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Post: O sucesso nacional do Ituano FutDown

O sucesso nacional do Ituano FutDown

O vitorioso projeto, duas vezes campeão brasileiro, conta com vários parceiros e leva, por meio do esporte, estímulo e conscientização sobre a Síndrome de Down

foto: Juca Ferreira

 

Itu conta um time de futsal down. O Ituano FutDown surgiu em 2019, quando o Galo fechou uma parceria com a então equipe Instituto Mozione e, nesse mesmo ano, sob as cores rubro-negras, o time chegou à conquista do bicampeonato brasileiro.

 

Atualmente, o Ituano FutDown conta com 18 atletas, homens e mulheres, entre 14 e 36 anos. Um dos destaques é o ituano Renato Gregório, jogador da seleção brasileira que, em 2019, ajudou o Brasil a conquistar a Copa do Mundo da modalidade, foi o artilheiro da competição, com 21 gols, e eleito o melhor jogador do mundo.

 

O time conta com parceiros e patrocinadores que acreditam e estimulam o desenvolvimento das pessoas com Síndrome de Down. Segundo a terapeuta ocupacional e coordenadora do Instituto Mozione/Ituano Futdown, Amabili Corina Canola Nacle, o patrocínio é extremamente importante para que o projeto ganhe visibilidade, mas a participação das famílias é fundamental: “Hoje temos em nosso projeto pais que vestem a camisa e que sabem o quanto o esporte é importante na vida dos seus filhos”, afirma.

 

Um dos objetivos do time é contar com a participação de mais atletas, principalmente as meninas. Para isso, ampliaram as ações de divulgação e conscientização da sociedade, por meio de palestras em escolas e empresas.

 

Revista Regional fez uma entrevista completa com Amabili e também com o técnico do FutDown, Rogério Gatti. Eles detalham mais sobre o projeto, treinos e a importância do esporte na vida de pessoas com Síndrome de Down. Confira abaixo a conversa para a CAPA DIGITAL da Regional:

 

Jogadores e comissão técnica (foto: Juca Ferreira)

REVISTA REGIONAL: Como surgiu a ideia de criar um time de futsal com atletas com Síndrome de Down?

AMABILI CORINA CANOLA NACLE: A ideia surgiu pela minha proximidade com a modalidade, afinal eu já acompanhava e conhecia todos os envolvidos no futsal down. Devido ao meu encanto pela modalidade, resolvi trazer o projeto para Itu, por meio do Instituto Mozione. Fui à Secretaria de Esportes do município, na época o secretário era o Douglas Borchetti, que além de receber super bem, me possibilitou uma quadra para iniciar o projeto. Logo após, convidei o professor Carlos Alberto dos Santos, carinhosamente chamado de Neco, para ajudar nos treinos técnicos. A equipe técnica foi formada com voluntários da área de preparação física, auxiliar de quadra e treinador de goleiros que nos auxilia até hoje no projeto. No início, contamos com a presença do Projeto Pedra Azul, representado pelo Edmundo Trevisan, que também abraçou a modalidade com muito carinho e nos ajudou muito. E pronto! Iniciamos nossa busca ativa para captar meninos e meninas para fazer parte do projeto. Começamos a divulgar os projetos e entidades designadas para esse público e nas escolas. Devagar demos início ao nosso lindo projeto e dado o chute especial de futsal para Síndromes de Down e deficientes intelectuais.

 

Quando assumiu a coordenação do Ituano FutDown? Pode falar um pouco mais da sua trajetória?

AMABILI: Sou terapeuta ocupacional de formação e atuo com pessoa com deficiência há mais de 20 anos e nesse período já fui convidada a participar de implementação de políticas públicas federal, municipal e estadual. Ao trazer o Instituto Mozione para Itu, pensamos na possibilidade de fomentar mais ações para esse público na saúde, esporte, lazer, tecnologia assistiva e educação, visando um melhor desenvolvimento do protagonismo social para estas pessoas. O futsal foi o primeiro projeto a tomar forma e deu muito certo, pois hoje temos grandes parceiros que nos auxiliam demais no projeto, como a Prefeitura Municipal de Itu e o Ituano Futebol Clube. A modalidade encanta qualquer um, ela nos traz a possibilidade de mostrar que conseguimos fazer a inclusão através do esporte.

