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Post: Ricardo Pacheco e a preservação do patrimônio histórico

Ricardo Pacheco e a preservação do patrimônio histórico

O engenheiro civil Ricardo Pacheco nunca se viu atuando em outra área até que, em 2003, decidiu reabrir o espaço da Fábrica São Luiz, em Itu, propriedade da sua família com a qual sempre teve uma ligação afetiva. Com a reabertura, a fábrica tornou-se um espaço para eventos sociais, corporativos e também para locação de lojas, artesãos e microempreendedores locais. Totalmente da área de Exatas na época da escola, História nunca foi a disciplina preferida, mas ao longo dos anos, Ricardo entendeu naturalmente a sua importância: “Um povo sem conhecer seu passado e origens não possui identidade e, consequentemente, não terá motivos para gostar e preservar qualquer coisa”, afirma. Considerado um dos maiores nomes da preservação do patrimônio ituano, Ricardo é nossa CAPA DIGITAL neste mês de fevereiro, quando Itu comemora seus 412 anos. Confira a seguir a entrevista exclusiva concedida à Revista Regional.

REVISTA REGIONAL: O senhor está por trás de uma das inúmeras riquezas históricas e arquitetônicas de Itu, que é a Fábrica São Luiz. Como se deu a sua história com este marco ituano e, principalmente, como foi o processo de reabertura?

RICARDO PACHECO: Minha família era proprietária da indústria e, com isto, sempre tive uma ligação afetiva, mesmo eu não participando diretamente de sua administração. Em 2003, decidimos reabrir ao público e não posso deixar de mencionar meus agradecimentos a Neca e Paulo (Setubal), proprietários da Fazenda Capoava, que quando ainda estava fechada me propuseram abrir um escritório da fazenda aqui no Centro. Foram meus primeiros inquilinos e incentivadores. Daí em diante tudo aconteceu em um processo natural.

 

Em sua opinião, qual a importância da preservação do patrimônio histórico e, principalmente, apresentar os patrimônios às novas gerações?

Sempre fui um péssimo aluno em História e com muita dificuldade de entender sua importância. Ao longo dos anos, quando comecei a ter minha própria história, entendi naturalmente a gostar e ver a necessidade da preservação e manutenção do patrimônio.

Hoje entendo que um povo sem conhecer seu passado e origens, não possui identidade e, consequentemente, não terá motivos para gostar e preservar qualquer coisa. Assim, tenho convicção em afirmar que é fundamental fazer com que a população conheça, goste e tenha orgulho de seu patrimônio e de sua história. Basta ensiná-los de maneira lúdica, atraente e, no caso de patrimônio, com agradáveis visitas.

 

O senhor é engenheiro civil de formação. Como se deu a escolha da sua profissão e como foi sua carreira profissional até resolver restaurar e reabrir a Fábrica São Luiz?

Sou engenheiro e nunca me vi em outra profissão. Sempre tive muita facilidade com Matemática, coisa que procuro praticar até hoje e estimular os outros a gostarem. A área de construção sempre foi, para mim, algo natural e que sempre me interessei. Comecei a vida profissional em construção de edificações novas e, aos poucos, fui migrando para reformas de residências e montagem de escritórios, com adequação de espaço. Acho que aí começou o gosto por restauro. Eu me mudei para Itu em 2002 e a partir daí comecei a ficar mais próximo da fábrica e entender suas necessidades. Percebi que o patrimônio é como se fosse uma pessoa, com seus encantos, charme e histórias de vida incríveis. A cada aprendizado, fica mais interessante e vejo a importância de compartilhar esta história com a população.

 

O senhor já esteve à frente da Protur e participou ativamente da consolidação do turismo cultural em Itu. Poderia falar um pouco mais dessa trajetória e desta experiência até levar a sede para o Espaço Fábrica São Luiz?

