- Cantora ganha programa de culinária na HBO Max, onde recebe renomados chefs e aprende a cozinhar
Ela faz sucesso no mundo da música desde a infância, se tornou ícone da MPB, e hoje, seguindo sua carreira solo e cada vez mais consolidada, Sandy Leah protagoniza a apresentação de um reality show de culinária. E assim como na música, exigente, a compositora mantém o padrão de qualidade das receitas ensinadas por grandes chefs brasileiros. Entre a arte de cantar e cozinhar, Sandy faz um paralelo sobre os dois: “São tantos os processos, é uma mágica que acontece, não é qualquer pessoa fazendo de qualquer jeito, é uma arte”, expressa. Com a família ao lado, é na mesa que acontecem as celebrações entre eles. “Celebramos fazendo refeições. A comida agrega, une, tem amor, tem harmonia”, ressalta. Madura, ela entra de cabeça nesse novo projeto, mas sem abrir mão da sua grande paixão: a música. Confira a seguir trechos mais importantes da entrevista coletiva que Sandy concedeu antes da estreia do programa.
REVISTA REGIONAL: Pela primeira vez você está participando de um reality culinário ‘Sandy + Chef’ da HBO, como você descreve essa experiência?
SANDY: Nossa, foi uma delícia! Eu recebi esse convite muito inusitado no comecinho de junho. Eu amo programa de culinária, assisto a vários, mas nunca tinha me imaginado apresentando um. Falaram que era a versão brasileira do ‘Selena + Chef’. Eu assisti ao programa e adorei, lógico que eu disse sim na hora também, dei um jeito para poder caber na agenda. Nós gravamos tudo no finalzinho de junho, começo de agosto. O clima era muito gostoso e os meus convidados eram todos da minha família, pessoas muito próximas, íntimas, eles me ajudaram muito e eu fui me aventurar.
Você é uma nativa do mundo da música e está agora no universo culinário. Qual a relação entre música e gastronomia?
Tudo é arte! Música, incontestavelmente, é uma forma maravilhosa, diga-se de passagem, sou suspeita, é arte, e eu amo me expressar através da música. Eu identifico isso na culinária porque também é uma forma de se expressar. São tantos os processos, é uma mágica que acontece, não é qualquer pessoa fazendo de qualquer jeito, é uma arte, tem que ter um estudo, um foco, uma atenção, um olhar, uma percepção, uma técnica. Querendo ou não, a culinária vem de um lugar de inspiração. Eu considero uma superarte que te traz conforto físico, que é lindo de ver. A arte faz as pessoas se unirem, a gente senta em volta de uma mesa, a gente celebra fazendo refeições, a gente tem datas festivas que giram em torno de uma refeição especial. A comida agrega, une, tem amor, tem harmonia, é bonita. Eu fico muito emocionada. Eu vejo claramente a relação entre essas duas coisas.
No programa com a cantora Selena Gomez, muito da graça é o fato dela não ter muita familiaridade com a cozinha, o que torna mais fácil para o público se identificar. Qual a sua relação com a culinária?
Eu amo cozinhar, mas tenho pouca prática. São raras as vezes que vou para a cozinha, e quando vou é com muito prazer e alegria, mas sou um pouco estabanada, digamos assim (risos). Como eu não tenho prática e não sei cortar direito, não sei quase nada, na verdade, é um pouco de intuição com a culinária, um pensamento gastronômico, uma percepção, eu sei temperar e tenho mais ou menos um pouco de noção, sempre que faço uma comida as pessoas elogiam, falam que está gostosa, eu fico feliz. Mas prática zero. Quem assistir ao programa vai ver que eu fui bem pateta em alguns momentos (risos), mas aprendi bastante, quero aprender mais, lógico.
Você é envolvida com todos os projetos em que participa, gosta de tudo muito certo, tudo muito bem-feito, com qualidade, com entrega, com paixão. Como foi o seu envolvimento em relação à parte criativa desse programa?
Eu dei algumas sugestões sobre os chefs que participariam, que me ensinariam a cozinhar, inclusive um deles era a Paola Carosella – sou fã dela! Eles foram me mandando os roteiros, eu tive que passar uma lista do que eu não como e mesmo assim, alguns alimentos eu acabei experimentando, alimentos que não costumo comer no meu dia a dia, mas experimentei porque sei que quando é preparado por um chef muito bom, muito experiente, renomado, normalmente eles sabem harmonizar tudo de um jeito maravilhoso que até o que a gente não gosta, a gente passa a provar e gostar. Eu aprendi a me permitir, experimentar! Os roteiros iam chegando e eu ia dando a minha opinião, sugeria questões para os chefs e tudo mais. O Max (Maximiliano Garcia – diretor) sempre foi muito receptivo comigo, sempre que eu dava uma ideia ou quando eu pedia alguma coisa, ele aceitava com muita tranquilidade. Não tinha muito o que acrescentar.