 

Atualmente, quantos atletas compõem a equipe? E quem pode participar?

AMABILI: Atualmente temos 18 atletas com Síndrome de Down. Nossos meninos e meninas vêm de toda a região, Itu, Porto Feliz, Cabreúva, Salto, Sorocaba, Indaiatuba e Jundiaí. Estamos sempre divulgando nosso projeto, pois nem sempre temos a adesão completa ou participação de todos. Podem participar meninos e meninas com Síndrome de Down a partir dos 13 anos e não temos limite de idade. O mais importe é serem aptos a desenvolver atividades físicas e gostarem de jogar bola, isso é muito importante, pois nosso trabalho é focado no treino do futsal.

 

Como é feita essa seleção dos atletas?

AMABILI: A seleção dos atletas está mais na voltada na aptidão, se ele/ela tem vontade de aprender e se gosta de jogar bola. Ainda estamos em busca de meninos e meninas para fazer parte do projeto, pois entendemos que todos têm que ter a oportunidade de fazer parte de um projeto para-desportivo de competição e sendo assim conseguimos ampliar para mais pessoas.

 

Esse é um projeto independente do Ituano ou há parceiros? Quem são?

AMABILI: O projeto é desenvolvido pelo Instituo Mozione, em parceria com o Clube Ituano de Esportes.

 

Quais os principais desafios do FutDown?

AMABILI: Nosso desafio é ampliar, conseguir mais atletas, mais divulgação e patrocinadores. Mostrar que nossa modalidade dá mídia e que temos uma seleção brasileira de futsal down. Hoje nosso time conta com a presença do melhor atleta de futsal down do mundo, Renato Gregório, que é artilheiro do mundial e dos campeonatos brasileiros. Precisamos de mais apoio para difundir e quem sabe oferecer até bolsa atletas para nossos vencedores e, principalmente, reconhecer nossa modalidade, que é um show de inclusão e desenvolvimento social.

 

Lance de um jogo do Ituano FutDown (foto: Juca Ferreira)

Rogério Gatti, você como técnico, pode nos contar como o futsal down começou a ser praticado no Brasil? Há alguma adaptação às regras do jogo tradicional para esta modalidade?

ROGÉRIO GATTI: O futsal down iniciou no Brasil através da CBDI – Confederação Brasileira de Desporto para Deficientes Intelectuais, por meio do coordenador e técnico da seleção brasileira, Cleiton Monteiro. A modalidade foi se difundindo entre as instituições que possuía educação física adaptada para Síndrome de Down e, aos poucos, crescendo em todo o Brasil. Hoje contamos com mais ou menos 20 times de futsal down, alguns com bandeiras de times e outros apenas levando o nome da instituição que desenvolve. Em 2018 nosso time entrou para o campeonato com um formato mais profissional (comissão técnica) de trabalhar, seguindo um divisor de águas, caracterizando como esporte de alto rendimento. Isso foi muito bom para movimentar e fazer os demais times se superarem, preparando melhor os atletas para o campeonato, pois é apenas através de jogos que conseguimos mostrar talentos e a evolução pessoal e do time. Não há adaptações para nossa modalidade, ela segue as mesmas regras do futsal, apenas aumentamos o tempo de bola com o atleta, isso combinado sempre com todos os times e arbitragem antes do campeonato.

 

Como se dá a manutenção do time? Quais profissionais compõem a comissão técnica e como se dá esse trabalho?

ROGÉRIO: A manutenção do time se dá com o esforço de cada um, com ajuda dos pais, empenho dos jogadores, um trabalho corretamente direcionado por parte da equipe técnica e sempre um bom acolhimento aos jogadores.

 

Pode nos contar como são os treinos e a rotina diária do time?

