Atriz e empresária, Isabella Santoni é um dos nomes mais conhecidos de sua geração. Dona de papéis importantes em novelas como “A Lei do Amor”, trama das nove da TV Globo, e no cinema, como a protagonista de “Missão Cupido”, ela também é CEO da marca de moda praia NIA. Engajada em pautas ambientais, Isabella idealizou o projeto “Pegada do Bem”, que organiza, entre outras coisas, mutirões para recolher lixo das praias. Apesar do sucesso de sua grife, Isabella concilia seu lado empresarial com a carreira de atriz, emendando um trabalho no outro desde sua estreia na TV em “Malhação – Sonhos” (2014), trama que lhe rendeu cinco prêmios, entre eles “Melhores do Ano”, “Troféu Imprensa” e “Troféu Internet”, todos como Atriz Revelação. Agora ela é presença confirmada na próxima temporada de “Dom”, série original da Amazon Prime Video. Na produção, aclamada pela crítica especializada, ela repete o papel de Viviane, uma das criminosas que acompanham o personagem Pedro Dom (Gabriel Leone). Com mais de 9,4 milhões de seguidores no Instagram, Isabella é nome valorizado no mercado publicitário, já que, além da grande notoriedade, também consegue circular em públicos diversos, desde o jovem amante dos esportes e surf, uma de suas paixões, como também o mercado fashion, e prova disso é sua mais nova parceria com a grife suíça Breitling, que já conta com Charlize Theron e Brad Pitt como seus embaixadores. Veja a seguir a entrevista exclusiva que a atriz concedeu à Revista Regional.
REVISTA REGIONAL: Depois de muitos personagens de sucesso na TV, você agora está na aclamada série “Dom”, da Amazon Prime Video. Como está sendo essa experiência no streaming e como vê o futuro da dramaturgia com o avanço das plataformas no país?
ISABELLA SANTONI: Está sendo uma experiência maravilhosa, fazer streaming é como fazer cinema. Existe um cuidado enorme nos detalhes.
Entre as diferenças pra TV está, por exemplo, o fato de quase tudo ser gravado em cenários reais, geralmente com a maioria das cenas em externa e com uma câmera ou duas. Além disso, no streaming, grava-se uma média de cinco cenas por dia, enquanto na TV grava-se quase 30. A dramaturgia só tende a progredir com o crescimento dessas plataformas, afinal, acaba sendo maior a diversidade dos temas das histórias contadas, mais roteiros atraentes têm possibilidade de serem executados, consequentemente com mais personagens complexos. É ótimo pros profissionais do audiovisual que exista esse maior leque de oportunidades de trabalho, e também é super positivo pro público, que ganha maior poder de escolha. Fora isso, a concorrência também estimula um nível cada vez maior dos produtos disponíveis.
Pode nos contar um pouco da nova série? Sabemos que você interpreta uma criminosa que acompanha o personagem Pedro Dom. Como foi a construção dessa personagem? Ainda sobre a série “Dom”, como analisa algumas críticas que foram feitas por “romantizarem”, como disseram na época da primeira temporada, a história real desse criminoso carioca?
A Viviane foi como um presente porque ela tem uma liberdade que dá asas pra minha criatividade. Óbvio que existe uma coerência na criação e eu começo sempre com uma pesquisa da época em que se passa a trama, do que estava acontecendo no país, tanto politicamente quanto economicamente, a qual classe social essa personagem pertence, quais eram as influências culturais, etc. É necessária essa pesquisa mais técnica pra construir, digamos que um contorno, um muro pra essa criação começar a acontecer. Depois de fazer isso, eu analiso o roteiro tirando todas as informações que eu posso, quase com um trabalho de detetive, isso vai me ajudando a descobrir quem é essa mulher. Depois começa a parte mais profunda da criação: “de quem é essa pessoa, qual é a sua história de vida? Como foi sua infância? Sua família?” Eu amo construir esse passado, é quase uma linha do tempo da vida da personagem. “Dom” é aquela série que quando o público acha que já está no fim, dá uma reviravolta e mostra que ainda há muito a ser contado. Podem esperar uma segunda temporada ainda mais intensa, com fatos que surpreendem. Eu mesma, ao ler o roteiro fiquei surpresa e sem acreditar no rumo da história. As críticas são válidas, são opiniões e é natural que elas existam. Mas é preciso lembrar que “Dom” é inspirada em fatos reais, não se propõe a ser uma trama documental e, mesmo assim, traz reflexões importantes, o fato de o Pedro Dom se aproveitar do racismo estrutural para, por exemplo, cometer crimes e muitas vezes sair ileso, infelizmente traz paralelo com a realidade que a gente vive no nosso país. Mas claro que a história também conta, em muitos outros momentos, com liberdade para ficção. Muito importante dizer que no caso de “Dom”, vale lembrar, é a visão do pai sobre a história, então tem toda a interferência do olhar paterno. É natural que o pai tenha uma leitura mais humanizada do próprio filho.
Além de atriz, você é empresária, influenciadora e ambientalista. Podemos falar um pouco sobre essas várias “Isabellas”? Como foi empreender pela primeira vez, com a NIA, marca de moda praia?