Sobre a Paola (Carosella) ser esse ícone da gastronomia, qual foi o prato ou o chef que te deixou mais intimidada para encarar? E qual foi o mais surpreendente de simples?
O mais surpreendente de simples (…) nenhum era muito complexo, é claro que para uma iniciante tudo é, mas com eles ensinando eu não achei nada difícil. Difícil foi fazer o sashimi com o Murakami (Tsuyoshi): enrolar para fazer uma florzinha que o chef fez na apresentação do prato e filetar o peixe. Tudo foi muito desafiador porque eu nunca cheguei tão perto de uma coisa dessas, mas o que mais me surpreendeu foi quando a gente fez com o Thiago Castanho. Normalmente, eu não costumo comer peixe de rio, de água doce, e o Thiago fez de um jeito que eu comi babando, eu amei muito, e boa parte da minha família também não gosta, e eles amaram, foi muito surpreendente.
Mas em algum momento você se sentiu intimidada por algum chef?
Eu estava com certa expectativa com a Paola, né? Porque eu sei que ela tem um jeito assim, super (…) ela é muito forte, é exigente, mas foi muito simpática, querida, mas eu estava um pouco nervosa pra ser guiada pela Paola, mas ela foi maravilhosa, teve paciência. Nesse dia da gravação, nós tivemos alguns problemas na transmissão, é tudo feito online, e tem a questão da internet, nós estávamos com um aparato maravilhoso, mas acontece, e tudo é um pouco imprevisível, tivemos que esperar muito, tadinha, gerou um cansaço e foi uma diária longa de gravação, mas ela foi maravilhosa e ficou até o fim, me ensinou. Eu fiz uma massa do zero.
Esse formato requer interação direta com a tela, e cozinhar pode ser desafiador, como foi para você estabelecer a relação com os chefs de forma virtual e ainda entender o que eles estavam ensinando?
O maior desafio foi fazer à distância porque quando a pessoa está do seu lado te ensinando, você olha de perto, pode ver do ângulo que quiser, a pessoa pega na sua mão e te mostra pessoalmente, mas pela câmera, pela tela, às vezes não dá para entender direito e tem o delay (diferença de tempo entre o envio e o recebimento do sinal), às vezes a voz chega depois. Foi um desafio enorme! Eu saía super cansada de tensão, com medo de errar, medo de faca, teve um dia que eu me cortei porque sei que sou estabanada, eu sabia que ia acontecer em algum momento. Eu me queimei num dia e me cortei no outro, mas nada grave, pelo amor… (risos), mas eu já esperava que pudesse acontecer. Eu estou acostumada em ver chefs que são experientes e acabam se cortando, pelo menos os calouros, e eu me cortei também, mas foi logo no começo, fui batizada.
Já que estamos falando de cortes e queimaduras, teve algum momento que deu muito errado ou que você se assustou?
Aconteceu um momento tenso quando eu fui cortar a abóbora cabotiá, porque ela é muito dura, e foi a primeira vez que eu fui fazer, já tenho um pouco de medo de mexer com faca e pouca experiência, fui logo cortar uma abóbora, me senti jogada na fogueira (risos). Consegui, deu tudo certo, mas foi tenso, tive que usar muita força, não tem uma técnica correta e sou muito pequena, mas eu consegui e foi desafiador.
É desafiador, mas você tinha a sua família ali do lado, de que maneira esse apoio foi essencial para você?
Maravilhoso. Com eles ali facilita bastante a vida, fora que acabam deixando mais prático para mim. Se eu estou mais concentrada no que o chef está ensinando, um vai limpando a bancada, outro vai lavando a faca para poder usar novamente, eles me ajudam na logística, na administração da cozinha. Fora que fica mais divertido e mais gostoso, é mais descontraído, um solta uma piada aqui, outro dá uma risada ali, e tudo fica mais leve e mais gostoso. Mas mesmo se eles não estivessem, seria incrível também porque eu adoro desafio, adoro cozinhar, adoro comer (risos), adoro aprender, seria maravilhoso de qualquer maneira, mas com a família deu uma graça a mais.
A pandemia nos forçou a descobrir como nos virar na nossa própria cozinha, mas sem a ajuda de um profissional, mas agora que você teve todas essas dicas, quais você daria para os chefs amadores que estão entrando na gastronomia agora?
