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Post: Alinne Moraes celebra 20 anos de carreira

Alinne Moraes celebra 20 anos de carreira

Alinne durante ensaio em sua casa no Rio de Janeiro

Sensível e multifacetada, atriz, natural de Sorocaba, aqui na região, se firma como uma das atrizes mais talentosas de sua geração

 

No mês em que completa 20 anos de carreira, Alinne Moraes investe toda sua energia, alma e talento na criação de personagens que fizeram e fazem história na dramaturgia brasileira. Em evidência no momento em que interpreta a mimada e inconsequente Bárbara de ‘Um Lugar ao Sol’, a atriz sabe da importância de contar a história desta mulher que levanta questões como moralidade, ética e empatia. “Esse tipo de complexidade da personagem, em geral, me faz crescer como atriz. Sem contar que me instiga muito a ideia de poder entrar na cabeça de figuras assim, de precisar entender e recriar alguém bem diferente de mim”, conta. Madura, ela está de olhos abertos e atenta ao que acontece no país: “A classe artística foi tratada como uma associação de bandidos, vagabundos, pervertidos e até pedófilos diante do silêncio de muita gente. Até de parte da própria imprensa”. Nesta entrevista exclusiva à Revista Regional, Alinne fala sobre privilégios, política, pandemia, redes sociais e ação solidária. Natural de Sorocaba, aqui na região, a atriz estampa, pela terceira vez, uma capa da Regional. Confira a seguir o ensaio e a conversa completa com ela:

 

REVISTA REGIONAL: Sua personagem Bárbara levanta questões interessantes na novela “Um Lugar ao Sol”, em que ela não é vista apenas como uma coisa só, até porque ninguém é, ela tem nuances, hora consegue ser boa, hora consegue ser maldosa. O que esta personagem representa pra você, não só como trabalho, mas na sua vida pessoal?

ALINNE MORAES: Aprendizado. A Bárbara é uma personagem cheia de contradições e idiossincrasias, mas também tem qualidades humanas. Esse tipo de complexidade da personagem, em geral, me faz crescer como atriz. Sem contar que me instiga muito a ideia de poder entrar na cabeça de figuras assim, de precisar entender e recriar alguém bem diferente de mim.

 

Desde sua estreia na televisão, em “Coração de Estudante”, de 2002, passaram-se 20 anos. Foram vilãs, mocinhas e personagens que trouxeram assuntos importantes como a Clara, de “Mulheres Apaixonadas”, que vivia um romance com outra mulher. De que maneira viver todas essas personagens moldou de alguma forma a sua personalidade?

Seria parecido com a influência que sofre o telespectador. Quando contei a história da Luciana (“Viver a Vida”), que ficou tetraplégica após um acidente, aprendi muito sobre aquele universo, as pessoas com deficiência e a dificuldade de inclusão na sociedade. Através dela, senti na pele a rejeição e o preconceito. Aprendemos muito e nos transformamos com as histórias das personagens. Essa é uma das minhas funções como atriz, contar uma boa história e trazer alguma reflexão para quem assiste. Acabo me transformando um pouco a cada novo trabalho.

 

A maturidade na profissão te deixa mais confortável para escolher as personagens que você quer interpretar ou trabalho é trabalho?

Todos os personagens são especiais e têm algo único a dizer. Se eu tiver dois convites para trabalhos em uma mesma época, claro que só poderei escolher um, mas faz parte. Nem sempre a escolha é fácil.

 

Somos seres de hábito e a nossa rotina foi interrompida de repente pela pandemia, com isso sofremos os impactos e nosso corpo e mente sentiram esses efeitos. Ao longo deste período, mais de dois anos, como você analisa e se analisa diante de tudo que está acontecendo?

Meus hábitos mudaram muito e a ansiedade cresceu por conta da pandemia. Passo a maior parte do tempo em casa. Minha vida social mudou bastante. Eu saia para jantar com amigos, ia ao cinema, ao teatro, shows… Tudo diminuiu muito! Os trabalhos, as reuniões, passaram a ser on-line e, mesmo depois de dois anos e meio, ainda tenho a sensação de certa impotência. É tudo muito novo ainda!