ROGÉRIO: A comissão técnica se compõe pelo treinador, que coloca o time em quadra e vê as melhores formas de jogo para a equipe e onde cada jogador se encaixa melhor, melhorando a técnica individual e coletiva; o auxiliar técnico ajuda o treinador nessas funções para um melhor entrosamento; o preparador físico auxilia na forma física e também na técnica, ele observa as necessidades da modalidade e a partir daí elabora seus treinos para uma manutenção dos jogadores, onde não se lesionem no decorrer do ano; o auxiliar do preparador físico faz essa elaboração junto dele; o treinador de goleiro é o especialista nessa função, melhorando a agilidade, velocidade, técnicas de defesa e reposição, e é de extrema importância; e o coordenador da equipe, que tem uma função principalmente extra quadra, com reuniões, procura de jogadores, conversa com pais e demais assuntos burocráticos. Já os treinos são realizados aos sábados, no Ginásio Ditinho Xavier. Trabalhamos os aspetos gerais do futebol, a preparação física, a parte técnica e o esquema tático. Na semana, cada jogador faz sua parte conforme seu tempo disposto.

 

Como é a integração das famílias no time?

AMABILI: As famílias são peças fundamentais para nosso projeto. Precisam confiar em nosso trabalho e participar ativamente de todas as atividades que realizamos. Em alguns casos, perdemos atletas devido à família não querer abrir mão do seu sábado ou mesmo assumir um compromisso fixo. Ficamos tristes com esse tipo de atitude, pois são poucos projetos designados para esse público. Hoje contamos com pais que vestem a camisa, que percebem a diferença que o esporte faz na vida de seus filhos e eu sou muito grata por eles confiarem em nosso trabalho e dedicação.

 

Quais as principais conquistas e prêmios do Ituano FutDown?

AMABILI: Conquistamos dois campeonatos brasileiros em 2018 e 2019 e hoje somos os bicampeões brasileiros da modalidade; e claro, queremos fazer bonito no próximo campeonato. Com a pandemia, tudo ficou parado e não tivemos mais campeonatos para a modalidade. Este ano, acredito que teremos mais jogos.

 

Como é feito o trabalho de inclusão nas demais esferas da sociedade como escolas, empresas e comunidade local?

Lance de jogo do Ituano FutDown (foto: Juca Ferreira)

AMABILI: Estamos aqui para mostrar que a inclusão social através do esporte dá certo, assim estamos abertos para poder ajudar quem queira ampliar essa ideia. Realizamos palestras para as escolas municipais de Itu, através do apoio da CIS – Companhia Ituana de Saneamento – e palestras em outros municípios. Na semana da Síndrome de Down (21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down), somos sempre convidados para mostrar que um cromossomo a mais não faz diferença alguma em nossa convivência social.

 

O time tem patrocinadores? Como se deu a aceitação das empresas locais à possibilidade de patrocinar um projeto tão grandioso?

AMABILI: Contamos com o apoio da Prefeitura Municipal de Itu e o time é patrocinado pela CIS – Companhia Ituana de Saneamento -, IFC/Cobrecom, Empresas Maggi, Plaza Shopping Itu, Union Life Administradora de Benefícios, Supermercados Alvorada, EPPO Cidades Inteligentes, Controle Contábil, que são os patrocinadores do Clube Ituano de Esportes – e temos o patrocínio exclusivo da Magnus e de dois novos parceiros este ano, a Clínica Nato e a GIESPP. Mas ainda temos dificuldade de mostrar a importância de patrocinar um projeto esportivo social. Quanto mais pessoas nos auxiliam, mais real a possibilidade de ampliar e divulgar nosso trabalho. O marketing em cima da modalidade é muito bom, mas as empresas ainda não dedicam esse olhar diferenciado para modalidade para-esportiva.

 

O FutDown pode ser uma iniciativa para outras modalidades esportivas?

AMABILI: Claro que sim! Queremos muito ampliar cada vez mais. Existem campeonatos internacionais para modalidades de natação, atletismo, ginastica artística, entre outros esportes. Quem sabe se, com mais apoio, conseguimos fazer o futsal ser mais reconhecido e inserir mais modalidades.

 

Quais são os próximos projetos do Ituano FutDown?

AMABILI: Queremos muito ter um time de futsal down feminino. Mas é difícil conseguir meninas para treinar. Hoje temos duas meninas que fazem parte do time. Nosso outro projeto é ter uma escolinha para os meninos e meninas a partir dos seis anos de idade, fazendo uma base melhor para o crescimento da modalidade.

 

(texto e entrevistas: Aline Queiroz)

fotos: Juca Ferreira

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