, e quando falo de amor é sobre a grandeza desse movimento que começa dentro de você, da autoestima que vai evoluindo até atingir as pessoas que estão próximas. Quanto mais essa onda de amor dentro de você tem grande alcance, maior a felicidade. É científico. Hoje temos muitas pessoas estudando sobre esse tema, pela primeira vez na história, vamos dizer assim, nos últimos anos a felicidade passou a ser matéria de universidades das Exatas, como Harvard, onde eu mesma fui fazer uma palestra. Não é leviano, a felicidade se tornou uma matéria porque compreendemos que ela é transformadora nos seres humanos, na sociedade, num coletivo, de uma melhor vida. As pessoas precisam ser mais felizes e viver melhor, não sei se chegaremos lá, mas temos que caminhar para isso.

 

entrevista e texto: Ester Jacopetti

fotos: Arquivo pessoal

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