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Post: José Loreto e o sucesso de ‘Pantanal’

José Loreto e o sucesso de ‘Pantanal’

Loreto em ensaio feito para a Revista Regional

No remake de “Pantanal”, maior audiência da TV brasileira nos últimos meses, ele encara o peão Tadeu com a naturalidade de quem já viveu em meio à vida selvagem, embora tenha sido a sua primeira vez interpretando um personagem com característica e personalidade tão peculiares. É assim que José Loreto mostra novamente o seu talento. E mesmo com o corre-corre diário das gravações, entre uma folguinha rápida para levar a pequena Bella para a escola, o ator arrumou um tempinho para um bate-papo com a gente, e falar sobre todo tipo de assunto, inclusive, claro, paternidade, afinal estamos celebrando o Mês dos Pais! “Nós nos amamos incondicionalmente”, derrete-se ao falar da filha. “No privilégio que eu tenho de morar perto da mãe da minha filha, o meu lado paterno foi muito forte. Existiu o período em que era só eu e ela (Bella). Foi um mergulho na paternidade. Eu me dei conta de que estava com a minha melhor amiga”, completa. De olho no futuro, Loreto cerca de mistério seus projetos e revela apenas que, após a novela, “vem coisa boa por aí”, como ele mesmo brinca. Se é cinema, TV ou teatro, não sabemos, mas pode ter certeza de que o ator estará novamente empenhado para dar o seu melhor!

 

REVISTA REGIONAL: Loreto, eu gostaria que você descrevesse como foi sua conexão com o Pantanal, o que de fato te encantou em meio à vida selvagem. Aliás, você trocaria a vida na cidade por uma mais tranquila em meio à natureza, como no Pantanal?

JOSÉ LORETO: O Pantanal despertou um querer, não de trocar, mas de ter equilíbrio. Eu sou da cidade, nasci em Niterói, moro no Rio de Janeiro há muito tempo, e quando eu fujo pra serra, um lugar com menos poluição, me sinto muito bem, me sinto conectado. Morei dois meses no Pantanal, acordava com o som dos bichos, sem o conforto que normalmente tenho na minha casa, sem ar-condicionado, com a bicharada, os peões. O meu personagem é um pantaneiro nato, peão de origem, ele me deixou muito mais sensível e apreciador da natureza e da importância que ela tem para o meu espírito, para a minha saúde. Hoje em dia, quero ter muito mais essa conexão com a natureza. O Pantanal me proporcionou essa experiência. Eu enxergo a importância que a natureza tem e o que temos feito ao longo da nossa história e como ela tem devolvido para nós.  

 

Numa entrevista recente você comentou sobre o assédio constante que recebe através das redes sociais. De certa forma isso mexe com o seu ego?

Inconscientemente sim, em algum lugar me deixa mais confiante, mas, ao mesmo tempo, a maturidade pesa menos no ego em relação a isso. Eu não tiro os meus pés do chão. Eu fico muito mais feliz em fazer um novo personagem, com um novo sotaque, um figurino totalmente diferente. O feed que recebo pelas redes é que o público gosta muito, tanto que eles até criticam quando o Tadeu faz algo de errado, ficam tristes quando ele tem esse tipo de atitude porque o público sente carinho e torce. Ele tem sexy appeal, mas é totalmente diferente do meu.

 

Loreto, o corpo do ator está a serviço do personagem, e percebemos que você experimentou algumas mudanças em função do trabalho. Pra você, que é praticante de judô desde a infância, é mais fácil manter uma disciplina quando o personagem exige?

Há dois fatores muito importantes durante a minha vida na infância que interferem nessa facilidade, dessa consciência corporal, dessa dedicação para mudar o corpo. Uma é o judô que eu faço desde os cinco anos de idade. Quando interpretei o José Aldo, eu treinava quatro horas por dia com personal, tinha nutricionista. Eu consigo chegar aos meus objetivos, pelo menos perto. Outro fato que me ajuda a ter disciplina é a diabete, eu sou diabético desde os 15 anos, preciso ser um pouco mais regrado para não ter complicações, mas uma vida saudável. Eu faço de tudo! Diabete exige equilíbrio! Eu não posso sair e beber até altas horas e acordar às cinco da tarde porque eu tenho que alimentar o meu corpo, tenho que medir minha glicose, se preciso aplicar insulina, se eu tenho que comer. A diabete me ajuda a ter essa dedicação. Quando tenho que emagrecer, controlo a minha insulina e como menos, quando preciso fazer um personagem que tem que engordar, tomo mais insulina pra continuar com a glicose boa.

 

Durante uma entrevista você havia comentado que tinha muito medo de contracenar com o Marcos Palmeira. Como essa relação se desenvolveu ao longo deste período que vocês estão trabalhando juntos?

Eu tenho o personagem na minha mão, fica mais fácil, mas no início era realmente medo, a palavra. Por mais divertido que seja o set, o ambiente, mesmo assim eu tenho receio, é um respeito além da conta, sabe? Ele sempre diz pra eu me jogar, deixar as amarras. Ele nos dá corda. É um cara que instiga o nosso melhor.

 

Neste Mês dos Pais, e você comemorando essa data há quatro anos, como foi a experiência de criar uma filha durante a pandemia e saber que ansiedade e outras mudanças de convívio aconteceram em todo o mundo? Como tem sido passar por essa fase?

No privilégio que eu tenho de morar perto da mãe da minha filha, o meu lado paterno foi muito forte, por ser num momento em que ficamos mais juntos, o dia inteiro em casa. Existiu o período em que era só eu e ela. Foi um mergulho na paternidade, na minha parceria com a minha filha. Eu me dei conta de que estava com a minha melhor amiga. Nós nos amamos incondicionalmente. Eu dou tudo por ela.