Primeiro de tudo é manter a calma, se concentrar muito e olhar para cada movimento que você irá fazer. Quando colocamos todo o nosso foco, a nossa atenção, fica menos perigoso, porque nós estamos lidando com fogo, panela quente, óleo, faca, utensílios que podem machucar, como o ralador, por exemplo. Então, muita atenção, foco no que está fazendo, calma, respira e seja organizado. Organização é muito importante, porque a cozinha é uma química que acontece na sua frente, se deu o tempo da cocção, você não pode estar na geladeira procurando o próximo ingrediente, não; a água já ferveu, está na hora de pôr o alimento; tudo tem que estar à mão. Eu aprendi muito. Eu, no meu jeito amador, quando ia para a cozinha, acontecia muito de, na hora que água estava fervendo, cadê o ingrediente? Não queremos isso. É bom fazer de uma maneira mais organizada para ficar mais profissional e fluir melhor.
Existe alguma receita de prato doce ou salgado que remeta à sua infância e que te traz uma nostalgia?
Eu gosto muito de fazer arroz! Basicamente, eu como todo tipo de arroz, tem um arroz japonês frito que é feito na chapa, todo misturado, e tem em um restaurante que eu amo e, toda vez que eu viajo para os EUA – é uma rede que tem em vários lugares -, sempre procuro esse restaurante. De tanto eu ir, acabei aprendendo de olhar, eu reproduzo em casa, e quando nós construímos a nossa casa, eu fiz uma chapa para poder fritar esse arroz e também fazer hambúrguer caseiro. E esse arroz na chapa que eu faço fica muito bom, é um alimento que eu como desde a infância e tem um sentido familiar para nós. Gostamos de nos reunir e todo mundo senta em volta da chapa, eu não fico sozinha cozinhando, é um momento de união, de confraternização. Eu vou fazendo e a galera vai comendo. É uma delícia! Na fazenda também temos uma chapa, exatamente por causa do arroz, é sucesso garantido em casa e me traz muitas lembranças boas.
O que você não come de jeito nenhum?
Várias coisas na verdade, eu detesto pimentão, não como carnes estranhas, principalmente frutos do mar. Eu como peixe branco, camarão, lagosta, casquinha de siri, mas não como polvo, lula, ostra, mexilhão, todas as outras coisas, nenhuma eu como. Não passei por nenhum perrengue grande ainda no ‘Sandy + Chef’. Só tive que comer peixe de rio e deu certo, tudo tranquilo, pelo menos por enquanto, mas eu estava com medo, confesso porque tenho algumas restrições. Eu gostaria de ser aquela pessoa que come de tudo, ia facilitar a minha vida. Eu tenho bastante intolerância ao alho, não gosto de alho, foi um desafio para os chefs, coitados, mas sou testemunha que é possível comer comida boa e sem alho, e até sem cebola, não gosto muito, não faz muito bem para mim, mas em pequenas quantidades passa, não é igual ao alho. Em casa eu não uso cebola quase nunca, e alho nunca. Foi legal porque deu para ver as alternativas, tem muito sabor, muitas opções de temperos que podemos usar e deixar a comida maravilhosa. Em casa, eu uso ervas, especiarias e pouco sal porque é mais saudável, e as especiarias têm propriedades medicinais e fica maravilhoso.
O Lucas (Lima), seu marido, é amante do café. Você também tem outra paixão no mundo da culinária?
Eu sou louca por chá, nós consumimos muito chá em casa. Quando viajamos, costumamos comprar chás importados. Aonde a gente vai a gente procura chá. Gostamos muito de chá e café, nem preciso falar do café, tem um ou outro licor que a gente gosta de comprar e experimentar, mas não sou muito de bebida alcoólica, eu gosto de vinho, mas não entendo quase nada.
O que você considera mais difícil, compor ou cozinhar?
Por eu ter prática com composição, com a música, eu acho mais fácil compor e mais difícil cozinhar. De repente, se eu praticasse e estudasse mais, mudaria de opinião porque eu sou muito exigente com a música, e comida eu acho que dá para fazer comida gostosa, mesmo que o prato seja simples. Como eu tenho muita técnica, hoje, acho mais fácil compor, mas, futuramente, se eu virar uma pessoa mais experiente, vou mudar de opinião, com certeza!
Seus hobbies são yoga, aromaterapia e reiki. Dá para dizer que a culinária vai virar um hobby também?
Não como eu gostaria! Porque é preciso tempo, e na rotina do dia a dia: filho na escola, o trabalho acontecendo – depois que veio a gravação foi quando o meu filho voltou para as aulas presenciais, e foi quando a vacinação avançou no país, a pandemia começou a dar uma leve acalmada, – e, automaticamente, eu comecei a trabalhar mais por causa disso. Eu não tive tempo para colocar em prática, mas eu que já era apaixonada por cozinha, fiquei ainda mais. Pretendo que isso vire mais um hobby, dos principais mesmo, eu quero muito.
entrevista: Ester Jacopetti
fotos: Divulgação/HBO Max