Aprendi que em uma cidade com as características de Itu, o turismo e a cultura se misturam e devem andar juntos. Ser presidente de uma entidade tão séria e respeitada como a Protur é uma experiência muito interessante e engrandecedora. Fiz uma gestão itinerante, visitando todos os quase 50 associados à época, o que me permitiu, além de conhecê-los melhor, sentir na prática suas necessidades e ouvindo sugestões. A sede da Protur veio para a fábrica como uma forma de ajudar uma entidade recém-inaugurada a não pagar aluguel. Para a fábrica foi ótimo, pois junto com a Fazenda Capoava, começou a dar vida nova ao prédio.

 

Pacheco durante entrevista

E como foi o processo de transformar a Fábrica São Luiz em um espaço para eventos sociais, corporativos e de locação para lojas, artesãos e microempreendedores locais?

Esta experiência foi muito interessante. Entra neste momento meu lado engenheiro. Quando se constrói uma praça, o normal é não fazer os caminhos e sim deixar o povo usá-la. Naturalmente o uso vai determinar aonde os acessos e caminhos devem ser instalados e daí, eles são construídos. Na fábrica, utilizei a mesma tática, reabrindo-a ao público. O próprio público me direcionou para o uso que deveria ter, ou seja, um misto de cultura, entretenimento, eventos sociais e prestação de serviços. Hoje percebi mais uma vocação da fábrica, que é ser uma espécie de incubadora. Pequenos empreendedores necessitam de um apoio inicial, com um espaço bem localizado e um preço acessível para conseguir viabilizar seu negócio que está engatinhando. Aliás, esta vocação é bem gratificante.

 

Quem pode locar um espaço hoje na Fábrica São Luiz? Como funciona?

A fábrica está passando por adequações aos órgãos de segurança e de defesa do patrimônio, assim não temos todos os espaços ainda disponíveis para locação. Mas é muito simples, basta procurar a administração da fábrica para darmos o encaminhamento, quando for o caso. Um ponto interessante do espaço é que, mesmo não estando locado para eventos, ele permanece aberto e disponível para os turistas ou mesmo a população ituana, tanto como um ponto de encontro ou até mesmo para passeio. É uma filosofia e um compromisso com a cidade. Um prédio com esta história não pode ficar fechado ao público. Damos acesso aos turistas e a todos que precisam de um ponto de apoio quando estão em visita ou a trabalho no Centro. Fico muito feliz quando vejo pessoas muito humildes que vem à fábrica somente para usar os banheiros. Acho que estamos fazendo algo para dar um pouco de dignidade aos que precisam. Com a pandemia, não estamos conseguindo abrir todos os domingos, pois seria necessária a contratação de mais um vigilante. Como temos eventos em alguns domingos, nestes conseguimos abrir ao público em geral.

 

Pode comentar um pouco mais sobre a transição de não ser bom em história para um defensor dela? Achei muito interessante a sua colocação.

Como disse anteriormente, a história começa a fazer sentido, quando fazemos parte dela. Resumindo, o interesse vem com a vivência e com o estudo. Quanto mais conhecemos, mais queremos conhecer. No meu caso tem um auxílio e incentivo extra enorme que é o fato da minha esposa (Maria Sofia) ser apaixonada pela história da cidade e especialmente pela história da fábrica. Isto me incentiva muito.

 

O engenheiro na área externa da Fábrica São Luiz

Qual o número de visitantes que a Fábrica São Luiz teve desde que reabriu?

Alguns eventos, como a feira de orquídeas, chegam a ter 5 mil visitantes. Considerando uns 15 mil por ano, chegamos nestes quase 20 anos a 300 mil pessoas.

 

Quais os desafios de se manter um patrimônio histórico em condições ideais para receber pessoas e até mesmo eventos?

Muita dedicação, foco e responsabilidade. Existem vários momentos que temos de saber falar ‘não’ para algumas propostas e solicitações que aparecem.

 

Quais os próximos projetos para o espaço?

Hoje estão sendo realizadas obras de restauro das janelas, fachadas e instalação de itens de segurança e combate a incêndio. Estou orçando serviços de manutenção e limpeza da chaminé. É importante salientar que 100% do dinheiro arrecadado é utilizado na manutenção e recuperação do imóvel.

 

entrevista e texto: ALINE QUEIROZ

fotos: MICHEL CUTAITH

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