Para me considerar uma ambientalista ainda preciso de caminho pela frente, sou apenas uma apaixonada pela natureza que busca mostrar que o planeta precisa de que a gente faça muito além do mínimo e, infelizmente, muita gente não tem feito nem o mínimo. Oferecer caminhos e sugerir soluções, como pessoa pública, é uma urgência. Se eu posso facilitar a disseminação de atitudes que fazem toda diferença e que já contribuem imensamente pra um mundo melhor, por que não fazer? E se eu posso mostrar que há muito o que fazer na prática, como no caso do “Pegada do Bem”, em que organizamos mutirões para coleta de lixo e colocamos a mão na massa, por que não? E sobre todas essas facetas, existe a minha essência que sempre foi muito curiosa, inquieta e criativa. Sou uma pessoa em movimento e cheia de anseios, meu lado empreendedor nasce daí, dessa vontade de realizar tudo que se passa na minha cabeça. A NIA foi uma realização no meio dos negócios, então exigiu de mim mais dedicação em relação ao estudo e preparação. É um desafio diário ter a marca, já pensei em desistir porque exige muito em gerir uma empresa, mas estou aprendendo muito nesse processo. Principalmente a delegar.
Sua grife de moda praia está diretamente ligada a sua paixão pelo surfe? Como o esporte surgiu em sua vida? O namoro com o Caio Vaz (surfista) teve influência?
Não, a NIA está diretamente ligada ao meu feminino. Ela nasceu da minha inquietude em me reconhecer ‘mulher’, uno isso ao mar, até por isso chamamos nossas clientes de “Mulheres Oceânicas”, porque vejo nesse lugar de ser mulher um oceano de possibilidades. E a marca vem com a mensagem da gente enxergar, acolher e dar voz a todas as ondas que existem dentro de nós. A minha paixão pelo mar sempre foi grande, o surfe veio intensificando ainda mais essa relação e aí acabei atraindo o Caio para a minha vida, ele veio depois. O esporte sempre fez parte da minha vida, quando criança, de ano em ano, eu aprendia algo novo.
Falando em praias, você é idealizadora do projeto “Pegada do Bem”. Como surgiu esse projeto e como ele funciona?
Sou idealizadora junto com o Caio e tenho apoio de alguns projetos e amigos para fazer ele acontecer, como a “Stone House” (Ipanema, Arthur Cumplido), “Salvemos São Conrado” (Rocinha, Marcelo) e “Route Brasil” (Simão). Ele surgiu da minha insatisfação em ver o lugar que eu mais amo, sujo. Quis colocar a mão na massa e agir de alguma forma. O projeto funciona desde organizando mutirões de limpezas das praias, até mesmo oferecendo atividades de educação ambiental, trazendo soluções pro nosso dia a dia. Já fizemos também ações de plantio de árvores e atividades totalmente direcionadas às crianças. Durante a pandemia fizemos uma pausa nas atividades presenciais, mas já estamos nos organizando para as próximas ações.
Desde a criação do projeto, quantas toneladas de lixo foram retiradas das praias. Como tem sido o engajamento da população? Um dia poderemos ver essas ações do litoral norte ao sul do país?
Adoraria ter conseguido dimensionar a quantidade de lixo retirada, mas é um dado difícil de calcular até porque já promovemos algumas ações e fomos apoiadores de várias outras. Um dado que é assustador: em uma das ações foram recolhidas mais de 4 mil bitucas de cigarros da areia da praia. Nós ainda somos pequenos e atuamos no Rio de Janeiro, mas existem vários projetos pelo Brasil todo com o mesmo propósito que o nosso. A “Route Brasil”, do meu amigo Simão, é um projeto que atua até fora do Brasil e me inspira muito.
Nas redes sociais você tem quase 10 milhões de seguidores. Sabemos hoje em dia que o excesso das redes tem prejudicado a saúde mental de muita gente. Como você incentiva seus seguidores em relação ao uso saudável dessas plataformas?
Sumindo às vezes (risos)… Brincadeira!!! Eu costumo ser bem ativa on-line mas tenho meus days offs. Hoje mesmo, por acaso, não postei nenhum stories. É muito necessário ter momentos de pausa, silêncio e autocuidado. Esses são temas que eu abordo bastante, vira e mexe eu solto uns questionamentos pra galera refletir junto comigo.
Ainda sobre Instagram, com a polarização do país, como você se comporta nas redes quando recebe algum comentário sobre ideologia política ou é atacada por algum hater?
Eu ignoro. A internet pode ser um lugar muito cruel e muitas pessoas estão ali só descarregando seus ódios e insatisfações. Eu compartilho as coisas que gosto, me fazem bem e uso as redes pra ler e aprender coisas novas.
Você é uma influenciadora que fala com todos os públicos, principalmente os mais jovens. Quais são os valores que pretende incentivar através de seus perfis?
Procuro compartilhar conteúdos que inspirem uma vida mais leve, que você priorize as coisas que goste, valorizando e respeitando quem você é. Se me seguir vai ver muito contato com a natureza, esportes, várias comidinhas gostosas, tempo de qualidade com a família, algumas provocações sobre autoconhecimento e incentivo ao estudo também.
Se acessar um site de notícias hoje certamente verá guerra, polarização, armamento da população, desmatamento, mudança climática etc. Como uma jovem atriz, influenciadora, empresária e ativista ambiental, consegue ser otimista sobre o futuro do planeta?
Se não formos otimistas então, o que seremos? É preciso ter fé e acreditar que podemos transformar. Tem alguns dias mais difíceis que outros, é normal… Mas não podemos desanimar, senão a vida fica sem sentido.
entrevista: RENATO LIMA
fotos: ANDREA DEMATTE