 

Eu li uma matéria na revista ‘Vida Simples’ em que o título era: ‘A necessidade de agradar mata’. Por ser uma figura conhecida do grande público, você está mais exposta a ser observada. Como você lida com a pressão sobre o tipo de pessoa que deveria ser fora da TV? Os anos convivendo com esse tipo de cobrança ajudam a diminuir essa preocupação?

Faço o possível para ignorar esse tipo de pressão. Tento fazer o que quero e quando quero. Eu me posiciono, deixo claro minhas crenças, sigo vivendo conforme acredito. Sou independente desde muito jovem. O meu trabalho já tem que agradar a muita gente. Já eu preciso agradar a mim mesma primeiro.

 

Eu vi que você apoia a ‘Ação Cidadania contra a Fome’. Efetivamente, como é a sua participação e como você se sente ao fazer parte de um movimento social que visa diminuir a fome no país e, para complementar, como avalia as políticas públicas neste atual momento?

Sim e, na realidade, apoio outros movimentos sociais também. E acho necessário em um país tão progressivamente desigual. Para responder sua pergunta basta nos lembrarmos que o atual governo foi eleito prometendo acabar com demarcação de terras, desidratar ONGs, ofendendo a memória de gente torturada e morta na ditadura, atacando mulheres, quilombolas e, para piorar, tecendo elogios a carrascos históricos. Impressiona-me como isso foi naturalizado… E ainda é!

 

Alguns atores deixam claro o seu posicionamento político nas redes sociais, como é o caso do José de Abreu. Você acredita que é importante ter um posicionamento diante dos telespectadores ou a vida do artista não deve ser confundida com a pessoal?

Eu diria que em “condições normais de temperatura e pressão” cabe ao artista decidir quando e sobre o que acha necessário se posicionar. De toda forma, não estamos mais nessa condição já há alguns anos, portanto, nesse momento, acho mais do que necessário, obrigatório eu diria. Não adianta se calar temendo uma reação porque ela já existiu. A classe artística foi tratada como uma associação de bandidos, vagabundos, pervertidos e até pedófilos diante do silêncio de muita gente. Até de parte da própria imprensa. Felizmente, hoje, não é mais só o Zé de Abreu, a classe artística começou a se posicionar em peso e de forma mais concreta desde 2018, ou antes. Talvez desde o governo Temer (Michel).

 

Atriz comemora 20 anos de sucesso com entrevista e ensaio na Regional

Apesar de se tornar uma vitrine de trabalho, as mídias sociais escondem alguns perigos, como notícias falsas, campanhas de ódio, constrangimento público, agressões verbais, homofobia, assédio, machismo e por aí vai. Como você se mantém firme para não cair em ciladas, provocações e manter uma relação saudável com as redes?

Bem, para não cair em ciladas o ideal é saber filtrá-las como uma especialista em campos minados faria, já que são muitas as notícias falsas, algumas financiadas por grupos de interesse. Mas, francamente, acho que evitar campanhas de ódio, agressores, homofobia, racismo, assédio e notícias falsas é um dever das próprias redes sociais e das big techs que as geram.

 

O fato de você ocupar um lugar de privilégio, em que seu filho terá melhores acessos, talvez o maior desafio seja criá-lo generoso e com ambições próprias. Qual o seu sonho pra ele?

É uma pergunta retórica. E eu diria que parte dela já faz parte da resposta. De fato, meu filho nasceu privilegiado, portanto, não tenho um sonho exato ou específico, mas tenho planos. Planos pra que ele possa ter seus próprios planos e que seja muito feliz e realizado. Sonhos eu tenho em relação aos que nascem sem privilégios e nenhum direito básico. Meu sonho, nesse caso, é que isso possa deixar de ser um sonho e que essas pessoas possam ter nem que seja o mínimo, o básico, o que é de direito.

 

Mesmo com a novela ainda no ar, sabemos que as gravações já foram encerradas, você está envolvida com novos projetos para este ou próximo ano?

Até a novela acabar estou de férias e, até lá, quero ficar em casa curtindo a família, cuidando da casa, regando as plantas. Só depois começarei a estudar novos projetos!

 

entrevista: Ester Jacopetti

fotos: Vinicius Mochizuki

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