 

Quando adultos, aprendemos que a nossa formação se dá pelo convívio com familiares e amigos, formamos o nosso caráter e ética. De que maneira você tenta passar os seus valores para a sua filha Bella?

Logicamente eu penso muito antes de dizer qualquer coisa que ela possa interpretar mal. Hoje em dia isso está mais incorporado em mim, qualquer dúvida, ela fala e eu respondo com muita naturalidade, nunca cobrando ou apontando, nunca subindo o tom de voz, mas buscando fórmulas. Surgiu uma birra, um choro de eu não saber o porquê, vamos conversar, deixar ela se acalmar. Mas a Bella é maravilhosa. Esses momentos são raros e até difíceis. Ela é muito parceirinha. Eu procuro ensinar que moramos no Brasil, existem pretos, brancos, existem várias cores. De forma lúdica, vou conscientizando a não tratar com diferença, mostrando na prática, dando exemplos que são coerentes e que ela tenha a capacidade de absorver.

 

Voltando ao passado e relembrando um pouco a sua infância, quais foram os momentos que te marcaram, foram importantes para sua construção e que ficaram na sua memória?

Minha relação com os meus pais. Eles estão casados há 40 anos. Eu vi a ascendência deles, de muito trabalho. Eles demoraram dez anos para construir a casa em que moram. Por mais que tivéssemos diferenças, sabe aquele Natal tumultuado? O meu pai e a minha mãe, com seus irmãos e irmãs, todo mundo tentando se juntar e ser uma família unida. Era ótimo porque éramos diferentes, gente de tudo que é canto, viramos um “vira-latão” maravilhoso. Eu lembro muito disso. O judô também foi uma época muito marcante na minha vida, porque eu queria ser judoca.

 

O mundo está mudando e hoje se fala muito sobre a homofobia, o preconceito, o machismo, a xenofobia. Conceitos que devem ser mudados para se ter respeito. Você acredita que um dia será possível um mundo mais igualitário e justo ou esse sonho é utópico demais pra acontecer?

Eu acredito, tudo bem que sou muito otimista, mas acredito porque não tem outra forma para o mundo não ruir. As diferenças estão aí, e toda semana é uma pancada. Eu acredito muito nas crianças. Eu não passo para a minha filha a criação que os meus pais, naquela época, achavam que era coerente, porque o machismo não era falado, hoje em dia falamos e vemos as mazelas que isso pode causar. Estou falando do machismo, mas existem todos esses outros, racismo, xenofobia, todas as diferenças que as pessoas infelizmente não conseguem respeitar.

 

Falando um pouco sobre tecnologia, vivemos essa mudança que é um grande fato da vida contemporânea, mas de que maneira você procura equilibrar a sua convivência com as pessoas no mundo real?

Muita gente fala assim: “O Instagram virou nossa ferramenta de trabalho”. Eu acho que não. Não sou influencer. Sou um artista. Mas a rede social é a cereja do bolo do nosso trabalho. Como somos artistas e queremos nos comunicar, migramos para essa ferramenta. Eu tento equilibrar. Gosto desse contato com o público até certo ponto. Não quero ser refém, quero ter a minha individualidade, o meu mistério, a minha discrição.

 

Ator ganhou destaque como o peão Tadeu de “Pantanal”

Loreto, eu sei que no momento você está dedicado à novela e você comentou que é muito caseiro, mas após a pandemia, o fato de ter que ficar alguns meses trancado em casa, mudou esse conceito? O que te dá prazer fazer quando não está trabalhando?

Trabalhar é muito bom, né? Eu amo o meu trabalho e quando estou trabalhando parece que estou de férias de tão bom que é. Eu ainda sou caseiro, ainda mais agora que estou reformando a minha casa, o meu ninho, mas gosto de sair pra dançar, ir ao cinema, ao teatro, gosto de ir a restaurantes, sou dono de um restaurante, então gosto de juntar o povo. Eu gosto de beber vinho com a galera, gosto de socializar porque tem uma função maravilhosa na nossa vida. Eu sou o cara que convida, antigamente eu era convidado, mas agora sou eu que convido.

 

Estamos num ano de eleição e algumas personalidades da TV já apontaram em quem pretendem votar. Como você lida com essa questão da política em meio à polarização? Qual o papel do artista quando pensamos em manifestação política?

Vou votar em que tiver um discurso mais inclusivo, de igualdade e que esteja afinado às necessidades do nosso país e da população com suas demandas sociais e culturais. Estamos vivendo momentos tenebrosos. Sou a favor de um país com mais cultura, com mais livros, e livre das armas e da barbárie. Como artista e cidadão, quero um Brasil mais tolerante e livre de quaisquer preconceitos. Quero poder continuar inspirando as pessoas através da minha arte e fazendo personagens que as façam refletir sobre essa e outras questões.

 

Depois da novela, você tem outros projetos?

Eu tenho, mas não posso falar, é o famoso: “vem coisa boa por aí”. Eu tenho um projeto bem coladinho com a novela, pensei que fosse descansar, mas pelo visto não vai dar, mas estou muito feliz. Eu já tenho outro projeto para o segundo semestre do ano que vem. Estou fazendo o que eu gosto. Não preciso descansar tanto. Só vou precisar zerar este personagem, o Tadeu, que está há um ano na minha pele. Quando estamos trabalhando é igual atividade física, estamos ativos, a memória está fresca, decoramos mais fácil, tudo está melhor, tudo está ajeitado.

 

ENTREVISTA E TEXTO: Ester Jacopetti

FOTO E BELEZA: Vinícius Mochizuki

EDIÇÃO DE MODA: Alê Duprat

PRODUÇÃO DE MODA: Kadu Nunnes

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